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DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

2.4 A ABORDAGEM INTERACIONISTA DE LEV S VIGOTSK

2.4.1 Mediação: o papel do outro no processo de inclusão escolar

O desenvolvimento dos sujeitos está intimamente ligado à “determinação histórica e transmissão cultural [...]” (VYGOTSKI, 2007, P. 151).

Para esse autor, a questão do desenvolvimento dos seres humanos, está em mostrar o:

[...] fato de os homens serem participantes ativos e vigorosos de sua própria existência e de mostrar que, a cada estágio do seu desenvolvimento, a criança adquire meios para intervir de forma competente no seu mundo e em si mesma (VIGOTSKI, 2007, p.151-152).

Para ser participante ativo e vigoroso de sua própria existência, é necessário estar inserido numa cultura e em constante interação com o outro.

Não existe desenvolvimento pronto, é necessário que além de maturação biológica, esteja inserido numa cultura e estabeleça relações sociais. O sujeito se constitui como tal, a partir do momento que passa por uma maturação orgânica e principalmente quando estabelece relações e trocas sociais. Essa constituição se dá pela da linguagem e por toda bagagem cultural presente em seu grupo de convivência.

Como percebemos, as relações sociais apresentam um significado muito importante para nossa constituição enquanto sujeitos participantes e aprendentes na sociedade em que vivemos; entretanto, é importante que saibamos e que possamos discutir aqui, qual é a importância da atuação do outro frente à conquista de nossa aprendizagem.

Vigotski utiliza o termo mediação para explicar o papel do outro na aquisição do conhecimento e da aprendizagem. Construir, portanto, aprendizagem e conhecimento requer uma ação partilhada, porque é na relação entre pessoas que estas são estabelecidas.

O valor das interações sociais na escola entre o aluno e o professor e entre os próprios alunos são entendidas como a:

[...] condição necessária para a produção do conhecimento por parte dos alunos, particularmente, aquelas que permitam o diálogo, a cooperação e a troca de informações mútuas, o confronto de pontos de vista divergentes e que implicam na divisão de tarefas onde cada um tem uma responsabilidade que, somadas, resultarão no alcance de um objetivo comum (REGO, 2007, p. 110).

O professor pode ser a pessoa que proporciona e promove essas situações no dia-a-dia da escola. Para isso, é relevante que se considere a heterogeneidade das salas ao estabelecer essas relações e nada mais importante para a inclusão do que a valorização e o reconhecimento dessas diferenças como Vigotski nos propõe.

Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada criança (e

do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua e conseqüentemente ampliação das capacidades individuais (REGO, 2007, p. 110).

A atividade espontânea, mesmo sendo importante, não é suficiente para a aprendizagem, sendo então fundamental a intervenção do professor e das trocas efetivadas pelas crianças entre si.

As relações entre as pessoas permitem que a imitação, um processo tão significativo para o aprendizado, apareça através das brincadeiras, que são muito comuns nas escolas e no cotidiano das crianças.

Quando eu imito, estou reconstruindo aquilo que observei e isso traça possíveis caminhos para o aprendizado. Imitar ultrapassa os limites de nossas capacidades e podemos observar isto em crianças pequenas que não possuem o entendimento da leitura e escrita, mas ao observarem seus irmãos realizando os deveres de casa, pegam uma folha e começam a rabiscar e imitar aquela ação.

Na escola, pode ocorrer o mesmo quando fazemos agrupamentos em nossa sala de aula, colocando em determinadas tarefas, alunos que conhecem mais sobre determinado assunto, com alunos que conhecem menos.

Além das trocas com o outro, é dada a oportunidade de imitação e não imitação como um ato mecânico, mas como uma ação repleta de significado e investimento intelectual.

Por isso, quando falamos de mediação, estamos nos referindo ao fato de que “[...] o professor deixa de ser visto como agente exclusivo de informação e formação dos alunos, uma vez que as interações estabelecidas entre as crianças também têm um papel fundamental na promoção de avanços no desenvolvimento individual” (REGO, 2007, p. 115).

Já que o professor é o elemento que possibilita as interações entre os alunos e entre o objeto de conhecimento, é ele quem faz inferências na zona de desenvolvimento proximal, facilitando13 e incentivando a criatividade partindo sempre

do que o aluno sabe.

Carecemos de uma escola que em alguns aspectos se diferencie da escola que temos hoje. Uma escola que dialogue, duvide, discuta, questione, valorize as diferenças e proporcione a colaboração mútua, criatividade, autonomia e acesso às

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Vale lembrar que facilitar, não significa dar respostas prontas, mas sim proporcionar que o aluno alcance a aprendizagem.

informações.

Esse papel de mediador trazido por Vigotski pode ser ocupado não só pelos professores, mas pelos pais e pelo próprio agente de inclusão na formação e orientação de professores.

A atuação do professor e, também do Agente de Inclusão, enquanto mediadores de conhecimento, pode ajudar em alguns desafios relacionados aos trabalhos com a inclusão e até fazer esclarecimentos para as famílias.

Uma situação muito complexa e que a participação como mediador ajudaria bastante, está em entender, por exemplo, que a leitura e a escrita são meios para a aprendizagem e não um fim que se esgota em si só.

Para Glat et al. (2007), as parcerias entre os alunos e a importância do professor como mediador dos processos de aprendizagem, poderia se estabelecer em atividades de leitura e escrita, como nos referimos acima, através de situações, nas quais o trabalho fosse realizado de forma que os alunos mais adiantados pudessem apoiar os alunos com dificuldades e não fazer por eles, fazendo com que esses alunos, também possam em algum momento, tornarem-se mediadores na relação ensino aprendizagem.

“[...] fica patente que para ensinar em uma turma inclusiva, o professor precisa adotar uma postura flexível e criativa, revendo e transformando sua própria prática cotidianamente” (GLAT et al, 2007, p.94); por isso, a inclusão traz uma proposta benéfica para educação geral, inclusive no que se refere à modificação do trabalho do professor, como demos o exemplo da mediação.

Stainback (2006) fala da importância e necessidade do professor em buscar capacitação e recursos que possam atender as exigências ou as demandas particulares daqueles que necessitarem desse olhar; um exemplo disso pode ser em pensar, como se utiliza o Braille, computadores e calculadoras, entre outros, visando o sucesso desse indivíduo.

As autoras Glat et al. (2007), assim como Susan Stainback (2006), dizem que a educação inclusiva “tem levado os educadores a rever suas práticas e concepções sobre o processo de ensino-aprendizagem” (GLAT et al, 2007 p.87), “como professores estamos sendo chamados a mudar o nosso estilo de ensino” (STAINBACK, 2006, p.10), para justamente atender as necessidades particulares dos alunos e sermos capazes de estabelecer relações de mediação entre todos, alunos e professores.