• Nenhum resultado encontrado

3. Processo de edição, revisão e cancelamento da súmula vinculante

3.4 Legitimados

O texto constitucional em seu art. 103-A foi explícito em dizer que tanto a edição quanto a revisão e cancelamento de súmula com efeito vinculante poderá ocorrer de ofício (pelo STF), ou por provocação pelos legitimados a propor ação direta de inconstitucionalidade na forma estabelecida em lei.

Em virtude da atribuição de competência ao legislador infraconstitucional constitucional pelo art. 103-A da Constituição Federal de 1988 para dispor sobre a súmula vinculante, foram trazidas algumas inovações através da Lei 11.417/2006.

Estabelece o art. 3º da Lei 11.417/2006 que os legitimados a propor a edição, revisão ou cancelamento de enunciado de súmula vinculante são:

Art. 3º. “São legitimados a propor a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante:

I - o Presidente da República; II – a Mesa do Senado Federal;

III – a Mesa da Câmara dos Deputados; IV – o Procurador-Geral da República;

V – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VI – o Defensor Público-Geral da União;

VII – parido político com representação no Congresso Nacional; VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal;

X – o Governador de Estado ou do Distrito Federal;

XI – os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.

§ 1º. O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.”

Na verdade, a Lei da Súmula Vinculante trouxe uma inovação à regra constitucional disposta no art. 103-A, isto porque a Constituição Federal permitiu que a Lei infraconstitucional alargasse o rol de legitimados para provocação do processo de edição, revisão e cancelamento de súmula vinculante ao mencionar que tal processo se daria “na forma estabelecida em lei”, esta Lei é a 11.417/2006.

Assim, a Lei 11.417/2006 adicionou ao rol de legitimados ativos para provocar a edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante estabelecido no § 2º do art. 103-A da Constituição Federal de 1988 os tribunais e os municípios.

Cabe notar que até o inciso X do art. 3º da LSV não há qualquer diferenciação do que é estabelecido no § 2º do art. 103-A da CF/88, tendo em vista, que até esse inciso é repetido estritamente o disposto na Constituição.

No entanto, o inciso XI e o § 1º do art. 3º da LSV alarga autorizadamente o rol de legitimados, incluindo nele os tribunais e municípios.

Porém, questionamentos podem ser levantados no que se refere à repetição exata do texto constitucional pelo art. 3º da LSV até o inciso X.

Para TAVARES (2007)31 isso tem um motivo o temor de causar uma polêmica desnecessária quanto à incidência imediata da norma constitucional por influência da controvertida doutrina das normas programáticas.

Outra questão que chama a atenção para a LSV é que o rol de legitimados ativos é apresentado de forma diferente daquela constante no texto constitucional, porém, isso não acarreta qualquer conseqüência objetiva, tendo em vista que todos ali elencados possuem legitimidade para provocar o Supremo Tribunal Federal a uma análise de edição, revisão ou cancelamento de súmula vinculante. Essa disposição diversificada transparece tão somente uma técnica legislativa deficiente.

Fato é que a ampliação do rol de legitimados ativos aparentemente foi realizada com prudência pela LSV, visto que, apesar da inclusão dos tribunais e municípios no rol de legitimados o processo para a criação, revisão ou cancelamento de súmula com efeito vinculante é mais rígido do que o processo objetivo estabelecido para as ações diretas de inconstitucionalidade e constitucionalidade, bem como para a ADPF, pois para estas é exigida uma maioria absoluta (seis ministros) enquanto o processo da súmula vinculante estabelece 2/3 (oito ministros).

No entanto, cabe ressaltar que a abertura inclusiva trazida pela LSV, no que se refere aos órgãos do Poder Judiciário possui restrição. Isso porque, dentre os órgãos do Judiciário que têm legitimidade ativa para provocar a criação, modificação e cancelamento de súmula vinculativa estão excluídos os juízes e juízos de primeira instância.

Nesse sentido TAVARES (2007):

“De todos os órgãos do Poder Judiciário, a Lei exclui apenas i) os juízes e juízos de primeira instância e ii) o Conselho Nacional de Justiça. No caso, (i) a exclusão ocorre para não promover uma abertura excessiva. A exclusão indicada em (ii), contudo, bem demonstra que a inclusão do Conselho Nacional de Justiça não foi satisfatoriamente assimilada (e talvez nem possa sê-lo).

Também não detêm legitimidade ativa para deflagrar o processo de súmula vinculante i) os tribunais de contas e ii) os tribunais de justiça desportiva. Os primeiros por estarem absorvidos na estrutura do Legislativo e os últimos por estarem no âmbito da Administração Pública” (TAVARES, 2007, pág. 57 e 58).

Por outro lado, devem ser considerados como contemplado com a legitimidade ativa o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral, o Superior Tribunal Militar, o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais de Justiça dos estados e do Distrito Federal, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Federais e os Tribunais Militares.

No que se refere aos municípios foi estabelecido pela LSV, um requisito extra para o exercício da legitimidade ativa.

§ 1º. “O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.”

Antes dessa abertura não era outorgada aos municípios a possibilidade de discutir diretamente (através de ações com decisões vinculantes) sobre a inconstitucionalidade de leis que violassem a Constituição Federal em abstrato obtendo, assim, uma decisão erga omnes.

A ausência de contemplação dos municípios no rol de legitimados ativos trazia grande responsabilidade ao chefe do Poder Executivo local, visto que, o descumprimento de lei que supostamente violasse a CF corria por sua conta e risco, isto é, sob o risco de responder administrativa e judicialmente pelo descumprimento de norma jurídica vigente, ainda que sobre esta pairasse vícios que violassem o texto constitucional.

Agora, com a autorização concedida aos municípios pelo § 1º do art. 3º da LSV é permitida aos municípios a provocação do processo de súmula vinculante seja no tocante à lei federal, estadual ou municipal desde que haja um processo em andamento, isto é, processo em que o município figure como parte.

Apesar de não mencionar expressamente, pela análise tanto da Constituição Federal quanto da Lei da Súmula Vinculante deverão os municípios atender aos requisitos estabelecidos pelo art. 2º da LSV, quais sejam: reiteradas decisões idênticas, controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre estes e a Administração, grave insegurança jurídica, multiplicação de processos idênticos e haver processo em curso no que o município figure como parte.

Documentos relacionados