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Lições dos AA sobre operações de mercado

Qualquer alcoólatra é capaz de ficar sóbrio por alguns dias. Em breve, con- tudo, a necessidade de beber o sobrepuja novamente e ele volta às garrafas. Não consegue resistir à pressão porque ainda sente e pensa como um al- coólatra. A sobriedade começa e termina na mente das pessoas.

Os Alcoólatras Anônimos (AA) têm um sistema para mudar a maneira como as pessoas sentem e pensam sobre a bebida. Os membros de AA usam um programa de 12 etapas para mudar suas atitudes. Esses 12 passos, descri- tos no livro Twelve Steps and Twelve Traditions, referem-se às 12 fases do crescimento pessoal. Os alcoólatras em recuperação participam de reuniões com outros alcoólatras em recuperação, apoiando-se uns aos outros na bus- ca da sobriedade. Qualquer membro pode ter um padrinho – outro membro dos AA a quem pede apoio quando se sente na iminência de beber.

A instituição AA foi fundada na década de 1930, por dois alcoólatras – um médico e um caixeiro-viajante. Eles começaram a encontrar-se e a apoiar um ao outro para que ficassem sóbrios. E assim desenvolveram um sistema tão eficaz que começou a atrair outras pessoas. Os AA têm apenas um obje- tivo – ajudar seus membros a ficarem sóbrios. Não promovem levanta- mento de fundos, não assumem posições políticas, e não realizam campa- nhas promocionais. Os AA continuam crescendo apenas por meio da pro- paganda boca a boca, devendo seu sucesso apenas à própria eficácia.

Também existem grupos de 12 etapas para filhos de alcoólatras, fuman- tes, jogadores e outros. Estou convencido de que os investidores em renda va- riável podem parar de perder dinheiro nos mercados se aplicarem os princí- pios básicos dos Alcoólatras Anônimos em suas atividades de investimentos.

Negação

Quem bebe socialmente, gosta de um coquetel, de uma taça de vinho ou de um copo de cerveja, mas pára quando acha que já bebeu bastante. A quími- ca de um alcoólatra é diferente. Quando toma a primeira dose, o alcoóla- tra logo sente a necessidade de beber mais, até ficar bêbado.

O bêbado sempre diz que precisa parar de beber, mas não admite que seu hábito de beber está fora de controle. Os bêbados, em sua maioria, ne- gam que sejam alcoólatras. Tente dizer a um parente, amigo ou empregado

alcoólatra que seu hábito de beber está sem controle e prejudicando sua vida, e você deparará imediatamente com uma muralha de negação. O al- coólatra geralmente diz: “Meu chefe me despediu porque eu estava de res- saca e cheguei atrasado. Minha mulher pegou as crianças e saiu de casa porque não tem noção das coisas. Meu senhorio está tentando despe- jar-me do apartamento porque estou um pouco atrasado o aluguel. Vou parar de beber e tudo voltará ao normal.”

Esse homem perdeu a família e o emprego e está a ponto de também não ter onde morar. Ele está perdendo o controle sobre sua vida, mas con- tinua dizendo que consegue parar de beber. Isso é negação!

Os alcoólatras negam o problema enquanto sua vida se despedaça. A maioria alimenta a fantasia de ser capaz de controlar a bebida. Enquanto acreditar que consegue “controlar a bebida”, o alcoólatra continuará des- cendo a ladeira. Nada mudará, ainda que arranje novo emprego, nova mu- lher e novo senhorio.

Os alcoólatras negam que estejam sob o controle do álcool. Quando falam em beber menos, estão tratando de algo impossível. São como o mo- torista que perde o controle do carro numa estrada de montanha. Quando o carro despencar de um penhasco, será tarde demais para prometer diri- gir com mais cuidado. A vida do alcoólatra foge ao seu controle, enquanto ele nega que seja alcoólatra.

É chocante a semelhança entre um alcoólatra e um operador de merca- do cuja conta de investimentos esteja sendo destruída pelas perdas. Ele con- tinua mudando suas táticas de investimentos, agindo como um alcoólatra que tenta resolver seus problemas substituindo a cachaça pela cerveja. O perdedor nega que tenha perdido o controle sobre seu rumo no mercado.

O fundo do poço

O bêbado inicia a jornada de recuperação apenas depois que admite ser al- coólatra. O fundamental é admitir que o álcool controla sua vida, não o contrário. A maioria dos bêbados não consegue reconhecer essa dura reali- dade. Enfrentam a verdade apenas depois de atingir o fundo do poço.

Alguns alcoólatras batem no fundo do poço quando desenvolvem uma doença que acarreta risco de vida. Outros chegam lá depois de serem rejei- tados pela família ou perder o emprego. O alcoólatra precisa descer a pro- fundezas tão hediondas, deve chafurdar de tal maneira na lama, sentir uma dor tão insuportável, que finalmente rompa a própria negação.

A dor de chegar aos desvãos do inferno é intolerável. Faz com que o alcoólatra se dê conta da sordidez em que se atolou. Essa dor perfura seu escudo protetor. E então ele se defronta com uma escolha simples e ine- quívoca – ou dá uma virada em sua vida ou morre em pouco tempo. Ape-

nas nessas condições o alcoólatra está pronto para iniciar a jornada de re- cuperação.

Os lucros fazem com que os operadores de mercado se sintam poderosos e provocam neles uma sensação de êxtase. Tentam ficar altos novamente, precipitam-se em operações negligentes e devolvem o dinheiro aos vencedo- res. A maioria não suporta a dor de uma seqüência de perdas e quase todos morrem como operadores de mercado depois de atingirem o fundo do poço e desaparecerem do contexto. Os poucos sobreviventes constatam que o principal problema não está em seus métodos, o problema está em sua men- talidade. Estes são capazes de mudar e transformar-se em operadores de mercado bem-sucedidos.

A primeira etapa

O alcoólatra que quiser recuperar-se deverá superar 12 etapas – 12 fases de crescimento pessoal. Ele precisa mudar sua forma de pensar e de sentir, revendo em profundidade a maneira como se relaciona consigo mesmo e com os outros. O primeiro passo dos AA é o mais difícil.

O primeiro passo a ser dado pelo alcoólatra é admitir sua impotência em relação ao álcool. Ele precisa admitir que sua vida tornou-se incontro- lável. Que o álcool é mais forte. A maioria dos alcoólatras não consegue dar esse passo, abandona o programa e continua a destruir sua vida.

Se o álcool é mais forte do que você, é evidente que você não pode mais beber uma gota de álcool, pelo resto de sua vida. Você precisa parar de be- ber para sempre. A maioria dos bêbados não quer abrir mão desse prazer. Preferem destruir sua vida a dar o primeiro passo dos AA. Apenas a dor de estatelar-se no fundo do poço proporciona motivação suficiente para dar o primeiro passo.

Um dia de cada vez

Você provavelmente já viu adesivos em pára-brisas de carros, dizendo: “Um dia de cada vez” ou “Devagar e sempre”. Esses são slogans dos AA e os mo- toristas desses carros provavelmente são alcoólatras em recuperação.

Planejar a vida sem álcool parece acabrunhante. Essa é a razão por que os AA estimulam seus membros a viverem sóbrios um dia de cada vez.

O objetivo de todo membro dos AA é manter-se sóbrio hoje e ir para a cama sóbrio esta noite. Aos poucos, os dias transformam-se em semanas, meses e anos. As reuniões e outras atividades dos AA ajudam cada alcoóla- tra em recuperação a ficar sóbrio, um dia de cada vez.

Os alcoólatras em recuperação recebem – e dão aos outros – apoio e companheirismo inestimáveis nessas reuniões. Elas são realizadas a qual-

quer hora, em todo o mundo. Os operadores de mercado têm muito a aprender com essas reuniões.

Uma reunião dos AA

Uma das melhores coisas que um operador de mercado pode fazer é ir a uma reunião dos AA. Fiz essa recomendação especialmente a certo opera- dor de mercado que enfrentava uma seqüência de perdas. Telefone para os Alcoólatras Anônimos e pergunte-lhes sobre a “próxima reunião de aber- tura” ou “reunião para iniciantes” em sua área.

Cada reunião dura cerca de uma hora. Você pode sentar-se no fundo da sala e ouvir com atenção. Ninguém o pressiona a falar nem pergunta o seu sobrenome.

No início de cada reunião, um membro veterano se levanta e fala sobre sua luta para superar o alcoolismo. Vários outros membros compartilham suas experiências. Por fim, faz-se uma coleta para cobrir as despesas – a maioria contribui com US$1. O que você tem a fazer é ouvir com cuidado e sempre que escutar a palavra “álcool” substituí-la por “perda”. Você terá a impressão de que todos na reunião estão falando sobre operações de mer- cado!