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Inventar se no Equador

No documento Livro de Testes Manual Sentidos 10 (páginas 76-79)

Viajar serve também para perceber quem somos, o que nos diferencia, o que nos pertence e, pelo contrário, o que é apenas tomado de empréstimo de outros. Pergunto-me que revelação será para um francês comer os queijos italianos e beber os vinhos sul-africanos: “Afinal, não somos os melhores do mundo”, terá ele de concluir. Se tiver capacidade para isso.

Um dos lugares-comuns que nós, os portugueses, temos sobre nós próprios é que somos uma nação de poetas. Talvez sim, mas não mais do que os chilenos, com dois poetas distinguidos com o Prémio Nobel; ou do que os italianos, com outros dois Nobel e provavelmente o maior poeta de todos os tempos, Dante; não para os ingleses, que dizem isso de Shakespeare. Os húngaros con- sideram os seus poetas heróis nacionais e os chineses cultivam a poesia há milénios, e os persas, já que lhes é proibido o vinho, escrevem poesia que o exalta.

Mas não quero falar desse lugar-comum. Interessa-me hoje outro: o de que nós, os portugue- ses, somos extremamente criativos e desenrascados, que sabemos sempre dar a volta ao bico do prego, que temos uma capacidade acima da média internacional para inventar soluções para os problemas que nos afligem. Uma voltinha pelo Equador, esse país com um pé em cada hemisfério e a cabeça acima das nuvens, faz-me pensar que não há nada como viajar para questionar certos lugares-comuns nacionais.

Passear a pé pelas ruas de Quito, a capital da nação sul-americana, ou de Guayaquil, o seu mo- tor económico, é revelador. Nunca vi em Portugal nada que se assemelhe à enorme inventividade, imaginação e esperteza desta gente desesperada por chegar ao fim do dia com algo na barriga. Bem se diz que a necessidade aguça o engenho, e o engenho dos equadorenhos é notável.

Cada esquina, cada semáforo, cada arcada apresenta uma nova solução para o velho problema de ganhar a vida. Inventa-se em todo o lado uma ocupação, uma fonte de rendimentos, um modo de arranjar uns trocos. O nível de receitas é quase sempre mínimo, e pergunto-me como é possível viver com tão pouco. Mas é uma pergunta banal, típica de um europeu que observa a vida dos sul- -americanos. Eles perguntariam como podemos viver nós com tanto, e perguntariam, sobretudo: Para quê?

Gonçalo Cadilhe, Encontros Marcados, Lisboa, Clube do Autor, SA, 2011, pp. 39-40.

1. Para responder a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., selecione a opção correta. 1.1. De acordo com o conteúdo dos dois primeiros parágrafos, os portugueses

(A) têm razão para se acharem superiores, ao nível da literatura. (B) possuem o mesmo valor que outros povos em termos literários. (C) receberam o mesmo número de prémios Nobel que os italianos.

(D) manifestaram a sua inferioridade relativamente aos italianos.

1.2. Atendendo ao conteúdo do terceiro parágrafo, e segundo o autor, há um outro lugar-comum característico dos portugueses que

(A) corresponde, realmente, à verdade. (B) permite salientar a sua supremacia. (C) merece ser questionado/desmistificado. (D) inviabiliza a criatividade dos outros.

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1.3. A ideia de superioridade dos portugueses é

(A) comprovada nos dois últimos parágrafos do excerto. (B) questionável, quando se passa pela capital do Equador. (C) comparável às dos equadorenhos, de Quito.

(D) devida à sua capacidade para inventar.

1.4. O vocábulo “Viajar” (l. 1), quanto ao processo de formação, exemplifica um caso de (A) composição morfológica.

(B) derivação por parassíntese. (C) composição morfossintática. (D) derivação por conversão.

1.5. A oração “que revelação será para um francês…” (ll. 2-3) classifica-se como subordinada (A) substantiva completiva.

(B) substantiva relativa. (C) adjetiva relativa restritiva. (D) adjetiva relativa explicativa.

1.6. O grupo nominal “uma nação de poetas” (ll. 5-6) desempenha a função sintática de (A) sujeito.

(B) complemento direto. (C) predicativo do sujeito.

(D) predicativo do complemento direto.

1.7. O conector “ou” (l. 7), no contexto em que surge, adquire um valor (A) disjuntivo.

(B) aditivo. (C) explicativo. (D) adversativo.

2. Responda aos itens apresentados.

2.1. Indique a função sintática do constituinte “heróis nacionais” (l. 9). 2.2. Classifique a oração “já que lhes é proibido o vinho” (l. 10).

2.3. Identifique o referente do pronome “nos” em “que nos afligem” (l. 14). GRUPO III

O maravilhoso surge por diversas vezes em Os Lusíadas, apesar de Camões destacar a veracidade dos factos narrados, ao contrário do que acontecia nas epopeias da Antiguidade.

Num texto de 150 a 180 palavras, e contemplando os aspetos abaixo listados, apresente uma aprecia- ção crítica sobre a inclusão do maravilhoso numa narrativa onde o real se deveria impor, de acordo com as palavras do seu autor.

• Introdução − presença do maravilhoso na epopeia de Camões

• Desenvolvimento − momentos em que o maravilhoso ocorre e justificação para tal • Conclusão − pertinência (ou não) da inclusão do maravilhoso no poema épico camoniano

TESTE DE AVALIAÇÃO

Nome: ______________________________________________________ N.

O

: _____________ Turma: _____________ Data: ___________________

GRUPO I A Leia o texto com atenção.

A manobra da bomba custava-lhes muito. Alguns, no meio dela, caíam no convés sem vista nos olhos, de pura fome e cansaço.

Considerando isto, num dia de calma e de mar chão, rogou Jorge de Albuquerque a Domingos da Guarda, marinheiro com fama de mergulhador, que visse se conseguia tomar de mergulho uma parte da água que fazia a nau, já que era impossível tomá-la por dentro, por ser muito em baixo que ela entrava; e prometeu que lho pagaria muito bem. Ao querer Domingos lançar-se à água, todos se puseram de joelhos. Com três mergulhos, tomou o marinheiro a maior parte da água, resultado com que todos se alegraram muito, por os poupar à necessidade de dar à bomba.

Pouco lhes durou essa alegria. No dia seguinte ao de se tomar a água voltou o nordeste a soprar rigíssimo, com grandes vagas e com muito frio. Mal se aguentavam com os balanços da nau, as mesas da guarnição, por andarem soltas, faziam uma marinada de mil demónios; as ondas galga- vam e invadiam tudo; e já o alimento chegava ao fim. Só três cocos se distribuíam por dia, isto para cerca de quarenta pessoas.

Assim seguiam ao sabor do vento. Voltou a tortura de dar à bomba; vieram o desânimo e a fome horrível. Jorge de Albuquerque, além dos trabalhos comuns aos outros – pois de todos irmãmen- te partilhava ele – tinha ainda o cuidado de prover a tudo, e o de comandar, consolar, animar os homens, comunicar o seu fogo à companhia inteira; e em tão amigos, tão brandos, tão piedosos termos lhes falava sempre, que quase sem forças se levantava a gente: rediviva, pronta, − retomava a faina. Embarcara doente no Brasil; e agora, depois de tantas lutas e de tanto esforço, de tantas pri- vações e de tantas penas, jamais se lhe ouvia a menor das queixas. Tão são lhes parecia e tão bem disposto, tão prazenteiro, tão forte continuador dos seus trabalhos que causava espanto e enver- gonhava a todos. Para sugestioná-los, afirmava-se convicto de que iriam chegar não a outro porto, mas à própria Lisboa. Pensava-se, vendo-o e ouvindo-o, que era digno sobrinho do seu célebre tio, o grande Afonso de Albuquerque.

Com a rijeza do vento, romperam-se as velas que levavam; e estando eles na faina de consertá- -las, eis que acabou de desapegar-se o leme, quebrando-se o ferro que lhe restava e rompendo-se os cabos com que o tinham atado.

Foi então o cúmulo do desespero. Deixaram-se cair todos no convés, desamparadamente, com a certeza absoluta de que morreriam de fome.

História Trágico-Marítima – narrativa de naufrágios da época dos Descobrimentos (adaptação de António Sérgio

e ilustrações de André Letria), Lisboa, Sá da Costa Editora, Edição Expresso, 2008, 2011, pp. 141-142.

Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Indique quatro dos efeitos provocados pela intempérie descrita no excerto. 2. Compare as ações da Natureza com o comportamento de Jorge de Albuquerque.

3. Retire, do texto, um exemplo que comprove o estatuto de herói atribuído a Jorge de Albuquerque Coelho, justificando a sua resposta.

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B

Leia com atenção as três primeiras estâncias do canto I de Os Lusíadas. 1

As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados Mais do que prometia a força humana, E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram; 2

E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando, E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da Morte libertando, Cantando espalharei por toda parte, Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

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Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, Que outro valor mais alto se alevanta.

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas de A. J. Costa Pimpão), 4.a ed., Lisboa, Instituto Camões –

Ministério dos Negócios Estrangeiros, 2000.

Apresente, de forma bem estruturada, as respostas aos itens que se seguem.

4. Classifique, quanto à estrutura interna, a parte da epopeia camoniana que corresponde às estâncias transcritas, justificando a sua resposta.

5. Indique o que, na opinião de Camões, distingue a sua obra das epopeias que lhe serviram de modelo.

GRUPO II

No documento Livro de Testes Manual Sentidos 10 (páginas 76-79)