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2. Revisão da Literatura

2.2. Qualidade da Avaliação

2.2.3. Inspecção e a IGE

Nas últimas décadas o papel da inspecção alterou-se, as suas funções deixaram de ser exclusivamente de controlo e passaram a apresentar recomendações decorrentes do processo avaliativo. As escolas passaram a utilizar essas recomendações na definição das suas prioridades e nos seus objectivos de melhoria, potencializando assim a função formativa da avaliação.

O papel das inspecções tem vindo a mudar nos países mais desenvolvidos, no sentido de garantir a qualidade, valorizando as competências das escolas e a sua capacidade de serem organizações que aprendem. (Clímaco, 2003, p.124)

Numa perspectiva idêntica Clímaco (2003), salienta que esta visão integradora, tem vindo a ter uma consequência importante na transformação ou na mudança do papel da Administração e das suas estruturas no sector educativo. Por um lado, tem sido o motor da autonomia das escolas e da descentralização educativa, por outro tem feito alterar as funções de controlo, valorizando as funções de regulação. Com a valorização da autonomia das escolas e da auto-avaliação, como instrumento de melhoria do desempenho, o papel das inspecções, tem vindo a mudar nos países mais desenvolvidos. No sentido de garantir a qualidade, passou a valorizar-se as competências das escolas e a sua capacidade de serem organizações que aprendem, assim sendo, cada vez mais a avaliação externa já não é uma competência exclusiva das inspecções.

O papel da inspecção educativa tem sido muito importante tanto no nosso país, como em quase todos os países que se preocupam com a educação e com a formação dos seus cidadãos. Se pretendermos fazer uma comparação relativamente à forma como outros países recorreram às suas inspecções nacionais, para fazer a avaliação das suas escolas, poderemos consultar os trabalhos de alguns autores e de alguns organismos institucionais.

A SICI é um organismo de inspectores internacionais que tem contribuído, para a globalização das acções de avaliação das escolas a um nível internacional, o seu trabalho é divulgado de várias formas entre elas no seu sítio da internet. Podemos considerar que a nível europeu o trabalho desenvolvido em Inglaterra a par da sua larga experiência, têm contribuído e servido de referência à maioria dos países europeus, destacam-se os trabalhos desenvolvidos pelas inspecções escocesas HMIE, inglesas OFSTED e irlandesas ETINI.

A experiência de França é apresentada por Lafond (1998) e teve origem na experiência inglesa. A análise que este autor faz situa-se na década de noventa, onde muito poucas escolas francesas possuíam a cultura da auto-avaliação, contudo as suas práticas avaliativas têm vindo a evoluir. Também Sala (2003) analisa a experiência de avaliação de escolas em Espanha e refere que esta se traduziu numa única experiência, onde a avaliação externa foi global e formal. Esta experiência foi levada a cabo pelo Serviço de Inspecção Espanhol e tratou-se do Plano de Avaliação EVA, que ocorreu em todo o território espanhol nos primeiros anos de noventa.

A abordagem de Balzan e Dias Sobrinho (1995) direcciona-se para a avaliação institucional no Brasil e referem-se à década de oitenta, como aquela a partir da qual se sentiu necessidade dessa avaliação institucional, por um lado pela exigência ética da prestação de contas à sociedade e por outro pelo mecanismo de fortalecimento da instituição pública perante as contínuas ameaças de privatização. Assim, desde o início da década de noventa, que a temática da avaliação institucional se passou a associar às questões da autonomia e da qualidade. Na Europa foi em Julho de 2004, que o OFSTED (inspecção de educação inglesa) publicou um extenso relatório – Improvement through inspection – An evaluation of the impact of OFSTED’s work – no qual avalia o impacto das inspecções na qualidade da educação, ao longo de vários anos e até 2003. Este relatório revela o modo como as inspecções inglesas responderam às mudanças na política educativa – currículo, avaliação, autonomia das escolas, etc.

No caso português, o Decreto-Lei nº 540/79 de 31 de Dezembro, veio modernizar a concepção de Inspecção, atribuindo-lhe uma nova designação a Inspecção-Geral de Ensino. Este foi o primeiro documento que atribuiu à Inspecção funções avaliativas e pretendeu por outro lado, distinguir claramente as funções de concepção, de execução e de controlo, autonomizando esta função de controlo, desempenhada até então pelas Direcções Gerais de Ensino. Neste diploma legal, a Inspecção-Geral de Ensino, foi entendida como "serviço de controlo pedagógico, administrativo-financeiro e disciplinar no subsistema do ensino não-superior" (art. 2º). Embora a intenção fosse a de avaliar e melhorar a escola, o que se pretendia avaliar, era antes o que se fazia na escola à luz do que racional e genericamente se considerava que devia ser feito.

A orgânica da Inspecção-Geral de Ensino é reformulada, no Decreto-Lei nº 140/93 de 26 de Abril e passa a designar-se por Inspecção-Geral da Educação (IGE), designação que se mantém até hoje. Este serviço central do ME é dotado de autonomia administrativa, com funções de acompanhamento e fiscalização, nas vertentes pedagógica e técnica, dos ensinos pré-escolar, básico e secundário e superior. Assim, na Portaria nº 572/93 de 2 de Junho, são definidos os seus objectivos, a sua estrutura e a sua composição dos núcleos de coordenação e segue uma orientação idêntica à da legislação educacional publicada a 26 de Abril. A reestruturação operada na Orgânica da IGE, pelo Decreto-Lei nº 271/95 de 23 de Outubro, embora manifeste uma atenção particular à relação controlo/melhoria, mantém globalmente o estabelecido pela

generalidade da legislação anterior. Na Lei n.º 18/96 de 20 de Junho, é aprovada a Lei Orgânica da IGE, onde lhe cabe na área da educação pré-escolar e dos ensinos básico, secundário e profissional: conceber, planear, coordenar e avaliar a execução de inspecções e auditorias à realização escolar. Verifica ainda os requisitos relativos à concessão de autonomia e paralelismo pedagógico.

Com a publicação do Decreto-Lei nº 233/97 de 3 de Setembro, relativo à Lei Orgânica da IGE, ocorre a ratificação do Decreto-Lei nº 271/95 de 23 de Outubro e da Lei nº 18/96, de 20 de Junho. No Decreto-Lei nº 70/99 de 12 de Março, atribui-se à IGE a representação do Ministério da Educação nas estruturas de gestão e inspecção das escolas portuguesas no estrangeiro. Quanto ao Decreto-Lei n.º 213/06 de 27 de Outubro, vem definir a modernização da Administração Pública, como um dos instrumentos essenciais da estratégia de desenvolvimento do País. Por fim e no decorrer do ano de 2007, foram publicados três documentos relativos à IGE foram eles o Decreto Regulamentar nº 81-B/2007, de 31 de Julho, que aprova a nova estrutura orgânica da IGE, em conformidade com a missão e as atribuições que lhe são cometidas pela nova Lei Orgânica do Ministério da Educação. A Portaria n.º 827-F/2007 de 31 de Julho, que define a missão, atribuições e tipo de organização interna da IGE e a Portaria n.º 827- G/2007 de 31 de Julho, que define a sua missão, atribuições e tipo de organização interna.

Na opinião de Rocha (1999) a partir de Maio de 1996, com a reconfiguração do quadro orientador da política de administração da educação, da administração das escolas e ainda dos novos regimes de avaliação e formação dos professores, abre-se claramente um novo ciclo, no qual são reconhecidas não só a centralidade da escola no Sistema Educativo, como também a importância da avaliação da escola enquanto organização. Com a publicação do Decreto-Lei nº 31/2002, de 20 de Dezembro que aprova o sistema de avaliação da educação e do ensino não superior, surge uma nova etapa em Portugal, as escolas têm que ser avaliadas e essa avaliação tem a supervisão da IGE. Actualmente o processo de avaliação das escolas portuguesas, passa por duas etapas distintas. A primeira corresponde ao processo da sua auto-avaliação, realizada pela própria escola e a segunda etapa corresponde à avaliação externa da escola, que terá que ser realizada com a supervisão da IGE.

A IGE deve apoiar a avaliação interna e a avaliação externa das escolas. Estas avaliações têm sido consideradas como duas estratégias fundamentais no desenvolvimento escolar, mas na opinião de Clímaco (2005), o que tem acontecido é que têm sido conduzidas como dois processos diferentes. Apesar de alguns projectos ou programas de avaliação de escolas, desenvolvidos em Portugal podemos considerar que a grande mudança na avaliação de escolas ocorreu a partir de 2006, foi este o momento a partir do qual se passou de experiências pontuais para uma experiência gradual, global e nacional. O papel da IGE na avaliação das escolas evoluiu de um papel meramente fiscalizador e controlador da conformidade normativa, para um papel de avaliação integrada ou de avaliação e acompanhamento, emergente do novo quadro de autonomia das escolas e dos novos modelos de avaliação institucional escolar.