• Nenhum resultado encontrado

Nos anos 90 verificou-se um fluxo positivo de investimentos externos diretos no Brasil, desencadeando uma guerra fiscal que atinge seu ápice na segunda metade da mesma década.

Cabe destacar que disputas entre as unidades federativas aconteceram por todo período republicano brasileiro, com discussões sobre reformas no sistema tributário para reduzir a disputa fiscal entre as unidades federativas.

O objeto de pesquisa abrange várias áreas da economia, entre elas a teoria microeconômica e a economia do setor público. Como ferramenta de análise diversos autores utilizam a teoria dos jogos não cooperativos na intenção de ajudar a compreender as interações estratégicas entre os estados e municípios em um ambiente de rivalidade fiscal. Neste trabalho utiliza-se o método de regressão com dados em painel como ferramental econométrico, para estimar o impacto de investimentos em montadoras de automóveis sobre a atividade econômica municipal, que serve como proxy para o nível de bem-estar econômico, lembrando que os investimentos da indústria automobilística se referem àqueles disputados pela competição fiscal no Brasil.

O tema da competição fiscal tem sido tratado em alguns trabalhos de economia do setor público. Muitos desses avaliam os efeitos de impostos e subsídios sobre a alocação de capital entre as várias jurisdições de um sistema nacional e a repercussão desses efeitos sobre o bem-estar da economia como um todo. Poucos estudos, na literatura da competição fiscal1, se utilizam de métodos econométricos para avaliar o resultado da competição fiscal no Brasil. A guerra fiscal é o termo usado para denominar a disputa entre Estados ou autoridades fiscais, motivada por um aumento na receita fiscal presente e futura e por um potencial acréscimo no bem-estar dos cidadãos do Estado ou autoridade fiscal “vencedora”.

1 Cabe destacar a existência de alguns trabalhos empíricos que oferecem estimativas do efeito da competição fiscal sobre a economia dos estados, como em Nascimento (2008).

O assunto de pesquisa se resume em verificar quais os efeitos da competição fiscal sobre a economia local na Região Sul. Com a utilização de modelos econométricos pretende-se responder as seguintes questões: Os investimentos privados em montadoras, derivados de incentivos fiscais, diminui ou aumenta o bem-estar econômico dos residentes de estados e municípios envolvidos na disputa? Quais os efeitos dos investimentos na indústria automobilística, resultantes da disputa, sobre a atividade econômica? Existe extravasamento dos efeitos de investimentos em montadoras sobre a atividade econômica dos municípios de origem para os adjacentes?

Uma hipótese é que investimentos aumentam o bem-estar devido ao extravasamento, medido pelo nível de atividade econômica dos setores estudados nos municípios sede do investimento e nos adjacentes. Existe a conjectura de que valores da produção agrícola e dos serviços públicos tenham um desempenho inferior a outras atividades, devido à realocação de recursos entre setores, do setor público ao setor privado e do setor agrícola para o setor industrial e de serviços.

A principal finalidade neste trabalho é estimar e analisar os efeitos de investimentos privados em montadoras envolvidas na disputa fiscal entre as autoridades fiscais locais e estaduais sobre os municípios da Região Sul no período de 1985 a 2008. Além disso, neste ensaio buscou-se atingir os seguintes objetivos específicos:

- Fazer uma revisão teórica sobre a literatura da competição fiscal, apresentando as características e os resultados de alguns modelos teóricos.

- Estimar os efeitos de investimentos privados em montadoras envolvidas na disputa fiscal sobre os municípios brasileiros no período de 1985 a 2008.

- Analisar e avaliar os efeitos dos investimentos em montadoras sobre os municípios brasileiros no período de 1985 a 2008.

Na literatura tradicional sobre a competição fiscal os resultados sugerem que as jurisdições locais tendem a subprover os bens e serviços públicos. Tal motivação decorre, por exemplo, do fato de uma jurisdição decidir reduzir suas alíquotas de impostos, sendo esta uma decisão que afetará a alocação de recursos na economia, ou seja, as famílias possivelmente irão realocar seus recursos em direção a jurisdição que ofereça a maior rentabilidade e o menor custo relacionado ao fator de produção ofertado. Como na literatura os fatores de produção, o capital ou a propriedade são a base para tributação das autoridades fiscais locais, um imposto menor gera um influxo de recursos, enquanto em outras localidades que mantém suas alíquotas existirá um

fluxo de saída de recursos e perda de receita tributária. Logo, como o número de jurisdições locais é relativamente grande, existe um incentivo de que cada uma em particular reduza suas alíquotas de impostos. Consequentemente, a economia como um todo passa a subprover bens e serviços públicos locais para os cidadãos da federação.

As interações estratégicas ficam mais evidentes quando existe uma possibilidade de fluxo de entrada de investimentos diretos externos na economia como um todo. Os agentes proprietários deste capital tendem, no caso de um sistema descentralizado de governo, a barganhar benefícios fiscais com as autoridades estaduais e locais. Além de levar em conta os fatores tradicionais para a tomada de decisão de localização, os investidores negociam a obtenção de vantagens fiscais. Neste caso os governos estaduais e locais desencadeiam uma disputa fiscal, onde o vencedor hospeda o investimento, que por hipótese irá gerar aumento de receita fiscal, emprego e renda na localidade ou região. Os estados e municípios perdedores poderão ter perdas devido ao fluxo de saída de recursos, que se direcionarão aos municípios e ou estados vencedores.

Em uma economia nacional com sistema de governo descentralizado, a disputa fiscal se dá entre municípios, estados ou províncias, ou ainda entre autoridades de níveis hierárquicos diferentes. No Brasil, este tipo de embate, denominado de "guerra fiscal", ficou caracterizado como uma disputa entre estados e entre municípios.

O problema da guerra fiscal no Brasil começou a aparecer com o federalismo fiscal, regime adotado pela "república velha". O federalismo é uma forma de governo que reúne várias jurisdições locais, com determinada autonomia, em uma única nação. A autonomia dessas autoridades locais passa a ser limitada pelo interesse comum dos membros. Porém, no Brasil, o sistema federativo partiu de um princípio de governo centralizado – império – em direção a um aparelho de governo mais descentralizado, contrário a um processo de construção de uma federação, como no caso dos Estados Unidos da América e outros países europeus.

Segundo Lígia Osório Silva (1999), o país passou por vários ciclos de aumento e redução da centralização política. Em alguns ciclos a autonomia exacerbada gerava algumas guerras fiscais, uma delas foi a “guerra da cachaça” entre o Rio Grande do Sul e o estado de Pernambuco.

No estado novo, os conflitos interjurisdicionais foram suprimidos, além de eliminar as alfândegas estaduais.

A seguir apresenta-se uma breve fundamentação teórica sobre o tema da competição fiscal e suas implicações sobre o bem-estar econômico. Na seção 2.3 faz-se um relato sucinto sobre a metodologia utilizada para testar as hipóteses e responder os problemas de pesquisa. Na seção 2.4 é realizada uma análise dos resultados dos modelos estimados que identificam e avaliam os efeitos dos investimentos privados em montadoras de automóveis sobre os municípios da Região Sul, envolvidos na competição fiscal. Por fim, são apresentadas algumas considerações finais e limitações sobre o estudo.