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3.7 INÍCIO DE UM PROCESSO PERANTE O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

3.7.4 Julgamento

Procedentes as acusações, a Presidência designará à Câmara de Primeira Instância que se encarregue de manter um julgamento justo e rápido, encerrando a fase preliminar e instaurando a fase do julgamento no Tribunal.51

O julgamento terá lugar na sede do Tribunal52, contudo, a pedido do Promotor ou da defesa, ou por decisão dos próprios juízes, o local da celebração habitual das sessões poderá ser mudado para o Estado anfitrião ou para qualquer outra sede.53

O acusado estará presente durante o julgamento, que será público, entretanto, algumas diligências poderão ser feitas a portas fechadas, devido a circunstâncias especiais de um caso ou para proteção de informações confidenciais.54

A Câmara de Primeira Instância iniciará o julgamento com a leitura das acusações, certificando que o imputado compreenda a natureza das acusações.55

Apresentadas todas as provas, a Câmara de Primeira Instância se pronunciará, adotando o sistema de unanimidade, quando possível. Caso contrário, a decisão será por

48

Artigo 61 do Estatuto de Roma. 49 FERNANDES, 2006, p. 232. 50 Ibid., p. 232.

51 LIMA; COSTA, 2006, p. 75. 52

Artigo 62 do Estatuto de Roma. 53 LIMA; COSTA, op. cit., p. 75. 54 FERNANDES, op. cit., p. 233. 55

maioria. A decisão deve ser proferida por escrito, referindo-se aos acontecimentos descritos nas acusações e fundamentando-se unicamente nas provas apreciadas em julgamento.56

Logo após, serão expostas as conclusões adotadas pela Câmara de Primeira Instância, de maneira unânime ou por maioria, e posteriormente se fará a leitura da sentença, ou o seu resumo, em uma audiência pública.57

3.7.5 Sentença condenatória

Proferida a sentença de condenação, a Câmara de Primeira Instância poderá fixar a pena.58 O Estatuto de Roma prevê três espécies de pena: a pena de prisão, a de multa e a de confisco.59

A pena de prisão será imposta por um período que não exceda trinta anos ou poderá ainda ser perpétua, levando em conta dois fatores, a extrema gravidade do crime e as circunstâncias pessoais do acusado.60

As penas de multa e a de confisco serão impostas com a observação dos seguintes critérios: se a privação de liberdade é suficiente, se o condenado tem capacidade financeira e se o crime teve como intuito o lucro pessoal.61

É valido ressaltar que o Estatuto de Roma traz a possibilidade de indenizar as vítimas de erros judiciais.62 A Câmara de Primeira Instância poderá determinar na sentença que o condenado repare às vítimas e seus dependentes, por meio de medidas de restituição, indenização e reabilitação.63

A sentença proferida pela Câmara de Primeira Instância poderá ser impugnada perante a Câmara de Apelações pelo promotor e pelo condenado, ou seu representante legal.64

O recurso precisa conter um vício processual, um erro de fato ou de direito, assim como qualquer outro motivo que afete a equidade ou a confiabilidade do processo.65

56 LIMA; COSTA, 2006, p. 77. 57 FERNANDES, 2006, p. 235. 58

LIMA; COSTA, op. cit., p. 78. 59 FERNANDES, op. cit., p. 235. 60 Artigo 77 do Estatuto de Roma. 61 FERNANDES, op. cit., p. 236. 62

LIMA; COSTA, op. cit., p. 83. 63 FERNANDES, op. cit., p. 237. 64 Artigo 81 o Estatuto de Roma. 65

Segundo Fernandes;

as decisões da Câmara de Apelação serão aprovadas por maioria dos magistrados e se anunciará em audiência pública. No caso em que a Câmara decida declarar, no lugar da Apelação, poderá revogar ou emendar a sentença ou a pena, ou decretar a realização de um novo julgamento em outra Câmara de Primeira Instância.66

O Estatuto de Roma também prevê outra medida para impugnar uma sentença condenatória ou de pena, denominada revisão. O condenado ou, no caso do seu falecimento, o cônjuge, os descendentes, o procurador legal ou o Promotor, em seu nome, estão habilitados para requerer à Câmara de Apelações a revisão.67

Conforme leciona Fernandes:

a revisão será fundamentada na descoberta de novas provas decisivas para modificar a condenação, ou de falsidade, adulteração ou falsificação de um elemento de prova decisivo para a condenação, ou porque um ou vários juízes que intervieram na sentença condenatória ou confirmaram a acusação hajam praticado atos de conduta reprovável ou de descumprimento dos respectivos deveres de tal forma graves que justifiquem a sua cessão de funções [...].68

Após ter analisado o pedido de revisão, se a Câmara de Apelações considerar infundado indeferirá o mesmo. Entretanto, se determinar que o pedido deva ser atendido poderá, segundo a sua conveniência, ter as seguintes opções: convocar de novo a Câmara de Primeira Instância que pronunciou o julgamento inicial; constituir uma nova Câmara de Primeira Instância ou, ainda, manter a sua competência para conhecer da causa, a fim de determinar se, após a audição das partes nos termos do Regulamento Processual69, haverá lugar à revisão da sentença.70

66

FERNANDES, 2006, p. 238. 67 Artigo 84 o Estatuto de Roma. 68 FERNANDES, op. cit., 238.

69 Artigo 51 do Estatuto de Roma. Regulamento Processual:

1. O Regulamento Processual entrará em vigor mediante a sua aprovação por uma maioria de dois terços dos votos dos membros da Assembleia dos Estados-Partes.

2. Poderão propor alterações ao Regulamento Processual: a) Qualquer Estado Parte; b) Os juizes, por maioria absoluta; ou c) O Procurador.

Estas alterações entrarão em vigor mediante a aprovação por uma maioria de dois terços dos votos dos membros da Assembléia dos Estados partes. 3. Após a aprovação do Regulamento Processual, em casos urgentes em que a situação concreta suscitada em Tribunal não se encontre prevista no Regulamento

Processual, os juizes poderão, por maioria de dois terços, estabelecer normas provisórias a serem aplicadas até que a Assembleia dos Estados-Partes as aprove, altere ou rejeite na sessão ordinária ou extraordinária

seguinte. 4. O Regulamento Processual, e respectivas alterações, bem como quaisquer normas provisórias, deverão estar em consonância com o presente Estatuto. As alterações ao Regulamento Processual, assim como as normas provisórias aprovadas em conformidade com o parágrafo 3°, não serão aplicadas com caráter retroativo em detrimento de qualquer pessoa que seja objeto de inquérito ou de procedimento criminal, ou que tenha sido condenada. 5. Em caso de conflito entre as disposições do Estatuto e as do Regulamento

Processual, o Estatuto prevalecerá. 70

Por fim, se por meio da revisão ficar provado que a pessoa foi condenada ou detida ilegalmente, ela terá direito a uma indenização.71

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