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3 AS ABORDAGENS INSTITUCIONALISTAS

3.2 INSTITUCIONALISMO ECONÔMICO

O novo institucionalismo econômico se desenvolveu a partir de visões institucionalistas que não se enquadram nos pressupostos e escritos de Veblen, Commons e Mitchell, sendo, segundo Conceição (2007), geralmente classificadas em duas subdivisões: a Nova Economia Institucional, que tem como principais autores de referência Ronald Coase, Oliver Williamson e Douglass North, e a corrente neo-institucionalista, que segundo o autor “reivindica sua filiação ao ‘velho’ institucionalismo e uma grande proximidade com o evolucionismo” (CONCEIÇÃO, 2007, p. 624 ).

Ronald Coase, em 1937, escreveu um artigo intitulado The Nature of the Firm, ao qual é atribuído grande importância por invocar a retirada das firmas do ambiente proposto pela teoria econômica neoclássica e por influenciar a origem na década de 1960 da Nova Economia Institucional (NEI). Segundo Pereira, Dathein e Conceição (2014), o trabalho somava-se, assim, ao clássico estudo de Hall e Hitch sobre o princípio do custo total e rompiam simultaneamente com dois princípios que fundamentavam os pilares da microeconomia neoclássica para a existência da firma: o primeiro, que não atribuía à tecnologia, mas às transações e seus respectivos custos o objeto central da análise das firmas; e, segundo, a incerteza e, de maneira implícita, a racionalidade limitada constituem-se em elementos-chave na análise dos custos de transação.

O questionamento crucial que Coase elaborou voltou-se, então, para as razões pelas quais os agentes optariam por desenvolver soluções contratuais em detrimento dos mecanismos de preços, o que se contrapunha ao princípio da otimalidade dos mercados. Dessa forma, o autor evidenciou que não apenas o ato de produzir gerava custos, mas também o ato de comprar e de vender, negligenciados pelo pensamento econômico dominante, discussão essa reconhecida apenas na década de 1960 no meio acadêmico. Na década de 1960, além dos trabalhos de Coese, outras publicações foram dedicadas à construção de conhecimentos que evidenciaram a importância das instituições nas transações econômicas, principalmente aqueles escritos por Oliver Williamson.

Williamson, um economista norte-americano que discute aspectos do custo de transação, afirmou que o diferencia a NEI de outras correntes econômicas institucionalistas é o fato de ela tratar dos fatores determinantes da construção das instituições e da mudança institucional como sendo passíveis de análise com uso de instrumentais da teoria econômica, o que seria compreendida a partir da concepção da existência quatro níveis interligados da mudança institucional, sendo que a NEI ofereceria instrumentos para investigar o ambiente institucional e as instituições de governança a partir de um determinado contexto (WILLIAMSON, 2000).

Para Williamson, o ambiente institucional seria o nível de análise das mudanças institucionais, sendo que sua estrutura é formada por regras formais e informais, produtos de processos evolutivos que se transformam em um intervalo de tempo que varia de uma década à um século. Essas regras são compostas tanto de restrições informais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) quanto de regras formais (constituições, leis, direitos de propriedade), incluindo o executivo, legislativo judiciário e funções oficiais, e burocráticas do governante, bem como da distribuição de poderes entre os diferentes níveis de governo (federalismo). Nesse nível de análise, a definição e a aplicação dos direitos de propriedade e leis são objetos importantes de análise.

As instituições de governança tornam-se também objeto de análise da NEI, conforme Williamson (2000), e compõem outro nível de análise. Segundo Conceição (2002), isso implica aspectos em que cada forma genérica de governança (mercado, híbrido, agência privada ou agência pública) é definida por um conjunto de atributos, em que cada uma revela discretas diferenças estruturais, tanto de custo quanto de concorrência; cada forma genérica de governança é sustentada por uma maneira distinta de contrato legal; as transações, que diferem em seus atributos, estão alinhadas conforme as estruturas de governança, que também diferem em custos e competências.

Segundo o autor (1989), a compreensão de custo de transação é fundamental, sendo definida como unidade de análise que difere quanto à frequência, à incerteza e, especialmente, à especificidade dos ativos. Além disso, a abordagem dos custos de transação proposta por Williamson (1989) combina a incerteza e a racionalidade limitada com a busca do autointeresse (oportunismo). Nesse sentido, as instituições passam a ter um papel fundamental nas relações entre os agentes para garantir a realização dos contratos (WILLIAMSON, 1998).

Williamson mostra-se preocupado em demonstrar como o desenvolvimento de certas instituições resulta de tentativas de diminuição dos custos das firmas e, por isso, formula três hipóteses que acabam definindo o objeto de pesquisa da NEI:

a) as transações e os custos a ela associados definem diferentes modos institucionais de organização;

b) a tecnologia, embora se constitua em aspecto fundamental da organização da firma, não é um fator determinante da mesma;

c) em terceiro lugar, as “falhas de mercado” são centrais à análise (WILLIAMSON, 1991).

Por sua vez, Douglass North (1991, 2006) entende que o conceito de custos de transação pode ser utilizado numa perspectiva bastante ampla, a exemplo do tratamento que é dado ao conceito de instituições. North (1988 apud DIMAGGIO; POWELL, 1991) argumenta que as instituições são moldadas por fatores históricos que limitam a escala aberta às opções dos tomadores de decisão. Assim, eles produzem resultados diferentes do que aqueles que estão envolvidos por uma teoria de escolhas ilimitadas e respostas estratégicas. Para ele, a NEI adota uma definição próxima à teoria dos jogos, tendo sugerido que as “instituições são as regras do jogo”, pois dadas as motivações dos indivíduos, as organizações, a tecnologia e outras restrições os indivíduos e as organizações são os “jogadores” (NORTH, 1991, p. 4). Em suma, o autor considera que os indivíduos fazem escolhas sob determinada “estrutura institucional”, que tende a se modificar ao longo do tempo (NORTH, 1993).

Apesar dos pressupostos compartilhados, segundo DiMaggio e Powell (1991), existem pontos de divergência, mesmo dentro da nova teoria institucional. Em particular, há diferenças na maneira de lidar com os custos de transação, as alegações quanto ao que instituições ideais e a importância da expectativa diferencial dada a Estado e ideologia. Para Conceição (2007) embora a NEI seja alvo de importantes avanços no campo da teoria da firma sob uma perspectiva não convencional, ainda mantem fortes vinculações com o neoclassicismo, na medida em que sugerem que as instituições possam vir a reduzir custos de

transação por minimizarem as incertezas. Para o autor, o princípio “otimizador” das instituições é um objeto estranho na teoria dos primeiros institucionalistas.

O pensamento institucionalista na economia ainda pode abrigar outras subdivisões. Samuels (1995), por exemplo, sustenta a existência de uma terceira corrente chamada por ele de Neoinstitucionalista, que reivindica sua filiação ao “Velho” Institucionalismo e uma grande proximidade com o evolucionismo.