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Capítulo I - DIETA DE MORCEGOS EM ÁREAS VERDES URBANAS DE SERGIPE

4. Material e Métodos

4.1. Área de estudo

O estudo foi realizado em três áreas verdes urbanas localizadas na região metropolitana de Aracaju no estado de Sergipe, nordeste do Brasil, distantes entre si por pelo menos 2 km (Figura 1). Durante o período de amostragem (setembro de 2019 a agosto de 2020), a precipitação acumulada foi 1.506,2 mm, com temperaturas médias variando de 24,7°C a 29°C, e junho/2020 foi o mês com maior precipitação (Figura 2; INMET, 2021).

O sítio de amostragem no município de São Cristóvão está localizado dentro do campus da Universidade Federal de Sergipe (UFS: 10°55'39.28"S; 37°6'1.43"W) (Figura 1C). A vegetação do campus possui tanto espécies nativas (cerca de 66%) quanto exóticas. As famílias Anacardiaceae e Fabaceae são as mais abundantes e a composição da vegetação é semelhante às vias públicas de Aracaju (GOMES et al., 2017). As espécies com maiores densidades no campus são Clitoria fairchildiana R. A. Howard (nativa), Azadirachta indica A. Juss. (exótica), Cocos nucifera L. (exótica), Anacardium occidentale L. (nativa) e Mangifera indica L.

(exótica) (GOMES et al., 2017). A área amostrada possui perímetro de aproximadamente 745 metros (1 ha) e está localizada ao lado da pista de atletismo, possuindo vias públicas bem iluminadas nas proximidades (Figura 3A). No entorno da UFS há um fragmento de Mata Atlântica localizado nas margens do Rio Poxim, com baixa heterogeneidade florística e histórico de perturbações antrópicas, refletindo no domínio de espécies pioneiras como Cecropia pachystachya Trec. (SANTOS et al., 2007).

21 Figura 1. Mapa do Brasil com o estado de Sergipe em destaque (A); Indicação dos municípios de São Cristóvão e Aracaju, em Sergipe, e os sítios de amostragem (B); Destaque para os três sítios amostrados (C).

Figura 2. Variação da precipitação (mm) e temperatura média (°C) em Aracaju entre setembro/2019 e agosto/2020. As barras azuis representam a precipitação nos meses de coleta e as barras cinzas nos meses sem coleta.

22 Em Aracaju, um dos sítios está localizado dentro da propriedade da Secretaria de Estado da Fazenda de Sergipe (Sefaz: 10°54'38,8"S; 37°05'27,9"W) (Figura 1C), cujo perímetro da vegetação tem aproximadamente 650 m (1,43 ha; Figura 3B), sendo composta por espécies nativas como jenipapeiro (Genipa americana L.) e exóticas como a mangueira (M. indica) e jamelão (Syzygium jambolanum Lam.). O sub-bosque é principalmente composto por cipós/lianas e a serapilheira é mais densa. Adjacente a área de mata há uma plantação de bananeira (Musa sp.) e um campo de futebol. A área é parcialmente margeada por vias públicas iluminadas e construções, sendo observada a presença de lixo doméstico no local.

Figura 3. Visão da borda e aérea dos três sítios de amostragem: A - Universidade Federal de Sergipe (UFS), B - Secretaria do Estado da Fazenda de Sergipe (SEFAZ) e C - Vila Militar para Oficiais do Exército (Vila). Fonte: Imagens aéreas retiradas do Google Earth (2020).

23 O terceiro sítio está dentro da propriedade da Vila Militar dos Oficiais do Exército (Vila:

10°55'34,61"S; 37°3'42.02"W) (Figura 1C), em Aracaju, com um perímetro da vegetação aproximado de 500 m (1,42 ha). Destaca-se a dominância de amendoeiras (Terminalia catappa L.), o sub-bosque é esparso e a serapilheira é bastante densa. A área tem em seu entorno vias públicas e residências com iluminação artificial (Figura 3C) e também foi observada a presença de lixo doméstico e entulho de construções em seu interior.

Em relação a arborização de praças e vias públicas de Aracaju, as espécies Terminalia cattapa, Pithecellobium glaziovii Benth. e Ficus spp. costumam ser mais frequentes (LIMA NETO; MELO E SOUZA, 2009; SANTOS et al., 2015). Esta arborização urbana é composta por, aproximadamente, 60% de espécies exóticas e 40% de espécies nativas (SANTOS et al., 2015; SOUZA et al., 2011).

4.2. Coleta de dados

As campanhas iniciaram em setembro de 2019 e finalizaram em agosto de 2020, sendo realizadas bimestralmente de setembro/19 a janeiro/20 e mensalmente de junho a agosto de 2020, durante duas noites consecutivas em cada área por campanha. Essa alteração na regularidade das campanhas ocorreu devido o início da quarentena em decorrência da pandemia da COVID-19 em março de 2020. As atividades de campo foram paralisadas nesse mês, sendo possível o retorno apenas em junho de 2020, exceto para a área da Vila, cuja amostragem só foi realizada nas três primeiras campanhas. As demais foram amostradas em seis ocasiões.

Foram utilizadas 10 redes de neblina (tipo “mist-nets” de 9 m x 3 m, malha de 20 mm) dispostas a partir de meio metro acima do solo em cada área de estudo, permanecendo abertas das 18:00 h até 24:00 h. As redes foram revisadas a cada 30 minutos e os animais capturados colocados em sacos de algodão e levados para triagem. Para cada indivíduo capturado foi identificado o sexo e medidas corporais foram aferidas em gramas (massa) e milímetros (comprimentos da cabeça-corpo, antebraço e da cauda) com auxílio de uma Pesola e régua milimetrada, respectivamente. Estas medidas, juntamente com características externas, foram utilizadas na identificação dos animais com o auxílio de chaves específicas para o grupo (DÍAZ et al., 2016; PERACCHI; LIMA, 2017; REIS et al., 2013).

Para a coleta das amostras de fezes, os animais foram deixados por aproximadamente 30 minutos nos sacos de algodão, tempo normalmente necessário para que o animal defeque (DINERSTEIN, 1986; MORRISON, 1980). As amostras foram armazenadas em tubos do tipo eppendorf, etiquetadas e conservadas em álcool 70%. Posteriormente, os indivíduos foram marcados com anilhas metálicas numeradas e soltos no local da captura. Em laboratório, o

24 material coletado foi triado em lupa estereomicroscópica (Bell, modelo SZT) e separado em material vegetal (sementes, flor e folha) e insetos. As categorias foram identificadas no menor nível taxonômico possível com o auxílio de bibliografia específica para sementes (LOBOVA;

GEISELMAN; MORU, 2009; LORENZI, 2016a, b) e insetos (TRIPLEHORN; JOHNSON, 2011). Na categoria “flor” foram agrupados flores e fragmentos florais, como antera, encontrados nas amostras. As partes de insetos não identificadas, como asa e antena, foram incluídas na categoria “Insetos n id”. As campanhas foram realizadas como autorizado pela licença do SISBIO nº 71378-1.

4.3. Análise dos dados

Os dados obtidos nas campanhas realizadas nas três áreas foram agrupados por espécie.

A análise da composição da dieta foi realizada a partir da frequência de ocorrência (F.O.%) dos itens encontrados nas amostras fecais. As espécies foram consideradas mais frequentes as que apresentaram amostras fecais em, pelo menos, 66% das campanhas.

A normalidade desses dados foi testada com o teste de Shapiro-Wilk. Para avaliar diferenças na F.O.% dos itens na composição da dieta entre machos e fêmeas das espécies mais frequentes foi utilizado o teste G. As análises foram realizadas no programa BioEstat 5.3, com um nível de significância de 5% (AYRES et al., 2007).

Para as espécies mais frequentes, a largura de nicho trófico (B) foi determinada através do inverso do índice de Simpson, considerando-se pi como a proporção do recurso i utilizada por determinada espécie. O valor de B varia de 1 (mais especialista) a n (mais generalista) (KREBS, 2014).

A sobreposição na dieta (Ø) entre essas espécies foi analisada através do índice de Pianka, onde pij é a proporção do recurso i utilizado pela espécie j; pik é a proporção do recurso i utilizado pela espécie k e n é o número total de recursos. O valor de Øjk varia de 0 (menor sobreposição) à 1 (maior sobreposição) (KREBS, 2014). A amplitude e sobreposição de nicho trófico foram calculadas com o pacote “spaa” (ZHANG, 2016) no programa R (R Core Team, 2021).

25 Para avaliar a influência da precipitação na dieta das espécies mais frequentes, foi realizada uma regressão logística simples utilizando-se uma matriz de presença e ausência para cada item alimentar e a precipitação de cada mês de campanha, obtidos através do INMET (2021), no programa BioEstat 5.3, com nível de significância de 5% (AYRES et al., 2007).

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