• Nenhum resultado encontrado

2 AS RESISTÊNCIAS NA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ENSINO MÉDIO COM

2.1 Metodologia e instrumentos de pesquisa

Para analisar os contextos que envolvem a implementação de uma política educacional, se faz necessário compreender o todo, percebendo os aspectos relevantes de cada contexto e, para tanto, esta pesquisa utiliza-se do método qualitativo de pesquisa. Tal metodologia, conforme Martins (2004), por intermédio do estudo das ações sociais individuais e grupais, privilegia a análise de microprocessos: “realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade, os métodos qualitativos tratam as unidades sociais investigadas como totalidades que desafiam o investigador” (MARTINS, 2004, p. 292). Ainda segundo o autor, os métodos qualitativos têm como principal característica a flexibilidade, em especial quanto às técnicas de coleta de dados, sendo permitida a utilização daquelas mais adequadas à observação que está sendo feita. No entanto, Martins (2004) alerta para a capacidade “integrativa e analítica” que o pesquisador deve ter para realização de análises. Tal capacidade depende de habilidades para criar e intuir acerca do material coletado.

Buscando responder à questão sobre quais fatores tem levado à resistência das comunidades escolares no processo de implementação do Projeto de Ensino Médio Mediado por Tecnologia em Cacoal, serão utilizados três instrumentos de pesquisa: a pesquisa documental, a realização de entrevistas e a aplicação de questionários.

Segundo André (2013, p. 100), “documentos são muito úteis nos estudos de caso porque complementam informações obtidas por outras fontes e fornecem base para triangulação dos dados” e, desta forma, a investigação envolve textos oficiais (Leis, Decretos, Resoluções, Portarias, Atas, etc.) e textos não oficiais (divulgação em sites, blogs, entre outros).

Saber como os atores agem e o que eles pensam sobre a política a ser implementada é de fundamental importância na análise das resistências e, para tanto, a utilização de entrevistas como ferramenta na coleta de opiniões propiciará o levantamento de indícios sobre o modo como esses atores enxergam o Projeto EMMT e qual o sentido dessa política na prática educativa que promovem. Nesta perspectiva, Fraser e Gondim (2004) esclarecem que:

A entrevista na pesquisa qualitativa, ao privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. [...] favorece o acesso direto ou indireto a opiniões, às crenças, aos valores e aos significados que as pessoas atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante (FRASER; GONDIM, 2004, p. 140).

Segundo as autoras, a entrevista na pesquisa qualitativa possui uma importante característica, que é a flexibilidade, pois, dependendo das respostas fornecidas pelo entrevistado existe a possibilidade de inserção de novas perguntas para obtenção de mais esclarecimentos acerca do tema estudado.

Para se obter um bom material de análise é necessário escolher pessoas que tenham uma proximidade com o objeto de estudo e, para investigar as resistências na implementação do Projeto Ensino Médio com Mediação Tecnológica em Cacoal foram selecionadas, além de representantes das principais instituições cujo posicionamento se apresenta contrário ao Projeto, pessoas que ocupam cargos na SEDUC responsáveis pelos processos de elaboração e implementação do EMMT em Rondônia e, Professores Presenciais inseridos na proposta.

Assim, a entrevista foi realizada com: a Diretora Geral de Educação - que acompanhou a elaboração e implementação do EMMT em Rondônia, tendo visitado o Amazonas para conhecer o Projeto desenvolvido naquele Estado; a Gerente do Projeto na SEDUC - que está na função desde o início do Projeto; uma professora do Mestrado em Educação da UNIR - que participou de reuniões e audiências para debater o Projeto; o representante do SINTERO em Cacoal; e dois Professores Presenciais do EMMT, um de Ministro Andreazza e outro da escola situada no Distrito de Riozinho - os quais vivenciam a prática do Projeto nas salas de aula presenciais.

O objetivo das entrevistas foi perceber as situações vivenciadas no contexto da prática que influenciaram as resistências. Escolhemos realizá-las individualmente com cada um dos atores convidados, considerando a facilidade de se observar a comunicação não-verbal e aquela decorrente da visualização das reações faciais do entrevistado, acrescentando assim, informações importantes acerca do tema investigado.

Considerando que a Professora da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), no período em que as entrevistas foram realizadas, estava em Campinas – SP, esta entrevista foi realizada através de ligação telefônica, o que significou uma experiência diferente, visto que, na entrevista à distância, temos dificuldades em perceber as expressões e gestos do entrevistado e, ao mesmo tempo, o entrevistado não consegue perceber a atenção que o pesquisador dispensa ou não à sua resposta.

Durante a entrevista à distância houve, em determinado momento, uma afirmação por parte da entrevistada: “parecia que eu estava falando sozinha”. Esta fala levou-nos a pensar na relação existente entre esta experiência e o Ensino Mediado por Tecnologia. Se na entrevista à distância não é possível perceber as expressões faciais, nem tampouco saber se a comunicação está realmente sendo efetiva a não ser que se pergunte, no EMMT a distância entre o Professor Ministrante e os estudantes pode causar a mesma dificuldade, visto que o Professor Ministrante não percebe durante a veiculação das aulas, se a metodologia por ele utilizada está sendo efetiva para o cumprimento dos objetivos da aula, se os estudantes estão conseguindo se concentrar ou se estão dispersos.

Segundo Boni e Quaresma (2005, p. 77), “Durante a entrevista o pesquisador precisa estar sempre pronto a enviar sinais de entendimento e de estímulo, com gestos, acenos de cabeça, olhares e também sinais verbais como de agradecimento, de incentivo. Isso irá facilitar muito essa troca, essa relação”. Ainda de acordo com os autores, “O pesquisado deve notar que o pesquisador está atento escutando a sua narrativa e ele deve procurar intervir o mínimo possível para não quebrar a sequência de pensamento do entrevistado” (BONI; QUARESMA, 2005, p. 77). Neste sentido, após a identificação de que a entrevistada não conseguia perceber a atenção a ela dispensada, passamos a emitir sinais verbais de concordância como forma de estímulo para manutenção da relação entre pesquisadora e pesquisada.

Ainda com relação às entrevistas, a pesquisa apoiou-se em um roteiro previamente elaborado. No caso, o roteiro da entrevista apresentou questões abertas que permitiram ao entrevistado expor as motivações e os valores que sustentam as suas respostas, o que segundo Fraser e Gondim (2004, p. 144) oferece informações ricas pois, “[...] à medida que o entrevistado vai expressando suas opiniões e significados, novos aspectos sobre o tema vão

emergindo”. De igual modo, o roteiro para a entrevista face a face utiliza a estrutura de eixos de análise no intuito de orientar a condução da entrevista, permitindo assim, o aprofundamento de aspectos que possam ser relevantes ao entendimento do objeto de pesquisa.

Deste modo, para as entrevistas foi elaborado um roteiro estruturado em eixos de análise, sendo que no primeiro as perguntas visavam obter informações sobre a implementação do Projeto EMMT em Rondônia. No segundo, as questões instigavam sobre as resistências ao projeto e as ações desenvolvidas pela SEDUC para minimizar essas resistências. Por fim, o terceiro eixo de análise tratava de questões sobre a infraestrutura, os investimentos realizados e aqueles que deveriam ser realizados para o desenvolvimento do Projeto.

Outro instrumento utilizado na pesquisa foram os questionários, que geralmente apresentam respostas rápidas e precisas, e possuem a vantagem de abranger um número maior de pessoas ao mesmo tempo. Boni e Quaresma (2005, p. 74) defendem que, por meio deste instrumento, existe a possibilidade de se “[...] atingir várias pessoas ao mesmo tempo obtendo um grande número de dados, podendo abranger uma área geográfica mais ampla se for este o objetivo da pesquisa”. Além disso, os autores entendem que este instrumento garante também maior liberdade das respostas em razão do anonimato. Por meio de questões semiestruturadas, que conforme Boni e Quaresma (2005, p. 75) “[...] combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto”. O questionário foi aplicado aos estudantes que frequentam as aulas do EMMT em Ministro Andreazza e no Distrito de Riozinho e aos gestores das escolas que desenvolvem o Projeto EMMT, conforme o constante no Quadro 5.

Quadro 5 – Divisão de Grupos para aplicação de Questionário

Grupos Representatividade pessoas no Grupo Quantidade de Justificativa para a escolha dos participantes

01 Estudantes inseridos no Projeto EMMT

60 (Riozinho) Para coletar informações sobre como o Projeto vem sendo desenvolvido, de modo a analisar os processos geradores de resistência à política. 40 (Ministro

Andreazza)

02 Gestores das escolas inseridas no Projeto EMMT

01 (Riozinho) Para coletar informações sobre as formas de resistência ao EMMT que se manifestam na rotina escolar e o tratamento dispensado pelos gestores ao Projeto.

01 (Ministro Andreazza)

Fonte: Elaboração própria.

Os critérios que definiram a amostra de pesquisa consideraram o envolvimento dessas pessoas com o Projeto EMMT e o objetivo de analisar as resistências ao Projeto. Assim, optou-

se por aplicar os questionários aos 100 estudantes inseridos no EMMT e aos gestores dessas escolas, visto que conhecem o Projeto no contexto da prática.

Para tanto, o questionário foi dividido em três eixos de análise, sendo que no primeiro as perguntas investigaram o Projeto Ensino Médio com Mediação Tecnológica enquanto proposta de ensino e aprendizagem, os pontos favoráveis dessa iniciativa e o que deveria ser melhorado. O segundo eixo abrangeu questões sobre os processos de aceitação e/ou resistência à política educacional assim proposta. Por fim, o terceiro eixo de análise foi composto por questões ligadas à infraestrutura, especificamente, horário das aulas, transporte escolar, acesso à internet e netbooks e, materiais didáticos.

A partir da coleta desses dados, buscou-se identificar o sentido das resistências ao Projeto EMMT em Cacoal e perceber nos processos de resistência, que estas não dizem respeito somente à oposição à uma política específica, elaborada e implementada pelo governo, pelo contrário, a resistência também é uma política, uma política que constrói sentidos alternativos para a proposta.