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3.3 Vivências terapêuticas: desenvolvimento individual e planetário

3.3.1 Maíra e a Naturologia

Maíra Biral tem 29 anos. Nascida em São Paulo, morou desde a infância em Salvador. Aos 18 anos mudou-se para Florianópolis, onde cursou graduação em Naturologia. Conforme explicou, o curso de Naturologia oferece um aprendizado holístico do corpo, que percebe as manifestações de doenças “físicas” como reflexo de questões mais complexas que podem envolver além do físico, o emocional e até o espiritual. Tornamo-nos amigas a partir da aproximação entre nossos filhos, que estudam na mesma turma da escola Dendê da Serra. Minha relação como paciente deu-se posteriormente à minha relação como amiga. Essa informação é importante para ressaltar algumas questões que foram trazidas ao longo do tratamento.

Maíra é massagista do Shamash50, trabalhando esporadicamente no lugar, além de oferecer massagem em muitos hotéis de Serra Grande, Itacaré e Ilhéus. Conforme me relatou, começou como babá no TXAI Ecoresort, e após a formação em massagem com Helena Peirão passou a oferecer o serviço no spa do resort. Nessa época já havia finalizado a formação em Naturologia.

Em julho de 2018 decidi iniciar um tratamento com Maíra. Minha intenção era fazer um pacote de massagens que auxiliasse no enfrentamento do stress e ansiedade. Marcamos uma primeira sessão e ela me disse que lá conversaríamos sobre as possibilidades de tratamento. Para essa primeira sessão eu deveria escolher qual massagem eu queria (com preços variando entre 80 e 120 reais). Dentre as massagens, constavam: ayurvédica, relaxante, chinesa, com pedras quentes, modeladora, drenagem linfática e taiwanesa. Escolhi a massagem relaxante e combinamos um valor de 100 reais pela sessão, que teria duração média de 1 hora e mais meia hora para conversarmos sobre o tratamento.

No primeiro dia a conversa deu-se antes da massagem. Maíra iniciou fazendo algumas perguntas sobre alergias e uso de medicamentos alopáticos, e depois foi aprofundando em questões mais íntimas. Perguntou o motivo pelo qual eu estava buscando aquele tratamento e passou então a questionar sobre questões emocionais de minha vida e de meu momento pessoal. Ela anotava em um caderno as emoções e as intenções que eu tinha com o 50 SPA que funciona dentro do TXAI Resort.

tratamento. Neste dia ela propôs que, além das massagens, eu fizesse também um tratamento com florais que ela desenvolveria no decorrer do processo terapêutico e conforme as emoções fossem se manifestando.

Como, além de minha intenção relaxante, existia também uma preocupação estética, combinamos de alternar semanalmente entre uma massagem relaxante e uma massagem modeladora, acompanhadas do uso de florais. Fechamos um pacote de 16 sessões que aconteceriam semanalmente durante quatro meses no Espaço Integral pelo valor de 1.200 reais, que foram pagos integralmente na primeira sessão.

Entretanto, essa alternância não se deu da forma planejada. Quando nos encontrávamos para a massagem, especialmente a partir da quinta sessão, Maíra trazia uma nova proposta e todo o material para aplicar uma técnica diferente, por meio de indícios que havia notado na sessão anterior ou em algum encontro fora do contexto terapêutico. Essas “pistas” faziam com que ela percebesse que eu necessitava do novo tratamento. Sendo assim, Maíra “sentia” que seria interessante aplicá-lo. Essa afirmação deu-se no uso de reflexologia, drenagem linfática, tarô e até a leitura de um capítulo do livro “Mulheres que correm com os Lobos”, de Clarice Pinkola, após a sessão de massagem.

No início de cada sessão ela me pedia para cheirar alguns óleos essenciais e, em uma escala de 0 a 10, eu ia escolhendo intuitivamente, conforme ela me disse, o que meu corpo precisava naquele momento. Ocorreram diversas sessões em que sobrava o óleo utilizado na massagem e ela me oferecia em um vidro, orientando-me a utilizá-lo em um momento de autocuidado e afeto comigo mesma.

Apesar da proposta de tratamento ser semanal para que se mantivesse uma frequência, o processo se estendeu por 10 meses, já que era muito frequente ela desmarcar sessões devido a outros compromissos. A perda da periodicidade do tratamento começou quando, em uma viagem que fizemos com nossos filhos, em um momento de intimidade entre amigas, eu afirmei: “Estou querendo fazer terapia de verdade”. Essa frase foi por mim utilizada na intenção de dizer, naquele contexto em que eu me encontrava desabafando sobre minhas questões emocionais, que eu sentia a necessidade de iniciar uma terapia psicanalítica, e foi a isso que me referi como “terapia de verdade”.

Depois dessa viagem, em que estávamos aproximadamente na sétima sessão de massagem, Maíra desmarcou consecutivamente três sessões. Quando finalmente me atendeu, ofereceu-me uma massagem ayurvédica que durou 2 horas. Ao final, eu que já havia percebido seu incômodo, questionei se havia algo errado. Ela então me relembrou a frase que eu havia dito e acrescentou toda a sua mágoa com relação à ideia de que sua terapia não seria

“de verdade”. Mencionou sua insegurança no campo das terapias alternativas, já que trabalhava nessa área há poucos anos (aproximadamente quatro anos). Ela me relatou que decidiu fazer a massagem ayurvédica porque trazia uma intenção de entender o que queremos e reconhecer as manifestações do universo espiritual. Nesse sentido, ela acreditava que nós duas sentiríamos se seria o caso de continuarmos o tratamento ou não.

Continuamos com o tratamento, sendo que as sessões seguintes se deram de maneira não sistemática ao longo de oito meses. Nesse período, as massagens eram marcadas a partir de desabafos entre amigas sobre momentos difíceis em que ela propunha alguma técnica específica e então marcávamos a sessão.

Fora do atendimento, compartilhávamos intimidades e Maíra sempre destacava o quanto era importante “trocar”, referindo-se a conversar sobre experiências pessoais e emoções cotidianas, e que, para ela, tratava-se de um processo de aprendizagem. Como, segundo ela, éramos muito parecidas no modo de sentir, ela indicava que o tratamento realizado em mim era uma forma dela tratar a si mesma. Observando minhas respostas aos processos, ela aprendia muito sobre seus próprios processos. Conversávamos como amigas e terapeuta e paciente ao mesmo tempo, como se o processo de cura que buscávamos passasse pelo meu atendimento enquanto paciente, dela enquanto terapeuta e de ambas enquanto amigas.

Findado o tratamento, cotidianamente, quando conversamos sobre questões pessoais, Maíra costumava indicar um ou outro tratamento, como pontos no corpo a serem massageados para combater a insônia, ou um floral para combater a falta de concentração, compartilhando seu conhecimento, ao mesmo tempo que oferecia seus serviços. Entretanto, como ela afirma, possibilidades financeiras são sempre negociáveis, já que o mais importante é a melhora daquele processo, o bem-estar e não a relação comercial.