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Este jornal é uma produção do grupo Diários Associados, uma empresa criada em 1924 e detentora, atualmente, de diversos veículos de comunicação nos segmentos “emissoras de televisão”, “rádios”, “revistas”, “internet” e “jornais”, dos quais destacam-se o Correio Braziliense (DF), Jornal do Commercio (RJ) e Diário Mercantil (RJ), além do Estado de Minas. Este foi criado em 07/03/1928 e se constituiu como um dos principais veículos de comunicação do estado mineiro. De circulação diária, atualmente possui vinte e oito cadernos, sendo que alguns deles se alternam durante os dias da semana. São eles: Primeiro caderno, Política, Nacional, Opinião, Internacional, Ciência, Economia, EM Cultura, Esportes, Gerais, Veículos, Agropecuário, Bem-viver, Divirta-se, Direito e Justiça, Feminino e Masculino, Guia de Negócios, Gurilândia, Informática, Pensar, Raggadrops, Turismo, TV, Classificados, Imóveis, Emprego, Hora Livre, Prazer EM Ajudar4.

Nos anos 1980, alguns desses cadernos foram observados, tais como: Primeiro Caderno, Política, Nacional, Opinião, Internacional, Economia, Esportes, Gerais, Veículos, Agropecuário, Feminino e Masculino, Negócios, Turismo, Classificados e Imóveis. Outros cadernos também existiram nesse período, como o “Dinheiro Vivo”, “Fim de Semana” e “Mulher”. Como os cadernos nessa época não eram tão demarcados como no período atual, várias reportagens transitavam entre um e outro e pequenas colunas com assuntos diversos faziam parte deles. Havia, por exemplo, uma parte que se destinava a noticiar as cidades do interior, presente em cadernos diferentes, como no Primeiro Caderno e no Caderno Gerais, assim como em pequenas colunas, como a Sociedade do Interior. As notícias sobre o carnaval se faziam presentes, em grande parte, nesses dois cadernos e, também, no Feminino e Masculino e no de Turismo. Nas décadas seguintes, continuaram predominando neste último e no Caderno Gerais.

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Durante todo o período da pesquisa, observei uma grande ênfase no jornal em notícias com conteúdo político e econômico, sobretudo nos anos 1980, quando não havia uma segmentação tão detalhada de cadernos e as notícias se interpunham em vários espaços. Nesse momento, todos os acontecimentos noticiados pareciam estar ligados, de alguma forma, a estas questões consideradas mais importantes.

Havia também um forte direcionamento ideológico com um declarado apoio ao governo mineiro daquele período. Dois são os exemplos mais fortes que observei. O primeiro foi a exaltação do candidato à presidência da República, o então governador mineiro, Tancredo Neves, em 1985. O jornal se ocupou em estampar em grandes reportagens com manchetes garrafais, a sonhada “liberdade” que o povo brasileiro esperava adquirir com a eleição desse candidato. Sem sequer problematizar outros interesses por detrás de sua campanha e de sua posterior eleição, tratou o fato como um grande acontecimento, noticiando festas por todo o país e, principalmente, em Minas Gerais. Uma unanimidade sem contestação. O próprio carnaval foi noticiado como o “carnaval da vitória”, dada a proximidade da data com as eleições. Após a sua morte, no dia vinte e um de abril de 1985, como de se esperar, Tancredo foi noticiado como um mártir.

Outro exemplo é um conjunto de reportagens publicadas em 1987 sobre o então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. O conjunto de trinta e duas páginas exaltava o político com inúmeras propagandas de empresas privadas que, também, o homenageavam. Este último fato também foi percebido no caso do presidente eleito Tancredo Neves.

Além desses dois exemplos principais também é importante destacar um fato que chamou a atenção em se tratando, especificamente, do carnaval ouro-pretano. Algumas colunas sobre a festa foram assinadas por Ângelo Oswaldo, então secretário de Turismo e Cultura de Ouro Preto, eleito na década seguinte prefeito da cidade. Talvez, não por um acaso, a maior parte das reportagens desse período apoiava as iniciativas da Prefeitura Municipal e ocupava-se em promover o carnaval, independente de qualquer circunstância. Um exemplo foi o declarado apoio à iniciativa da Prefeitura em diminuir a verba das escolas de samba em alguns anos, justificada pelos problemas econômicos enfrentados pelo país. Os organizadores das escolas, que ficaram insatisfeitos e suspenderam os desfiles, foram noticiados como incompreensivos e insensíveis à situação daquele momento, enquanto a festa, fortemente marcada pelas escolas de samba na década de 1980, foi noticiada retirando-se a centralidade desta manifestação e exaltando-se o “resgate” do carnaval de rua, da espontaneidade. Deixou- se claro que a ausência dos desfiles em nada havia prejudicado a festa.

Nas décadas seguintes, o apoio às iniciativas da Prefeitura continuou, embora menos explícito e dividindo espaço com algumas críticas sobre o formato que a festa adquiria. Mas o que pôde ser observado em linhas gerais, nas três décadas, foi um jornal pouco problematizador em relação ao objeto estudado. Mesmo com o aumento do destaque ao entretenimento e ao lazer de forma geral, percebido pela criação de cadernos específicos para este fim, como o “EM cultura”, “Bem-viver”, “Divirta-se”, “RaggaDrops”, “TV” e “Hora livre”, além do caderno de “Turismo” que já existia, o jornal parece se preocupar mais em noticiar e divulgar eventos e destinos turísticos. Algumas crônicas presentes no caderno “EM cultura” se dedicaram a questionar os aspectos mercadológicos do carnaval brasileiro, com alguns textos voltados para Ouro Preto. Mas no conjunto total, pouco se problematizou e se problematiza sobre o carnaval, outras festas e formas de diversão em que a lógica do entretenimento está presente.

As próprias mudanças no formato do jornal, talvez, apontem para uma necessidade de adequação ao desenvolvimento do mercado dos meios de comunicação, acompanhando uma tendência de criação de novos estilos de consumo e de segmentação dos interesses dos consumidores por faixas etárias. O aumento dos cadernos, voltados de alguma forma para o entretenimento, pode demonstrar a valorização crescente da comercialização de festas e eventos (onde se inclui o carnaval) acompanhada da valorização de um estilo de vida jovem que, embora possa se mostrar bastante presente nos momentos de lazer, é um signo que se refere a todos os momentos da vida. Um exemplo é o caderno RaggaDrops que, segundo o

site5 do jornal Estado de Minas, “apresenta matérias e notas sobre assuntos de grande interesse do público adolescente e jovem, com textos leves, curtos e descontraídos, além de uma linguagem visual atraente”. No entanto, como já discutido anteriormente, a quantidade na ênfase de determinado assunto ou temática não implica necessariamente qualidade na abordagem dos conteúdos e nem comprometimento com a problematização das diversas matérias publicadas.

Já o jornal O Liberal, com menos reportagens, menos cadernos específicos e segmentados e menos ênfase na divulgação de festas, eventos e variadas formas de entretenimento, parece ter se construído com uma característica mais problematizadora e questionadora, devido à especificidade de sua criação e objetivos, como será demonstrado a seguir.

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