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Marco Antônio Souto-Maior Soledade Júnior, Sheila Valéria Álvares Carvalho, Dariele Melo Santos, Marcus Vinícius Cunha

Bispo, Itamara Bomfim Gois, Heloisa Oliveira dos Santos e Renata Silva-Mann

No Estado de Sergipe o uso das espécies junco (Scirpus sp.) e ouri- curi (Syagrus sp.) como matéria-prima para o artesanato é alternativa de renda para dezenas de famílias em algumas comunidades costeiras.

No caso das comunidades Aguilhadas e Alagamar, no Muni- cípio de Pirambu, o extrativismo do junco e do ouricuri são im- portantes para as populações locais, que as utilizam há décadas, para a confecção de artesanato. Esta atividade tem sido uma importante fonte de renda para dezenas de famílias, que comer- cializam estes produtos em centros urbanos como Aracaju.

Apesar de Franco (1956) citar que uma das mais extensas áreas cobertas no estado de Sergipe, pelo junco (Scirpus sp.), se encontra na foz do rio Japaratuba, a pressão sobre a espécie, seja de forma direta (extrativismo para fins econômicos) ou indireta sobre o ecossistema de várzeas (poluição e desmatamento decor- rente do aumento do fluxo de turistas; falta de infraestrutura de saneamento básico; monocultura do coco), pode comprometer uma das principais alternativas de renda destas populações.

Existem muitas controvérsias acerca do uso da terra para manter os ecossistemas de várzeas. No caso da região drenada pelas bacias dos rios São Francisco e Japaratuba as atividades agropecuárias utilizadas, rizicultura, coco e pecuária extensiva, têm causado sérios impactos sócio-econômicos e ambientais que aparentemente acabam sendo prejudiciais para a manu- tenção destes ecossistemas muito mais do que a atividade ex- trativista realizada pelas populações locais.

Assim pretende-se analisar a importância sócio-econômica do extrativismo do junco (Scirpus sp.) e do ouricuri (Syagrus sp.) nos povoados Aguilhadas e Alagamar - municípios de Pirambu.

Caracterização da área de estudo

O município de Pirambu está localizado a 30 km de Araca- ju, fazendo fronteira a Leste com o Oceano Atlântico, a Norte com o município de Pacatuba, a Oeste com Japaratuba e a Sul com o rio Japaratuba.

Com uma população estimada em 8.227 habitantes e com uma área de 218 km², o município se insere no Bioma Mata Atlântica e integra a microrregião do Vale do Japaratuba e a mesorregião leste de Sergipe. Suas principais atividades eco- nômicas são a agricultura, a pesca, o turismo a e extração de petróleo e gás (BRASIL-IBGE, 2007). Vale ressaltar que a Re- serva Biológica de Santa Isabel (REBIO) está demarcada no litoral norte sergipano, inserida nos municípios de Pirambu e Pacatuba. A REBIO foi criada com o intuito de proteger o maior sítio reprodutivo da menor tartaruga marinha, a Oliva (Lepidochelys olivacea), e os ecossistemas dunares.

USOS

A sede do Projeto TAMAR e o Centro de Visitação en- contram-se no município de Pirambu. No setor artesanal, os povoados Aguilhadas e Alagamar merecem destaque na pro- dução de trançados e cestarias, a partir do extrativismo da fi- bra do junco (Scirpus sp.) e da palha do ouricuri (Syagrus sp).

O povoado Aguilhadas

O nome desse povoado surgiu de um instrumento pon- tiagudo utilizado para tanger ruminantes. Está localizado a 4 km da sede do município e possui duas rodovias estaduais. A primeira que corta o povoado é a rodovia SE-226, asfaltada, que começa após a ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros, cor- tando a sede Pirambu e ligando à rodovia federal BR-101, passando antes por Japaratuba; e a rodovia estadual SE-100, de terra batida, que faz parte da linha-verde, integrando todo o Nordeste pelo litoral.

Possui uma escola de nível médio, cujo nome é atribuído à avó de um ex-prefeito, Laudelina Ferreira, possui também uma igreja católica, um posto de saúde, um cemitério, um centro comunitário, um campo de futebol.

No povoado há uma fonte de água potável (um chafariz), que abastece a residência dos moradores sem nenhum custo adicional. Existem duas casas de farinha, uma atualmente de- sativada e outra em pleno funcionamento.

No primeiro final de semana do ano é comemorado o dia da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, onde é celebrada uma festa religiosa. Suas principais atividades são a agricultura de sub- sistência e o artesanato do junco, sendo este povoado o principal produtor de esteiras do estado de Sergipe (PETROBRAS, 2004).

Atualmente o povoado possui aproximadamente 1.100 moradores (TRE informação pessoal, 2004), e cerca de 30 fa- mílias declaram praticar o extrativismo como principal ativi- dade, tirando daí o essencial para o seu sustento. Vale ressaltar que o povoado encontra-se no entorno da REBIO.

O povoado Alagamar

O povoado Alagamar está localizado a 31 km do município de Pirambu e possui em torno de 532 moradores (Figura 21).

Figura 21. Vista do povoado Alagamar, Pirambu, Sergipe.

Possui uma igreja católica, uma casa de farinha comunitá- ria, uma cooperativa agrícola, uma escola de básico, um cam- po de futebol, um posto telefônico e está às margens do rio Betume, afluente do rio São Francisco.

O povoado Alagamar possui como diferencial, duas comu- nidades que são: uma remanescente quilombola e um assenta-

USOS

mento de reforma agrária, instalado há mais de vinte anos por um pároco da região, que comprou e doou terras às pessoas do município vizinho de Japaratuba.

Assim, como o povoado Aguilhadas, Alagamar também se en- contra no entorno da REBIO. Nos dias 20 e 21 de Janeiro é cele- brada a festa religiosa em homenagem ao padroeiro São Sebastião.

Coleta e análise das informações relacionadas ao extrativismo

A primeira etapa da pesquisa consistiu na coleta de dados secundários referentes às comunidades, bem como contato com as lideranças locais para o levantamento da infra-estruturalocal. Os atores que desenvolvem as atividades extrativistas foram contatados, com base no cadastro do SEBRAE contendo 20 artesãos de Aguilhadas e 25 artesãos de Alagamar. Devido à metodologia proposta neste estudo e a dinâmica adotada pela comunidade, os contatos realizados foram ampliados.

Para a descrição do sistema extrativista, identificação dos con- flitos e conhecimento da cadeia produtiva foi elaborado um ro- teiro de entrevistas do tipo semi-estruturado , modalidade que permite aprofundar os tópicos por meio de questões que emer- gem durante a realização das entrevistas (ALENCAR, 1996).

Foram utilizadas também algumas ferramentas de Diag- nóstico Rápido Participativo de Agroecossistemas (DRPA) como a Caminhada Transversal e elaboração de Mapas (com a função de reconhecimento das áreas de coleta), Calendário Sazonal (para identificação da intensidade e importância da atividade extrativista no decorrer do ano) e Rotina Diária das mulheres que fazem a prática do extrativismo.

Ao todo foram entrevistados 32 extrativistas/artesãos no povoado Aguilhadas e 26 extrativistas/artesãos em Alagamar, o que ultrapassou o número contido no cadastro do SEBRAE. Como não se sabe ao certo o número de pessoas envolvidas com a atividade, optou-se em trabalhar com uma amostra não probabilística do tipo intencional, onde os entrevistados são selecionados em função da atividade exercida (extrativistas/ artesãos) e pela disponibilidade em fornecer as informações para esta pesquisa.

Convém ressaltar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou o Censo Agropecuário nos povo- ados e não constou como pergunta no questionário digital, a prática do extrativismo da fibra do Junco (Scirpus sp.) e da pa- lha do Ouricuri (Syagrus sp.), o que comprova que o próprio órgão público federal não dá a devida importância para esse tipo de atividade geradora de renda.

Para a análise dos dados utilizou-se da técnica de triangula- ção que tem por objetivo básico abranger a máxima amplitude na descrição, explicação e compreensão do foco em estudo (TRIVIÑOS, 1987). O estudo foi desenvolvido em interação dinâmica, retroalimentando-se e reformulando-se constante- mente. Os dados coletados num primeiro momento sofreram uma primeira análise e interpretação no campo, o que permi- tiu identificar novos aspectos considerados importantes para o esclarecimento da pesquisa.

USOS

Análise de diversidade genética

Localização e amostragem dos Juncais

Um dos grandes desafios atuais é conservar e entender a diversidade genética das espécies de importância econômica, principalmente aquelas usadas no extrativismo. Estudo de ca- racterização da diversidade podem auxiliar na conservação da biodiversidade, bem como auxiliar na obtenção de materiais melhorados, que atendam as indicações de melhoramento de forma participativa, junto com as comunidades que fazem uso destes recursos genéticos.

Desta forma, a oportunidade de caracterizar a diversidade presente em juncais pode contribuir para o conhecimento desta espécie nestas áreas. Assim, foram realizadas coletas de material vegetal de cinco juncais localizados no povoado Aguilhadas (Pi- rambu), tendo como base as atividades de extrativismo exerci- das na área. Destas quatro foram georeferenciados.

O tamanho amostral foi de cinco hastes em cada juncal escolhidas aleatoriamente e equidistantes para obtenção de DNA por área. Pois, Scirpus sp. é uma planta que tem como estratégias a reprodução por clones vegetativos, que crescem de um rizoma em comum.

Extração de DNA

A extração de DNA foi realizada de acordo com o proto- colo descrito por Nienhuis et al. (1995), com modificações.

Condições de Amplificação do DNA genômico

As reações de RAPD foram baseadas no método descrito por Willians et al. (1990), usando oligonucleotídeos de dez bases com sequência arbitrária, sendo as reações otimizadas para obtenção de produtos de amplificação de melhor qualidade. Foram empre- gados 14 oligonucleotídeos para a geração de polimorfismo.

As reações de amplificação foram conduzidas em termoci- clador Uniscience Biometra Tpersonal, com volume de 13µL. Os produtos da amplificação foram separados por eletrofo- rese em cuba horizontal, utilizando-se gel de agarose 1% em tampão TBE 0,5X (0,045M Tris-borato e 0,001 M de EDTA), a 100 V por 60 minutos. Em seguida, o gel foi corado com

brometo de etídio (0,5µgmL-1) por 10-15 minutos e os pro-

dutos da amplificação foram visualizados sob luz ultravioleta.

Análise dos dados RAPD

Nas avaliações visuais dos géis a presença (1) e a ausência de bandas (0) foram usadas para a construção de uma matriz binária. As bandas que apresentaram coloração fraca e baixa definição foram descartadas. Com a matriz binária calculou-se a porcentagem de polimorfismo obtido com cada oligonucleotídeo utilizado por meio da fórmula:

100

npb P

nbt

= ×

Onde: P =porcentagem de polimorfismo (ou taxa de polimorfismo);

=

USOS

A estimativa de similaridade genética (Sgij), entre cada par

de indivíduos de junco, foi calculada por meio do coeficiente de Jaccard empregando o programa NTSYS pc2.1. (ROHLF, 2000). As similaridades obtidas foram calculadas empregan- do-se a seguinte expressão:

Sgij = a/a+b+c

Onde:a =número de casos em que ocorre a presença da banda em ambos

os indivíduos, simultaneamente;b=número de casos em que ocorre a

presença da banda somente no indivíduo i;c =número de casos em que

ocorre a presença da banda somente no indivíduo j;

Os erros associados a cada distância foram estimados se- gundo Skroch et al. (1992), pela seguinte expressão:

) 1 ( ) 1 ( . − − = n d d n V

Onde: V =Variância da distância genética entre cada par de indivíduos;

=

n número total de bandas utilizadas na estimativa da distância genética;

=

d Distância genética entre cada par de indivíduos.

O erro padrão estimado = 2

1       n V .

A representação simplificada das similaridades foi reali- zada por meio da construção de dendrograma pelo método de agrupamento UPGMA (Unweighted Pair-Group Method

Arithmetic Average) (SNEATH & SOKAL, 1973), utilizando o programa NTSYS pc2.1 (ROHLF, 2000).

O sistema extrativista do junco (Scirpus sp.) no povoado

Aguilhadas

A coleta do junco depende das condições climáticas como a umidade do ar e a previsão do tempo, consequentemente depende da estação do ano e tabela de maré. Evita-se coletar o junco em dias úmidos ou chuvosos, devido à suscetibilida- de deste a certos fungos que propiciam o que é denominado pelos extrativistas como “mofo do junco”, desvalorizando ou mesmo inviabilizando a comercialização dos produtos confec- cionados pelos artesãos. A estação ideal para coletar o junco é o verão, pois com o clima quente e seco, observa-se pouca ou nenhuma atividade fúngica.

Os extrativistas utilizam a tabela de maré, pois o junco de- senvolve-se na área de apicum, que sofre influência da variação das marés, ou seja, na linha da maré coincide com o local onde o junco habita fica inundado, impossibilitando seu corte, por isso deve-se priorizar coletar essa espécie na maré vazante ou seca.

Procurando entender como a atividade extrativista se comple- menta a outras atividades econômicas e de subsistência, obteve-se por meio do calendário sazonal, um panorama de como os atores envolvidos distribuem as atividades no decorrer do ano (Tabela 3).

A coleta do junco é uma atividade sazonal, ocorrida nos meses quentes, do final de agosto a fevereiro, pois segundo os entrevistados, nesses meses o calor inibe a proliferação de manchas na fibra. A sazonalidade contribui para que ocorra um período de espera de 10 a 12 meses em cada local (lotes

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arrendados), o que propicia a rebrota e florescimento da plan- ta. Nesse período, que coincide com as chuvas, o junco cresce e pode alcançar entre três a quatro metros, altura propícia para novo corte e ideal na confecção do artesanato. A atividade artesã é realizada durante todo o ano, pois o material é arma- zenado e trabalhado conforme a demanda.

Tabela 3. Calendário sazonal das atividades econômicas dos extrativistas, Povoado Aguilhadas- Pirambu, Sergipe.

ATIVIDADES J F M A M J J A S O N D

Cortar junco X X X X X X X

Trabalha com junco X X X X X X X X X X X X

Pesca camarão (água doce) X X X X X Planta roça X X X X X Colhe roça X Coleta mangaba X X X X X X X X X Coleta manga X X X X X X Descasca coco X X X X X X X X X X X X Pesca peixe X X X X X X X X X X X X

A coleta do junco é realizada alternadamente com a agri- cultura de subsistência, realizada no período das chuvas, com base nas culturas do milho, feijão e mandioca. Estes cultivos são realizados nas terras de fazendeiros que disponibilizam áreas. Os extrativistas afirmaram que é vantajoso para os fa- zendeiros cederem tais terras para o cultivo, pois contribui para os tratos culturais do coqueiro. Enquanto se faz a prática da agricultura, ocorre a capina e adubação (como, por exem- plo, a fixação de nitrogênio pelo feijão), além de ao mesmo tempo a mão-de-obra ser utilizada para a coleta do coco, que

os homens acabam lucrando em torno de R$0,50 (cinquenta centavos) para quem sobe no coqueiro e R$ 0,05 (cinco cen- tavos) por coco descascado.

Um homem consegue cortar de 500 a 1.000 cocos por dia, enquanto que o “tirador”, nome designado para quem sobe no coqueiro, limpa de 130 a 150 árvores por dia, dependendo de alguns fatores como altura, produção, quantidade de palhas se- cas do coqueiro e inclusive do clima. Cem unidades de coco seco descascado é comercializado pelos proprietários de terras a atravessadores por R$ 55,00 (cinquenta e cinco reais). Pode-se afirmar que o corte do junco, o cultivo da roça e a coleta e corte do coco são atividades predominantemente masculinas.

Além do junco, existem outras atividades consideradas ex- trativistas para ambos os sexos, como a coleta da mangaba

(Hancornia speciosa), que ocorre no período de dezembro a

agosto, e cujo valor obtido com a venda direta ao consumidor é de, aproximadamente, R$ 2,00 (dois reais) por litro. A cole- ta de manga (Mangifera indica), acontece nos meses do verão e inverno, pois o povoado é rico na diversidade desta espécie, vulgarmente conhecidas como manga maria, espada e rosa, que são negociadas no comércio local, com preços que variam de R$0,10 (dez centavos) a R$0,25 (vinte e cinco centavos), a depender da espécie e da demanda. A pesca artesanal de peixes é uma pratica realizada durante todo o ano, e a pesca de camarões de água doce, ocorre no período das chuvas, que inicia em março e termina em julho. Convém ressaltar que o povoado está localizado às margens do rio Japaratuba, local onde a pesca é realizada.

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Observou-se durante a construção do croqui com morado- res do povoado Aguilhadas, o grupo optou por centralizar a antiga casa de farinha, provavelmente por se tratar de um lo- cal de uso coletivo, onde se processava a farinha de mandioca do povoado, porém o antigo imóvel encontra-se desativado. Ainda com relação à infra-estrutura, onde se localiza a praça, a igreja católica, o posto de saúde “João Dórea”, o chafariz, o centro comunitário, um mercadinho, o bar de Tonha, a escola de nível fundamental, o campo de futebol e as estradas esta- duais SE-266, asfaltada, que liga Aracaju à BR-101, passando por Japaratuba, e a rodovia SE-100, de terra batida, que segue pelo litoral norte, circundando a REBIO, até a margem direi- ta do Baixo Rio São Francisco.

Os moradores, por meio de desenhos apresentaram um povoado rico em frutas como banana, acerola, coco-da-baía, manga, mangaba e outras, que abastecem a sede do muni- cípio. Nota-se o destaque no desenho atribuído ao tamanho do ruminante, fato este relacionado diretamente ao nome do povoado “Aguilhadas” e a atividade agropecuária, que forne- ce carne, leite e seus derivados à população do Município. Os moradores participantes da atividade desenharam o Rio Japaratuba e indicaram os locais de coleta do junco, como o sítio de Baí, o Mero e a flexeira, este último pertencente ao município de Santo Amaro das Brotas, onde faz-se necessário o uso de embarcações para atravessar o leito do rio para a co- leta do junco. Nota-se também o potencial da pesca amadora, demonstrada pelo pescador em sua canoa.

Quando existe uma interação entre o pesquisador e a co- munidade local torna-se clara a percepção e interpretação o mapa da comunidade e os anseios dos seus moradores, como

por exemplo, a centralização da antiga casa de farinha, que revela o desejo dos agricultores de reativá-la, devido à locali- zação da nova casa de farinha que foi construída distante do centro do povoado; a praça, local de encontros e namoros; a igreja católica foi citada devido à maioria pertencer a esta re- ligião; o posto de saúde, local de atendimento médico, apesar de funcionar precariamente e em poucos dias da semana, tem uma importância fundamental no tratamento de doenças; o chafariz fornece água gratuitamente para os moradores; o Centro Comunitário é o local das reuniões e festas nos finais de semana; o mercadinho é o local das compras emergenciais devido aos preços exorbitantes e crédito local; o bar de Tonha é o local das farras e bebidas; a escola é diretamente ligada à educação dos filhos dos moradores; o campo de futebol é o lo- cal de lazer; e as estradas que são os acessos de entrada e saída de pessoas e materiais ao povoado.

A escolha do juncal segue rigorosos critérios de avaliação para determinar sua viabilidade, pois depende da distância percorrida, do tamanho médio do pseudocaule (acima dos dois metros), do acesso ao juncal, da quantidade, das condições fenotípicas (seco ou verde), e se está limpo, ou seja, sem plantas invasoras.

A distância entre o povoado e o juncal mais próximo está em torno de 2 km. Neste estudo foram identificados quatro juncais, com os repectivos nomes: Sítio de Baí, Mero, Flexeira e Pedra que também foram desenhados pelos moradores.

Os materiais empregados na coleta do junco são: um facão amolado para realizar o corte, palhas de ouricuri para amarrar o junco em porções ou molhes, pois são resistentes e existe bastante na região (fácil obtenção), e uma carroça, ou trator, para o transporte do material coletado.

USOS

O corte do junco é feito na base (Figura 22), preservando um “toco” de aproximadamente cinco centímetros de comprimento, no sentido transversal (ou de bissel), pois segundo os coletores facilita a rebrota e não promove acúmulo de água nesta região.

Figura 22. O corte do junco é realizado a 5 cm da base.

Três ou mais pessoas são necessárias para realizar essa ati- vidade (Figura 23). Enquanto o cortador realiza sua tarefa, os catadores selecionam o material cortado, separando os pseu- docaules que serão utilizados, verdes e grandes, dos secos e pequenos que não servem para confeccionar os artesanatos e são deixados “in loco” servindo de adubo ao solo.

Figura 23. A atividade é realizada em grupos.

Com relação à segurança no trabalho, os extrativistas comen- taram que a maioria utiliza equipamentos de proteção individu- al (EPI), como luvas, botas, chapéu, roupa de manga comprida, calça jeans, para se proteger dos raios solares, serpentes e da umidade local. Os extrativistas se queixam das dores de coluna ocasionadas pela posição que o trabalho exige, de corte/coleta e de dores de cabeça devido à exposição ao sol.

O material selecionado é amarrado em “molhes”, (com palhas de ouricuri). Constatou-se que o “molhe” de junco é uma unidade de medida própria da região utilizada para facilitar a comerciali- zação. Um molhe é amarrado conforme o tamanho do braço do catador (Figura 24) e podem variar de 800 a 900 pseudocaules.

USOS Figura 24. Unidade de medida local “molhe” utilizado para comercialização.

Segundo os extrativistas, quando começa o corte do junco em uma área, faz-se necessário voltar a cortar o junco, pelo menos, duas vezes por semana, pois o efeito do vento na bor- dadura do lote é prejudicial, secando o vegetal, o que reduz, consequentemente a quantidade de junco utilizável.

Depois de cortado e selecionado, segue via carroça (Figura

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