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02. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

2.8. I MUNIDADE TRIBUTÁRIA : UM FENÔMENO TIPICAMENTE BRASILEIRO

2.8.1. Imunidade tributária: histórico deste instituto

Se imunidade tributária é fenômeno que só ocorre no Brasil, resta demonstrarmos, em linhas gerais, os primórdios de seu surgimento, bem como o tratamento atual da matéria.

Iniciaremos nosso percurso falando sobre a extinção dos privilégios odiosos com o surgimento da Constituição de 1824, a qual, em seu artigo 179, XVI77, determinou a abolição de prerrogativas que não fossem essenciais e inteiramente ligadas aos cargos de utilidade pública. A partir desse momento, nobres e clero, salvo em casos de isenções, passaram a sofrer imposições fiscais.

Não havia, contudo, nessa Carta, previsão de imunidade. Tal conceito surgiu em 1891, com a Constituição da República. Nela, quando da distribuição de competências tributárias, o legislador original delimitou áreas de intributabilidade, como, por exemplo, a imunidade recíproca e a religiosa, conforme salientam os artigos 10 e 11, 1º e 2º78.

A Constituição Federal de 1934, além de também albergar a imunidade a cultos religiosos, estendeu a imunidade recíproca aos municípios, ex vi os artigos 17, II e IX79.

Após a Constituição de 1937, que pouco fez em matéria tributária, o Magno Texto de 1946 trouxe importantes inovações: manteve a imunidade recíproca, ampliou a imunidade religiosa aos templos de qualquer culto e estabeleceu a imunidade de partidos políticos e de instituições de educação e assistência social,

77 XVI. Ficam abolidos todos os privilegios, que não forem essenciais, e inteiramente ligados aos

Cargos, por utilidade pública.

78 Art 10 - É proibido aos Estados tributar bens e rendas federais ou serviços a cargo da União, e

reciprocamente.

Art 11 - É vedado aos Estados, como à União:

1 º ) criar impostos de trânsito pelo território de um Estado, ou na passagem de um para outro, sobre produtos de outros Estados da República ou estrangeiros, e, bem assim, sobre os veículos de terra e água que os transportarem;

2 º ) estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos;

79 Art 17 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

II - estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos; [...]

IX - cobrar, sob qualquer denominação, impostos interestaduais, intermunicipais de viação ou de transporte, ou quaisquer tributos que, no território nacional, gravem ou perturbem a livre circulação de bens ou pessoas e dos veículos que os transportarem;

bem como criou a imunidade referente ao papel destinado à impressão de jornais, periódicos e livros, no artigo 31, V, “a”, “b” e “c”80.

Com a Emenda Constitucional nº 18/65, à imunidade das instituições de educação e assistência social foi agregada a cláusula “observados os requisitos fixados em lei complementar”, posteriormente suprimida em 1967.

A Emenda nº 01/69 repetiu o que estava estipulado em 1967, de modo que chegamos à Carta Constitucional de 1988. Vejamos alguns exemplos de imunidades tributárias desse Texto: (i) é imunidade o preceito gravado no artigo 153, § 3º, III da Constituição Federal81, segundo o qual o Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI não incidirá sobre os produtos destinados ao exterior; (ii) é imunidade, ademais, a hipótese mencionada no artigo 155, § 2º, X, “a” da Constituição Federal82, envolvendo o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias – ICMS, no que concerne às operações que destinem mercadorias para o exterior e aos serviços prestados a destinatários situados fora do território nacional; (iii) por outro lado, são operações imunes aquelas previstas no § 5º do artigo 184 do Texto Constitucional83, a despeito de o legislador constituinte ter empregado o termo “isentas”; (iv) há, ainda, inúmeras

80 Art 31 - A União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios é vedado:

[...]

V - lançar impostos sobre:

a) bens, rendas e serviços uns dos outros, sem prejuízo da tributação dos serviços públicos concedidos, observado o disposto no parágrafo único deste artigo;

b) templos de qualquer culto bens e serviços de Partidos Políticos, instituições de educação e de assistência social, desde que as suas rendas sejam aplicadas integralmente no País para os respectivos fins;

c) papel destinado exclusivamente à impressão de jornais, periódicos e livros.

81 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:

[...]

IV - produtos industrializados; [...]

§ 3º - O imposto previsto no inciso IV: [...]

III - não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior.

82 Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:

[...]

II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

[...]

§ 2.º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: [...]

X - não incidirá:

a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores;

83 § 5º - São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de

imunidades referentes a taxas, como, por exemplo, aquela contida no artigo 5º, inciso LXXVI, “a” e “b” da Constituição Federal84 que se destina aos

reconhecidamente pobres na emissão de registro civil de casamento e de certidão de óbito; (v) outrossim, não podemos esquecer a imunidade prevista no artigo 195, § 7º do Texto Constitucional de acordo com a qual “São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei.”

Entretanto, para o nosso trabalho, a imunidade realmente importante de demonstrarmos é a do artigo 150, VI da Constituição Federal de 1988, especialmente a prevista na alínea “c”:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

[...]

VI - instituir impostos sobre:

a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; b) templos de qualquer culto;

c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;

d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado a sua impressão. [...]

§ 2º - A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

§ 3º - As vedações do inciso VI, "a", e do parágrafo anterior não se aplicam ao patrimônio, à renda e aos serviços, relacionados com exploração de atividades econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, ou em que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário, nem exonera o promitente comprador da obrigação de pagar imposto relativamente ao bem imóvel.

§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.

Demonstradas algumas normas constitucionais que versam sobre imunidades tributárias, podemos direcionar nossa atenção ao âmago do trabalho. Passaremos, no tópico que vem, a tratar especificamente sobre a imunidade tributária das instituições de educação.

84 LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:

a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito;

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