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CAPÍTULO III - ANALISANDO O DISCURSO DA CRÍTICA POTIGUAR DE CINEMA . 37

3.2 METODOLOGIA

para compreender – como se propõe a análise de discurso – o leitor deve-se relacionar com diferentes processos de significação que acontecem em um texto. Esses processos, por sua vez, são função da sua historicidade. Compreender como um texto funciona, como ele produz sentidos, é compreendê-lo enquanto objeto linguísticohistórico, é explicitar como ele realiza a discursividade que o constitui (ORLANDI, 2001, p. 70)

Na tarefa de analisar o discurso, é preciso prestar atenção naquilo que Orlandi se referiu como o não-dito. O famoso “nas entrelinhas”, em uma linguagem popular. Identificar e codificar o que está implícito, os pressupostos, também irá depender da formação ideológica do sujeito. Conforme a autora descreve

Se digo “deixei de fumar” o pressuposto é que fumava antes. O posto (o dito) traz consigo necessariamente esse pressuposto (não dito mas presente). Mas o motivo, por exemplo, fica como subentendido. Pode-se pensar que é porque me fazia mal. Pode ser também que não seja essa razão. O subentendido depende do contexto. Não pode ser asseverado como necessariamente ligado ao dito (ORLANDI, 2001, p. 82).

Para que os objetivos de nossa pesquisa sejam alcançados, percebemos que utilizar a Análise do Discurso como aparato teórico, ou seja, a interpretação da fala, do enunciado, é um formidável recurso metodológico que irá nos direcionar rumo a descobertas e conclusões. Mais a seguir, ainda neste capítulo, iremos colocar a interpretação em prática por meio de depoimentos coletados durante a construção deste trabalho.

Agora que entendemos o que é a Análise do Discurso e de que maneira ela será útil para esta pesquisa, vamos avançar para um tópico essencial, no qual iremos explicar as etapas que constituíram a nossa metodologia, qual a categoria da nossa investigação e os procedimentos que foram aplicados.

3.2 METODOLOGIA

Nossa metodologia se enquadra na categoria qualitativa, pois no baseamos em pesquisa bibliográfica, entrevistas e aplicação de questionários, e quantitativa, porque iremos apresentar e dimensionar dados coletados. Uma das propostas adotadas para a metodologia deste trabalho foi analisar as plataformas virtuais de três veículos

40 hegemônicos da cidade do Natal, sendo eles: Tribuna do Norte, Agora RN e Novo Notícias, e verificar se há ou não uma dedicação na editoria cinema, observar como as redações abordam essa temática.

Sendo assim, uma das técnicas da nossa pesquisa foi a análise dos sites dos três jornais citados. Definimos um recorte, que perdurou de 01 de fevereiro de 2021 a 01 de abril de 2021, sempre das quintas-feiras aos domingos, considerando, primeiro: que o dia de estreia dos filmes nos cinemas se dá na quinta-feira; segundo: geralmente as agendas culturais são veiculadas no período dos fins de semana; terceiro: os lançamentos fílmicos dos streamings estreiam costumeiramente nas sextas-feiras.

Também elaboramos um questionário a fim de traçar o perfil do cinéfilo natalense, para saber até que ponto as pessoas interessadas por cinema procuram por críticas cinematográficas. A partir daqui, dados oriundos de observações e investigações serão expostos.

É importante iniciar destacando que, no que diz respeito ao portal do jornal Novo Notícias, examinamos a inexistência de uma editoria focada em cultura, como pode ser observado na imagem abaixo.

41 Ilustração 1 Representação das editorias do Novo Notícias

Em uma análise mais detalhada, no entanto, percebemos que notícias de cunho cultural são selecionadas para a seção “Geral”. Tentamos entrar em contato com a equipe do jornal por meio do número disponibilizado no site, com o propósito de buscar alguma justificativa para a ausência de uma editoria de cultura, porém não obtivemos respostas. Durante o recorte de tempo estabelecido pela pesquisa para a observação dos portais, o Novo Notícias publicou apenas três notícias culturais, duas voltadas para o tema Música e outra para Gastronomia.

No total, de acordo com o que está sendo apresentado no gráfico a seguir, durante o espaço de tempo do nosso monitoramento, 152 notícias culturais foram observadas.

42 Gráfico 1 Demonstração gráfica segundo o resultado do monitoramento dos portais

Segundo está sendo apresentado na imagem do gráfico, no período de 01 de fevereiro de 2021 a 01 de abril de 2021, o maior índice de notícias culturais está relacionado ao reality show Big Brother Brasil, com 60 publicações veiculadas pelo portal do jornal Agora RN; todas elas replicadas de Agências. A maioria dos demais gêneros podem ser encontrados tanto no site do Tribuna do Norte quanto no do Agora RN.

Outros números expressivos que conseguimos coletar em nosso monitoramento são dos gêneros: Música, com 32 notícias; Cinema e Programas de TV empatados com 11 notícias; Literatura teve 9 publicações; e, por fim, Teatro com 6 notícias. Se esses números seriam diferentes se o contexto da pesquisa não fosse o de pandemia, isso não temos como avaliar.

Entretanto, nosso enfoque na observação dos portais está no gênero Cinema. No período de dois meses, colhemos 11 notícias voltadas exclusivamente para o cinema. Dessas 11, apenas duas foram escritas por profissionais do jornal, no caso do Agora RN. Veja:

43 Ilustração 2 Representação jornalística do Agora RN

Na imagem acima, temos uma matéria relacionada a um festival regional, centrado em longas dirigidos por mulheres potiguares. Sabemos que o texto é procedente de algum profissional do Agora RN devido ao nome “Redação” acima da data de publicação, 25/02/2021.

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Ilustração 3 Representação jornalística do portal Agora RN

Essa matéria, veiculada em 05/03/2021, relata um documentário inspirado em um livro-reportagem sobre a vida de um dos maiores criminosos potiguares, Valdetário Carneiro. Assim como no exemplo anterior, podemos ver o nome “Redação” acima da data de publicação, indicando que o texto é autoral do jornal.

As outras nove notícias de cinema coletadas, inclusive as do Tribuna do Norte, foram replicadas de agências. Isso representa que 81,8% das notícias fílmicas monitoradas, publicadas em dois dos jornais hegemônicos de Natal, vieram de outros veículos jornalísticos.

O Agora RN é o que apresenta mais variedade em termos de agências quando o assunto é cinema, com replicação de sites como Correio Braziliense, IG e Metrópoles. Veja:

45 Ilustração 4 Representação jornalística do portal Agora RN

Contudo, o jornal Tribuna do Norte, no período do nosso monitoramento, publicou três notícias de cinema que são todas da agência Estado, como pode ser visto abaixo, na matéria do dia 21/03/2021:

Ilustração 5 Representação jornalística do portal do Tribuna do Norte

46 Podemos concluir, por meio dessas matérias, que quando o assunto se trata de cinema local, os profissionais do Agora RN têm autorização de escrever a respeito do gênero cinema. Mas filmes nacionais e internacionais sempre são domínio das agências. No que compete ao Tribuna do Norte, não houve nenhuma publicação relativa ao cinema local, sendo a agência Estado predominante em todas as outras notícias sobre filmes.

Esses aspectos apenas corroboram com a observação preliminar que ocasionou a existência desta pesquisa: além do gênero crítica cinematográfica não ter espaço nos portais dos jornais hegemônicos da capital potiguar, quando a pauta cinema surge, geralmente é destinada para agências contratadas e não para os jornalistas locais.

Outra etapa da nossa metodologia foi a aplicação de questionários entre o público externo. A ideia inicial era efetuar tanto na modalidade virtual quanto presencial, pois desse modo poderíamos abranger o maior número de diversidade possível. Infelizmente, devido ao fato da pandemia do Covid-19 ter se agravado no país nos primeiros meses de 2021, ficamos impossibilitados de aplicar o questionário de forma presencial, nas entradas dos cinemas de Natal - como era o planejado - , uma vez que os cinemas tiveram que ser fechados por tempo indeterminado novamente.

O questionário virtual foi construído com o auxílio do Google, que viabiliza a criação de um formulário online. Esse formulário ficou aberto para respostas do dia 23 de fevereiro de 2021 a 23 de março de 2021, e teve um total de 123 pessoas participantes. O objetivo desse questionário é traçar o perfil do cinéfilo natalense. Sendo assim, fizemos perguntas direcionadas à renda familiar mensal, que, por conseguinte, irá influenciar na frequência com a qual a pessoa costuma ir ao cinema; perguntamos também se acessam críticas cinematográficas antes de ver um filme, de que modo consomem a crítica e se essas críticas definem se a obra deve ser apreciada ou não.

Acreditamos que os resultados obtidos irão nos fornecer dados a respeito do perfil dos cinéfilos natalenses e traçar uma perspectiva de como eles preferem consumir a crítica cinematográfica, como veremos adiante.

Das 123 pessoas que responderam ao nosso questionário online, 104 (84,6%) afirmaram gostar de cinema; 19 pessoas (15,4%) disseram não sentir apreço pela sétima arte. 74 (60,2%) mulheres participaram do questionário, na frente dos 49 (39,8%) homens.

47 A faixa etária foi bastante diversificada: tivemos participantes dos 10 aos 62 anos, sendo a faixa dos 18 aos 42 anos a mais colaborativa.

Em relação à faixa de renda familiar mensal, os resultados podem ser conferidos abaixo:

Gráfico 2 Demonstração gráfica do formulário online

Como pode ser visto no gráfico, 48 pessoas, representando o maior número registrado na imagem, recebem uma renda familiar de um a três salários mínimos; 22 pessoas possuem renda familiar de três a seis salários; 19 pessoas têm renda familiar de apenas um salário mínimo; 13 pessoas são de famílias que ganham menos de um salário mínimo por mês; 8 pessoas possuem renda familiar de 9 a 12 salários mínimos; 7 pessoas têm renda familiar de seis a nove salários mínimos; enquanto somente 4 pessoas registraram renda familiar de 12 a 15 salários mínimos, e 1 pessoa assinalou renda mensal familiar de 15 salários mínimos.

Nessa pergunta, adquirimos uma pluralidade de respostas significativa, que refletiu nos resultados da pergunta seguinte, conforme pode ser visto a seguir.

48 Gráfico 3 Demonstração gráfica do formulário online

Aqui, as pessoas responderam desconsiderando que a pesquisa foi realizada no período de pandemia e que os cinemas ficaram fechados por um ínterim para evitar o contágio do Covid-19.

Sendo assim, tivemos 36 pessoas afirmando que vão ao cinema pelo menos uma vez por mês; 34 disseram que vão uma vez a cada três meses; 30 pessoas, curiosamente, confirmaram que se locomovem para o cinema uma vez por ano; 14 responderam que vão uma vez a cada seis meses; apenas 5 registraram que frequentam o cinema uma semana sim, outra não, enquanto 4 pessoas admitiram ir toda semana.

É preciso salientar que o valor de ingresso do cinema varia de acordo com o serviço e com o dia. Por exemplo, a partir das quintas-feiras, o preço fica mais elevado. Além disso, são oferecidos filmes no formato 3D e salas VIP, com um conforto maior, em que os valores também são mais excessivos.

Outro detalhe que deve ser acentuado é a ascensão das plataformas de streaming, que permitem aos usuários consumirem obras fílmicas com um preço mais popular. A prova disso é que dos 123 participantes do formulário, apenas 6 pessoas afirmaram não consumir esse tipo de serviço, totalizando 95,2% de clientes dos streamings.

Na sétima pergunta do formulário, perguntamos se os participantes acompanham notícias a respeito de lançamentos de filmes. A resposta foi 75 pessoas (61%) afirmando que sim, contra 48 pessoas (39%) confirmando que não. De modo intrigante, nas perguntas de número 9 e 10, os resultados foram praticamente inversos, como pode ser visto abaixo.

49 Gráfico 4 Demonstração gráfica do formulário online

De acordo com a imagem acima, 65 pessoas (52,8%) não costumam procurar críticas de cinema antes de ver um filme. Porém, na próxima imagem, ao serem questionados sobre se a crítica cinematográfica influencia na escolha de assistir um filme ou não, tivemos uma reação oposta.

Gráfico 5 Demonstração gráfica do formulário online

Conforme pode ser averiguado acima, 66 pessoas (53,7%) admitem que o gênero crítica de cinema tem o poder de conduzi-las a assistir ou não a um filme. Isso nos causa certa dúvida, pois se 52,8% não procura a crítica antes de ver um filme, como é possível

50 que 53,7% confie no gênero ao ponto de ele definir, na concepção do cinéfilo, qual obra deve ser apreciada?

Na décima primeira pergunta, questionamos de que forma o cinéfilo natalense prefere consumir críticas de cinema. Aqui, obtivemos dados muito proveitosos, em consonância com a seguinte imagem.

Gráfico 6 Demonstração gráfica do formulário online

Dos 123 participantes, 55 pessoas (44,7%) preferem receber sugestões de amigos. 31 pessoas (25,2%) confessam acompanhar críticas publicadas em sites e blogs, enquanto 29 pessoas (23,6%) assumem a preferência pelas críticas veiculadas em canais do YouTube. Houve um empate entre críticas de podcasts e críticas em jornais, ambas com 4 votos.

A partir do momento que temos a certeza de um público consumidor de críticas cinematográficas em Natal, necessitamos conhecer a frequência e o tempo com que esse gênero é procurado e consumido, respectivamente. Esses são os questionamentos das perguntas subsequentes.

51 Gráfico 7 Demonstração gráfica do formulário online

93 pessoas (75,6%) disseram passar apenas poucos minutos online lendo críticas. 22 pessoas (17,9%) falaram passar cerca de meia hora, ao passo em que 6 pessoas (4,9%) confirmaram investir cerca de uma hora lendo críticas. Apenas 2 pessoas garantiram passar mais de uma hora na internet consumindo críticas fílmicas.

Em relação à frequência de dias com que os participantes buscam a crítica de cinema, o resultado pode ser conferido a seguir.

Gráfico 8 Demonstração gráfica do formulário online

Temos 87 pessoas (70,7%) apontando que procuram por críticas de cinema na internet, em média, uma vez por mês. 16 pessoas (13%) confessaram buscar uma vez na

52 semana, e 9 pessoas (7,3%) admitiram procurar por críticas dia sim, dia não. 5 pessoas (4,1%) disseram acessar críticas pelo menos uma vez por dia, enquanto 2 pessoas (1,6%) acessam mais de uma vez por dia.

Por meio desses fatores, conseguimos inferir que os cinéfilos de Natal se dividem entre aqueles que: 1) assistem filmes por sugestão/crítica de amigos; 2) os que leem críticas em sites ou blogs; 3) os que preferem assistir a crítica em um canal no YouTube. Também notamos que muitas pessoas vão pouco ao cinema, provavelmente por preferirem a comodidade financeira que um serviço de streaming proporciona.

Talvez se a maioria dos participantes do formulário conhecesse a ACCiRN (90,2% revelou que não conhecia), e existisse mais incentivo para que a crítica atingisse o maior público possível, sendo em mídias hegemônicas ou não, o cenário apresentado por esse questionário pudesse ser ainda melhor.

Dito isso, uma vez que conseguimos monitorar a frequência e a maneira com a qual a pauta cinema é abordada pelos portais dos jornais hegemônicos de Natal, e que pudemos traçar o perfil do cinéfilo natalense, iremos agora para o tópico mais importante de nossa pesquisa. Daqui em diante, iremos analisar, de acordo com os preceitos estabelecidos pela Análise do Discurso, o depoimento de profissionais da área do jornalismo cultural.

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