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Para melhorar a perceção do efeito das alterações nas comparticipações dos medicamentos por parte do estado, idealizámos um modelo demonstrativo, com base num trabalho de licenciatura em Economia, por mim realizado e com o apoio da Professora Doutora Aida Tavares (Docente da Universidade de Aveiro), da relação entre a diminuição da comparticipação pelo Estado e a consequente diminuição do consumo de medicamentos (Figura 2). Tratando-se de medicamentos, cujo objetivo principal é o de melhorar a saúde dos consumidores, a diminuição do consumo acarreta um enfraquecimento da saúde do paciente, com algumas consequências. Através de funções económicas, será demonstrado a relação existente entre a diminuição da comparticipação de medicamentos e o aumento dos custos para o Estado.

Figura 2: Efeitos da diminuição da comparticipação de medicamentos Fonte: Elaboração própria.

3.3.1 Função custo social do Estado

Em economia, Custo Social, representa todos os custos que são associados a alguma atividade económica. Abrange os custos sobrevindos da produção de certo produto (custo privado) e os custos externos à firma (Estado), que são percebidos pela sociedade como um todo (externalidade). Se o custo social excede o custo privado, há uma externalidade negativa, ou seja, a produção do bem é prejudicial para a sociedade. Se o custo privado é maior do que o custo social, há uma externalidade positiva.

Um exemplo: quando uma empresa ou um Estado, que trabalha com serviços educacionais, beneficia indiretamente toda uma comunidade, mas recebe pagamento somente pelo benefício direto obtido pelo receptor da educação (problema de apropriabilidade). Neste caso, toda a sociedade gostaria de ter mais educação, mas poucos teriam interesse em produzir essa mesma educação, sem receber um retorno maior. Estes casos podem ser referidos como distorções de mercado, pois os recursos seriam alocados de forma ineficiente (Barros, 2005).

Neste caso, o Estado tem custos sociais com as despesas em medicamentos, acrescido das despesas hospitalares, a que se somam outras despesas (externalidades), como por exemplo as baixas por doença, os custos com exames complementares de diagnóstico, entre outros. Com as medidas aplicadas pelo Estado, houve apenas uma preocupação com a redução das comparticipações em ambulatório, esquecendo as outras vertentes, quiçá mais importantes. Ao aplicar estas medidas, o Estado agravou a percentagem paga pelos utentes, provocando um aumento do preço do consumidor (doente), o que em algumas situações pode levar o doente, por insuficiência económica, a abandonar a terapêutica adequada à sua patologia, e que o mantinha estabilizado.

A consequência direta será uma redução do consumo, que implica numa primeira análise uma diminuição da despesa com medicamentos, mas com implicação direta no estado de

saúde do doente. Este enfraquecimento da saúde do doente vai levar ao aumento do número de internamentos hospitalares, aumentando as despesas quer com a medicação hospitalar, quer com os custos inerentes desse internamento. Por outro lado, toda esta situação vai provocar um aumento do absentismo laboral, e um aumento proporcional das prestações sociais, no que concerne às baixas médicas.

Com estas medidas, apenas foi acautelada a despesa do curto prazo, não sendo lançadas bases sólidas para a mitigação da despesa com medicamentos no médio-longo prazo. Utilizando um modelo económico, conseguimos obter os seguintes resultados:

3.3.1.1 Consumidor:

I. Função Procura de medicamentos:

A procura de um bem ou serviço varia sempre em função do seu preço. Para melhor exemplificação, escolhemos uma função de procura linear, onde a procura de medicamentos (Q) é dada por uma constante (a) e pelo parâmetro (b), que depende do preço, e que influência negativamente a procura, quer isto dizer, quando se aumenta o preço a quantidade (procura) vai diminuir, e vice-versa. No caso de uma diminuição da comparticipação do medicamento pelo Estado, o preço para o consumidor aumenta, logo a procura por esse medicamento diminui.

II. Estado de saúde:

O estado de saúde, Health Status (H), depende da quantidade de medicamentos necessária (H (Q)) para estabilizar a qualidade de vida e de um nível de saúde inicial (h0), que é variável de indivíduo para indivíduo. Se um indivíduo nascer com uma doença crónica, o seu estado de saúde será menor do que o de outrem que nasceu saudável. Por outro lado, sendo esse indivíduo portador de uma doença crónica, o seu bem-estar de saúde, é tanto melhor quando a sua capacidade de adquirir os medicamentos adequados à sua doença. Derivando a expressão em ordem ao preço, obtemos:

Economicamente, para encontrarmos a relação entre estado de saúde e preço, derivamos a expressão H (estado de saúde) em ordem a P (preço).

Daqui advém o primeiro resultado, que é a relação negativa entre estes fatores; isto é, quando o Estado reduz a comparticipação de medicamentos causa uma redução no estado de saúde do doente, porque o doente reduz a aquisição de medicamentos.

3.3.1.2 Estado:

O valor da comparticipação paga pelo Estado ( ), multiplicado pela quantidade de embalagens adquiridas, dá-nos a despesa em medicamentos do Estado (D). Se o Estado diminuir a comparticipação do medicamento, origina um aumento do remanescente que cabe ao utente (p), o que por sua vez leva a uma redução da despesa com medicamentos por parte do Estado, como se pode ver pela função. Isto leva-nos ao segundo resultado, ressaltando a relação negativa entre o preço e a despesa. Como já foi referido, uma redução da comparticipação induz uma diminuição da despesa por parte do Estado, isto porque no imediato o Estado paga menos pelos medicamentos.

II. Função despesa hospitalar:

A função de despesa do Estado com custos hospitalares, é uma função que depende do bem-estar da população, ou seja, quanto menos saúde temos mais o Estado incorre no risco de ter mais encargos com os custos hospitalares, uma vez que este tem de pagar as diárias de cada utente internado (que por insuficiência económica deixou de tomar a medicação e descompensou) e tem também de pagar os medicamentos (comparticipados a 100% em regime de internamento) que o utente usufrui enquanto está hospitalizado.

Derivando a função em ordem a p:

Derivando a função de despesa com os custos hospitalares do Estado (D), vamos obter o terceiro resultado, que é a relação positiva entre a despesa e o preço que o consumidor paga, ou seja, quanto maior for a parte paga pelo consumidor dos medicamentos, maior será a despesa que o Estado vai ter, porque, em alguma altura o doente vai deixar de fazer a medicação, reduzindo o seu estado de saúde.

Isto porque:

Se derivarmos a função de custos hospitalares (DH), em ordem ao bem-estar da população (H), vamos obter uma relação negativa, como já foi explicado anteriormente. Quanto menor o estado de saúde, maior a despesa suportada pelo Estado.

Se derivarmos a função de bem-estar (H), em ordem à quantidade (Q), obtêm-se, uma correspondência positiva. Quanto maior o acesso a medicamentos (maior quantiadade de medicamentos), maior o bem-estar.

Se derivarmos a função procura de medicamentos(Q), em ordem ao preço (P), verifica-se que estes correlacionam-se negativamente. Quanto maior o preço pago pelo consumidor de medicamentos, menor será a sua procura por estes.

Em suma, fica, através destas funções, demonstrado que, apesar de a despesa com medicamentos por parte do Estado diminuir (em primeira instância), poderá não ser suficiente para compensar o aumento na despesa com custos hospitalares do Estado. Assim sendo, uma medida aplicada para reduzir a despesa, com vista na redução do défice, poderá piorar a situação, pois a despesa em vez de diminuir, poderá aumentar, uma vez que os custos hospitalares são uma grande fatia do bolo dos gastos do Estado, em termos de saúde, fatia essa que foi esquecida aquando a tomada de medidas de contenção.

3.4 Evolução das consultas de psiquiatria e do consumo de