• Nenhum resultado encontrado

Tendo em vista o objetivo acima descrito, a seguir serão apresentadas as estratégias metodológicas para alcançá-lo de modo efetivo e obter resultados analisáveis e fidedignos.

Para embasar a pesquisa foi efetuada uma revisão bibliográfica que orientou a elaboração do projeto de modo transversal. Foram efetuadas leituras em bases nacionais e internacionais a respeito da reforma psiquiátrica, para entendimento mais aprofundado da temática, leituras sobre o sistema de saúde brasileiro e sua história e, por fim, foi realizado um levantamento de pesquisas acadêmicas que pudessem servir de luz a esse projeto, seja pela proximidade temática ou pela semelhança metodológica.

Inicialmente, o projeto contaria com a aplicação de um questionário semi-dirigido com alunos do último ano de graduação de Psicologia e Medicina da PUC-SP, acerca das noções que esses estudantes têm a respeito da Reforma Psiquiátrica e das práticas antimanicomiais. Entretanto, devido aos empecilhos causados pela pandemia de Covid-19, a realização presencial desses questionários seria impossibilitada.

Foi escolhido um rumo distinto, visando uma análise voltada para instituição de ensino e não mais para seus estudantes. Essa análise teve como intuito qualificar os contatos promovidos ao longo da graduação de Medicina e Psicologia em relação à reforma psiquiátrica e às práticas antimanicomiais. Para isso foram escolhidas duas estratégias de método:

Primeiramente, foi feita uma análise documental através dos planos curriculares de ambos os cursos com o intuito de traçar os processos de construção teórica dos saberes em saúde mental e os possíveis alinhamentos com as pautas levantadas pela reforma psiquiátrica. A importância dessa etapa de análise documental se faz dado que o uso de documentos em pesquisa permite uma riqueza de informações que podem ser extraídas dos mesmos, justificando o uso em diversas áreas das Ciências Humanas e Sociais, uma vez que possibilita a ampliação do entendimento de objetos cuja compreensão necessita de contextualização histórica e sociocultural (SÁ-SILVA, ALMEIDA, GUINDANI, 2009).

A segunda estratégia foi a efetuação de entrevistas semiestruturadas prolongadas com docentes de ambos os cursos, essas entrevistas tinham como objetivo proporcionar um maior embasamento aos dados curriculares colhidos, além de permitir uma análise qualitativa através do relato e das experiências profissionais das professoras.

Para atingir o objetivo descrito acima foram convidadas duas docentes de referência, uma de cada curso.

A professora escolhida para relatar suas experiências na faculdade de Psicologia da PUC-SP foi a Profa Dra Elisa Z. Rosa. A professora é formada em psicologia pela PUC-SP (1999), local onde concluiu também seu mestrado (2005) e doutorado (2016). Atualmente, é professora do departamento de Psicologia Social e do Núcleo de Saúde Mental da faculdade, além de já ter ocupado cargos de gestão no curso. A professora é uma grande referência interna e externa nos debates acerca da reforma psiquiátrica e da Psicologia no geral, fator que foi decisivo para que ela fosse pensada como figura importante na composição dos relatos desta pesquisa.

Já a professora convidada da Medicina da PUC-SP foi a ProfaDraAna Laura Schliemann. Assim como a professora Elisa, Ana também tem sua formação acadêmica pela PUC, especificamente na área de psicologia. Atualmente é docente do curso de Psicologia da PUC-SP, que foi coordenadora de estágios e ministrou aulas em disciplinas como: Desenvolvimento, Psicologia Construtivista e Trabalho de Grupo em Instituição de Saúde. Porém, apesar da sua notória carreira acadêmica na psicologia, a ideia de chamar essa professora para integrar o projeto com sua experiência, veio da sua atuação como docente na Medicina da PUC-SP, onde trabalha com os estudantes questões como empatia, comunicação, comunicação não verbal e mais especificamente comunicação de notícias ruins. A vinculação de Ana Laura com ambos os cursos foi um dos motivos centrais para a pesquisadora efetuar o convite para a entrevista, uma docente com experiências em ambos os cursos poderia agregar com uma visão aprofundada tanto da Medicina como da Psicologia.

Por conta da situação pandêmica enfrentada na época da elaboração da pesquisa, as entrevistas foram realizadas a distância pela plataforma virtual Teams,

durante o mês de abril de 2021. As entrevistas tiveram duração de 40 minutos a 1h30 e foram guiadas por roteiros específicos e individuais, idealizados pela pesquisadora, de acordo com os objetivos do estudo e em consonância com a revisão bibliográfica .8

Além disso, para a elaboração das entrevistas, e no decurso de toda a pesquisa, foram tomados todos os cuidados éticos em acordo com a legislação vigente. O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-SP em 05/01/2021 . As entrevistadas foram apresentadas ao9 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) com antecedência, e apenas10 após o aceite das condições propostas que as entrevistas puderam ocorrer. Alguns dos pontos principais que foram acordados com as docentes foram que as entrevistas seriam gravadas apenas sob permissão da entrevistada e que a participação poderia ser retirada a qualquer momento sem penalizações. Por fim, foram realizadas devolutivas para as professoras, por meio da entrega da transcrição das entrevistas e do texto da monografia para possíveis alterações que elas desejassem realizar.

É pretendido que, através dessas entrevistas, a entrevistadora e as entrevistadas participem de uma “aventura comum” (BOSI, 2003), e que ao final, seja possível emergir “um sentimento de gratidão pelo que ocorreu: o ouvinte, pelo que aprendeu; o narrador, pelo justo orgulho de ter um passado tão digno de rememorar quanto o das pessoas ditas importantes.” (BOSI, 2003, p. 61). E durante o desenrolar das entrevistas foi possível perceber que essa troca de fato ocorreu e de modo extremamente satisfatório.

Em termos de conteúdo, as entrevistas tiveram como disparadores algumas questões centrais: a) Como foram construídos os saberes em saúde mental dentro das matérias do curso; existe a adoção formal de enfoque nas práticas alinhadas com a reforma psiquiátrica? Esta adoção está documentada?; b) Como se deu essa construção ao longo dos anos? Quais agentes participaram? Houve embates entre

10Anexo 3 - TCLE

9Número do Comprovante: 115596/2020. CAAE: 38983620.3.0000.5482

8Anexo 1 - Roteiro da entrevista da Psicologia/ Professora Elisa Z. Rosa

Anexo 2 - Roteiro da entrevista da Medicina/ Professora Ana Laura Schliemann

visões distintas?; c) Quais os desafios da atualidade em relação às práticas em saúde mental? Onde acreditam que ainda devem avançar?

Para elaborar o delineamento da entrevista foi pensado um roteiro de entrevista pautado nos processos históricos da instituição (passado), como atualmente o curso opera com a temática (formal e cotidianamente), como analisa a conjuntura atual política e institucional de construções teóricas dos cursos (presente) e quais perspectivas e desafios que a instituição pode vir a enfrentar dentro da temática da saúde mental, em específico da reforma psiquiátrica (futuro).

Neste sentido, em termos teóricos-metodológicos, foi articulado um suporte especialmente na categoria historicidade postulada pela Psicologia Sócio Histórica.

[...] fundamenta-se em uma noção materialista da história, que concebe a história como processo contraditório, produto da ação dos homens, em sociedade, para a construção da própria existência. [...]

Tal fundamento metodológico permite compreender a questão epistemológica da relação sujeito-objeto de maneira a superar a dicotomia entre subjetividade e objetividade. (GONÇALVES, 2015, p.

48)

Essa análise, levando em conta os processos históricos dos fenômenos sociais, permite que haja uma avaliação desnaturalizante, possibilitando um olhar para categorias que indicam processos com conteúdos históricos, ideológicos, contraditórios, mediados. (BOCK e GONÇALVES, 2009).

Após a realização das entrevistas, as falas foram transcritas e, mediante a leitura sistemática e ativa dos conteúdos presentes na transcrição, foi possível subdividir e organizar o material colhido em eixos temáticos e categorias de análise, de acordo com tópicos de convergência ou de divergência, presentes nas falas das entrevistadas. Essas categorias analíticas foram articuladas também com os dados obtidos através das leituras prévias das informações contidas nos sites oficiais dos cursos e nos currículos da Medicina e da Psicologia.11

Por meio da reunião e análise desse conjunto de resultados da pesquisa, espera-se compreender se existe necessidade dessas temáticas serem mais

11Medicina da PUC-SP: <https://www.pucsp.br/graduacao/medicina> Acessado em: 25/05/2021 Psicologia PUC-SP: <https://www.pucsp.br/graduacao/psicologia> Acessado em: 25/05/2021

trabalhadas, ou se já são suficientemente discutidas na matriz curricular, além de poder contribuir para o aprimoramento das abordagens.

Documentos relacionados