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Instrumento: Guião de entrevista semiestruturada

Capítulo I – Metodologias

4. Instrumento: Guião de entrevista semiestruturada

No que diz respeito ao guião de entrevista27propriamente dito, este está constituído por três partes fundamentais: 1) Categoria Principal; 2) Subdimensões dentro de cada categoria e 3) Exemplos de Questões.

Desta feita, as questões de investigação e a literatura científica sobre o terrorismo, sentimento de insegurança e mass media, foram os alicerces das categorias, sendo estas as seguintes: a) Mass media (hábitos dos sujeitos); b) Medo Geral; c) Significados de Insegurança; d) Medo do Terrorismo; e) Mass media e Medo do Terrorismo.

A primeira grande categoria incluída no guião foi a) Mass media (hábitos dos

sujeitos): aqui procurou-se aceder aos hábitos de consumo de notícias, quais as fontes

associadas e frequência de leitura de notícias, colocando-se as seguintes questões: “Onde é que costuma ler/ver notícias?”; “Com que frequência lê notícias?”. Também, procurou-se aceder à visão que os entrevistados têm sobre os mass media, e foi precisamente com a questão “Em geral o que pensa sobre as notícias que passam na televisão/ das notícias de jornal/ daquilo que ouve no rádio, do que lê online?”, que após as questões sobre os hábitos de consumo que são mais fechadas e que serviram para “quebrar o gelo” inicial, que se iniciaram todas as entrevistas. No fundo, procurou-se iniciar a entrevista com a chamada “grand tour question” (Spradley, 1979 cit in Leech, 2002, p.667), sendo que este tipo de perguntas procura que os entrevistados façam uma visita verbal (tour) a algo que conhecem bem (Leech, 2002, p.667). Esta questão tem por base a Teoria da Cultivação, uma vez que o foco da análise desta é

26 Só em casos excecionais é que pode haver azo a uma reorientação do discurso deste último para o tema em

questão recorrendo-se a técnicas como a recentração.

50 precisamente a exposição cumulativa à televisão em geral, durante longos períodos de tempo (Gerbner & Gross, 1976; Shanahan, Shanahan & Morgan, 1999). Ainda nesta categoria, procurou-se aceder ao tipo de notícias que os entrevistados consomem através da questão “Que assuntos o motivam a ler/ver mais certas notícias que outras?”; à procura de notícias e informação pelos indivíduos, com a questão “Quando está nas redes sociais, tem por hábito procurar notícias?” e por último, tentar aceder a uma notícia que tenha criado impacto no entrevistado, com a pergunta: “Recentemente, alguma notícia mexeu consigo?”, adicionalmente questionou-se também ao entrevistado se tinha comentado essa noticia com alguém “Costuma falar desse tipo de notícias com os seus amigos/vizinhos?”

Para a categoria b) Medo Geral: procurou-se aceder às experiências de vitimação dos entrevistados ou de terceiros, através da questão: “Alguma vez foi vítima de um crime?”, caso o entrevisto respondesse que não, colocava-se a seguinte questão: “Algum amigo ou familiar foi vítima de algum crime/vitimação?”. A literatura tem procurado estudar a vitimação enquanto fator determinante do sentimento de insegurança, portanto, num estudo qualitativo procura-se precisamente aceder às experiências de vitimação dos sujeitos, analisando os significados atribuídos à vitimação e por sua vez, o sentido que essas mesmas experiências tiveram na vida dos indivíduos. Ainda, a literatura mostra-nos que por vezes existe a vitimação vicariante, isto é, o sujeito não é vitimado diretamente, mas sim terceiros (amigos, vizinhos), e por isso também se sente vítima, de alguma forma, desse crime (Bennett, 1990). Procurou então entender-se se essas experiências de vitimação influenciaram a sua vida, apresentado a seguinte questão: “Depois dessa experiência, alguma vez sentiu medo?”/ “Depois dessa experiência, alguma coisa mudou na sua vida?” e perceber que tipos de crimes e/ou situações fazem com que se sintam mais amedrontados, através da questão: “O que é que mais teme que lhe possa acontecer na vida?”. Caso a pessoa não conseguisse responder ou se fugisse ao assunto, era colocada a seguinte questão: “Sabe dizer-me que situações é que o/a fazem sentir amedrontado/a?”.

Na terceira categoria, c) Significados de Insegurança: procurou-se aceder à descrição do que é a insegurança com a seguinte questão: “O que é para si sentir-se inseguro?”/ “ O que é que o faz sentir inseguro?”; procurou-se aceder à perceção de como é que as diferentes dimensões de se ser inseguro são relatadas pelos sujeitos – esta questão é importante para percebe quais as expressões que os sujeitos usam para se referirem aquilo que designamos como “experiência de insegurança”; Adicionalmente, pretendia-se entender como é que os sujeitos relatam as suas experiências de insegurança, e aqui pedia-se ao entrevistado para relatar a

51 última experiencia em que se tinha sentido inseguro, recorrendo à seguinte questão: “Pode falar-me sobre a última experiencia em que se sentiu inseguro/a?”. Em seguida, de forma a explorar os significados atribuídos a essa experiência, colocava-se a questão seguinte: “Na sua perspetiva, porque é que essa experiência/episódio o/a fez sentir assim?”; e ainda, atender às expressões usadas pelos sujeitos para designar “medo do terrorismo” e “terrorismo”.

Na quarta categoria, d) Medo do Terrorismo: procurou-se perceber as narrativas individuais de medo e medo do terrorismo, introduzindo-se uma primeira questão: “O que é para si ter medo?”, e de seguida questionou-se: “Sente medo do terrorismo? Pode falar-me um pouco mais desse medo?”; Mais ainda, pretendeu-se entender como é que os sujeitos se sentiram face a alguns eventos (11 de setembros; ataques de Paris, etc.). Claro que, como estamos em Portugal e os eventos terroristas neste país são quase inexistentes, sentiu-se necessidade de usar os grandes eventos terroristas como exemplo, de forma a aceder aos sentimentos que os sujeitos sentiram ao visualizar os mesmos. Para tal, recorreu-se à seguinte questão: “Como se sentiu após ter conhecimento (através das notícias) dos ataques do 11 de Set., ataques de paris, etc.”; Visou-se também entender os sentimentos durante e após a visualização de acontecimentos/ataques terroristas, com a questão: “O que sentiu durante a visualização desses ataques?”; aceder a situações e/ou figuras do medo ligadas ao medo do terrorismo (que tipo de pessoas os fazem sentir medo), aqui colocou-se a questão: “Alguma vez pensou que estava perante um terrorista (ou que tinha visto um)? Se sim, quais eram as características dessa pessoa?”, ainda se procurou saber se os entrevistados tinham passado por experiências de terrorismo ou se conheciam alguém que tinham passado por tal, colocando-se a questão seguinte: “Alguma vez pensou que iria acontecer um ataque terrorista? Pode-me contar essa situação?” ou então, extrapolava-se esta questão para outra pessoa: “Conhece alguém que tenha passado por isto?”; por fim, entender como é que a perceção sobre o terrorismo afeta os comportamentos de segurança e as rotinas dos indivíduos, sendo que se colocou a seguinte questão recorrendo a eventos exemplificativos: “Por exemplo, após os atentados mais recente, de Londres, Barcelona, entre outros, alterou a sua rotina?”. Acrescentado se fosse necessário: “Tomou algum tipo de precaução? Se sim, qual/quais?” e se ainda fosse necessário, introduzir um exemplo: “Quando anda de transportes públicos, em praças, aeroportos, eventos de massas, sente-se seguro/a?”.

Por fim, na última categoria, e) Mass media e Terrorismo, procurou-se situar os entrevistados entre as notícias e medo do terrorismo, ou seja, saber se as notícias sobre o terrorismo têm impacto no dia-a-dia dos entrevistados, para isso colocou-se a seguinte questão:

52 “As notícias sobre o terrorismo têm impacto em si/mexem consigo? Pode descrever-me o que sente?”; procurou-se também saber quanto à rigorosidade das notícias sobre o terrorismo nos jornais, ou seja, anteder aquilo que os sujeitos entendem por uma notícia de qualidade e o que pensa sobre o conteúdo das noticias que tem por hábito ler, para tal colocou-se a seguinte questão: “Pode dizer-me o que é que entende por uma notícia de qualidade?”/ “O que pensa sobre a qualidade do conteúdo que lê/vê nas notícias?”; entender se os sujeitos confiam ou não nas notícias sobre o terrorismo, colocando-se a seguinte questão: “Para si, as notícias sobre o terrorismo são fidedignas? Confia nelas?”, depois, procurou-se desenvolver mais este ponto, colocando-se a seguinte questão: “Acha que o conteúdo das notícias corresponde à realidade”, ainda procurou-se aceder aquilo que os sujeitos pensam sobre a existência ou não de objetivos por parte dos mass media ao passarem notícias sobre o terrorismo, e para tal fez-se a seguinte questão: “Tendo em conta as notícias a que já teve acesso sobre o terrorismo, acha que os media têm algum(ns) objetivo(s) na cobertura dessas notícias?”; e por último, procurou-se aceder à perspetiva dos entrevistados sobre o exagero, enfatização e credibilidade dos mass media, e portanto, pediu-se aos sujeitos para descreverem qual tinha sido a forma (se pela TV, jornais, online) como os media relataram a ultima notícia de terrorismo que tiveram acesso ou que se recordassem – “Pode-me descrever qual a forma como os media relataram a última notícia de terrorismo a que teve acesso?”, e ainda, procurou-se entender o que os sujeitos achavam sobre essa forma de passar a informação “O que pensa dessa forma de passar a informação?”.