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CAPÍTULO 2 – O PERFIL DOS ALUNOS CONCLUINTES DO CURSO DE

2.3 Traçando o perfil dos alunos concluintes do curso de Pedagogia

2.3.3 Motivos para a escolha do magistério

A Tabela 5, a seguir, apresenta dados que permitem responder a uma das questões de pesquisa, ou seja, fornece indicadores para compreender as razões atribuídas pelos(as) futuros(as) para a escolha do magistério, bem como das possíveis influências nessa escolha e a presença ou não de familiares professores.

Tabela 5 – Escolha profissional

Aspectos Quantidade de alunos

Vespertino Noturno Total Geral Aspectos considerados para escolha de uma profissão

Novas experiências 26 17 43

Usar aptidões/capacidade pessoais 22 16 38

Ser útil aos outros 20 18 38

Lidar com pessoas mais do que com coisas 20 14 34

Futuro estável/seguro 21 12 33

Boa remuneração 13 09 22

Exercer liderança 07 06 13

Prestígio/posição social 07 03 10

Livre da direção/supervisão (exercer a docência) 04 06 10

TOTAL 140* 101* 241* Motivos da escolha do curso de Pedagogia

Gosto/interesse pela profissão 12 06 18

Experiência anterior na área 04 08 12

Relação com/gostar de/trabalhar com crianças 07 04 11 Contribuir p/ educ./transformação social/respeito ao próximo 02 06 08

Influência familiar 05 01 06

Necessidade de trabalhar/grande campo de atuação 02 03 05 Curso de humanidades/facilidade em passar no vestibular 01 03 04

Universidade pública próxima de casa 01 01 02

Gosto pela leitura / pelo conhecimento 01 01 02

Ensinar no EF (música; matemática) 01 01 02

Bons professores da Educação Básica 01 - 01

Trabalhar na direção/supervisão/administ. do ensino - 01 01

Sem resposta 03 - 03

TOTAL 40* 35* 75*

Curso de Pedagogia é o que desejava?

Sim 25 15 40

Não 05 05 10

TOTAL 30 20 50

Se não, justifique:

Reprovação p/ a primeira opção 03 03 06

Foco da Pedagogia na teoria/pesquisa - 01 01

Profissão não “rentável” - 01 01

Sem justificativa 02 - 02

TOTAL 05* 05* 10*

Gostaria de ter feito outro curso?

Não 20 10 30

Sim 10 10 20

TOTAL 30 20 50

Se a resposta for sim, qual curso?

Humanidades (Letras; História; Direito; Geografia; Artes Plásticas; Visuais/Cênicas; Música; Design; Administração; Jornalismo; Turismo; Psicologia; Ciências Contábeis; Gestão Ambiental)

10 10 20

Ciências Biológicas (Educação Física) 01 - 01

Sem resposta - 02 02

TOTAL 11* 12* 23*

(continuação)

Aspectos Vespertino Quantidade de alunos Noturno Total Geral Por que não fez este curso?

Reprovação no vestibular 03 03 06

Condição financeira desfavorável 02 03 05

Ainda pretende fazer 02 03 05

Não há o curso que desejava na instituição 01 01 02

Prioridade para o curso de Pedagogia 01 - 01

Falta de domínio dos conteúdos específicos 01 - 01

Falta de interesse em atuar na área - 01 01

Sem resposta 01 01 02

TOTAL 11* 12* 23*

Influências na escolha do curso

Não 18 17 35

Sim 11 03 14

Sem resposta 01 - 01

TOTAL 30 20 50

Quais Influências?

Família (mãe, pai, tia/o) 06 03 09

Trabalho 03 - 03 Amigos 01 01 02 Companheiro 01 - 01 Professores 01 - 01 TOTAL 12* 04* 16* Professores na família Não 13 11 24 Sim 17 09 26 TOTAL 30 20 50 Grau de parentesco Primas(os) 08 05 13 Tias(os) 06 04 10 Mãe/pai 07 02 09 Irmã 01 02 03 Companheiro 01 01 02 Sogra 01 - 01 Avó/avô 01 - 01 TOTAL 25* 14* 39*

Fonte: Dados organizados pela autora, com base nos questionários.

*O total não se refere ao número dos questionários, mas à frequência com que os aspectos foram citados.

Quando questionados sobre as diferentes condições que podem ser consideradas para a escolha de uma profissão, os aspectos mais assinalados pelos(as) respondentes foram a possibilidade de novas experiências, a oportunidade de usar as aptidões e capacidades pessoais, de ser útil aos outros e poder lidar com as pessoas, mas do que com coisas, além de certa garantia de um futuro estável e seguro. Por outro lado, boa remuneração e prestígio social também foram mencionados. Apesar de não ser pela maioria, ainda é expressivo o número de sujeitos que destacam esses aspectos como condições importantes para a decisão de carreira (sobretudo no caso de boa remuneração, observa-se que treze alunas do vespertino e nove do noturno assinalaram essa opção).

Dado que a docência não representa uma carreira de significativo reconhecimento social, antes, conforme salientam Marcelo e Vaillant (2009, p. 37),

“(...) há ido arrastrando a lo largo su historia um déficit de consideración social que deriva, según algunos, de las características específicas de sus condiciones de trabajo”, pode-se pensar que para determinados sujeitos desta pesquisa, ser professor(a) ainda implica elevar sua posição e ter melhores condições de vida, se comparado, por exemplo, às condições e profissões de seus familiares.

A opção pelo magistério pode estar relacionada, ainda, a condicionantes sociais que modelariam as próprias aspirações dos sujeitos em consonância com a realidade. Assim, expropriados dos conhecimentos necessários para ingressarem em carreiras mais concorridas e socialmente valorizadas, tais alunos – egressos, em sua maioria, de escolas públicas – teriam suas aspirações modeladas em função de “(...) um processo psicológico de tendência à redução progressiva do conflito [que] levaria a uma confortável consistência entre realidade e fantasia” (GOUVEIA, 1970, p. 32).

A esse respeito é interessante observar a diferença que há nos resultados de duas questões específicas. Apesar de quarenta alunos(as) terem respondido que o curso de Pedagogia era o que desejavam profissionalmente fazer, apenas trinta assinalaram que não gostariam de ter feito outro curso. Essa diferença nos resultados pode indicar que a escolha pelo curso de Pedagogia ocorreu por um processo de acomodação e subordinação às condições objetivas em que viviam. Parte dos(as) alunos(as) abriu mão de interesses iniciais (dos cursos que gostariam de ter feito) e buscaram uma nova identificação ao assumirem a opção pelo curso de formação de professores. Há uma maior conformação com uma escolha de profissão mais viável socialmente, ainda que essa opção carregue um “(...) significado amargo, dolorido, pois é uma decisão que carrega toda a afetividade de fazer algo não desejado” (MARIN, 2003, p. 61).

Dos dez acadêmicos que assinalaram que o curso de Pedagogia não era o que de fato desejavam no âmbito profissional, seis relataram que não conseguiram ser aprovados em outros cursos. Os cursos que desejavam ter feito, mas não fizeram, devido, principalmente, à reprovação no vestibular e à falta de condições financeiras favoráveis, concentram-se na área de humanidades – por exemplo, Letras, História, Geografia, Filosofia, Artes Plásticas e Jornalismo – e na área das ciências sociais aplicadas (Direito, Ciências Contábeis e Administração).

Em relação aos motivos apontados para a escolha do curso de Pedagogia, são mencionados vários aspectos, dentre os quais os mais frequentes são o gosto e o interesse pela profissão docente, a experiência de atuar na área da educação e na escola antes do ingresso no curso de formação, o gosto pelas crianças e as relações com elas e

com o universo infantil, o desejo de contribuir para a transformação social por meio de uma educação de qualidade, a influência familiar, além do fato de que por ser um curso de humanidades há maior facilidade em passar nos vestibulares e, ainda, possui um grande campo de atuação. Também alguns alunos assinalaram que a existência de uma instituição de ensino superior pública, a necessidade de trabalhar, tendo em vista as suas condições materiais, contribuem para justificar a escolha pelo curso oferecido nesta instituição em que obtiveram a aprovação no vestibular.

Em estudo desenvolvido por Medeiros (1996) com alunos concluintes do curso de Pedagogia, também é possível encontrar resultados semelhantes para os motivos apresentados quanto à opção profissional pelo curso. Verificou-se que, em ordem de representatividade, as afirmações mais apontadas foram: realização, interesse e identificação com a área educacional; aprofundar conhecimentos e atualizar-se na educação; meio para a transformação social; e gostar de trabalhar com crianças.

Em resposta à pergunta “alguém influenciou em sua opção pelo curso de Pedagogia?”, onze alunas do vespertino e três do noturno mencionaram terem sido influenciadas, sobretudo, pela família – primos(as), pais, tios(as) – e pelo trabalho, uma vez que já atuavam na área da educação. Apenas um concluinte assinalou que um professor de sua escolarização básica influenciou em sua opção pelo magistério.

A existência de professores nas famílias - primas(os), pais e tias(s) - de dezessete alunas do vespertino e nove do noturno, alguns dos quais também influenciaram na escolha do magistério, pode fornecer indicativos de que em processos socializadores de convivência aspectos relativos ao ensino, à aprendizagem e às escolas podem ter sido incorporados ao quadro de referências dessas futuras professoras. Além da trajetória escolar, a convivência com parentes professores pode reforçar “(...) patrones mentales e creencias sobre la ensenãnza a partir de esa tan larga etapa de observación que experimentan” (MARCELO, VAILLANT, 2009, p. 26) nesse período prolongado de socialização prévia. No caso específico desta pesquisa, não perguntamos sobre a periodicidade do contato com os parentes professores para identificar possíveis implicações na formação desses sistemas de crenças. Essa limitação deve ser considerada por outros estudos que possam ser desenvolvidos, no sentido de incluir esta questão nos instrumentos de pesquisa e, dessa forma, obter dados mais consistentes para discutir as implicações que o contato com parentes professores têm na aquisição de ideias sobre a função docente.

2.3.4 Percepções e considerações dos(as) alunos(as) sobre a formação, o preparo e a