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JORNADA DE TRABALHO DO EMPREGADO DOMÉSTICO

4 DURAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO DO EMPREGADO DOMÉSTICO:

4.2 JORNADA DE TRABALHO DO EMPREGADO DOMÉSTICO

Até Abril de 2013 o empregado doméstico não contava com nenhuma regulamentação relativa a sua jornada de trabalho. Assim, cabia unicamente as partes da relação trabalhista determinar qual o número de horas diárias seria laborado pelo empregado. Contudo, com a implementação da Emenda Constitucional 72/2013, o inciso XIII do artigo 7° da Constituição Federal, que trata do limite de horas de trabalho diário e semanal dos empregados, passou a ser aplicado também aos empregados domésticos: “duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, sendo facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de

trabalho” (BRASIL, 1988). Desta maneira, passou a ser obrigatória a observação dos limites diários de 8 horas e 44 semanais.

Porém, Martins (2014a), alerta que o legislador ao inserir no texto legal “duração do trabalho normal” e não “duração normal do trabalho” deixou margem para a existência de “jornadas diferenciadas”, como as de 12 horas diárias com 36 de descanso. (MARTINS, 2014a).

A respeito deste tema, dispõe a Súmula 444 do Tribunal Superior do Trabalho: JORNADA DE TRABALHO. NORMA COLETIVA. LEI. ESCALA DE 12 POR 36. VALIDADE. - Res. 185/2012, DEJT divulgado em 25, 26 e27.09.2012 - republicada em decorrência do despacho proferido no processo TST-PA-

504.280/2012.2 - DEJT divulgado em 26.11.2012

É valida, em caráter excepcional, a jornada de doze horas de trabalho por trinta e seis de descanso, prevista em lei ou ajustada exclusivamente mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de trabalho, assegurada a remuneração em dobro dos feriados trabalhados. O empregado não tem direito ao pagamento de adicional referente ao labor prestado na décima primeira e décima segunda horas. (BRASIL, 2012).

Martins sublinha que a jornada especial para o empregado doméstico já se aplica no caso de cuidadores de idosos, doentes ou crianças (MARTINS, 2014ª). Neste sentido decidiu o Tribunal Superior do Trabalho:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. JORNADA ESPECIAL DE PLANTÃO (12X36 HORAS). PREVISÃO EM NEGOCIAÇÃO COLETIVA TRABALHISTA PARA A GENERALIDADE DOS EMPREGADOS (SÚMULA 444, TST), SALVO OS EMPREGADOS DOMÉSTICOS QUE SEJAM CUIDADORES DE IDOSOS OU DOENTES DA FAMÍLIA EMPREGADORA, RECENTEMENTE ABRANGIDOS PELA EC Nº 72, PUBLICADA EM 03.04.2013, CASOS EM QUE PODE PREVALECER A MERA PACTUAÇÃO BILATERAL ESCRITA ENTRE AS PARTES, REALIZADA ANTES OU DESDE A EC Nº 72/2013. TRABALHO EM FERIADOS NÃO COMPENSADOS. PAGAMENTO EM DOBRO DEVIDO. SÚMULA 444/TST. DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. A jurisprudência pacificou (Súmula 444,

TST) que, no tocante ao mercado de trabalho no Brasil na área pública ou privada, considera-se válida, excepcionalmente, a jornada de trabalho de plantão denominada 12x36 horas, desde que prevista em lei ou em CCT ou ACT. No tocante à adoção dessa jornada de plantão (12x36 horas) no âmbito privado doméstico (Lei nº 5859/72), relativamente ao mister dos cuidadores de doentes ou idosos da família empregadora , em conformidade com a nova EC nº 72/2013, não se aplica o rigor formalístico da Súmula 444 do TST, podendo tal jornada ser pactuada por mero acordo bilateral escrito entre as partes. É que,

neste caso, a família não visa estrito interesse pessoal e familiar, mas realiza também funções de assistência social e de seguridade social, na forma do caput do art. 194 da Constituição. [...]Agravo de instrumento desprovido. (BRASIL, 2013c, grifo nosso). Embora esta legislação não se aplique a qualquer empregado doméstico. O Projeto de Lei 224/2013, em seu artigo 10, propõe a possibilidade deste tipo de jornada de trabalho, desde que acordado entre as partes por escrito (MARTINS, 2014a).

4.2.1 Horas extraordinárias

O estabelecimento do limite da jornada de trabalho do empregado doméstico não impede que este realize trabalho em horário superior a este, desde que acordado por escrito entre as partes (ADAD, 2014). As horas laboradas fora do limite normal da jornada de trabalho serão consideradas como extraordinárias e deverão ser remuneradas com adicional de 50 por cento, conforme estabelece o inciso XVI da Constituição Federal: “remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal” (BRASIL, 1988). Este direito também foi estendido aos empregados domésticos pela EC 72/2013.

Cassar, afirma que os preceitos constantes no artigo 7° da Constituição, por tratarem-se direitos fundamentais, tem eficácia imediata, salvo quando expressamente previsto em contrário. Por este motivo, a autora defende a aplicação do “capítulo II do título II da CLT que trata da duração do trabalho” no que for compatível para a efetivação destes direitos. Deste modo, deve ser aplicado também o limite máximo de 2 horas extras diárias, previsto no artigo 59, limites de atrasos, “a forma de cálculo” das horas extraordinárias (artigo 64), bem como as regras constantes no artigo 74 sobre o controle de registro de ponto (CASSAR, 2014, p. 410).

Adad, também corrobora do entendimento de Cassar (2014), no que ser refere ao número de horas diárias afirmando que deverão ser “no máximo duas por dia”. A autora lembra ainda, que se houverem horas trabalhadas acima deste limite elas devem ser remuneradas como horas extraordinárias normalmente (ADAD, 2014, p. 130).

4.2.2 Intervalos

De acordo com Martins, os intervalos de descanso dentro da jornada (intrajornada) ou entre duas jornadas (interjornada), são lapsos temporais em que o empregado abstém-se de prestar serviços ao empregador, para que posso alimentar-se ou repousar (MARTINS, 2012a).

Os intervalos são obrigatórios, não podendo ser subtraídos por liberalidade das partes ou por “norma coletiva”. Tratando-se de norma de interesse público em “preservar a saúde e a higidez física do trabalhador” (MARTINS, 2012a, p. 565).

Aos empregados domésticos este direito foi estendido recentemente, pela EC.72/2013 com a extensão do inciso XXII do artigo 7° da Constituição Federal, que trata da

“redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” (BRASIL, 1988).

Contudo, não há uma regulamentação específica para os intervalos dos empregados domésticos, devendo, desta forma, ser utilizada a Consolidação das Leis do Trabalho para tanto (CASSAR, 2014; ADAD, 2014).

Na presente pesquisa trataremos de dois tipos de intervalos: o intrajornada e o interjornada.

O Intervalo intrajornada consiste em pausas feitas dentro da jornada de trabalho para alimentação e descanso. Está previsto no artigo 71, §1 e 2§ da CLT que dispõe que sendo jornada superior a 6 horas este intervalo deverá ter entre uma e duas horas de duração. Em caso de jornada com até 6 horas de duração e superior a 4 horas, o período será menor, de apenas 15 minutos. Estes períodos não são remunerados e nem computados na duração da jornada de trabalho (BRASIL, 1943). O Projeto de Lei 224/2013, busca regulamentação deste intervalo para os empregados domésticos de maneira bem semelhante ao que determina a CLT, porém com a opção de redução de tempo mínimo de 1 hora para 30 minutos por simples acordo escrito entre as partes (BRASIL, 2013a).

É importante salientar que no caso da não concessão do referido intervalo, ou concessão inferior ao mínimo legal, o empregador ficará sujeito ao pagamento do período com adicional de 50 por cento sobre a hora normal. Tal determinação está prevista no §4 do artigo 71 da CLT e Súmula 437 do Tribunal Superior do Trabalho (BRASIL, 1943; BRASIL 2012).

Já o intervalo interjornada é o período compreendido entre duas jornadas de trabalho. De acordo com o artigo 66 da CLT não poderá ser inferior a “11 horas consecutivas para descanso.” (BRASIL, 1943). Lembrando que quando seguidas de repouso semanal remunerado deverão ser somadas ao período (ADAD, 2014).

No caso da não obediência do período mínimo deste intervalo, as horas subtraídas também deverão ser remuneradas com adicional de 50 por cento (ADAD, 2014).