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A modernização do ensino e da arquitetura escolar: 1934-

2.5. Legislação, educação e arquitetura

A legislação também abrangia, ainda que de uma maneira diferente da que foi indicada até aqui, os edifícios escolares. O Código de Obras Arthur Saboya (lei n. 3.427, de 19 de novembro de 1929), da Prefeitura de São Paulo, fornecia diretrizes tanto para acabamentos quanto para dimensionamentos internos das escolas. No texto pode-se perceber que há uma visão de relação entre espaço e ensino também:

VI) – Escolas

Art. 405.º – Nas escolas, os revestimentos das paredes internas devem ser executados, tanto quanto possivel for, com materiaes permittindo lavagens freqüentes”.

Paragrapho unico – A forma rectangular será a preferida para as salas de classe e os lados do rectangulo guardarão relação de 2 para 3.

(São Paulo (cidade) 1929, p. 283-284.)

Essa legislação, como era comum na época, deitava normas sobre a higiene do ambiente, mas o que chama a atenção é a presença de normas que seriam relativas a decisões pedagógicas sobre a arquitetura. Nesse sentido, o Código de Obras Arthur Saboya, tanto na lei

mostrada abaixo, quanto mais tarde no ato que a regulamentou, procura intervir na educação através da própria arquitetura:

Art. 406.º – A illuminação das salas de classe será unilateral esquerda, tolerada, todavia, a bilateral esquerda-direita differencial.

Paragrapho 1.º – A illuminação artificial preferida será a electrica, tolerada, todavia, a illuminação a gaz ou a álcool, quando convenientemente estabelecidas.

Paragrapho 2.º – As janellas das salas de classe serão abertas na altura de um metro, no minimo, sobre o soalho, e se approximarão do teto tanto, quando possivel.

Art. 407.º – As escolas terão um pavimento apenas, sempre que possivel, e porão de cincoenta centimetros, no minimo, convenientemente ventilado.

Art. 408.º – As escadas das escolas serão de lanço recto e seus degraus não terão mais de dezeseis centimetros de altura nem mesmo de vinte e oito de largura.

Art. 409.º – As dimensões das salas de classe serão proporcionaes ao numero de alumnos: estes não excederão de quarenta em cada sala e cada um disporá, no minimo, de um metro quadrado de superficie, quando duplas as carteiras, e de um metro e trinta e cinco decimetros quadrados, quando individuaes.

Art. 410.º – A superficie total das janellas de cada sala de classe corresponderá, no minimo, á quinta parte da superficie do piso.

Art. 411.º – A altura minima das salas de classe será de quatro metros. Art. 412.º – Haverá uma latrina para cada grupo de vinte alumnos ou de trinta alumnos e um lavabo para cada grupo de trinta alumnos ou alumnas. Paragrapho único – O assento das latrinas será de preferencia em fórma de ferradura aberta na frente.

O código que regulamentava as construções no município de São Paulo englobava a legislação sobre aspectos gerais da edificação, mas também estabelecia normas relacionadas à organização urbana da cidade e a aspectos estritamente técnico-construtivos. Sua abrangência, portanto, ia desde a divisão radiocêntrica da cidade, passando pelos aspectos gerais da edificação, tais como dimensionamento, gabaritos, exigências específicas para determinados tipos de uso, chegando a normas técnicas bastante detalhadas.

As informações sobre escolas vão se repetir, em parte, no ato que regulamentou o Código Arthur Saboya. Essa regulamentação, datada de 1934, solicita o seguinte:

II – Escolas

Art. 435 – As escolas terão um pavimento apenas, sempre que

possível, e caixa de ar8 de cincoenta centimetros no minimo,

convenientemente ventilada.

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Caixa de ar é sinônimo de porão, situado logo abaixo do piso do pavimento térreo. Em São Paulo as construções de porão alto começaram a popularizar-se no final do século XIX (N. do A.).

Art. 436 – As escadas das escolas serão de lance réto e seus degraus não terão mais de dezeseis centimetros de altura nem menos de vinte e oito de largura.

Art. 437 – As dimensões das salas de aula serão proporcionais ao numero de alunos; estes não excederão de quarenta em cada sala e cada um disporá, no minimo de um metro de superficie, quando duplas as carteiras, e de um metro e trinta e cinco decimetros, quando individuais.

Art 438 – A altura minima das salas de classe será de quatro metros. Art. 439 – A iluminação das salas de classe será unilateral esquerda, tolerada, todavia, a bilateral esquerda direita diferencial.

Art. 440 – A iluminação artificial preferida será a eletrica, tolerada, todavia a iluminação a gas ou alcool quando convenientemente estabelecida.

Art. 441 – As janelas das salas de classe serão abertas na altura de um metro no minimo, sobre o assoalho e se aproximarão do této tanto quanto possivel.

Art. 442 – A superficie total das janelas de cada sala de classe corresponderá no minimo, a quinta parte da superficie do piso.

Art. 443 – A forma retangular será a preferida para as salas de classe e os lados do retangulo guardarão a relação de dois para três.

Art. 444 – Haverá uma latrina para cada grupo de vinte alunas ou de trinta alunos e um lavabo para cada grupo de trinta alunos ou alunas.

(Código de Obras Arthur Saboya, 1934, p. 363-364)

A regulamentação do Código Arthur Saboya, de 1934, englobava a legislação sobre aspectos gerais da edificação, mas também estabelecia normas relacionadas à organização urbana da cidade e a aspectos estritamente técnico-construtivos. Não há grandes diferenças em relação à lei promulgada em 1929, como se pode verificar na leitura dos dois textos.

A abrangência do código ia desde a divisão radiocêntrica da cidade, passando pelos aspectos gerais da edificação, tais como dimensionamento, insolação, arruamentos, gabaritos, e exigências específicas para determinados tipos de uso, chegando a normas técnicas bastante detalhadas. Tratava-se de um manual bastante útil no que se refere à execução de obras, pois trazia consigo uma série de exigências e soluções que deveriam ser adotadas na construção. Ë possível encontrar com freqüência no código cálculos construtivos e sua aplicação, e até especificações de materiais e suas aplicações. Esse código pode ser considerado não apenas um conjunto de leis sobre a cidade e sua arquitetura, mas também um manual de informações técnicas construtivas.

As normas referentes a edifícios escolares soam bastante simples e restritas aos nossos olhos. Por outro lado, é relevante observar que há, no código, preocupações com a higiene da construção e dimensionamentos mínimos, inclusive quantidade de alunos por sala de aula.

Há ainda um trecho que discorre sobre o que se denominava “arquitetura das fachadas”. As escolas também estavam submetidas a essas exigências. A parte da arquitetura a que ambos os códigos, de 1929 e 1934, referem-se especialmente é a das chamadas “fachadas”, mas também envolvia gabaritos e recuos. As normas deveriam ser seguidas, caso contrário a Diretoria de Obras e Viação poderia recusar os “projetos de fachadas”. Era um capítulo que tratava de uma “censura estética” (Código de Obras Arthur Saboya, 1929, p. 292).

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Grupo Escolar Silva Jardim - foto da fachada (EEPG Silva Jardim)

Autor: José Maria Silva Neves Fonte: CORRÊA, 1998, p. 23

É difícil avaliar com precisão o alcance dessa legislação nos edifícios analisados, mas a questão da iluminação, como na figura 6, parece ter sido uma constante a ser resolvida nos projetos. Nas fachadas do Grupo Escolar Silva Jardim se nota um cuidado com o desenho do volume, com a sua composição arquitetônica. Em nenhum momento, porém, essa composição se sobrepõe ao volume maciço que configura formalmente a construção. A técnica construtiva está a serviço da solidez e densa monumentalidade de um edifício público.

A legislação, de uma maneira indireta, absorveu as lições impostas pelas conquistas científicas que geraram a higiene e as noções modernas de saúde, e transferiu-as para as escolas, ainda que de forma parcial. A avaliação do alcance do conhecimento científico,

principalmente as questões de saúde e higiene relacionadas à arquitetura, absorvidas e consolidadas como prática profissional pela legislação dos códigos de obra municipais merece um trabalho específico mais aprofundado.