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O INFERN O NO NOVO TESTAMENTO

No documento O Homem e a Eternidade (páginas 65-68)

O INFERNO SEGUNDO A SAGRADA ESCRITURA

O INFERN O NO NOVO TESTAMENTO

Logo no princípio, para preparar através da penitência a vinda do Salvador, o Precursor diz para os piores: «Raça de^víboras, quem vos ensinou a fugir à ira que vos ameaça? Produzi, pois, dignos frutos de penitência» {M at., III, 7). «Virá um mais forte do que eu... Tomará na sua mão a pá, e limpará a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro e queimará as palhas num fogo inextinguível» (Luc., I ll, 7-17).

C) Cfr. V, 15; VI, 6; XV, 8.

Jesus anuncia simultâneamente a salvação eterna para cs bons e a geena para os maus. A princípio fá-lo ao exortar à penitência. Aos escribas que diziam dele: «é pelo príncipe dos demónios que ele expulsa os demónios», responde: «Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as blasfémias que proferirem; porém, o que blas­ femar contra o Espírito Santo jamais terá perdão; é réu de eterno delito (x). Manda praticar a caridade fraterna e evitar a luxúria, a todo o custo, para que o corpo não seja

lançado na geena (M at., V, 22, 29, 30).

Em Cafarnaúm, depois de ter admirado a fé do centu- rião, Jesus anuncia a conversão dos gentios e previne que certos judeus infiéis e obstinados serão lançados nas trevas

exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes (M at.,

VIII, 12). Esta expressão encontra-se seis vezes em Mateus e lê-se também em Lucas (XIII, 28).

Admoesta os apóstolos contra o temor do martírio: «Não temais aqueles que matam o corpo e não podem matar a alm a; temei antes aquele que pode lançar na geena

a alma e o corpo» (M at., X, 28).

Toda esta doutrina aparece resumida em Marcos (IX, 42-48): «Se a tua mão te escandalizar, corta-a; é melhor para ti entrares mutilado na vida eterna do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível, onde o verme não morre e o fogo não se apaga...» (2).

A mesma doutrina aparece exposta nas parábolas do joio, das redes, das núpcias reais, das virgens prudentes e das virgens loucas, dos talentos.

(!) Com efeito, este pecado contra o Espirito Santo opõe-se à luz e à graça que redime o pecado e por sua natureza é irremissível, embora por vezes, por uma misericórdia excepcional de Deus, possa ser redimido na vida presente. (M a r c ., III, 29. Cfr. M a t., XII, 32;

João, VIII, 20-24, 35).

(2) Ma t., XVIII, 8-9.

D o mesmo m odo, nas maldições dirigidas aos fariseus hipócritas que perdem as almas (M ah, XXIII, 15): «Ai de vós, escribas e fariseu hipócritas, condutores cegos..., seme­ lhantes a sepulcros caiados por fora e cheios de podridão por dentro! Serpentes, raça de víboras, como escapareis da condenação à geena?» (M at., XXIII, 13-37).

Jesus é ainda mais explícito no discurso sobre o fim do mundo e juízo final: (M at., XXV, 33-46): «Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai... porque tive fome e destes-me de comer... Então dirá tam­ bém aos que estiverem à esquerda, Apartai-vos de mim,

malditos, para o Jogo eterno, que foi preparado para o de­

mónio e para os seus anjos. Porque tive fom e e não me destes de comer..., tive sede... estava nu... era peregrino... estava doente... estava na prisão... e vós não me visitastes. E esses irão para o suplício eterno e os justos para a vida

eterna». Trata-se da sentença definitiva, sem apelo nem

, agravo. N ão se pode dizer que a palavra «eterno», a pro­ pósito do fogo, tenha sido empregada apenas em sentido amplo, porque ela opõe-se à vida eterna, como o exige o paralelismo e toda a gente concorda que a vida eterna se chama assim no sentido próprio da palavra C).

O Evangelho de João fala constantemente da vida eterna e da perdição eterna que se analisa, sobretudo, na privação de Deus. «Aquele que não crê no Filho em vez de ter a vida eterna, será alvo da ira de Deus» (III, 36). A os fariseus que se obs­ tinam, Jesus diz: Morrereis no vosso pecado. Para onde eu

vou, vós não podeis ir (VIII, 21). «Todo o que comete o

pecado é escravo do pecado. Ora o escravo não fica para sempre na casa, mas o filho fica nela para sempre» (VIII, 34). «Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora como a vara e secará; e enfeixá-lo-ão, e lançá-lo-ão no fogo, e arderá» (XV, 6).

(') Cfr. Santo Agostinho, De Civitate Dei, XXI, 23.

120 O H O M E M E A E T E R N I D A D E O I N F E R N O S EG . A S A G R A D A E S C R I T U R A l t l

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As Epístolas de São Paulo anunciam igualmente a vida

eterna para os justos c o inferno eterno para aqueles que sc obstinam no mal: os que fazem as obras da carne não entrarão no reino de Deus (Gál., V, 19-21; Efés., V, 5; 1 Cor., VI, 9, 10). Há os que morrem disso (II Cor., II, 15, 16; IV, 3; XIII, 5). As cidades de Cristo e de Belial são irreconci­ liáveis (II Cor., VI, 14, 18). Há gente que se condena para sempre (I Tim., V, 6, 11-150; II Tim., II, 12-20). Lê-sc na

Epístola aos Hebreus (X,31): «É horrível cair nas mãos

do Deus vivo». Pedro anuncia aos falsos profetas a per­ dição eterna (II Pedro, II, 1, 4, 12, 14; III, 7). A Epístola de

São Judas (6, 13) fala de «cadeias eternas», de «trevas por

toda a eternidade». A Epístola de São Tiago (II, 13) ameaça com um juízo sem misericórdia aquele que não exerce a misericórdia; os ricos maus, que não se compadecem dos pobres acumulam um tesouro de ira para o último dia (IV, 4-8; V, 3).

O Apocalipse, por último, opõe a vitória eterna de Cristo, na Jerusalém celeste, à condenação de todos aqueles que hão-de ser lançados no «tanque de fogo e de enxofre» (XXI, 8). Chama-se a esta condenação eterna «a segunda morte» (ibidem)', consiste na privação \da vida divina, da visão de Deus (XXI, 27; XXII, 15), num lugar de suplício eterno, onde serão atormentados pelo fogo todos aqueles que levarem o sinal da besta e que serão excluídos do livro da vida (XIII, 14; XIV, 10, 11; XX, 6, 14).

Já os grandes profetas, sobretudo Isaías (LXVI, 15,24), com o vimos, o anunciavam. A partir deles, até ao Apoca­ lipse, a revelação do inferno eterno — assim como a da vida eterna — não cessou de se tornar cada vez mais precisa. Compreende a referência à pena do dano, à do fogo, à desigualdade dos castigos e a sua eternidade, em virtude do pecado mortal sem arrependimento que deixou a alma na revolta habitual e perpétua contra Deus, infinitamente bom.

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Não podemos referir aqui o testemunho da Tradição. Lembremos somente que, antes do século III e da controvér­ sia dos origenistas, já os Padres ensinavam a eternidade das penas do inferno (x). Os mártires dizem muitas vezes que não é o fogo temporal que temem, mas sim o fogo eterno.

D o século III até ao V, a maior parte dos Padres combate o erro de Orígenes e dos origenistas sobre a não eternidade das penas do inferno; entre eles, deve citar-se, sobretudo, São Método, São Cirilo de Jerusalém, Santo Epifânio, São Basílio, São João Crisóstomo, Santo Efrém, São Cipriano, São Jerónimo e sobretudo Santo Agostinho (2). Todos estes Padres consideram a afirmação da conversão final dos de­ mónios e dos homens reprovados contrária à revelação; para eles, um demónio convertido constitui uma impossibili­ dade, assim como um condenado convertido.

N o século V, a controvérsia acabou pela condenação deste erro de Orígenes — Sínodo de Constantinopla, em 553 — confirmada pelo Papa Virgílio (Denz., 211).

Os Padres citam muitas vezes as palavras de Isaías, evocadas por Jesus: «o verme que não morre e o fogo que não se apaga»; a controvérsia origenista contribuiu para precisar melhor o sentido das palavras do Evangelho (M at., XXV, 41-46) «fogo eterno», «suplício eterno». Santo Agos­ tinho (3). particularmente, mostra que a palavra eterno não pode ser tomada aqui em sentido amplo, porque se opõe, corno • exige o paralelismo, à vida eterna assim chamada, expressão que todos consideram empregada em sentido próprio.

C1) Cfr. R o u e t d e J o u r n e l, Enchir. Patristic. Index theologicus

n.° 594. — Diet, thèol. cathol., Enfer (M Richard), c. 47-56.

(2) Cfr. R . de J o u r n e l, ob. cit., ibid. — D iet, théoí. cath., art. Enfer, c. 56-77

(3) De Civitate Dei, XXI, 23.

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No documento O Homem e a Eternidade (páginas 65-68)