• Nenhum resultado encontrado

LEVANTAMENTO HISTÓRICO DOS REFERENCIAIS TEÓRICOS E

2.1 - O surgimento do movimento operário em sua inicial vertente anarquista

“Só na natureza ocorre o inevitável, os próprios homens fazem a sua história, mas não a fazem arbitrariamente, e sim em condições determinadas”64

A frase de Marx pode ser interpretada como sendo uma mistificação à ideia de que somente se faz história nos momentos em que são reunidas todas as condições objetivas e subjetivas. Para tanto, ele sinaliza que o agir histórico não é ato de vontade arbitrária.

A história da esquerda brasileira, confunde-se com a história da formação e desenvolvimento da classe trabalhadora brasileira, na sua configuração operária e camponesa. O que não significa que deixaram de compor as fileiras da esquerda indivíduos, ou mesmo grupos sociais, estranhos ao trabalho assalariado braçal, urbano ou rural. No entanto, distintamente da Europa, onde o socialismo pressupõe uma fase anterior, de elaboração, formulada por indivíduos provenientes das elites culturais, fase pré-socialista ou socialismo utópico65; por aqui, o socialismo apareceu como cultura que compõe o início do movimento operário, e não como esforço intelectual que pretende vir a ser a ideologia da classe. Muito embora menções à Karl Marx sejam feitas por alguns intelectuais em jornais do final do século XIX, não chegam a se afirmar como tendência de pensamento capaz de dirigir a ação organizada e coletiva da classe. No seu nascedouro, a ideologia dominante no movimento operário é o anarquismo, a mais popular entre os imigrantes que chegaram ao Brasil para trabalhar na lavoura de café e nas fábricas, italianos majoritariamente, mas também portugueses e espanhóis66.

Concomitantemente, respondem pelo surgimento do movimento operário no Brasil, e da esquerda socialista ou revolucionária, causas atinentes às

64

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008. 65

Em princípios do século XIX, St. Simon, Furier e Owen, os mais destacados e influentes autores do socialismo utópico, propugnam a conversão dos que já possuem poder e riqueza aos seus planos de reforma. Trata-se de um método que pretende resolver os problemas sociais e humanitários pela sensibilidade racional. SILVA, Antonio Ozai da Silva. História das tendências no Brasil (origens, cisões e propostas). Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA- DAS-TENDENCIAS-NO-BRASIL#scribd>. Acesso em: 18/4/2015.

66 “Nesta época, o movimento operário na Europa estava dividido por área de influência. Nos países do Norte (Alemanha, Inglaterra e Holanda) dominam os socialistas e nos países do Sul (França, Itália, Espanha e Portugal) predominam os anarquistas”. Idem, p. 13.

transformações estruturais que passa o país. É provável que não tivesse surgido o movimento operário no Brasil, ou tivesse sido retardado o seu aparecimento, caso não tivesse sobrevindo o advento da abolição, a crescente urbanização e consequente início da produção manufatureira, e a entrada de contingentes migratórios compostos por trabalhadores qualificados para funções técnicas típicas da produção fabril e familiarizados com o movimento operário de seus respectivos países.

Com as restrições impostas à escravidão, esse tipo de mão de obra se tornou escassa e cara (lei da oferta e procura), razão pela qual os proprietários optaram pelo trabalho livre, mais barato, mais produtivo e rentável que o trabalho escravo. A substituição do escravo na lavoura e no trabalho foi importada de outros países, principalmente do continente europeu.

No entanto, razões de ordem política e ideológica subjazem a decisão de promover um novo deslocamento da mão de obra tradicional, principalmente do ex- escravo, que até então havia suportado a carga da atividade econômica. A razão política da imigração se deve ao impasse entre as elites “liberais”, no sentido de reposicionar o Brasil sob o jugo do imperialismo norte-americano ou francês – onde prevalece a ideia de substituir as formas de produção ibérica, através do influxo de outros modelos culturais e de produção, como o alemão, italiano, japonês, húngaro, chinês –, que se aproximasse do modo de produção protestante encontrado no norte. Já a razão inspirada em diversas doutrinas sociais procurava a “colonização ideal”, com o objetivo de homogeneizar a nação, aplacando sua diversidade. Isto é, segundo o pensamento das elites da época, a substituição dos nativos “violentos e preguiçosos”, bem como dos africanos, subitamente dotados de prerrogativas constitucionais, descritos e vistos como “toxina africana” que, supostamente, representava ameaça à unidade nacional, pela “disciplina e honestidade inata” dos imigrantes67. Lateralmente, nota-se o quanto há de mitificação na ideia de “democracia racial” no Brasil.

Entretanto, a despeito de ser-lhes prometida a terra das oportunidades, esses imigrantes depararam-se com uma situação extrema. No campo, superexploração do trabalho em troca de salários vis, dependência financeira junto ao fazendeiro que lhes vendiam os requisitos básicos para a sobrevivência pelo

67

ROMANO, R. Artigo para a revista Art-press. Disponível em:

<https://robertoromanosilva.wordpress.com/2010/03/11/how-%C2%B4latin%C2%B4is-latin-america- roberto- HYPERLINK "https://robertoromanosilva.wordpress.com/2010/03/11/how-

dobro do preço, o que mantinha os colonos sem-terra, permanentemente endividados junto ao patrão e, portanto, presos à fazenda, humilhados, sujeitos ao castigo físico e à expulsão sob pretexto fútil, quando o proprietário se apossava da colheita e da pouca criação dos colonos68.

Nas fábricas, no início do século XX, essas pessoas viviam em condições muito precárias, geralmente em cortiços, cujos alugueis equivaliam a maior parte da renda obtida no trabalho nas fábricas, sob baixíssimas remunerações que mal cobriam as necessidades relativas à sobrevivência, em condições insalubres e ainda mais aviltantes no caso do trabalho exercido por mulheres e crianças69.

Aqui se destaca um fator sociocultural determinante, desde a colonização portuguesa e, ao que parece, também estendido ao trabalho livre tanto na lavoura como na incipiente indústria urbana. Segundo Darcy Ribeiro, a tradição barroca, portuguesa, não reconhece aos índios e negros outros direitos que não sejam os de se multiplicarem em mais braços, postos ao seu serviço. Mesmo que se misturando, sexualmente, aos índios e aos negros, conforme esse autor, trata-se da “tolerância opressiva, de quem quer conviver reinando sobre os corpos e as almas dos cativos, índios e pretos, que só podem conceber como os que deverão ser, amanhã, seus equivalentes, porque toda a diferença é intolerante”.70

Os estudos de Florestan Fernandes sugerem que não apenas os de origem portuguesa, mas também os empresários oriundos de outros países assimilaram essa tradição.

O movimento operário, portanto, surgiu das contradições as quais esses trabalhadores foram submetidos. Formado basicamente por imigrantes, como já mencionado, com algum conhecimento técnico sobre o processo produtivo moderno, e alguma familiaridade com o movimento operário em seus países de origem, o movimento operário partiu da necessidade de organizar os trabalhadores das

%C2%B4latin%C2%B4is-latin-america-roberto-romano/" romano/>. Acesso em:14/1/2016.

68 “na segunda metade do século XIX, brasileiros influentes convenceram-se de que era mais lucrativo o trabalho do assalariado livre, do que o trabalho escravo: “continua-se a empregar escravos em outras regiões, mas seu número torna-se escasso e menos produtivo do que os imigrantes

europeus”. O escravo, tonando-se escasso, torna-se também mais caro – lei de oferta e procura- e ao mesmo tempo não produz o que os fazendeiros gostariam que produzissem, isto por causa das péssimas condições de vida a que eram submetidos. Qual a solução? Importar mão de obra. Inicia- se um processo de imigração, através de ampla propaganda promovida pelos fazendeiros e

autoridades brasileiras – chegando a se montar agências de propaganda na Europa –, que prometia uma nova Canaã, a terra das oportunidades. Na esperança de se livrar da exploração a qual eram submetidos na Europa, os imigrantes atendiam ao chamado da “terra prometida”, na ilusão de terem melhores condições de vida e de possuírem o seu próprio lote de terra”

69 SILVA, Antônio Ozaí da. “História das tendências no Brasil (origens, cisões e propostas)”. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS-TENDENCIAS- NO-BRASIL#scribd>. Acesso em: 18/4/2015.

70

fábricas para conquistar melhores salários, condições de vida e de trabalho. Embora ativo e presente em quase todas as regiões do país, onde tem início a produção industrial, o movimento esteve circunscrito às concentrações urbanas e não se desenvolveu de maneira articulada nacionalmente, como também, não se dirigiu às demais classes trabalhadoras71. Nem o PCB o faria até a década de 1930 do século XX. A Coluna Prestes, por exemplo, direcionada à massa camponesa, na medida em que avançou para o interior e denunciou a situação de atraso e miséria imensa – talvez o mais emblemático fato político da época, num período da história onde muitos outros feitos atinentes à resistência contra o poder oligárquico se destacaram – não contou com a participação efetiva do movimento operário.

No entanto, o movimento operário, de inspiração anarquista72, organizado em sindicatos e tendo a ação direta de preparação da greve geral, como principal meio de ação, ofereceu as respostas mais apropriadas à situação dos trabalhadores, comparada a outras ideologias coexistentes – religiosas, socialistas e amarelas. Não à toa, tornou-se a principal força ideológica entre o operariado da época. Contrapondo-se, frontalmente, às posições assistencialistas próprias de associações de ajuda mútua, religiosas em geral, mas que não ofereciam proposições de melhora nas condições de vida e trabalho, o anarquismo propunha a organização independente do proletariado, através de sindicatos livres e mantidos pelos próprios operários. Do ponto de vista programático, o movimento operário de inspiração anarquista defendia jornada de oito horas de trabalho diário; a adoção de mecanismos, pelo governo, de controle de preços dos produtos essenciais; direito de alugueis; normalização dos trabalhos das mulheres e das crianças; libertação dos líderes operários presos; direito de reunião e de associação operária73. Respostas imediatas oferecidas para solucionar problemas concretos, com os quais se depararam a classe e o movimento da classe naquele momento. Cumpre assinalar, que após as primeiras greves serem duramente reprimidas pelo aparato de repressão estatal, o anarquismo, enquanto ideologia da “ação direta contra o Estado”, foi assumido providencialmente. O que não significa que o anarquismo

Letras, 1995.

71 MORAES, João Quartim; FILHO, Daniel Araão Reis. História do Marxismo no Brasil – v. I: o impacto das revoluções. Campinas: Editora UNICAMP, 2003.

72 SILVA, Antônio Ozaí da. “História das tendências no Brasil (origens, cisões e propostas)”. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS- HYPERLINK "https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS-TENDENCIAS-NO- BRASIL#scribd" TENDENCIAS-NO-BRASIL#scribd>. Acesso em: 14/1/2016.

73

fosse, naquele momento, a ideologia melhor acabada do ponto de vista filosófico e, por isso, a de maior abrangência. Ela foi mais abrangente e mais elaborada que as demais, porque seus pressupostos programáticos impulsionaram a possibilidade de solução de problemas, que exigiam soluções iminentes, em razão das condições de vida e trabalho inviáveis num mundo de rápido progresso econômico e tecnológico.

2.2 - O comunismo no Brasil

Enquanto corrente predominante no movimento operário, embora existissem mais duas, os socialistas e trabalhistas/amarelos, em meados da década de 1930, o anarquismo foi substituído pelo comunismo74. Concorreram para esse desfecho, a influência da Revolução Russa de 1917, mas também a elasticidade que o comunismo é capaz de lograr quando se trata de reagir à repressão estatal, aberta ou velada, diante de um tipo de dominação burguesa para o qual é uma afronta séria, um crime, a possibilidade de expressão das massas, salvo se tutelada.

Quando Getúlio Vargas ascende ao poder em 1930, regulamenta a existência de sindicatos oficiais, isto é, divididos por categorias, mantidos pelo imposto sindical e com a função de servir de órgão de conciliação entre patrões e empregados, portanto, fixando as bases de tolerância do movimento operário, que até aquele período se organizava em “sindicatos livres e independentes”, com o objetivo de conquistar melhores salários e condições de vida. Os comunistas e os trotskistas perceberam então a necessidade de disputar por dentro as direções, participando nacionalmente das eleições sindicais, o que os colocou na dianteira do movimento operário. Os anarquistas, por princípio, rejeitaram essa possibilidade e caminharam, talvez inconscientemente, para o isolamento e a renúncia de se afirmarem como referência ideológica e tendência organizadora do proletariado nascente75.

Uma questão de fundo teórico permite compreender melhor essa maleabilidade dos comunistas e socialistas em relação aos anarquistas, seja pelo

74 “O Brasil não possuia uma tradição marxista e os partidos socialistas eram inexpressivos. Entre a

intelectualidade radical, a influência principal era a do positivismo enquanto, entre os setores sindicalmente ativos do proletariado, predominava o anarcosindicalismo”.

RODRIGUES, Leôncio M., in História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III, Brasil Republicano, 3. v. Sociedade e Política (1930-1964) Coordenação Boris Fausto. DIFEL, São Paulo: 1981.

75

SILVA, Antônio Ozaí da. História das tendência no Brasil (origens, cisões e propostas). Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS-HYPERLINK "https://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS-TENDENCIAS-NO- BRASIL#scribd" TENDENCIAS-NO-BRASIL#scribd>. Acesso em: 14/1/ 2016.

fato de que “os socialistas de modo geral buscam a transformação gradativa do sistema capitalista e defendem a autonomia das organizações operárias frente ao Estado, como também, a ação parlamentar através de partidos”.76

As variações de interpretação, frente às condições estruturais e conjunturais, com que se deparou o movimento socialista que, por vezes, passou para o estágio de luta interna renhida e até violenta entre as tendências do mesmo campo ideológico, não chegam à negação profunda e sistêmica desse “ethos”, cuja solução mais abrangente até hoje, a meu ver, resolve-se na fórmula proposta por Lênin, ao definir as diferenças entre tática e estratégia. De outro lado, as correntes anarquistas negam completamente qualquer princípio de hierarquia. São abomináveis, para anarquistas como Bakunin, as proposições de Marx e Engels acerca da transição histórica do capitalismo para o socialismo. Para o primeiro, a “ditadura do proletariado” nada mais é do que a substituição de uma ditadura (burguesa) por outra (proletária).

A cisão entre o anarquismo e o comunismo, no movimento operário brasileiro assim como nos demais países, tem como ponto de partida não simplesmente o controle das direções sindicais, mas visões de mundo baseadas em pressupostos - “o quê” e “como” - distintos. Também percebidos a partir de situações concretas.

No caso brasileiro, a substituição do anarquismo pelo comunismo, enquanto principal corrente do movimento operário, foi marcada por uma situação histórica determinada. Vargas, ao oficializar sindicatos e regularizar relações de trabalho há muito reivindicadas pelo movimento operário (jornada de trabalho, férias, salário mínimo etc), também negou a ideia de “ação direta” como fator principal da mobilização operária, proposta pelos anarquistas, por permitir expressamente a atividade do movimento. Não participar dessa estrutura significaria entregar definitivamente, aos amarelos77 ou aos pelegos, a direção do movimento operário. Em contrapartida, a participação dos comunistas por dentro dos sindicatos oficiais lhes permitiu a sobrevivência e o trabalho conspiratório. Não por acaso, mesmo em momentos de maior fechamento das vias políticas e aumento da repressão, como o período que engloba o Estado Novo - quando centenas de oposicionistas, de modo geral, foram presos, em especial comunistas -, o comunismo não deixou de penetrar no movimento operário. Fundado no ano de 1922, o Partido Comunista do Brasil

76

Idem, p. 16. 77

São pessoas que não constituem a mesma relação contratual de trabalho do obreiro. Geralmente, são contratadas durantes as greves com o fito de desmobilizar o movimento.

(PCB), “de sentido marxista e apoio à Revolução Russa”78, durante a “República

Velha, em meses não contínuos, teve sete meses e doze dias de atuação tolerada. De 1930 a 1985, teve apenas um ano, sete meses e dez dias de atuação legalizada”.79

Logo, por meio século o PCB atuou de maneira clandestina.

O “Partido Comunista do Brasil - PCB, seção brasileira da Internacional Comunista”, tal como registra o estatuto de fundação, dos pontos de vista político, teórico e organizativo, agregou inovações importantes à experiência da esquerda. Primeiramente, por

(...) promover o entendimento, a ação internacional dos trabalhadores e a organização política do proletariado em partido de classe, para a conquista do poder e a consequente transformação política e econômica da sociedade capitalista em sociedade comunista80.

Nota-se que a primazia da estrutura e da ação política contrastam radicalmente com a tese da “ação direta” dos anarquistas, além disso, os comunistas brasileiros ao refletirem a tese de frente única definida pela Internacional Comunista – que consiste em unir todas as forças operárias em um só bloco, com o objetivo de enfrentar a burguesia –, ampliaram a extensão da ação do movimento operário, ou seja, pela primeira vez houve a tentativa de ampliar o raio de ação de um movimento revolucionário em direção a outras classes.

O alinhamento do PCB com Moscou foi determinante na definição de sua linha política. Mesmo o encaminhamento de questões nacionais, relativas ao caráter da revolução brasileira, refletiram a estratégia formulada pelo Partido Comunista da União Soviética (PCUS), como se a revolução socialista tivesse que ocorrer em circunstâncias idênticas, em todos os tempos, em quaisquer países do mundo. E esse alinhamento, expressado nas teses sobre a política nacional indica que a contradição fundamental na sociedade brasileira foi representada pela “luta entre o capitalismo agrário semifeudal (apoiado pelo imperialismo inglês) e o capitalismo industrial moderno (apoiado pelo imperialismo americano).”81

Esse pressuposto manteve o Partido Comunista Brasileiro distante do

78

MORAES FILHO, E. de. A proto-história do marxismo no Brasil, in: MORAES, João Q. de et all (Org.). História do Marxismo no Brasil. v. I. 2. ed. Rev. Campinas: Editora UNICAMP, 2003.

79

RUY, José Carlos; BUONICORE, Augusto. Contribuição à história do Partido Comunista do Brasil. São Paulo: Anita Garibaldi, 2010.

80

SILVA, Antônio Ozaí da. História das tendências no Brasil (origens, cisões e propostas). Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS-TENDENCIAS-

HYPERLINK "http://pt.scribd.com/doc/75398085/SILVA-Antonio-Ozai-da-HISTORIA-DAS- TENDENCIAS-NO-BRASIL#scribd" NO-BRASIL#scribd>. Acesso em: 2/1/ 2015.

movimento tenentista, seus desdobramentos e levantes, vistos como um movimento pequeno burguês por ser incapaz de romper com os limites estabelecidos pelo aludido dualismo, acabou servindo aos interesses de poder do imperialismo norte- americano no Brasil82.

Para o Partido Comunista, não basta a substituição de um imperialismo (arcaico e rural) por um novo (moderno e industrial)83, uma vez que, subsistindo imperialismo, camponeses e operários seguem sendo explorados. Malgrado a tese do dualismo não ser completamente apropriada, já que a burguesia, tanto a urbana quanto a rural, se define pela dominação oligárquica e dependência externa como único horizonte histórico do capitalismo no Brasil, a contradição levantada pelo Partido Comunista se traduziu numa tentativa de pensar a realidade brasileira em termos de um programa nacional, extensivo não só ao operariado como ao campesinato. A partir desse entendimento foi formado o Bloco Operário Camponês (BOC), primeira tentativa de definir uma política nacional a partir da aliança interclasses, cujo empreendimento seria realizar a “revolução anti-imperialista e antifeudal”.

Tendo como pano de fundo a linha deliberada pelo VI Congresso da Internacional Comunista, que postulou a derrocada final do capitalismo e o chamamento para que os PCs preparassem a ação revolucionária definitiva, isto é, a tomada do poder, os comunistas brasileiros no período final da década de 1920 discutiram a possibilidade de aliança com Luís Carlos Prestes e criaram a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGTB). O acirramento interno causou cisões no PC, diante de uma ala que, coerente com a decisão de criar o BOC e a CGTB, julgou demasiadamente sectárias as posições partidárias que postulavam o fechamento do partido à Prestes, acusando-o de organizar um movimento pequeno burguês e às demais iniciativas de linha auxiliar da burguesia. Esta última posição foi defendida, sobretudo, pelos antepassados do jornalista Carlos Lacerda, que fora posteriormente o chefe político da direitista UDN.

Resulta que nesse período, a atividade partidária restringiu-se a divulgar a propaganda comunista e a organização do proletariado urbano. Táticas que pressupunham extensão mais ampla, como atuação em “frentes” e, portanto, de alcance político mais efetivo, foram duramente criticadas pela Internacional

Documentos relacionados