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2.3 O que a Escola W entende por educação bilíngue?

2.3.7 O uso da Libras no espaço educacional

Durante as observações realizadas no segundo semestre letivo de 2013 e no primeiro de 2014, foi possível perceber que a Libras circulava livremente no espaço educacional, ou seja, além da sala de aula os alunos surdos e os professores surdos se comunicavam em Libras com a equipe gestora, com os cantineiros, com os secretários e com muitos dos alunos ouvintes, devido às ações de disseminação da Libras no ambiente educacional para toda a comunidade escolar. Segundo a proposta, são realizadas

formação continuada em serviço: Formação para o trabalho com Surdos desenvolvida no contexto da escola. As crianças, funcionários e demais membros da comunidade escolar aprenderão libras em contexto. As professoras que atuam na bidocência serão as responsáveis por possibilitar esse aprendizado. No que se refere ao cotidiano da sala de aula, propiciar metodologias, estratégias, recursos e organização espacial, que contemplem a educação de surdos em sua totalidade, que não se restringe apenas a presença da língua na sala.

Língua de Sinais com a comunidade escolar por imersão: Pensar ações que possibilitarão o contato da comunidade escolar com a língua de sinais, como por exemplo entrada e saída dos alunos da escola, participação em eventos onde a primeira língua será língua de sinais. Entendimento de Língua de Sinais como uma LINGUA OFICIAL BRASILEIRA. (PROPOSTA EDUCACIONAL BILÍNGUE, 2012, P. 3)

De maneira sistematizada, em 2012, foi realizada capacitação para os funcionários da escola, os quais se comunicam com as crianças surdas e com os professores surdos, em Libras, ainda de maneira inicial. No mesmo ano se iniciou o curso de capacitação de Libras, oferecido pela SE de Juiz de Fora, do qual professores, gestor e coordenadores participam, desde então. Outra forma

sistematizada é o ensino de Libras como L1 para todos os alunos ouvintes, realizado pelos PAs. Além disso, a presença de professores surdos, bem como de alunos surdos, ambos sinalizadores, na Escola W, contribui, diretamente, para a evolução da habilidade linguística, o que faz com que, em todos os espaços da escola, exista a necessidade de interação em Libras. Isso acontece na sala de aula, com os professores, com os alunos, tanto ouvintes quanto surdos, na cantina, no momento da merenda, no pátio, no momento do recreio e das brincadeiras, na sala da direção, na secretaria, na biblioteca, enfim, o fato de estarem presentes alunos surdos e professores surdos, bem como ouvintes que estão desenvolvendo essa língua, torna bastante evidente o uso da Libras dentro da escola.

Quase toda a equipe gestora já apresenta habilidade comunicativa em Libras. Portanto, quando um professor surdo precisa conversar sobre algo, assim como acontece corriqueiramente com os professores, não existe a necessidade de um intérprete de Libras fazer a mediação, pois ela já possui habilidade suficiente para interagir em Libras com ele. Outro ponto bastante interessante é o fato de os alunos ouvintes, uma parcela deles, se comunicar em Libras com os alunos surdos, bem como como com os professores surdos. Mesmo que em um nível ainda inicial, as aulas de Libras e o contato com os indivíduos surdos na escola já promoveram uma maior interação entre pessoas ouvintes e pessoas surdas. É interessante notar, por exemplo, que, durante as aulas, quando o PA, surdo, entra em sala, aos poucos, as crianças vão parando de falar em Português e começar a sinalizar, de maneira natural, sem que seja necessário orientá-las para, a partir daquele momento, sinalizarem para o professor surdo. O mesmo acontece quando se muda a língua de instrução: os alunos vão parando de falar em Português, não só com o professor, mas, também, entres si. Esse é um ponto extremamente positivo, pois, para que uma escola seja considerada, de fato, bilíngue, é preciso que todos os envolvidos consigam transitar, pelo menos minimamente, entre as línguas em questão, e que todos os espaços sejam bilíngues.

Alguns funcionários, que já participaram do curso de capacitação ou que já fizeram outro curso de Libras, quando entram em sala de aula para dar algum recado para o professor ou para a turma e percebem que o professor surdo está ministrando a aula, também buscam sinalizar. Mas isso não acontece com todos os funcionários, pois alguns ainda não participaram do curso de formação, e, então, nesse caso, observei duas situações: uma em que o professor bidocente interpreta o

recado e outra em que não acontece nem a interpretação – o aviso é falado, mas o professor surdo não o compreende.

Pude perceber, também, certa diferenciação no uso da Libras em sala de aula, por parte dos alunos ouvintes, em sala com surdos, em que o professor da bidocência é surdo, e em sala com surdos que em que o professor da bidocência é ouvinte. No primeiro caso, a interação em Libras acontece de maneira mais constante. O professor surdo sinaliza com mais frequência que os alunos surdos com os alunos ouvintes e com os outros professores, mas, em alguns momentos, quando percebe que não foi compreendido, ele oraliza. No segundo caso, quando o bidocente em Libras é ouvinte, de acordo com as orientações da proposta, ele precisa ter o mesmo comportamento linguístico que o surdo, interagindo todo o tempo em Libras. Porém, ele tende a usar o Português para se comunicar com os outros professores da sua sala e, em alguns momentos, faz o mesmo com os alunos ouvintes. Isso reflete, diretamente, o desenvolvimento linguístico dos alunos ouvintes. Foi possível perceber, mesmo não sendo possível medir o nível de habilidade, que na sala de aula com professor bidocente surdo os alunos interagem mais em Libras do que na sala com professor bidocente ouvinte. Isso mostra a importância de se ter um modelo linguístico forte, em contato diário, para que as crianças possam estar imersas na Libras.

Quadros (2005) afirma, com relação às crianças surdas, que é extremamente importante elas terem contato, diariamente, com surdos adultos sinalizadores, para poderem consolidar a aquisição da Libras e para construírem a sua identidade, pautada na questão visual. Portanto, é possível perceber que a presença de professores ouvintes sinalizadores é importante, na promoção do uso da Libras no espaço escolar, porém ficou evidente que os professores surdos fortalecem ainda mais esse processo.

3 PENSANDO EM ESTRATÉGIAS

Após a reflexão sobre as possibilidades e os caminhos para a educação bilíngue para surdos e como tem sido implementada a proposta educacional bilíngue na Escola W, construo, neste capítulo, um Pae, o qual é a reelaboração da proposta já existente (ver Anexo 1), propondo ações complementares às que já estão sendo feitas na proposta educacional bilíngue, e possíveis modificações de algumas outras. O principal objetivo dessa reelaboração é contribuir com a efetividade dessa implementação, propondo estratégias e caminhos para torná-la uma política pública, sendo possível, assim, de ser implementada também em outras escolas da rede de diferentes regiões da cidade, podendo contemplar uma quantidade significativa de surdos e de ouvintes.