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Manchamento da superfície de fachada por carreamento de

2.2 PATOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES

2.2.3 Manifestações patológicas incidentes no entorno das

2.2.3.1 Manchamento da superfície de fachada por carreamento de

Quando a água em deslocamento se enriquece de elementos sólidos como a poeira, o seu poder abrasivo é aumentado pelo atrito que exerce. Carrié et. al (1975, apud PETRUCCI, 2000) explica que quando os rastros estão marcados na superfície, as trajetórias, que surgiram de forma aleatória, tendem a consolidar-se, iniciando um processo de maior abrasão, maior concentração de fluxo, que induz o incremento do rastro produzido. Como a velocidade do deslocamento da água não é suficiente para carregar toda a poeira, as partículas de sujidade podem depositar-se sobre a superfície da parede, especialmente sobre as trajetórias preferentes (PETRUCCI, 2000).

Relacionado à penetração de umidade, Oliveira (2008) ressalta que é necessário se atentar para a natureza higroscópica dos materiais de revestimento da fachada. Quanto mais atração molecular pela água, maior será a retenção de umidade que consequentemente contribuirá para o surgimento de manchas ocasionadas pelo carreamento de partículas na superfície da fachada (Figura 15).

Figura 15 - Manchamento do revestimento na região próxima às extremidades do peitoril

Fonte: Autora.

 Manchamento da região próxima às extremidades do peitoril: Esta manifestação é caracterizada pela formação de manchas na face externa da edificação, próximo às extremidades do peitoril como ilustra a Figura 16. O acúmulo de pó e sujeira nas superfícies horizontais e/ou arestas laterais da janela escorrem com a água da chuva e acabam por se instalar na fachada. Este acúmulo de umidade forma manchas, que além de danificar a estética da edificação, compromete a vida útil dos materiais. A possível causa desta manifestação patológica, segundo Moch (2009), é o prolongamento longitudinal insuficiente do peitoril.

Figura 16 – Configurações típicas de manchamento do revestimento na região próxima às extremidades do peitoril

Fonte: Autora.

a) prolongamento longitudinal insuficiente do peitoril: Costa (2005, p. 41) cita que “o avanço lateral do peitoril evita que o fluxo de água se concentre nas laterais desse elemento”. Nos sistemas construtivos em alvenaria modular, este problema está ligado a conflitos relacionados à modulação.

Geralmente, para que haja um prolongamento adequado é necessária a quebra da quina dos dois blocos que coincidem com as extremidades do peitoril para que este seja inserido à parede, garantindo-se transpasse em relação às arestas das faces laterais ao vão da janela. (MOCH, 2009, p.105).

Como esta quebra das arestas de blocos é uma tarefa minuciosa que requer tempo e cuidados, muitas vezes não é realizada em função do aceleramento da produção. Além do agravante do não cumprimento às especificações de projeto, ou ainda falta de cuidados com a execução de quebra das arestas dos blocos, a causa dessa manifestação pode ser também por inexistência de detalhes construtivos e especificação do projetista do componente peitoril.

Oliveira (2008) destaca que a adoção de medidas para a dissipação de água deve ser feita em toda a fachada e não apenas na janela. Em fachadas com revestimento em argamassa, podem ser utilizados recursos auxiliares para a dissipação de água evitando a incidência direta sobre as esquadrias. A Figura 17 ilustra o caso de peitoris de janelas mal projetados, onde a água incidente sobre a superfície envidraçada da janela pode resultar em fluxos laterais ao peitoril provocando manchas na fachada e umedecimento localizado da parede.

Figura 17 – (a) o fluxo é defletido para fora da fachada; (b) a água concentra-se nas laterais do peitoril, provocando manchas de umidade e sujidade na fachada

Fonte: Adapatado de THOMAZ, 1990.

 Manchamento da região sob a face inferior do peitoril: manifestação caracterizada pela manchamento da região sob a face inferior do peitoril (Figura 18). Petrucci (2000) denomina a configuração desta manifestação patológica como “dentes de serra”, cujos tamanhos estão relacionados com a textura e porosidade do revestimento. Sua causa está associada ao prolongamento transversal insuficiente do peitoril, ineficácia ou inexistência de lacrimal e ainda influenciada pela insuficiente declividade transversal do peitoril (MOCH, 2009).

Figura 18 – Configurações típicas de manchamento de revestimento na região abaixo do peitoril (a) revestimento cerâmico; (b) revestimento em argamassa

Fonte: Autora.

a) prolongamento transversal insuficiente do peitoril: Oliveira (2008) destaca que os deslizamentos de lâminas de água devem ser afastados da fachada através da descontinuidade de planos causando alterações no fluxo da água. Tais alterações podem ser obtidas com a instalação de peitoris dotados de pingadeira, com um prolongamento transversal significativo em relação à superfície externa de revestimento de fachada. Ripper (1984) recomenda que o peitoril deva ter de três a quatro centímetros de projeção para fora da face externa da parede, assim como a presença de pingadeira, para que a água ao cair, não atinja o revestimento externo, manchando-o, lavando a poeira que se acumulou no peitoril. Este exemplo de manifestação patológica é ilustrado pela Figura 19.

Figura 19 - Manchamento de revestimento devido ao insuficiente prolongamento transversal do peitoril

Fonte:Autora.

b) ineficácia ou inexistência de lacrimal: O lacrimal, vinco abaixo da pingadeira, segundo Moch (2009) tem a função de interceptar a lâmina d’água cortando o fluxo que tende a escorrer pela face inferior do peitoril. Assim, os pingos se projetam afastados da fachada evitando a contaminação da parede por partículas de sujidade. A Figura 20 mostra o mecanismo de corte do fluxo d’água pela presença e ausência de lacrimal no peitoril.

Figura 20 - Esquema ilustrativo de peitoris (a) com lacrimal (b) sem lacrimal

c) declividade transversal do peitoril insuficiente: Além das dimensões adequadas, é importante que o peitoril seja constituído de material de baixa porosidade, tenha o caimento para o lado externo e declividade suficiente para impedir que o fluxo d’água adentre a edificação. CICHELERO (2014) recomenda que o peitoril possua inclinação mínima de dois por cento para que haja não só o escorrimento da água da chuva como também da poeira acumulada sobre o peitoril.

Moch (2009) reforça que as possíveis falhas em relação ao dimensionamento e características do peitoril podem ocorrer na fase de projeto, por inexistência ou erro na especificação do elemento, e na fase de execução, caso as especificações dadas pelo projetista não tenham sido cumpridas.