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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.8 MÉTODOS PARA O CÁLCULO DO BENEFÍCIO

Já foram desenvolvidos diversos métodos para se estimar o valor monetário dos benefícios, sendo os mais comuns, observados pela literatura, os que abordam “custos evitados”, Capital Humano e Valoração Contingente. As definições de cada um desses métodos serão apresentadas, bem como, suas respectivas características, com a finalidade de ponderar o melhor método entre eles para seu uso na valoração dos benefícios, isso é, referentes à análise do impacto regulatório de um regulamento técnico.

1) Cost Saving – Custos evitados

Custos evitados podem ser usados para avaliar questões complexas de gestão. Conceitualmente, o objetivo desta análise é ajudar os gestores a determinar o quanto gastar e como aperfeiçoar os recursos de um dado projeto. A

análise do custo evitado, auxilia os gestores a perceberem oportunidades para não gastar mais do que o necessário (BEECHER, 2011). Referente a novas tecnologias, a forma mais simples de valorar suas consequências em termos monetários, de acordo com PUIG-JUNOY e colaboradores (2001), é através do cálculo do valor atual dos “cost saving” (custos economizados) ou “avoided cost” (custos evitados). Trata-se de calcular a economia com gastos futuros que ocasionam uma intervenção, e considerar este valor como benefício do programa. Para calcular os custos economizados é necessário considerar pelo menos três alternativas (RASCATI, 2010):

a) Alternativa de “não se fazer nada”; b) Alternativa de “fazer o mínimo”; c) Alternativa de “fazer alguma coisa”.

A alternativa de “não se fazer nada”, segue a seguinte lógica: quanto seria “economizado” se não se fizesse nada? Essa é uma hipótese que, se avaliada do ponto de vista do investimento, o benefício seria total, uma vez que há projetos que pela sua concepção e forma de planejamento são equivocados ou inadequados para aquele momento e casos particulares. A melhor opção, neste caso é a de não implementar o projeto, uma vez que as chances de não atender aos objetivos seria grande, o que resultaria em desperdício de recursos. Outra possibilidade de avaliação para essa alternativa é a de quando se tem um programa ou projeto novo, que pode alterar uma situação já estabelecida e aparentemente funcional deve se conservar o que estava, ou seja, não aplicar o novo projeto (RASCATI, 2010).

A escolha por se fazer “o mínimo” ocorre quando a alternativa seria aplicar um programa ou projeto semelhante a um modelo já em uso, que tenha se mostrado favorável à aplicação, utilizado em uma escala menor. A alternativa de se fazer “alguma coisa”, ocorre quando há uma situação bastante crítica, sendo insustentável a sua conservação. Nesse caso, o benefício surge na tomada de posição diferente àquela empregada, mesmo que não se tenha certeza de seu sucesso, apenas para tentar modificar o atual estado insatisfatório do projeto vigente (RASCATI, 2010).

120 2) Teoria do Capital Humano6

A Teoria do Capital Humano considera que o valor da “vida humana” está associado a quanto um indivíduo pode contribuir, em forma de rendimento, para a formação da renda total de uma comunidade (COHEN et al, 1997). Muitos economistas adicionam diversos termos adjacentes para a definição do conceito de Capital Humano, sendo que, a maioria concorda com a ideia de que o capital humano abrange a capacidade, a experiência e o conhecimento. Outros acrescentam personalidade, aparência, reputação e credenciais a suas definições, ou, ainda, sugerem que o capital humano está relacionado a pessoas instruídas e dotadas de certas capacidades. Já DAVENPORT (2001) em seu livro “O capital humano: o que é e por que as pessoas investem nele”, aprimora essas definições, distinguindo seus elementos entre: capacidade, comportamento e empenho, juntamente com um quarto elemento que é o tempo. A Figura 10 representa uma relação específica entre esses fatores.

Figura 10: Elementos que relacionam “Capital Humano”

Fonte: DAVENPORT (2001)

Como pode notar, os elementos se combinam na relação de somas e multiplicação. Multiplicar, nesse caso, significa que: aumentando um dos elementos poderá ser aumentada também e enormemente a quantidade investida como resultado. Rascati (2010) apontou em seus estudos para a existência de dois

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Foi o renomado professor da Escola de Chicago Theodore W. Schultz (1902-1998), prêmio Nobel de 1979, quem criou a expressão e expôs sua teoria na década de 1960, momento do surgimento do interesse em explicar os ganhos de produtividade gerados pelo “fator humano” na produção. A conclusão de tais esforços, redundou na concepção de que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais importantes meios para a ampliação da produtividade econômica e, portanto, das taxas de lucro do capital (RUCKSTADTER, 2005).

componentes básicos para o cálculo do capital humano, a taxa salarial e o tempo. Se compararmos essa proposição com a apresentada por Davenport (2001) na Figura 10, podemos entender que os fatores capacidade, conhecimento, habilidade e talento, somados ao de comportamento e multiplicados pelo empenho, poderão ter seus resultados representados pela taxa salarial de um determinado trabalhador que executa uma tarefa por determinado tempo. O tempo a ser considerado no esquema, será aquele em que o trabalhador realizará uma atividade em seu benefício, ou seja, ganhando seu salário.

Observa-se que outros autores apresentam diversas formas mais complexas de cálculo do capital humano, como podem ser vistos em NAKABASHI & SALVATO (2007); COHEN et al. (1997); BENHABIB & SPIEGEL (2005); RENDA et. al. (2013) entre outros, porém todas as propostas utilizam um grande número de varáveis e considerações para serem consideradas até o cálculo final. A polêmica relacionada à questão da valoração da vida humana é ampla e delicada devido a um problema de ordem conceitual. Por exemplo, quando um analista estimar o valor da vida humana, ele não está buscando o valor econômico intrínseco da vida de nenhum indivíduo em especial. Antes, busca estabelecer uma relação do custo econômico que a sociedade experimenta, em decorrência de uma alteração na expectativa de vida de um indivíduo “estatístico” ou representativo a um grupo determinado dessa sociedade – isto é, que será exposto ao impacto. (COHEN et al, 1997). Nesse sentido, a primeira consideração importante a ser feita, é a de que a questão da valoração da “vida humana” aqui abordada é de ordem conceitual e, portanto, deve estar claro o que se entende, nesse sistema, por “vida humana”. O conceito chave nesse caso, é o de “risco de vida” ou, na forma menos referendada, de expectativa de vida (probabilidade de sobreviver ou de estar vivo).

3) Valoração Contingente

A valoração econômica dos recursos usando a preferência declarada (Stated Preference), é conhecida como valoração contingente (Contigent Valuation), uma vez que as estimativas do valor obtido dependem da informação fornecida anteriormente ao entrevistado na pesquisa. Os questionários da valoração contingente são capazes de obter diretamente uma medida de “bem estar” associada à mudança discreta na prestação de um serviço ou substituir um pelo

120 outro. Essa metodologia foi aperfeiçoada e ganhou considerável aceitação política

nos Estados Unidos nas décadas de 1970 e de 1980, onde foi aceita como uma ferramenta de avaliação econômica por muitas instituições federais (HOYOS & MARIEL, 2010).

O método da “preferência declarada” utiliza questionário especialmente construído para extrair das pessoas a “disposição a pagar” (Willingness to Pay) ou a disposição das pessoas por “aceitarem” uma determinada situação (Willingness to Accept), fornecendo a ela o direito de opinar entre manter a situação atual ou submetê-la a pequenas mudanças. O método de valoração contingente consiste na criação de mercados hipotéticos através de pesquisa de campo, para estimar valores de disposição a pagar ou disposição a aceitar, conforme explicamos. A pesquisa de campo é realizada através de questionários, os quais buscam alternativas próximas à realidade, de forma que as respostas dos entrevistados indiquem o valor mais fiel possível em relação ao que o indivíduo estaria disposto a pagar (ou receber) pelo bem em questão (STAMPE et. al, 2008).