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4 POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DE UMA PESSOA MENOR DE IDADE

4.3 MENOR DE IDADE EMANCIPADO

Em conformidade com o exposto antes, a aquisição da capacidade plena para o exercício dos atos da vida civil se dá ao completar 18 (dezoito) anos, de acordo com o caput do artigo 5º do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Em todo caso, existe a possibilidade de adquirir capacidade plena de forma prematura, ou seja, antes dos 18 (dezoito) anos completos, por meio de emancipação, que pode se efetivar através de 5 (cinco) formas, as quais estão expressas nos incisos do parágrafo único do artigo 5º, do Código Civil (BRASIL, 2002):

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.

No primeiro inciso, a concessão da emancipação pode se dar pela autorização dos pais, ou, na falta de um, apenas um dos genitores, por meio de instrumento público, sendo que, nessa primeira hipótese, não há necessidade de homologação judicial, se o menor já tiver 16 (dezesseis) anos completos. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO; 2017).

Venosa (2004) destaca que, na outorga da emancipação pelos genitores, deve-se observar sempre o melhor interesse para o menor, podendo ser exercida por ambos, ou apenas um deles, na falta do outro. A expressão “falta” não se refere unicamente à morte, podendo ser entendida de uma forma mais abrangente.

Todavia, há grande divergência acerca da extensão do termo “falta”, bem como as alternativas das quais se possa optar para suprir tal situação. Nas palavras do autor suprarreferido, quando não se tratar de morte e, havendo questionamentos acerca da necessidade ou não da obrigação dos dois genitores, a melhor opção é a sentença judicial:

A falta do outro progenitor, a par da morte, que é indiscutivelmente a falta maior, pode ocorrer por vários prismas: o pai ou mãe faltante poderá se encontrar em paradeiro desconhecido, tendo em vista, por exemplo, o abandono do lar ou a separação ou divórcio. Caberá, sem dúvida, ao juiz e ao membro do Ministério Público averiguar quanto a essa “falta” mencionada na lei seja autorizadora da outorga da emancipação por um único progenitor. [...] Desse modo, peremptoriamente, perante o sistema da nova lei, não se poderá lavrar escritura de emancipação com a presença de apenas o pai ou a mãe, sem a devida autorização judicial, ou, se for o caso, com a apresentação da sentença de ausência ou atestado de óbito do faltante. [...] Havendo dúvida a respeito dessa “falta” do pai ou da mãe, pois não há que se confundir falta com recusa, haverá necessidade de suprimento judicial de vontade do progenitor faltante. Poderá ocorrer que o progenitor tente outorgar a emancipação isoladamente, mascarando a “falta”, quando na verdade houver recusa de consentimento para o ato. A melhor solução, porém, quando houver dúvidas sobre a dimensão dessa ausência do progenitor ausente, é no sentido de o interessado recorrer à sentença judicial, a exemplo do que é necessário para o tutor. (VENOSA, 2004, p. 164).

De qualquer modo, os dois pais presentes, ou apenas um deles, no caso de morte, é a situação mais concreta de desnecessidade de autorização judicial, é possível, então, a assinatura do documento público de emancipação.

Na segunda parte do inciso I, há a possibilidade de ser concedida a emancipação por sentença, devendo ser ouvido o tutor. Nessa hipótese, supõe-se a ausência de ambos os genitores, estando o menor sob a tutela de um responsável.

Outra situação de emancipação legal é a contida no inciso II, do parágrafo único, do artigo 5º, do Código Civil (BRASIL, 2002), por meio do casamento, desde que a idade do incapaz seja superior a 16 (dezesseis) anos e haja autorização dos pais, tutores ou representantes

legais, de acordo com o estabelecido pelo artigo 1.517, também do Código Civil. (BRASIL, 2002).

Portanto, após o casamento, o menor adquirirá capacidade jurídica plena, o que implica a disposição dos pais ou representantes legais, em emancipar seu filho menor. Isso porque, com a formação de novo núcleo familiar, não se mostra razoável a submissão do nubente menor ao poder familiar anterior. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

Gagliano e Pamplona Filho (2017), ainda, destacam que a emancipação não será revertida, caso haja a dissolução do casamento, quer seja por divórcio ou morte do outro cônjuge. Já, no casso de anulação de casamento, a emancipação apenas se manterá, se o casamento tiver ocorrido de boa-fé (casamento putativo).

Outra hipótese da emancipação é a de exercício de emprego público, termo desatualizado e restritivo, já que a interpretação empregada pela doutrina é a de que se aplica, igualmente, aos cargos e empregos públicos, a contar da nomeação, estando excluídas, entretanto, as nomeações de cargos comissionados e temporários. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

A quarta causa de emancipação é a de colação de grau, em curso de ensino superior. O que é consenso entre a doutrina de que são raríssimas as ocorrências, dado que a sua aplicação, assim como a situação da nomeação em emprego público, era mais comum no Código Civil de 1916, quando a maioridade era 21 (vinte e um) anos. Agora, com a sua redução para 18 (dezoito) anos, certamente o indivíduo já terá atingido a maioridade, caso se encaixe em uma das alternativas. (GALGIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

A última hipótese de emancipação é a de aquisição de economia própria por meio de estabelecimento civil ou comercial ou mesmo existência de relação de emprego.

Importa salientar dois requisitos muito importantes para que seja concedida a emancipação nessa situação, sendo elas a idade mínima de 16 (dezesseis) anos e a constituição de economia própria, advinda do referido trabalho, o que afasta o estágio, contrato temporário ou de aprendizagem. (VENOSA, 2004; GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

Nesse caso, convém salientar que, quando da formalização do contrato de trabalho com o menor (que ainda não possui uma renda capaz de emancipar), é de extrema importância a presença do assistente. Não se deve considerar a emancipação, nos casos em que não houve assinatura da Carteira de Trabalho e/ou o contrato de trabalho foi firmado sem a respectiva assistência. (GALGIANO; PAMPLONA FILHO, 2017).

Venosa (2004, p. 165-166) chama a atenção quanto à dificuldade de comprovar o percebimento de renda capaz de considerar a emancipação do menor, ocasião em que pode ser necessária uma sentença declaratória, caso o menor queira praticar os atos da vida civil:

A simples relação de emprego ou estabelecimento próprio, portanto, não será suficiente para o status pois estaria a permitir fraudes. Discutível e apurável será no caso concreto a existência da economia própria, isto é, recursos próprios de sobrevivência e manutenção. Esse status poderá gerar dúvidas a terceiros e poderá ser necessária sentença judicial que declare a maioridade do interessado nesse caso. É de se recordar que, se o menor, nessa situação, desejar praticar atos da vida civil que exijam a comprovação documental da maioridade, a sentença declaratória será essencial, segundo nos parece. A simples relação de emprego, por si só, não comprova a maioridade perante o universo negocial, como a própria lei demonstra.

Essas hipóteses apresentadas referem-se à emancipação do menor com idade mínima de 16 (dezesseis) anos, para adquirir a capacidade plena ao exercício dos atos da vida civil, mesmo que não tenha atingido 18 (dezoito) anos.

Nesse caso, ao se considerar que o menor emancipado possui capacidade de realizar os atos da vida civil, é de se concluir que pode praticar os atos de comércio, podendo, conseguintemente, abrir uma empresa em seu nome, bem como se submeter às regras da Lei de Falências, Lei nº 14.112/2020, inclusive na prática, em tese, dos atos considerados crimes falimentares. (SÓCIO, [201-?]).

Esse menor emancipado na prática, mesmo apto civilmente, ainda não pode responder criminalmente pelas suas condutas da forma que uma pessoa plenamente capaz, de modo que deverá se sujeitar às regras do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990. (BRASIL, 1990a).

A emancipação é uma das possibilidades de o menor integrar uma empresa, já que, após a emancipação, ele deixa de ser incapaz e está apto a exercer os atos da vida civil, podendo, à vista disso, contrair obrigações inerentes a uma pessoa plenamente capaz, e, assim, constituir empresa.

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