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LOS ALAMOS

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 116-120)

A viagem de carro do centro de Santa Fé para o Laboratório Nacio- nal de Los Alamos é bela e desolada. A estrada serpenteia pelo deserto com uma ligeira inclinação devido à diferença de elevação entre o la- boratório e a cidade. Hoje, a faixa dupla foi melhorada, e nem se com- para às perigosas e sujas estradas de terra atravessadas pelos primeiros cientistas de Los Alamos, que trabalharam no Projeto Manhattan, no final de 1942. O país adjacente é recheado de planaltos e cânions, com deserto cor-de-rosa em cima e cantos escuros embaixo.

O que é estranho sobre a viagem é a escassez de viajantes, automó- veis, reboques com barcos e dos típicos colegas de viagem nas estradas dos Estados Unidos. Após certo momento, a estrada vai para um único local – para o próprio laboratório –, e não há razão para estar nessa estrada a menos que você esteja autorizado a entrar em um dos lugares mais seguros do planeta.

O Laboratório Nacional de Los Alamos, LANL, é um entre os de- zessete laboratórios nacionais especialmente concebidos que realizam as pesquisas mais avançadas em nanotecnologia, materiais, supercom- putação, magnetismo, energia renovável e ciência pura. Los Alamos é um dos únicos três laboratórios nacionais que se especializam em ar- mas nucleares, junto com o Sandia, em Albuquerque, Novo México, e Lawrence Livermore, em Livermore, Califórnia.

O trabalho dos laboratórios nacionais é complementado por uma rede de laboratórios privados, em sua maioria, associados a universida- des de elite que realizam pesquisas confidenciais sob contratos gover- namentais e operam sob os mesmos protocolos rigorosos de seguran- ça. Esses protocolos incluem perímetros de segurança, acesso restrito e autorizações secretas de segurança para aqueles com acesso às in-

formações mais sensíveis. O mais conhecido desses laboratórios pri- vados é o Laboratório de Física Aplicada da Johns Hopkins University. O Laboratório de Propulsão a Jato, perto de Los Angeles, é um modelo híbrido público-privado financiado pela NASA e gerenciado pelo Insti- tuto de Tecnologia da Califórnia.

Juntos, esses laboratórios privados e públicos compõem um arqui- pélago de pesquisas que se estende de costa a costa, mantendo os Esta- dos Unidos à frente dos russos, chineses e de outros rivais nos sistemas essenciais para a defesa, espaço e a segurança nacional. Nas questões mundias, eles colocam os EUA em vantagem total.

O LANL é a “joia da coroa” nessa constelação. Não é o mais antigo, ainda que nessas décadas desde a sua criação venha desepenhando as tarefas mais cruciais.

Com início em 1942, o laboratório foi um dos muitos locais do Pro- jeto Manhattan Project que desenvolveram e construíram a bomba atô- mica, que trouxe um precoce fim para a Segunda Guerra Mundial e sal- vou, talvez, um milhão de vidas de ambos os lados, Aliados e japoneses. Nos anos que se seguiram às primeiras bombas atômicas, Los Alamos foi um elemento fundamental na corrida armamentista que se seguiu contra os programas de armas nucleares russos e, mais tarde, chineses.

A tecnologia de fabricação de bombas nucleares avançou rapida- mente desde as relativamente brutas armas de fissão, de 1945, para as armas termonucleares projetadas nos anos 1950 e 1960. Essas bom- bas mais recentes usaram a fissão para causar uma implosão secun- dária de fusão, liberando muito mais energia e alcançando uma nova ordem de destruição.

Esses avanços na tecnologia e na força destrutiva não consti- tuem os objetivos em si. Eles foram guiados pelas novas doutrinas de combate à guerra nuclear desenvolvidas, pela primeira vez, na RAND Corporation e, mais tarde, expandidas na Universidade de Harvard e

em outras escolas de elite. A doutrina, denominada Destruição Mútua Assegurada, ou MAD, acrônimo da expressão em inglês, foi o produto da teoria dos jogos, em que os participantes basearam suas ações nas reações esperadas de outros participantes que, por sua vez, agiram com base nas reações esperadas do ator inicial, e assim recorrentemente, até que um equilíbrio comportamental fosse alcançado.

O que a RAND Corporation descobriu é que vencer uma corrida ar- mamentista nuclear era desestabilizante e, provavelmente, resultaria em uma guerra nuclear. Se os Estados Unidos ou a Rússia construíssem ar- mas nucleares suficientes para destruir o outro em um primeiro ataque, sem chance de uma segunda ofensiva de retaliação por parte da vítima, a motivação do poder superior era desferir o primeiro golpe e vencer a guerra. Esperar até que o adversário alcançasse uma capacidade decisiva de ataque inicial parecia menos atraente do que atacar primeiro.

A solução era cada lado construir mais armas. Se um adversário atacasse, um número substancial de armas da vítima sobreviveria ao primeiro ataque. Isso proporcionaria uma capacidade de contra-ata- que, o suficiente para destruir o atacante. Guerreiros frios se referiam a esse modelo como “dois escorpiões em uma garrafa”. Qualquer escor- pião poderia causar uma picada fatal no outro. A vítima teria apenas força suficiente para reagir ao agressor antes de morrer e, então, ambos morreriam. A esperança era que os líderes nacionais agissem mais ra- cionalmente do que os escorpiões e evitassem atacar primeiro. Um ás- pero equilíbrio, ou o “equilíbrio do terror”, elaborado nesses primeiros esforços teóricos, prevalece até hoje.

Enquanto os piores dias da corrida armamentista podem estar no passado, a ameaça de uma guerra nuclear não desapareceu. O LANL permanece no centro da tecnologia e testando armas nucleares.

O laboratório é um dos locais mais seguros do planeta. Ele fica no topo de um planalto com um penhasco de cerca de cento e cinquenta metros, envolto por múltiplos perímetros de segurança. O espaço aé- reo é restrito, embora haja uma pista de pouso nas proximidades para

voos aprovados. Aqueles que chegam de carro devem passar por postos militares de controle e mostrar os crachás apropriados indicando o cer- tificado de segurança ou o status de trabalhador ou de morador pré-se- lecionado. Um intruso que tenta chegar a pé teria que atravessar quilô- metros de deserto, descer pelos cânions em torno do planalto, escalar as paredes do planalto e penetrar num perímetro seguro. Os sensores infravermelhos de movimento e ruído e uma equipe de segurança for- temente armada garantem que nenhum visitante indesejado avance.

Em 8 de abril de 2009, eu estava em uma van do governo dos EUA com físicos e especialistas em segurança nacional convidados para re- ceber instruções confidenciais sobre as novas iniciativas no LANL. O laboratório e a cidade governamental ao redor dele tornavam-se visí- veis à distância à medida que nos aproximávamos da estrada de acesso vinda de Santa Fé. O calor do deserto lhe proporcionava um visual cin- tilante. A cidade se destacava pelo seu isolamento. Naquele dia, meus companheiros e eu não estávamos visitando Los Alamos para estudar armas nucleares. Em vez disso, buscávamos soluções para o dilema do colapso financeiro sistêmico.

No documento O Caminho para a Ruína.pdf (páginas 116-120)