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LETRAMENTO: USO PRÁTICO DO CONHECIMENTO DE MUNDO

3 O EDUCANDO JOVEM E ADULTO CONSIDERADO A PARTIR DE

3.5 LETRAMENTO: USO PRÁTICO DO CONHECIMENTO DE MUNDO

Ressaltamos ainda nesta pesquisa o letramento como proposta para a prática alfabetizadora. Bem mais na busca de encontrar semelhanças do que diferenças entre alfabetizar e letrar, na busca de encontrar inteligências e estratégias num saber fazer na alfabetização de jovens e adultos, vale ressaltar o que Soares (2003, p. 65-66) chama de letramento, “letramento cobre uma vasta gama de conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos e funções; o conceito de letramento envolve, portanto, sutilezas e complexidades difíceis de serem contempladas em uma única definição”.

É necessário compreender que, apesar da complexibilidade que envolve o conceito de letramento, não podemos identificá-lo apenas com uma técnica ou uma estratégia usada para desenvolver habilidades pessoais de leitura e de escrita “letramento não é apenas e simplesmente um conjunto de habilidades individuais; é um conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e a escrita, em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social” ( Ibid. p. 72). Desde a década de 1980 que o termo letramento vem aparecendo nos discursos de alfabetização, seja de adultos ou de crianças, provocando debates e polêmicas em meio a este universo ainda tão complexo na procura de uma prática de qualidade.

Ter letramento não significa exatamente ser alfabetizado, significa entre outras coisas, ter uso prático da leitura e da escrita em diferentes contextos da vida. Exemplo disso são as cartas narradas por um não-alfabetizado a um escrevedor (amigo, vizinho, professor) ou uma leitura ouvida por um não-alfabetizado através de um narrador. Entende-se assim, que no letramento, o não- alfabetizado poder ler e escrever através de outras pessoas, faz uso prático da leitura e da escrita sem ser alfabetizado. Dessa forma, a pessoa mesmo não sendo alfabetizada, desenvolve habilidades inteligentes de compreender e fazer parte da leitura e da escrita, sem apoderar-se da técnica de ler e escrever. Como assinalam Moraes e Albuquerque

(In ALBUQUERQUE; LEAL, 2005, p. 60) “falar de analfabeto que lê e escreve parece algo contraditório”.

Os defensores do letramento aparecem através de Mary Kato, em 1986, com o livro no Mundo da Escrita: uma perspectiva psicolingüística, em que a autora diz acreditar, que a língua falada “é conseqüência do letramento”. Dois anos depois, se destaca Leda Vesdiani Tfouni, distinguindo alfabetização de letramento. Em 1995, Ângela Kleiman aborda este tema em: os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. (SOARES, 2003, p.15). E, em 1998, Magda Soares (op.cit.p.81) apresenta o seu livro Letramento: em três gêneros, fazendo uma análise sobre os conceitos do Letramento e seus significados, destacando, diversos autores, dentre eles cita Haman (1970) numa definição de letramento em três etapas

O primeiro (estágio) é a concepção de letramento como um instrumento. O segundo é a aquisição do letramento, a aprendizagem das habilidades de ler escrever. O tecrceiro é a aplicação prática dessas habilidades em atividades significativas para o aprendiz. Cada estágio dependente do anterior; cada um é componente necessário do letramento.

Freire (1982, p.49) em seu conceito de alfabetização ressalta, “aprender a ler e escrever se faz assim uma oportunidade para que mulheres e homens percebam o que realmente significa dizer a palavra: um comportamento humano que envolve ação e reflexão. Dizer a palavra em um sentido verdadeiro, é o direito de expressar-se e expressar o mundo, de criar e recriar, de decidir, de optar”. Num conceito de letramento explicitado por Soares (2003, p. 43) ela nos diz que,

letramento é usar a escrita para se orientar no mundo [...], nas ruas [...], para receber instruções [...], enfim, é usar a escrita para não ficar perdido. Letramento é descobrir a si mesmo [...], é entender-se, lendo ou escrevendo [...], e é descobrir alternativas e possibilidades, descobrir o que você pode ser.

Na alfabetização e no letramento pode-se fazer uso de recursos característicos de uma prática inteligente, integrada à realidade dos sujeitos nela envolvidos, visando uma aprendizagem que, possibilite não apenas o domínio da leitura e da escrita, mas o seu uso prático na sociedade.

O que interessa na presente análise é compreendermos que, o letramento exposto por Soares (2003) e a alfabetização defendida por Freire (em suas diversas obras)10, revela uma prática educativa que permite identificar as experiências de vida do educando no espaço escolar. Permite ao educando fazer a re-leitura de mundo, por meio da compreensão e da utilização da leitura e da escrita na cotidianidade, como exigência da sociedade contemporânea e como forma de sua maior inclusão e participação social.

Diante do exposto, identificamos o letramento na prática educativa da alfabetização de jovens e adultos, como uma proposta inteligente na ação alfabetizadora. Na busca em encontrar esta compreensão, bem como outras, é que refletimos e avaliamos os dados obtidos nesta pesquisa no capítulo que se segue.

10

Freire fala, explica, exemplifica, reflete sobre alfabetização em diversas de suas Obras, não podemos dessa forma, citar apenas uma, mesmo porque, nesta pesquisa suas várias obras estão expostas.

4 REFLEXÕES EM TORNO DOS DADOS PESQUISADOS

Este capítulo apresenta resultados obtidos por meio de entrevistas e da dinâmica de grupos focais, realizada com educadoras e educandos da alfabetização de jovens e adultos em Itambé. Esta pesquisa encontrou por meio das falas desses interlocutores e interlocutoras alguns aspectos da inteligência humana na prática alfabetizadora, que envolve nesta investigação: a abertura, a intuição, a criatividade, e a curiosidade, bem como, encontrou outros achados relevantes acerca do ensino da alfabetização de jovens e adultos.

As falas das educadoras apontam elementos que revelam gradativamente determinadas práticas em seu fazer pedagógico e novas abordagens sobre o ensino da alfabetização de jovens e adultos, como: 1- o saber fazer da educadora e a realidade do educando, 2- persistência do educando, um meio para o êxito, 3- a visão das educadoras frente às expectativas do educando, 4- o livro didático na prática pedagógica da alfabetização de jovens e adultos 5- o currículo diante da percepção das educadoras, 6- as educadoras no espaço escolar. Estes elementos presentes no discurso das alfabetizadoras trazem consigo suas experiências pessoais e apreciações sobre a inteligência da prática educativa na alfabetização de jovens e adultos.

Na fala dos educandos destacamos: 1- os educandos e seus dizeres, 2- o cotidiano do educando não-alfabetizado, 3- as expectativas do educando quanto à prática social da leitura e da escrita, 4- o significado da falta às aulas para o educando jovem e adulto, 5- as educadoras diante da visão dos educandos, 6- o educando assumindo a condição de educador(a), 7- o que mudou para o educando com o processo da alfabetização? Estes itens descrevem práticas sociais do educando jovem e adulto, bem como suas experiências de vida e expectativas frente a sua alfabetização e a prática alfabetizadora.