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Começo pela descrição que os amici fazem da ação, mais especificamente dos pedidos feitos na petição inicial. Dentre todas as manifestações, quatro amici contextualizaram a ação apenas a partir do pedido de autorização para interrupção da

gestação no caso das vítimas da epidemia de zika61. É o caso do CEPIA - Cidadania, Estudo e Ação:

A ADI se manifesta pela incompatibilidade dos artigos 124 e 126 do Código Penal, Decreto Lei no 2.848, não apenas com as obrigações internacionais ratificadas pelo Brasil em matéria de direitos humanos, mas, também, com a Constituição Federal Brasileira, no contexto da epidemia do vírus da zika. (CEPIA- Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação)

Alguns desses amici chegam a mencionar que existem outras demandas solicitadas para o atendimento às pessoas afetadas pelo adoecimento por zika, embora não as nomeiem. É o caso da manifestação da Anis, que afirma que “Uma das demandas apresentadas na ADI n. 5581 diz respeito ao direito de mulheres de optarem pela interrupção da gravidez a fim de proteger sua saúde mental”, e do Ministério Público do Estado de São Paulo, que escreve que “A ADI pleiteia, entre outros pedidos, interpretação conforme a Constituição dos arts. 124, 126 e 128 do Código Penal”.

Outros nove pronunciamentos protocolados nos autos, ao enquadrar a ação, efetivamente citam todas as políticas públicas demandadas62. Contudo, também fazem a escolha de se pronunciar apenas sobre a questão do aborto. Dentre esses, existem aqueles que afirmam ter feito um recorte intencional em sua manifestação para tratar apenas do pedido de interrupção de gestação. A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, por exemplo, afirma que “Apesar do entendimento desse órgão de que todos os pleitos devem ser acolhidos e providos, um deles merece destaque e sobre ele o Núcleo pretende se debruçar. Trata-se do pedido de descriminalização do aborto”.

Existem também terceiros que declaram que, apesar de todos os outros pedidos, o principal objetivo da ação perante o STF é “a descriminalização da prática do aborto em caso do diagnóstico de microcefalia”63. Destaco também a manifestação da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família:

Dada a urgência que se identifica na demanda em todo o seu conteúdo, sem tempo para melhor examinar e opinar com propriedade sobre os diversos aspectos da inicial, esta Associação, na presente oportunidade, priorizará a análise do objeto e objetivo abortista

61 ANIS - Instituto de Bioética; Human Rights Watch, Ministério Público do Estado de São Paulo e CEPIA - Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação.

62 Sindicato dos Médicos do Pará, ADIRA - Associação Nacional da Cidadania pela Vida, IBCCCRIM - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, MOVIDA - Movimento em Favor da Vida, Defensoria do Estado de São Paulo, Centro Humanitário de Amparo à Maternidade, Anajure - Associação Nacional de Juristas Evangélicos; Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará. 63 MOVIDA - Movimento em Favor da Vida

encapsulado e emaranhado na ADI c/c ADPF, tocando também, rapidamente, outros pontos. (Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família)

Outras cinco manifestações, além de mencionarem todos os pedidos feitos na inicial para enquadrar a ação, efetivamente trabalham, no enquadramento de sua peça, sobre mais do que o pedido de interrupção da gestação no caso de mulheres vítimas do zika64, abordando, por exemplo, “argumentos sobre saúde, gênero e não discriminação para contribuir com a análise dos dispositivos da Lei nº 13.301/2016”65.

Se o enquadramento da ação na parte inicial da peça dos amici é importante, o enquadramento final, na parte do “pedido”, também é, pois nessa parte os terceiros se pronunciam objetivamente e especificamente sobre se acolhem ou não as demandas da ação. Das quatro manifestações que enquadraram a ADI somente a partir do pedido de interrupção da gestação, duas delascontinuam a não se pronunciar sobre nenhum dos outros pedidos da ação na parte final da manifestação66. As outras duas trouxeram as outras demandas no pedido, e acolheram todas67.

Dos nove pronunciamentos que, ao enquadrar a ação, efetivamente citam todas as demandas sob análise, mas escolhem se pronunciar apenas sobre a possibilidade de interrupção da gestação, sete rejeitaram esse pleito em específico no momento do pedido, sem fazer qualquer consideração sobre os outros pontos da ação68-69.A Defensoria Pública do Estado de São Paulo, ao contrário, acolhe a demanda do aborto, embora não faça qualquer tipo de menção aos outros pedidos. O IBCCRIM, que também se mostra favorável à ação, demonstra apoio a todos os pedidos, requerendo que sejam julgados procedentes.

Todas as outras cinco manifestações que, além de mencionarem todos os pedidos feitos na inicial para relatar a ação, efetivamente trabalham no enquadramento sobre mais do que o pedido de interrupção da gestação no caso de mulheres vítimas da epidemia de zika,

64 Comitê Latino-Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher, DPU - Defensoria Pública da União, Grupo Curumin, Centro Acadêmico Afonso Pena e Projeto Cravinas.

65 Comitê Latino-Americano e do Caribe para Defesa dos Direitos da Mulher. 66 Anis - Instituto de Bioética e Ministério Público do Estado de São Paulo.

67 CEPIA - Cidadania, Estudo, Pesquisa, Informação e Ação, e Human Rights Watch.

68 Sindicato dos Médicos do Pará; ADIRA - Associação Nacional da Cidadania pela Vida, MOVIDA- Movimento em Favor da Vida, Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Centro Humanitário de Amparo a Maternidade, Anajure - Associação Nacional de Juristas Evangélicos, Associação Pró-Vida e Pró-Família. 69 Importante ressaltar que a Associação Pró-Vida e Pró-Família, apesar de não se pronunciar especificamente sobre isso no pedido, se declara favorável a acolher as demandas de acesso à informação e garantia de acesso à Estimulação Precoce.

acolheram não só a demanda do aborto no pedido, mas também pediram que toda a ação fosse julgada procedente70.

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