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Metanálise envolvendo a fertilidade e as perdas gestacionais de éguas

FICHAS DE CONTROLE

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.5. Metanálise envolvendo a fertilidade e as perdas gestacionais de éguas

submetidas à cruzamentos intra ou interespécies

5.5.1. Taxas de gestação e de perdas gestacionais de éguas submetidas à cruzamentos intra ou interespécies.

Realizou-se neste capítulo uma metanálise dos dados relativos às fêmeas dos Experimentos II, III e IV da presente dissertação, visando-se avaliar os parâmetros de fertilidade e as perdas gestacionais

de 311 éguas, submetidas à cruzamentos intraespécies (garanhões) ou interespécies (jumentos).

Para tal, utilizou-se 384 ciclos, de 311 éguas mestiças, com idades variando de 2,5 a 20 anos, e pertencentes à quatro categorias reprodutivas, a saber, potras, éguas solteiras, paridas ou no “cio do potro”. No total, envolveu-se 38 ciclos de éguas cobertas por garanhões (cruzamentos intraespécies) e 346 ciclos de éguas cobertas ou inseminadas por jumentos (cruzamentos interespécies). Os parâmetros de fertilidade avaliados estão apresentados na tabela 37.

Tabela 37. Taxas de gestação por ciclo e de perdas gestacionais de éguas submetidas à cruzamentos intra ou interespécies, avaliadas da concepção ao período mínimo de 120 dias de gestação

Parâmetros Avaliados T1- Cruzamento Intraespécie T2- Cruzamento Interespécie Total Número de Ciclos 38 346 384 Taxa de Concepção/Ciclo 73,68 (28/38) 63,01 (218/346) 64,06 (246/384) Perdas Gestacionais (%) 29,63 (8/27)* 26,77 (53/198)** 27,11 (61/225)

* Uma das éguas cobertas com garanhão não foi acompanhada pelo período mínimo de tempo proposto (120 dias de gestação)

** Vinte éguas cobertas com jumentos não foram acompanhadas pelo período mínimo de tempo proposto (120 dias de gestação)

Observa-se na tabela 37 que a taxa de concepção/ciclo não diferiu (p>0,05) entre os tratamentos, sendo de 73,68% (28/38) para os cruzamentos intraespécies, e 63,01% (218/346) para os cruzamentos interespécies, com uma média de 64,06% (246/384). Buscando nos dados apresentados pela literatura envolvendo a fertilidade de éguas inseminadas com sêmen a fresco, a fresco/diluído, resfriado ou ainda cobertas por monta natural com asininos, os resultados do presente experimento, quanto às taxas de concepção obtidas de cruzamentos interespécies (jumento x égua), apresentaram-se similares aos obtidos por Silva (1988); Leite (1994) e Rossi (2008). Além disso, obteve-se, no presente experimento, taxas de concepção/ciclo superiores aos resultados demonstrados por

Jordão et al. (1954); Boeta e Zarco (2000); Rozas (2005); Rossi (2008); Diaz (2009) e Vidament et al. (2008), sendo, entretanto, inferiores às observadas por Ferreira (1993) e Boeta e Zarco (2000).

Silva (1988) obteve uma taxa de concepção média de 59,4% em três estações de monta consecutivas, ao trabalhar com sêmen asinino a fresco diluído em diluídor à base de gema de ovo. Também utilizando sêmen a fresco diluído, porém em diluidor a base de leite, e dose de 200 milhões de espermatozoides móveis, Leite (1994) obteve uma taxa de concepção de 53,12%. Ao utilizar o sêmen de jumentos da raça Pêga, resfriado à uma temperatura final de 5°C, Rossi (2008) obteve taxas de concepção/ ciclo de 49,74%, para o sêmen

armazenado por até 12 horas, e de 58,44% para o sêmen a fresco diluído.

Jordão et al. (1954) avaliaram a fertilidade de 259 éguas cobertas por monta natural com 28 jumentos durante 14 estações de monta consecutivas, obtendo uma taxa de parto de apenas 35,9%. Resultado similar foi demonstrado por Díaz et al. (2009) ao registrarem taxas de concepção de 32,08% em 134 éguas cobertas por monta natural com jumentos. Ao realizarem a inseminação com sêmen a fresco, diluído em diluidor à base de leite, a taxa de concepção obtida foi de 53,80%.

Em éguas inseminadas com sêmen asinino resfriado, diluído em diluidor à base de leite desnatado-glicose ou diluído em leite desnatado ultrapasteurizado (UHT), Boeta e Zarco (2000) obtiveram taxas de concepção, ao primeiro ciclo, de 54,5% (6/11) e 76,5% (13/17), respectivamente. Também trabalhando com sêmen diluído em leite UHT, porém resfriado e armazenado à 4°C por até 8 horas, Vidament et al. (2008) obtiveram uma taxa de concepção por ciclo de 45%, ao inseminarem éguas e jumentas. Ainda usando como diluidor o leite desnatado ultrapasteurizado, porém inseminando somente jumentas, Rozas (2005) obteve taxas de concepção por ciclo de 25,66% (29/113) e de 47,36% (18/38), durante duas estações de monta consecutivas.

Resultados superiores aos citados até o momento foram demonstrados por Ferreira (1993) ao utilizar sêmen a fresco de asininos, diluído em diluidor lactose-gema de ovo, que proporcionou uma taxa de concepção por ciclo média de 82,70%. Vale ressaltar que a autora utilizou apenas um reprodutor para a inseminação das éguas, o que pode ter respondido pela excelente taxa de concepção apresentada.

Com relação à taxa de concepção apresentada nos cruzamentos que envolveram a monta natural com garanhões (cruzamentos intraespécies), a taxa de

concepção por ciclo aqui obtida assemelha- se aos resultados apresentados por Voss e Pickett (1976) de 74,5%, quando avaliou-se 513 éguas cobertas por monta natural. Ainda, Jordão e Gouveia (1950) quando da avaliação da fertilidade de éguas cobertas por 28 garanhões da raça Puro Sangue Inglês, obtiveram taxas de concepção variando de 51,2% a 79,3%, com uma média de 60,3%. O grande número de reprodutores utilizados pode ter contribuído para a variabilidade dos resultados.

De maneira similar, Hughes e Loy (1970) e Belling (1985) encontraram resultados satisfatórios quando do uso da monta natural, com taxas de concepção de 78,9% e variando de 64% a 85%, respectivamente. No entanto, os resultados apresentados na presente avaliação mostraram-se superiores aos obtidos por Darenius (1992); Mattos e Cavalheiro (1988) e Morris e Allen (2002) sendo, entretanto, inferiores aos de Hemberg et al. (2004).

Ao trabalharem com 1206 éguas no período de 1984 a 1990, Darenius (1992) obteve uma taxa de parto de 59,9%, quando do uso da monta natural. Resultado ligeiramente superior foi obtido por Mattos e Cavalheiro (1988) com uma taxa de concepção por ciclo de 65,3%, quando de uma avaliação de 225 ciclos estrais.

Em estudo envolvendo 1393 éguas Puro- Sangue, Morris e Allen (2002) obtiveram uma taxa de concepção por ciclo média de 59,9% aos 15 dias pós-ovulação. Já Hemberg et al. (2004), trabalhando com dois garanhões e 430 éguas Puro-Sangue, no período de 1997 a 2001 na Suécia, obtiveram taxas de concepção e de potros nascidos vivos de 90,9% e 79,8%, respectivamente, não havendo diferenças (p>0,05) entre os garanhões no que diz respeito a estes parâmetros.

Enfatiza-se que o número de ciclos utilizados nos cruzamentos interespécies (346) foi muito superior ao utilizado para

comparação nos cruzamentos intraespécies (38), o que reflete a heterogeneidade dos dois grupos avaliados. No entanto, o intuito principal do agrupamento desses dados foi o de avaliar as taxas de concepção e de perdas gestacionais das éguas cobertas ou inseminadas com o sêmen de jumentos, funcionando o grupo de éguas submetidas ao cruzamento intraespécie como um grupo controle.

Na tabela 37, estão apresentadas também as taxas de perdas gestacionais para as gestações decorrentes dos cruzamentos intra ou interespécies. Observa-se que as taxas não diferiram (p<0,05) entre si, sendo de 29,63% e 26,77%, respectivamente. É importante salientar que as perdas gestacionais aqui apresentadas incluem os dados de parto do Experimento II, bem como as taxas de perdas gestacionais dos Experimentos III e IV, avaliadas dentro de um período mínimo de 128 e máximo de 205 dias de gestação. Dessa forma, estão incluídas nessas perdas, casos de morte embrionária e morte fetal ou aborto.

A morte embrionária é definida como a perda que ocorre da fertilização até os 40 dias de gestação, o que corresponde ao momento de transição do estágio embrionário para o estágio fetal de desenvolvimento do concepto equino. A partir desse momento, as perdas passam a ser classificadas como morte fetal ou aborto (Ginther 1992).

Ao utilizarem o exame ultrassonográfico sistemático, entre os dias 11 e 50 da gestação, observou-se que as taxas de morte embrionária em éguas variaram de 5% a 24% (Chevalier e Palmer, 1982; Ginther et al., 1985; Woods et al., 1987). De maneira similar, as taxas de aborto em éguas variaram de 7 a 12% (Platt, 1973; Irwin, 1975; Sullivan et al., 1975; Chevalier e Palmer, 1982).

De maneira geral, as taxas de perdas gestacionais de éguas cobertas por monta natural com garanhões aqui apresentadas,

foram similares às obtidas por Boeta e Zarco (2005), de 21,4%, porém superam às demonstradas por Nishikawa (1959) e Vanderwall (2011), de 7 e 15%; Von Lepel (1975), de 8,9%; Garg e Manchanda (1986), de 7,8%; Ginther (1992), de 7 a 16%; Papa et al. (1998), de 13,3%; Morris e Allen (2002), de 17,3%; Rabelo (2009), de 9,06% e Boeta e Zarco (2010), que obtiveram taxa de morte embrionária de 9,1%, e taxa de aborto de 5%. Não foi possível identificar a causa para a taxa de perda gestacional elevada aqui observada, uma vez que as fêmeas apresentavam-se com bom escore de condição corporal e ao exame ginecológico aptas à reprodução, sem comprometimento grave da função uterina ou ovariana. Talvez o baixo número amostral tenha contribuído para esse resultado.

Com relação às perdas que envolveram os cruzamentos interespécies (jumento x égua), os resultados da presente avaliação mostram-se inferiores aos obtidos por Jordão et al. (1954), que observaram uma taxa de parto de 35,9%; e por Boeta e Zarco (2005), quando obteve-se uma taxa de perda gestacional de 36,8%. Porém, apresentam-se similares aos observados por Boeta e Zarco (2010) que apresentaram uma taxa de perda gestacional de 30%. Os resultados do presente trabalho foram, no entanto, superiores aos obtidos por Garg e Manchanda (1986) - taxa de aborto de 10,4%; Ferreira (1993) - morte embrionária de 5,5% e por Rossi (2008), quando observou-se uma taxa de perda gestacional de 8,51%.

Apesar de alguns trabalhos terem demonstrado menores taxas de concepção e maiores taxas de perda em éguas cobertas ou inseminadas por reprodutores asininos (Jordão et al., 1954; Garg e Manchanda, 1986; Boeta e Zarco, 2005; Díaz et al., 2009 e Boeta e Zarco, 2010), isso não foi demonstrado na presente avaliação, quando foram detectadas taxas de concepção por ciclo e de perdas gestacionais similares nos cruzamentos que envolveram garanhões ou