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Que fazer quando objetivos justos não são alcançados porque obstáculos, alguns aparentemente intransponíveis (“as desigualdades substantivas”), parecem torná-los inviáveis? A opção por continuar a demandá-los se nos afigura como o caminho obrigatório.

Para isso, cumpre materializar o objetivo e indicar as ações que levem a ele. Neste primeiro sentido nada melhor que os indicadores de sustentabilidade social. Vários autores procuraram indicar os pontos que dão materialidade à dimensão social do desenvolvimento susten- tável (Spangenberg; Bonniot, 1998; Quiroga; CEPAL, 2001; Van Bellen, 2004; IBGE, 2004; Presley; Meade; Sarkis, 2007; ETHOS, 2007, 2013)

Optamos por trabalhar com os indicadores de Labuschagne, Brent e Van Erck (2005), que apresentamos a seguir, com ajuste.6

137 Recursos Humanos Internos

Estabilidade no Emprego Oportunidades de trabalho Compensações no emprego

Práticas no emprego

Práticas de segurança e disciplinares Contrato de trabalho

Equidade Fontes de labor Diversidade

Combate à discriminação Saúde e segurança Incidentes de segurança e saúde

Práticas de segurança e saúde Desenvolvimento de

Capacidades

Pesquisa e desenvolvimento Desenvolvimento de carreira

População externa

Capital humano Saúde Educação

Capital produtivo

Habitação

Infraestrutura e serviços Mobilidade de serviços

Serviços públicos e regulamentares Apoio a instituições de educação

Capital comunitário Estímulo sensorial Segurança Propriedades culturais Crescimento e prosperidade econômica Coesão social

Combate à patologias sociais Subsídios e doações

Patrocínio (apoio, suporte) a projetos comunitários

Participação (envolvimento) dos stakeholders

Audiências coletivas Audiências seletivas

Compromisso com stakeholders Possibilidade de influenciar nas decisões

Empoderamento dos stakeholders

Questões Macrossociais

Prosperidade econômica Oportunidades de negócios Monitoramento (acompanhamento) Legislação

Cumprimento das leis

Quadro 1 – Indicadores de Sustentabilidade Social

Além desses indicadores há as contribuições de Sachs e Sen, refe- rências reconhecidas. As dimensões de Sachs e a tipologia de liberdades de Sen não se destinam à dimensão social. Entretanto, as dimensões social, cultural, territorial e política nacional de Sachs e a amplitude das liberdades de Sen oferecem importantes indicações que abrangem claramente o plano social.

No entender de Sachs, a dimensão Social considera necessário “alcançar um patamar razoável de homogeneidade social; distribuição de renda justa; emprego pleno e/ou autônomo com qualidade de vida decente; [e] igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais” (Ibidem, p. 85). A Cultural supõe mudanças que não desrespeitem as tradições e a autonomia na elaboração de um projeto nacional ao invés da mera reprodução de modelos alienígenas; a Territorial pretende o equilíbrio entre o urbano e o rural, superação das disparidades inter-regionais, conservação da biodiversidade, melhoria do meio ambiente urbano; e a dimensão Política nacional inclui a democracia definida em termos de apropriação universal dos direitos humanos, desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar projeto nacional, em parceria com os empreendedores, e razoável nível de coesão social (Ibidem).7

Sachs, ao ampliar as suas dimensões para além das três mais refe- ridas, reforça aspectos tangenciais da dimensão social, como o respeito às tradições, que muitas vezes compõem a dignidade humana, como é o caso nas comunidades originárias; a superação das disparidades inter- -regionais, cuja influência sobre as desigualdades sociais é inegável; e a

7 As demais dimensões são a Ecológica, que versa sobre a preservação da natureza na produção de recursos renováveis e limitação do uso de recursos não renová-

139 democracia e os direitos humanos, que constituem valores das socieda- des modernas e contemporâneas.

Para Sen é preciso ver “o desenvolvimento como um processo integrado de expansão de liberdades substantivas interligadas [...] inte- grando considerações econômicas, sociais e políticas” (SEN, 2000, p. 23). Cabe dizer que “a expansão da liberdade é considerada (1) o fim pri- mordial e (2) o principal meio do desenvolvimento” (Ibidem, p. 52), “a ideia básica de que a expansão da liberdade humana é tanto o principal fim como o principal meio do desenvolvimento” (Ibidem, p. 71).

Mas a liberdade em Sen é um conceito amplo, que abraça sem dúvida o social:

[...] as liberdades substantivas incluem capacidades elementares como por exemplo ter condições de evitar privações como a fome, a subnutrição, a morbidez evitável e a morte prematura, bem como as liberdades associadas a saber ler e fazer cálculos aritméticos, ter par- ticipação política e liberdade de expressão, etc [...] o desenvolvimento envolve a expansão dessas e de outras liberdades (Ibidem, p. 52).

É tratando da “eficácia da liberdade como meio – e não apenas como fim” que Sen chega ao que denomina de “liberdades instrumentais”, organizando uma lista que “não é, de modo algum, uma lista completa” (Ibidem, pp.53/55), constituída por cinco “tipos de liberdades instrumen- tais: (1) liberdades políticas, (2) facilidades econômicas, (3) oportunidades sociais, (4) garantias de transparência e (5) segurança protetora”.8

8 Ainda que sejam designações quase autoexplicativas, vale dizer que as liberdades

políticas “incluem os direitos políticos associados às democracias no sentido mais

abrangente”, as facilidades econômicas “são as oportunidades que os indivíduos têm de utilizar recursos econômicos com propósitos de produção, consumo ou troca [...] as considerações distributivas [...] a disponibilidade de financiamento e o acesso a ele”; já as oportunidades sociais são “disposições que a sociedade esta- belece nas áreas de educação, saúde, etc” as quais influenciam a capacidade do indivíduo viver melhor e inclusive exercer suas liberdades políticas; as garantias

de transparência e a segurança protetora se referem respectivamente à sinceridade

e confiabilidade entre as pessoas e a rede de segurança social, “impedindo que a população afetada seja reduzida à miséria abjeta, e, em alguns casos, à fome e à morte”, [...] “disposições institucionais fixas, como benefícios aos desemprega- dos e suplementos de renda regulamentares para os indigentes” (Ibidem, 55/57).

Considerando todos esses elementos e os colocando no espelho da vida contemporânea, é possível construir uma agenda.

1 A sustentabilidade social em face das contradições do modo de produção capitalista - investigação sobre limites e possibilidades

2 O “emprego decente” (OIT) e o combate à precarização - trabalho informal, análogo à escravidão, intermitente - pontos de partida da sustentabilidade social 3

Redistribuição de renda e redução das desigualdades, políticas universalistas e garantidoras de direitos humanos, sociais, trabalhistas e previdenciários, como movimento de Estado, empresas e sociedade

4 Políticas sociais como base do desenvolvimento econômico

5 Criação de espaços de democracia deliberativa e viabilização do controle social para as políticas públicas

6 Gestão clássica e heterogestão - possibilidades de descentralização administrativa e do empoderamento dos trabalhadores nas empresas 7 Liberdades e democracia como meios de desenvolvimento

8 Redução da jornada de trabalho e melhoria da mobilidade urbana – necessidades da participação social e política

9 Educação e educação política – dimensões casadas da participação e da sustentabilidade social 10 Sustentabilidade social como parte e como meio do desenvolvimento sustentável

Quadro 2 – Agenda - Dez pontos para debates, pesquisas e ações

Fonte: Elaboração própria.

Conclusões

Por motivos estruturais e conjunturais, a sustentabilidade social tem sido secundarizada nos esforços pelo desenvolvimento sustentável. Mas, sem dúvida, faz parte do conceito que se expressa no Relatório da ONU e nos textos que se seguiram a ele, onde as dimensões econômicas, ambientais, sociais e outras constituem o seu todo.

Indicadores materiais e outras referências demarcatórias do que seria a sustentabilidade social são apresentados por diversos teóricos. Eles dão concretude e permitem identificar as mudanças necessárias no

141 a melhor relação com a natureza ou a melhor habilitação para o pró- prio trabalho produtivo. O mesmo poderia ser dito de um programa de habitação e saneamento que traria repercussão sobre o ambiente, a saúde, o emprego e a sensação de liberdade e segurança que a moradia própria proporciona.

Cabe, finalmente, dizer que apesar de o Estado ser o principal ator desta dimensão social – pelo seu papel protagonista nas políticas públi- cas - não é o único ator. É e será imprescindível o apoio das organizações, dentre elas as empresas, e dos indivíduos, em todos os espaços, para que se promova a sustentabilidade social. As disputas e contradições que envolvem seus indicadores, da estabilidade no emprego à reforma agrá- ria, são difíceis e profundas. Quando Sen se refere às liberdades políticas como instrumentais, ele não ignora o seu significado substantivo, mas está destacando o quanto de governabilidade – portanto, condições políticas - é necessário para que algumas privações sejam superadas.

Cada um de nós que não desista, ao contrário, incentive e parti- cipe, sob todas as formas, do enfrentamento dessa e de outras agendas de mudança, estará contribuindo para a sustentabilidade social e, por extensão, para o desenvolvimento sustentável.

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