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CAPÍTULO III - ANALISANDO O DISCURSO DA CRÍTICA POTIGUAR DE CINEMA . 37

3.3 MOTIVAÇÕES DA SUPRESSÃO

Nos tópicos e capítulos anteriores, vimos que o gênero crítica cinematográfica recebe mais destaque na mídia potiguar quando é realizada por produtores independentes de conteúdo. Verificamos também que, além da análise fílmica não ter espaço nos portais dos grandes jornais, a mídia hegemônica ignora a existência da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte (ACCiRN) e dos jornalistas de formação capacitados a executar essa função dentro de uma redação jornalística.

Outra questão que pudemos apurar é que a pauta cinema é mais abordada por matérias vinculadas a agências de outros estados, tendo o jornalista natalense a tarefa de divulgar apenas as produções locais. Ainda assim, de acordo com o que foi comprovado no monitoramento, é algo que não acontece com uma frequência habitual.

53 Em termos de organização e atualização, a página virtual do caderno de cultura do Tribuna do Norte, o Viver, encontra-se defasada. Todas as notícias do carrossel e dos destaques são do primeiro trimestre de 2020 ou até mais antigas, oferecendo um ar de abandono. As notícias observadas em nosso monitoramento foram publicadas na página inicial do portal, mas não são vinculadas à página do próprio Viver. Veja:

Ilustração 6 Representação online do caderno Viver

Em contrapartida, a editoria cultural no portal do Agora RN é fácil de ser encontrada e é atualizada diariamente, com uma organização que causa interesse de ler. Porém, o título é "Entretenimento", o que abre precedentes para outros assuntos de cunho tecnológico, curiosidades, programas de TV, reality shows, intimidades de famosos etc.

A decisão da empresa de tratar a editoria de cultura dessa maneira pode atrair um nicho de leitores, mas também afastar outros. Quem busca notícias sobre música, teatro, literatura ou cinema talvez não veja coerência em ver matérias sobre, por exemplo, o que o marido da Ivete Sangalo disse em determinada entrevista, ou qual a melhor forma de se obter um orgasmo, como pode ser visto abaixo.

54 Ilustração 7 Representação online da seção de Entretenimento do Agora RN

Conforme foi alertado no início deste capítulo, iremos nos fundamentar na Análise do Discurso para esmiuçar os depoimentos coletados em entrevistas pelas editoras dos cadernos culturais dos portais Agora RN e Tribuna do Norte. Sabemos que nenhum discurso é ingênuo, sempre contendo sentido. Desse modo, por meio da interpretação dessas falas, almejamos produzir evidências que nos apontem as razões para esses portais não publicarem críticas de cinema. Esse é o nosso objetivo principal.

Em entrevista realizada com a jornalista Cinthia Lopes para nossa pesquisa, ela nos explicou, com base em seus 25 anos de experiência jornalística, qual sua opinião (informação verbal)14 acerca dos maiores desafios que o jornalismo potiguar enfrenta: “A falta de visibilidade e de investimento financeiro dos veículos e das instituições que possuem recursos para investir. Assim como o entendimento do próprio setor cultural de que o jornalismo também é parte da cadeia produtiva da cultura. Nos veículos, a crise de agora foi a pior desde que ingressei na profissão, pois em 25 anos é a primeira vez que vejo a extinção total de cadernos e seções importantes tanto no jornal como nas emissoras de TV. Nos canais independentes, sejam blogs ou sites, a manutenção fica por conta do próprio jornalista, não existe patrocinador ou anunciante. E fazer jornalismo

14 Entrevista concedida por LOPES, Cinthia. Entrevista II. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

55 autoral é caro. Precisa dedicar tempo para pesquisa, transporte e equipamento. Para poder ter um respiro, o jornalista acaba recorrendo aos editais, leis de incentivo e chamadas públicas. Isso tira o tempo de quem precisa escrever todos os dias. Tornando impossível a contratação de equipe ou o pagamento para críticos e articulistas”.

Apesar de não ser mais a editora do caderno Viver, a fala de Cinthia Lopes pode nos nortear no que diz respeito ao que esperar dos discursos vindouros que também serão analisados. Baseando-se nos princípios da Análise do Discurso, em que a fala detém marcas ideológicas, iniciaremos nossas inferências a partir daqui.

Segundo proferido por Cinthia, o jornalismo cultural natalense tem como um dos seus principais inimigos a falta de investimento para a produção de um trabalho exemplar. Isso permeia a contratação de mais repórteres para cobrir o máximo de gêneros possíveis; a liberdade de não ter que trabalhar com deadlines curtos, possibilitando um conteúdo mais elaborado; mais reconhecimento para o funcionário dedicado à cultura.

Podemos perceber que ela acredita que um dos caminhos para combater a instabilidade no setor seria a própria classe cultural compreender o jornalismo como “uma cadeia produtiva de cultura”. Temos aqui, portanto, o segundo desafio. Durante nossa pesquisa, descobrimos que muitos artistas não gostam de ter seu trabalho avaliado por profissionais especializados, o que gera afastamento da mídia com outros artistas.

É impossível que a opinião do repórter não reflita, em algum grau, a visão da empresa sobre determinado assunto. Há impressões, atribuição de valores por trás da notícia, o que por vezes pode divergir do que o artista propõe em sua obra. Não é incomum que portais culturais independentes tenham mais notícias locais que os portais hegemônicos.

Ainda averiguando a fala de Cinthia, a crise que ela menciona, derivada da pandemia do Covid-19, somente agravou uma área que já sofria com suas dificuldades. Com cadernos sendo extintos, tanto em jornais quanto na TV, cabe ao jornalista cultural buscar alternativas. Uma seria o que ela sugeriu como “jornalismo autoral”.

No entanto, considerando o contexto do Rio Grande do Norte, que é um dos estados brasileiros cujo piso salarial é um dos piores do ramo jornalístico, cogitar a opção

56 de se tornar um jornalista cultural independente é um caminho difícil e burocrático. As opções são desestimulantes, o que corrobora para parcerias e trabalhos voluntários. O texto será publicado e lido, mas não necessariamente o autor ou autora serão remunerados por ele.

Na pergunta seguinte, indagamos a Cinthia por qual motivo o Tribuna do Norte não publica críticas cinematográficas, uma vez que existe uma Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte, composta em parte por jornalistas de formação. Sua resposta (informação verbal)15 foi bastante essencial para nossa pesquisa: “Acredito que a falta de críticos nos veículos locais são um conjunto de fatores que começa pelo investimento financeiro na contratação de um profissional apenas para escrever sobre filmes, quando as redações estão enxutas e o jornalista é um profissional de múltiplas tarefas. Os veículos maiores também assinam agências de notícias (Folhapress, Estadão Conteúdo, Agência o Globo) cujo conteúdo contempla resenhas de críticos que atuam nesses veículos. A própria Tribuna usa críticas de Luiz Carlos Merten ou Zanin Oricchio, dentre outros críticos de música e teatro fornecidos no pacote dessas agências. Outra questão para essa ausência é o próprio desinteresse do leitor. Com a internet e as redes sociais, a crítica passou a ser um nicho, que incorporou uma nova demanda de interesses do espectador por séries e filmes para TV em canais específicos. Um único crítico de cinema para dar conta desse universo é impossível. Há muitos sites voltados para críticas, aqui mesmo existe o SetCenas de cinema e na área de teatro surgiu o excelente Farofa Crítica. Os jornais também têm pouco espaço, mantendo apenas a área de reportagens e de serviços. Aqueles cadernos enormes com textos críticos não existem mais”.

No jornalismo contemporâneo, não existe mais a possibilidade do profissional possuir apenas uma função. As redações não funcionam mais como eram 20 anos atrás. Em um cenário cada vez mais econômico, a empresa prefere que o repórter seja responsável pela pesquisa, construção da pauta, o desenvolvimento, a filmagem, a edição, a revisão, que tenha conhecimento em mídias digitais etc. Isso é um reflexo da crise que empresas jornalísticas enfrentam. É diante dessa realidade que Cinthia Lopes

15 Entrevista concedida por LOPES, Cinthia. Entrevista II. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

57 enxerga a inviabilidade da contratação de um profissional somente para a crítica cinematográfica.

Partindo do princípio de que a empresa irá solicitar do jornalista múltiplas tarefas, na visão dos administradores torna-se um dispêndio contratar alguém somente para uma atribuição, neste caso, um crítico de cinema. Para a empresa, é mais vantajoso que o jornalista tenha várias habilidades e acompanhe o imediatismo que o jornalismo exige no cotidiano. Por isso, os portais hegemônicos recorrem ao artifício de contratar agências, replicando notícias produzidas e publicadas por outros veículos. Isto é, o trabalho do jornalismo cultural nos portais dos jornais hegemônicos de Natal, no que diz respeito ao cinema, é quase que inteiramente terceirizado. Os críticos mencionados por Cinthia, Luiz Carlos Merten e Zanin Oricchio, escrevem para o Estadão de S. Paulo.

No decorrer de sua resposta, Cinthia diz algo que gostaríamos de destacar: “Outra questão para essa ausência é o próprio desinteresse do leitor”. Além disso, em um segundo ponto, ela diz que não é possível que apenas um profissional fique encarregado de uma demanda para filmes e séries de TV.

Em relação ao primeiro ponto, vimos no tópico 3.2 deste capítulo, ao traçarmos o perfil do cinéfilo natalense, que existe, sim, pessoas que gostam de consumir críticas cinematográficas redigidas em portais e blogs. 25,2% dos que responderam nosso formulário online, precisamente. Compreendemos, em parte, o que Cinthia quis dizer. Devido à expansão do jornalismo cultural em âmbito nacional, com portais especializados em filmes e séries, como Omelete, Cinema com Rapadura, Jovem Nerd, Adoro Cinema, IGN16 etc, o leitor talvez seja mais induzido a ir até eles porque encontra mais facilmente o que busca.

Ainda nessa perspectiva, há um aspecto importante a se considerar aqui: a partir do momento que toda notícia de filmes dos portais dos jornais hegemônicos vêm de agências, e que tais matérias não são publicadas com periodicidade, entendemos que existe uma seleção de quais conteúdos serão noticiados. Ou seja, existe uma “elitização”

16 Por ordem de menção: Home | Omelete, Cinema com Rapadura - Assistir é apenas o começo!, Jovem Nerd - Notícias sobre filmes, séries, HQs, games, animes, ciência, tecnologia e humor, porque rir não faz mal a ninguém!, Filmes, trailers, horários e salas de cinema, Notícias, criticas - AdoroCinema, IGN Brasil

58 do conteúdo. Ao decidir que tipo de matéria vai noticiar, se sobre fotografia ou literatura, e ignorando o cinema, por exemplo, o jornal está atraindo e formando classes de leitores.

Logo, é óbvio que o leitor dos gêneros culturais tradicionais buscará informações em portais alternativos. Consequentemente, o público de leitores padrão do Tribuna do Norte de fato pode não se interessar por críticas de filmes, e certamente isso ocasiona um número de acessos insatisfatório sempre que o gênero surge no portal. Desse modo, a grande questão estaria mais conectada com a “audiência” do que realmente a falta de leitores.

Por outro lado, em relação ao segundo ponto, podemos deduzir que o discurso de Cinthia reproduz a visão que os empresários têm da situação. Se a demanda é alta e não há como contratar profissionais que suportem tal urgência, subentendemos que é mais econômico assinar contrato com uma agência e, dessa forma, publicar apenas o que julgam ser mais relevante.

Nossa pesquisa também foi contemplada com outras entrevistadas: as jornalistas Margareth Grilo, a atual Editora Executiva do Tribuna do Norte, e Nathallya Macedo, a responsável pela parte de cultura no impresso do Agora RN. Ambas as entrevistas foram virtuais e realizadas em momentos distintos, porém, constatamos respostas similares ao que Cinthia Lopes já havia nos apontado anteriormente: a cultura sempre é afetada quando a crise financeira atinge as redações jornalísticas.

Vejamos o que Margareth nos respondeu (informação verbal)17 sobre a ausência do gênero crítica cinematográfica no Tribuna do Norte: “Há pouco mais de 10 anos, tínhamos uma coluna assinada pelo crítico de cinema Valério Andrade. Mas após a reestruturação gráfica do jornal com enxugamento no número de páginas do impresso, em 2009, parte das colunas, entre elas a de cinema, foram excluídas do impresso. Algumas ficaram apenas na versão online. Atualmente, dado o tamanho limitado do impresso - o caderno Cultural Viver tem apenas uma página no impresso - não há como retomar a seção 'crítica de cinema'”.

17 Entrevista cedida por GRILO, Margareth. Entrevista IV. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

59 Embora a resposta de Margareth tenha tido um enfoque no jornal impresso, ela encerra com a expressão “não há como retomar a seção „crítica de cinema‟”. Temos, portanto, uma decisão categórica: a crítica cinematográfica, no Tribuna do Norte, é um gênero sepultado há bastante tempo. Enquanto o discurso do jornal for pautado na economia e na inexistência de leitores, e a visão editorial continuar manifestada dessa maneira, não haverá chance de retorno.

Margareth reconhece (informação verbal)18 a importância do gênero, mas o cenário econômico do jornalismo natalense, segundo ela, é de calamidade, impossibilitando que a crítica de cinema ressurja: “Os jornais impressos estão cada vez mais enxutos. E as equipes também. As diretorias sempre alegam que não há como ampliar contratações. Não que o tema não mereça maior destaque, merece, mas não há, no momento, recursos financeiros disponíveis nas redações para a contratação de profissionais específicos para determinadas pautas, como essas de cinema”.

O discurso de Nathallya Macedo não difere muito das outras entrevistadas. Quando interpelada acerca da ausência da crítica cinematográfica no portal Agora RN, ela reconheceu (informação verbal)19 que o cenário audiovisual local é vívido. Contudo, isso não é suficiente para manter a crítica nas mídias hegemônicas: “Como acompanho bastante a cena local, vejo que há diversas produções audiovisuais. Os produtores sempre estão gravando curtas-metragens, longas ou documentários. A frequência de lançamento é boa, para uma cidade pequena como Natal. Por isso, é preciso tempo e dedicação exclusiva para o trabalho de crítica cinematográfica. E isso não é possível no jornalismo diário e, ao mesmo tempo, escasso do RN. Há profissionais, pessoas especialistas em cinema, mas não há vagas para apenas essa função”.

Aqui vemos, novamente, o tema da escassez de recursos. Outro assunto que reaparece é o imediatismo do jornalismo diário e as multitarefas que o repórter deve realizar, fazendo com que o mercado local não comporte uma editoria tão específica quanto a crítica de cinema.

18 Entrevista cedida por GRILO, Margareth. Entrevista IV. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

19 Entrevista cedida por MACEDO, Nathallya. Entrevista V. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

60 Mediante ao fato de que uma crise midiática sempre vai prejudicar o setor da cultura, perguntamos a Nathallya se é uma sina que o jornalismo cultural natalense sofra com vários obstáculos. Ao que ela respondeu (informação verbal)20: “É a editoria "menos interessante, que gera menos acesso". Isso foi o que já ouvi, certo? Para mim, a cultura é bastante importante. Mas, tanto para empresários do jornalismo quanto para os leitores, outras editorias geram mais interesse, como a política. Infelizmente, com o passar dos últimos anos, observo uma constante diminuição da produção do jornalismo cultural aqui. Quem ainda escreve sobre, resiste. Quando uma crise financeira bate, a primeira coisa cortada é a cultura. Então equipes acabam sendo desmontadas e as produções artísticas perdem o acompanhamento de perto”.

Neste momento, vamos focar em alguns entendimentos que podem ser extraídos desse discurso. Primeiro: existe, de fato, uma questão envolvendo audiência, ou número de acessos, que é responsável por estabelecer a editoria de cultura como “menos interessante” e, sendo assim, menos necessária. E por não ser uma opinião direta de Nathallya, e sim algo que ela escutou de outros, chegamos ao segundo ponto: a desvalorização histórica da cultura.

Esse olhar, querendo ou não, reverbera nos discursos através da história, e isso repercute no jornalismo. Ao ponto de outros temas, como política, usado de exemplo por Nathallya, ter mais peso e importância entre os sujeitos inseridos na sociedade e entre os critérios de noticiabilidade.

Nathallya encerrou seu discurso com a resposta da seguinte pergunta: se na redação há quem escreva sobre cinema local, por que esse mesmo repórter não pode escrever sobre cinema estrangeiro? Ou por que não contratar um profissional que tenha conhecimento em filmes internacionais? Ela disse (informação verbal)21: “Na maioria das vezes, eu escrevo sobre todos os segmentos culturais locais. Acredito, sim, que em um mundo ideal, teríamos espaço para uma quantidade maior de reportagens sobre o cinema potiguar. Mas, como disse, o mercado é apertado. É basicamente resistência tentar noticiar cultura quando não há condições ideais para isso. Temos muitos artistas

20 Entrevista cedida por MACEDO, Nathallya. Entrevista V. Entrevistador: Leonardo da Vinci Figueiredo da Cunha, 2021. E-mail.

61 independentes, que às vezes só precisam de uma ligação para mostrar um pouco dos próprios trabalhos. Também acredito que é necessário estimular a produção, através de editais, concursos, entre outros, para consequentemente incentivar o consumo da cultura local. Muitos potiguares não conhecem a arte que é feita na própria terra. É preciso criar uma identidade e valorizá-la”.

As redes sociais são uma formidável ferramenta para o jornalismo do século 21, mas mesmo assim, no contexto do Rio Grande do Norte, ainda não é o bastante para que a seção cultural se sobressaia perante as crises. Todavia, utilizando a ideia de resistência expressa por Nathallya, surge o sentido de se criar uma identidade cultural natalense e, sem isso, produzir jornalismo sobre uma cultura que sequer se valoriza ou sabe se definir, é como correr atrás do vento.

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CONCLUSÃO

No primeiro capítulo de nossa pesquisa, vimos que um dos conceitos de cultura está intrínseco ao modo como os sujeitos interagem com o mundo. Ao nos debruçarmos no histórico do jornalismo cultural para compor este trabalho, adquirimos um olhar mais clínico e também crescimento intelectual. Temos a consciência de que nossa investigação foi prejudicada pelo período de pandemia do Covid-19. Do contrário, acreditamos que poderíamos ter coletado mais informações e chegado a conclusões mais profundas.

Nossas entrevistas foram realizadas de modo virtual, o espaço de tempo para o desenvolvimento foi mais curto que o normal, e cremos que outras pessoas poderiam ter sido entrevistadas. Apesar disso, estamos convictos de que conseguimos obter resultados coerentes com os objetivos elaborados.

Quando desenvolvemos a ideia de nossa investigação, tínhamos uma vaga noção da ausência do gênero crítica cinematográfica nos portais dos jornais hegemônicos de Natal. Com a descoberta da existência da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Norte, fomos impulsionados a seguir adiante com a pesquisa. Naquele momento, não imaginávamos que nossas descobertas e resultados atingiriam conclusões tão relevantes.

Com o auxílio da Análise do Discurso, que busca sondar as marcas ideológicas e produções de sentidos incrustados nas palavras, conseguimos interpretar os discursos dos entrevistados e, com isso, montar um arsenal que consiga justificar todos os questionamentos que nortearam nosso estudo. Nessa fase do trabalho, nos empenhamos na percepção de que nenhum discurso contém teor de inocência.

Uma das coisas que mais nos surpreendeu foi no período do nosso monitoramento, pois percebemos ali como a pauta cinema é tratada pelas mídias hegemônicas. A sétima arte, nos grandes jornais de Natal, teve seus tempos de glória no passado, com colunas específicas para críticas fílmicas e profissionais contratados exclusivamente para isso. Hoje, percebemos que os portais preferem terceirizar o serviço em parceria com Agências, recorrendo aos seus repórteres apenas quando se trata de uma pauta cinematográfica local.

63 Identificamos um aspecto comum em todos os discursos coletados e analisados: a crise nas redações jornalísticas. A escassez de recursos, de acordo com o apresentado pelas profissionais do Tribuna do Norte e do Agora RN, é o grande motivo para não existir atualmente críticos especializados nos jornais.

Esse fato se interliga com a necessidade que o jornalismo tem de ser imediatista, impelindo o jornalista a exercer variadas funções. Por conseguinte, isso contribui para a

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