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Luta pela educação na formação do campesinato do Vale do Mearim e sua

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (páginas 68-73)

CAPÍTULO 2 A FORMAÇÃO DO CAMPESINATO NO VALE DO

2.2 Luta pela educação na formação do campesinato do Vale do Mearim e sua

Devido à importância atribuída ao fator educação e ao aspecto da participação no movimento social, pelos informantes desse trabalho é disponibilizado abaixo alguns dados da situação dos entrevistados sobre sua escolaridade e participação em organizações.

Não foi apenas o direito a terra e ao babaçu, porém, que nossos informantes tiveram cerceados, também o direito à educação . Em 1989, na recém criada ASSEMA, a sua grande maioria de fundadores e sócios, representantes das famílias dos povoados rurais, eram

analfabetos ou tinham mal a 2ª série (do ensino fundamental), sendo raros os que tinham a 4ª série (do ensino fundamental) concluída.

O não acesso à educação é sentido pelas famílias, segundo depoimentos, como perda de cidadania. As entrevistas que o tema educação foi tratado, os informantes declaram necessitar das habilidades de leitura e escrita e que desde que constituíram suas famílias, chegam a sacrifícios de excesso de trabalho para conseguirem manter os filhos nos estudos. Portanto sem babaçu, sem terra para trabalharem e sem escolas para a educação dos filhos, pode indicar desestimulo e abandono das terras.

Em 1998, inicia-se na região pesquisada, como um surto, a busca por escolas de alfabetização e educação para jovens e adultos fora da faixa etária escolar, talvez motivado pela política de governo criada em 1995, do então presidente Fernando Henrique Cardoso, o programa “Acorda Brasil. Está na Hora da Escola”. A ASSEMA também buscou, naquele momento, trazer para as comunidades de sua atuação programas de educação, iniciando, assim, em 1999, turmas de alfabetização e ensino fundamental para jovens e adultos vinculadas ao programa governamental PRONERA – Programa de Educação e Alfabetização para Jovens e Adultos em Áreas de Reforma Agrária.

Atualmente, nosso grupo de entrevistados apresenta a seguinte situação escolar: Quadro 2 Situação escolar dos entrevistados

Categoria de ensino % dos entrevistados

médio 14,81 5ª a 8ª 37,04 1ª a 4ª 18,52 só a 2ª 3,70 até a 3ª 14,81 Declara alfabetizado 3,70 Declara não saber ler e

Excluímos desse quadro a assessora da ASSEMA que também foi entrevistada, porque foi a única pessoa a ter concluído o ensino superior. No ensino fundamental, aqui destacado como 5ª a 8ª série, estão inclusos os 03 jovens que foram entrevistados e que estão estudando numa Escola Família Agrícola, criada pelos próprios pais e organizações locais. Todos os demais se referem aos adultos homens e mulheres entrevistados. Observamos nesses dados que, quanto ao ensino fundamental completo (até a 8ª série), temos vários entrevistados que concluíram esse período escolar já na idade de 53, 42, 33, 29 anos de idade, em curso particular supletivo de 5ª a 8ª, em um ano escolar.

Dos que apresentaram o ensino médio, 11% estão estudando em salas do PRONERA com idades entre 40 e 50 anos. Todos os que estão nos percentuais do ensino de 1ª a 4ª série, até 3ª série, só 2ª série e que se declaram alfabetizados, conseguiram realizar esses estudos em salas de aula para adultos fora de idade escolar regular. A maioria absoluta deles voltou às salas de aula depois de 10 a 20 anos sem estudar, e os que se declararam alfabetizados freqüentaram pela primeira vez uma sala de aula em fase adulta avançada.

Perguntados sobre suas participações em organizações, os entrevistados mostraram militância no movimento social. Do total de 40 entrevistados, apenas 03 declararam não integrar nenhuma organização formal. Estes nos explicaram suas razões da seguinte forma: 01 declarou já ter integrado a Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais como sócia atuante, tendo, porém se desligou quando ocorreu uma divisão política partidária entre o conjunto das famílias da comunidade. E este entrevistado se afastou também do grupo social considerado como a comunidade local.

Outro entrevistado, também anteriormente ativo, participante da cooperativa agro- extrativista, se desligou da organização quando se separou da esposa, porque teria se juntado com outra mulher na cidade. De certa forma foi punido pelo conjunto do grupo social que

integrava. Precisou se afastar da atividade de gerenciamento que exercia na cooperativa e terminou indo embora da região, morando hoje em outro estado.

O terceiro entrevistado explicou que não se envolve porque seus pais sempre moraram numa fazenda que fica vizinha ao povoado, que hoje é uma área de assentamento, e ele se sente na obrigação de manter algumas obrigações para com o proprietário. Por exemplo, sua esposa tem que vender as amêndoas de babaçu no comércio do proprietário e ele tem de pagar a renda da roça.

Os demais entrevistados enumeram a lista de organizações com as quais mantém vínculos: Cooperativa, Associação de Mulheres, Associação Fitoterápica, Sindicato, Delegacia Sindical, Escola Família, Igreja Católica, Clube de Mães, Partido Político, MIQCB, Associação do Assentamento, grupos de geração de renda (produção de sabonetes, plantas medicinais e produção de remédios caseiros) e ASSEMA. Uma mesma pessoa chega a ser membro de 02 a 09 organizações. Apenas 01 entrevistado declarou ser membro apenas da Igreja Católica. Os jovens são alunos da Escola Família e integram clubes de jovens.

Essa diversidade de organizações que parece pulverizar a atuação pode ser interpretada como instrumentos organizativos que favorecem as negociações das famílias com a sociedade mais ampla em prol dos seus direitos. O fato de ser várias não indica divisão e nem enfraquecimento das lutas, mas pode indicar sobrecarga para as lideranças, pois têm que estar em todas as formas organizativas, onde cada uma tem sua estrutura e funcionamento com viagens e reuniões. Ainda, pode representar participação ativa das lideranças, e, pode também indicar a necessidade de ampliar o número de lideranças.

Dados que permitem verificar que nessas organizações eles e elas assumem diversas atribuições, ora são sócios sem cargos, ora ocupam algum cargo de direção a partir da eleição seguinte. Alguns têm funções de gerenciamento, de cantineiras e cantineiros na cooperativa.

São dirigentes religiosos. A maioria dos informantes já passou por algum cargo de direção em alguma das organizações citadas.

No capítulo seguinte, procuro mostrar como as relações de gênero estão postas antes do momento em que os entrevistados, mulheres e homens, dão uma reviravolta nos seus estilos de vida.

CAPÍTULO 3 RELAÇÕES DE GÊNERO NUM CAMPESINATO AGRO-

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (páginas 68-73)