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Mecanismo da escolha

No documento Com a palavra, o autor (páginas 36-38)

Nas primeiras edições do atual modelo do PNLD as escolhas eram feitas em planilhas onde se colavam etiquetas autoadesivas com os códigos de barra das coleções em locais predeterminados conforme o componente curricular e a opção (primeira ou segunda). Cada escola recebia um conjunto de planilhas e de etiquetas autoadesivas com os códigos de barra das coleções incluídas no Guia de Livros Didáticos.

O corpo docente de cada escola deveria então iniciar o processo de análise das rese- nhas do Guia de Livros Didáticos e dos livros de divulgação enviados pelas editoras – caso tivessem recebido exemplares de divulgação das editoras, é claro. Ao final do processo de escolha, as etiquetas das coleções democraticamente escolhidas em primeira e segunda opção deveriam ser coladas nos locais apropriados da planilha. Estas eram, então, enviadas pelo correio ao FNDE onde os resultados eram tabulados e se calculava a demanda de cada título, com base no número de alunos levantado pelo censo escolar do ano anterior.

Os problemas gerados por este sistema eram consideráveis. Embora nossa experiência sobre o assunto seja limitada, frequentemente chegavam -nos reclamações de divulgadores relacionadas às mudanças de escolha de última hora e até mesmo à adulteração das plani- lhas23 das escolas que atendiam. Uma parcela significativa dos professores reclamava aber-

tamente que não recebia os livros que havia escolhido. Funcionários do FNDE relatavam que era comum encontrar, nas planilhas, etiquetas coladas nos campos errados; campos sem etiquetas; etiquetas caídas, soltas, dobradas etc. Não temos como estimar a veracidade desses relatos ou a extensão do problema, mas o descontentamento de uma parcela dos

23   Os divulgadores representavam uma fonte de denúncia constante sobre possíveis fraudes no preenchimento das  planilhas de escolha, sobretudo quando verificavam que o pedido das obras que haviam recomendado (ou “fechado”  com os dirigentes das escolas que atendiam) não se confirmava. Não temos notícias sobre a averiguação da veracidade  dessas denúncias dos divulgadores por parte das editoras e tampouco do MEC.

professores era claro e os rumores de fraudes frequentes – mas não temos notícias de que qualquer um deles tenha sido confirmado.

Ainda nas primeiras edições do PNLD foi introduzida a opção de escolha pela Internet, num sistema híbrido com opção de escolha física (planilhas e etiquetas) ou eletrônica. A escolha pela Internet era feita por meio de um programa específico e autenticada por uma senha exclusiva da escola, entregue ao diretor. A verdade é que o processo ficou um pouco mais rápido, mas os problemas antigos persistiram e ainda surgiram outros, como denúncias de venda de senhas a divulgadores e até casos de escolas que fizeram duas escolhas, uma por meio da planilha e outra pela Internet, mas com indicação de coleções distintas em cada caso.

O FNDE fez diversas modificações para aperfeiçoar o processo e incentivou a escolha eletrônica em detrimento da física para ganhar velocidade e confiabilidade. Mesmo assim, nem todos os problemas foram resolvidos. Em 20 de novembro de 2007, a ABRELIVROS denunciou ao Ministro da Educação fato averiguado por meio de pesquisa feita em 190 escolas que indicava uma alta incidência de escolas que receberam livros diferentes dos que haviam escolhido, o que seria um indício de manipulação dos resultados da escolha do PNLD 2008 em favor de uma certa editora24. O Ministro Fernando Haddad imedia-

tamente instaurou uma sindicância para apurar a denúncia. Concluída a investigação, verificou -se que a maioria das escolas pesquisadas não havia sequer feito a escolha pois haviam enviado suas planilhas fora do prazo ou errado o preenchimento das planilhas. Algumas escolas, inclusive, não finalizaram a escolha pela Internet e sequer se deram conta de que, assim sendo, não tinham concluído as suas solicitações. Essas escolas receberam as coleções mais vendidas no seu município, conforme previa a regra vigente25. A sindicância

também apurou que as poucas escolas pesquisadas que fizeram corretamente a escolha receberam as coleções de sua primeira opção. Constatou -se, portanto, que a denúncia da ABRELIVROS não procedia.

Em duas oportunidades, uma em 2007 e outra em 2008, nós sugerimos ao Diretor de Ações Educacionais do FNDE uma medida simples para dar transparência ao pro- cesso de escolha dos professores e facilitar a apuração de denúncias como as feitas pela ABRELIVROS: exigir que as escolas registrassem a escolha em ata formal, assinada pelos participantes do processo de escolha e arquivadas pela direção da escola por um período de cinco anos. Em diversas reuniões da ABRELIVROS sugerimos que esta proposta fosse

24   A pesquisa feita pela ABRELIVROS foi amplamente divulgada na mídia logo após a comunicação de seus resul- tados ao MEC. O jornal Folha de S.Paulo [online], por exemplo, publicou matéria sobre o assunto no próprio dia 21 de  novembro do mesmo ano, sob o título “MEC irá apurar denúncia de fraude na compra de didáticos”, disponível em:  <http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u347225.shtml> (acesso: maio/2010). Ou seja, a ABRELIVROS fez  a denúncia ao Ministro e divulgou o que seria, em tese, uma suspeita para a imprensa que logo tratou de dar a notícia  como fato comprovado! Caso o leitor queira obter mais informações sobre esse episódio, a própria ABRELIVROS man- tém no clipping do seu site uma coletânea de matérias sobre o assunto. Disponível em: <http://www.abrelivros.org.br/ abrelivros/01/index.php?option=com_content&view=article&id=2006:escolas -recebem -livro -nao -selecionado&catid=1: noticias&Itemid=2> (acesso: maio/2010). 25   Os resultados da auditoria realizada pelo MEC sobre as denúncias da ABRELIVROS foram publicados no Portal de  Notícias do MEC em mais de uma ocasião, destacando a ausência de irregularidades naquele PNLD e isentando o grupo  editorial colocado em suspeita de fraude pela ABRELIVROS e pela imprensa de modo geral. O site da ABRELIVROS não  noticiou dados sobre os resultados dessa sindicância e os jornais publicaram notas breves e discretas sobre o assunto.  Disponível  em:  <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&interna=1&id=9603>  (acesso:  maio/2010).

feita em nome da associação, mas não tivemos sucesso. Em dezembro de 2007 a Editora Sarandi desligou -se da ABRELIVROS por discordar dos seus métodos e da sua conduta.

A partir do PNLD 2010, os editais determinam que a escolha dos livros só pode ser feita pela Internet26 e a direção da escola deve oficializar a reunião que definiu a seleção

dos livros por meio de um documento denominado “Registro da Reunião da Escolha”, assinado pelos participantes da escolha, no qual devem constar as coleções selecionadas em primeira e segunda opções e o “Comprovante de Escolha” feito pela Internet. Ambas as medidas são, ao nosso ver, corretas e representam avanços significativos para o PNLD, em particular para inibir desvios de conduta nesta etapa do programa e facilitar a apuração de eventuais denúncias.

No documento Com a palavra, o autor (páginas 36-38)

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