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CAPÍTULO I - EMOÇÕES NA SALA DE AULA DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

1.1.3. Na psicologia

Embora o ocidente tenha, ao longo de sua história, conceituado as emoções como algo negativo em oposição à razão iluminadora, acredita-se, por outro lado, que elas incorporam o que há de mais valoroso e característico dos seres humanos. Tal reconhecimento pode ser verificado na recorrência a temas de natureza emocional em obras literárias e religiosas ao longo da história como a de Adão e Eva, versão clássica na cultura ocidental sobre a culpa e a vergonha. Várias passagens da Bíblia enobrecem e cultivam e espírito cooperativo e igualitário de Jesus e chamam atenção para normas de conduta social, que nada mais são que maneiras de se colocar nas relações com outros e com nós mesmos. E o que seria de Sherazade sem sua retórica encantadora que seduzia o sultão por mil e uma noites e evitava seu fim eminentemente trágico? E quantas histórias de amor que envolviam uma mistura de reações negativas e positivas vimos pela história, sem as quais o que seria de Shakespeare?

Mais recentemente, em várias produções cinematográficas, nos vimos no espelho ao sermos comparados a robôs, nos distinguindo desta vez por nossa emoção e não pela razão. De fato, o século XIX viu o despertar de vários movimentos na arte que tinham como objetivo a valorização das emoções, como o romantismo inglês liderado por artistas como William Blake, Mary e Percy Shelley, Colleridge, Byron, dentre outros. Desta maneira, se quisermos saber o que é valorizado pelas pessoas a cada época, basta escutar os temas emocionais nas entrelinhas de suas histórias. Assim, se são as emoções que nos distinguem como humanos, como compreendê-las nas nossas interações sociais cotidianas e na nossa própria compreensão de nós mesmos?

Oatley (2004: 86-87) afirma que a emoção pode ser considerada como nossa língua materna. O choro, por exemplo, é o primeiro sinal de que precisamos de conforto, acolhimento e alimento. Para o autor, estas interações iniciais entre mãe e filho constituem o fundamento do desenvolvimento ontogênico das emoções ao longo de toda vida. Estas primeiras interações emocionais formam a base de processos sociais como a cooperação e a solidariedade, relações amorosas e de amizade, o acolhimento e o prazer na convivência com outros. Oatley (2004: 127-128) argumenta ainda que vários estudos indicam que a falta de um relacionamento acolhedor no início da vida pode colocar uma pessoa em situação de risco

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A esse respeito se dirigir aos seguintes autores, Hardcastle (1999); Freeman e Nuñez (1999); Panksepp (1998, 2000); Cacioppo et al. (2000); Damásio (1994, 1998); LeDoux (1996); Rende (2000), e no campo da aquisição de segunda língua, Schumann (1997, 1999, 2001).

social. Um acolhimento na vida adulta, poderia reparar apenas em parte esta situação. Esta é uma argumentação similar ao pensamento humanista de Maturana e suas idéias sobre a biologia do amor como fundamento dos fenômenos sociais humanos, que utilizo como base de minhas reflexões. Argumentarei que este tipo de relacionamento acolhedor pautado na aceitação recíproca e no respeito mútuo é fundamental para o desenvolvimento de atos cognitivos reflexivos, assim como o processo de transformação na convivência, que é a maneira pela qual Maturana distingue a aprendizagem. Todos os participantes da pesquisa de campo deste estudo relatam a importância de um ambiente relacional acolhedor na confiança e respeito mútuo em que se sintam livres para fazer perguntas, se arriscar no uso da língua e expressar suas opiniões e terem seus sentimentos, desafios, frustrações e sofrimentos compreendidos na reflexão.

Para Oatley e Jenkins (1996: 2), o objetivo contemporâneo da pesquisa sobre as emoções tem como meta principal uma melhor compreensão do papel destas como mediadoras das interações sociais cotidianas sob um enfoque funcionalista, intencional, adaptativo e processual. Compreensões desta natureza tendem a envolver uma descrição de estados ou estruturas individuais que dão suporte às interações num meio de relações. Entretanto, como tendência na tradição, a maioria esmagadora das pesquisas foca a compreensão dos estados internos, como são desenvolvidos e originados nos indivíduos. As interações servem muitas vezes como fonte de insumos para o processo de aquisição ou o simples desabrochar de estados internos inatos e universais. Um dos fundadores do que viria a ser chamado de uma psicologia das emoções é Charles Darwin.

Darwin era atraído pela idéia de que compartilhávamos não só uma estrutura física com outros animais, mas também hábitos comportamentais e de mentalidade. Movido primordialmente pela curiosidade acerca da constância e a diversidade no mundo natural, Darwin elaborou teorias científicas que revolucionaram o pensamento sobre a evolução das espécies, um campo até então fortemente influenciado por abordagens teleológicas e criacionistas. O renomado cientista que propôs a teoria da seleção natural foi um dos primeiros a usar fotografias, desenhos e questionários como recursos metodológicos na pesquisa sobre emoções. Charles Darwin, Willliams James, Walter Hess, John Harlow e Sigmund Freud foram responsáveis por iniciar o tratamento científico das emoções, um trabalho que até então se circunscrevia ao terreno da filosofia.

Publicado em 1872, A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais concentrava notas e observações feitas ao longo de trinta anos por Darwin comparando o comportamento de animais e seres humanos (Darwin, 2000). Usando em sua escrita uma orientação

comportamentalista, Darwin defende a tese de que os animais têm emoções que foram funcionais no seu processo de adaptação ao meio. Como seres humanos, compartilhamos com os animais algumas dessas emoções, embora outras tenham perdido sua função e tenhamos desenvolvido emoções mais complexas do que os animais.

Nesse livro clássico, Darwin demonstra que várias expressões corporais animais se fazem presentes no homem. Estas teriam uma base inata, já que se apresentam em culturas variadas. Darwin chamava esta base de padrão específico da espécie e de comportamentos hereditários. Não estou tão certo quanto à leitura genomicista que Darwin tem hoje. De acordo com a tradição do pensamento ocidental, Darwin supunha que cada emoção manifesta um estado interno distinto com uma expressão pela qual este estado pode ser reconhecido, como uma ação (um pulo), expressão facial (choro), ou transpiração, por exemplo. Portanto, o termo expressão da emoção pressupõe algo interno a ser externalizado, demonstrado e manifestado. Em conformidade com a tradição do pensamento ocidental, da qual Darwin é herdeiro por linhagem, esta concepção corresponde ao conceito difundido de que as emoções são estados internos, corporais/corporalizados ou estados mentais/subjetivos, assim como a idéia de uma substância que pode ser internalizada, externalizada e localizada. Oatley e Jenkins, no entanto, indicam que “algumas implicações desta idéia podem ser enganadoras (cf. Hinde, 1985), mas o termo ficou.”12 Como argumentei na introdução, o conceito de emoção proposto na Biologia do Conhecer oferece um caminho alternativo para tratar esta questão. Retomarei esta discussão no segundo capítulo ao tratar em detalhe a maneira pela qual as emoções podem ser compreendidas à luz da Biologia do Conhecer.

Darwin era um observador perspicaz das transformações dos seres vivos tanto filogeneticamente quanto ontogeneticamente. Para Darwin (2000), o estudo das emoções nos mostra: a) a continuidade de mecanismos comportamentais desenvolvidos na infância e levados à vida adulta; b) uma constância e continuidade entre a vida emocional dos animais e a dos homens, em especial a dos mamíferos; c) a diversidade comportamental entre animais e seres humanos; d) uma descontinuidade na expressão de algumas emoções nos homens; e) a emergência de emoções diferentes nos homens. Para o naturalista, algumas emoções herdadas pelos homens dos animais podem ser expressas sem nenhuma funcionalidade e utilidade significativa. Um exemplo fornecido por Darwin é o arrepiar de cabelos nos homens, que deixaram de expressar raiva e sinalizar o ataque e a defesa de um ser vivo. As emoções eram

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vistas por Darwin como órgãos vestigiais de animais inferiores. Esta concepção que acompanha toda a tradição do pensamento ocidental, como visto na filosofia, por exemplo, é reproduzida de maneira marcante na obra de Darwin. Além disso, as comparações de Darwin também se dão de maneira descontextualizada socioculturalmente.

E como as idéias de Charles Darwin formam a base de estudos modernos em biologia e áreas correlatas, esta concepção ainda se vê bastante presente. Em especial, a emoção como algo primitivo e vestigial se encontra imbricada nos estudos de fisiologia e neurobiologia. Há problemas conceituais sérios aí, do meu ponto de vista, que são decorrentes de crenças arraigadas e verdades inquestionáveis, naturalizadas e ratificadas continuamente ao longo da história. Desta maneira, assim como na tradição do pensamento filosófico ocidental, Darwin tratava as emoções como algo primitivo, um reflexo incontrolável que nos conecta a nossa ancestralidade animal e infantil, como características inimigas da racionalidade. De fato, Darwin acreditava que à medida que evoluíssemos em nossa ontogenia e filogenia, as emoções deixariam de ter muita funcionalidade, principalmente com o progresso tecnológico e científico. Quanto a isto, Oatley e Jenkins (1996: 63) sugerem que Vygotsky (1964) apontou que Darwin argumentava que entre as características psicológicas humanas as emoções eram uma “tribo em extinção”. À medida que a humanidade evolui as emoções vão ser tornando menos proeminentes, o que culminaria com sua extinção.

Darwin foi responsável por inaugurar uma forte corrente nos estudos sobre emoções que argumentam que a face humana é o ponto central da expressão de seis emoções básicas e inatas encontradas universalmente, que incluem a alegria, o interesse, a tristeza, a raiva, o medo e o desgosto (cf. Keltner e Ekman, 2000; Izard e Ackerman, 2000). Debates acalorados e muita controvérsia acerca de dicotomias como natural/cultural, inato/aprendido, universal/cultural, para citar algumas, gira em torno dos conflitos conceituais entre a teoria das emoções básicas/emoções diferenciais e as teorias das emoções componenciais/dinâmicas. Entretanto, ambas as abordagens compartilham arquiteturas conceituais que têm sido duramente criticadas, como a própria insistência na demarcação entre aquilo que é natural/universal/inato e aquilo que é cultural/aprendido/interacional no nosso modo de viver (Magro, 1999; Lewotin, 1991). Além disso, há a hierarquia cognitiva, entre emoções ditas simples, que são comumente aquelas citadas acima, e as emoções complexas, que envolvem as avaliações sobre si próprio e são orientadas a objetos do mundo. Note-se que este último tipo é um legado naturalizado da tradição do pensamento ocidental, com fortes conotações ideológicas e preconceituosas, ratificada e expandida por Darwin. Este distingue um pequeno pacote de emoções simples, que podem ser expressas por homens e por animais, e outras

complexas, que podem ser somente expressadas pelos homens. Darwin (2000) se refere a essa última categoria como as expressões das emoções especiais do homem.

Quanto a esta confusão conceitual gostaria de apontar a maneira pela qual Johnson-Laird e Oatley (2000: 462-467) se dirigem ao tema do natural/social. Segundo os autores há duas posições extremas. Por um lado há aqueles que defendem que as emoções são construções mentais baseadas na vida social e que, portanto, nesta perspectiva sociedades diferentes levam a distintas emoções. Por outro lado, há pesquisadores que argumentam que as emoções são reações inatas de adaptações evolutivas oriunda de nossos ancestrais. Como é comum em propostas complementares (cf. Soares, 2003), os autores argumentam que há emoções básicas que têm uma base inata e universal como felicidade, tristeza, raiva e medo e emoções complexas que incluem as emoções básicas e avaliações cognitivas e sociais. Desta maneira a emoção complexa é ancorada num processo biológico inato e lapidada culturalmente.

Um outro mérito de Darwin foi o de levar a biologia, a psicologia, a etologia, a antropologia, entre outros campos disciplinares a compreender de maneira mais aprofundada e comparativa a vida social, comportamental e afetiva entre mamíferos, com ênfase nos primatas e seres humanos. A tradição do pensamento sobre a evolução das espécies e das emoções é marcada de maneira nevrálgica pelas idéias de Darwin. Segundo Oatley e Jenkins (1996: 93-94) a evolução, através da seleção natural, selecionou padrões de ação comportamental que inicialmente eram chamados de instintos, mas que hoje são amplamente aceitos como características genéticas específicas e especificadoras de cada espécie.

Com a utilização de desenhos, fotografias, observações sistemáticas e respostas a questionários, Darwin demonstrou em seus estudos que emoções como raiva e medo são expressas pelos homens e pelos animais. Esta tradição inaugurada por Darwin tem mostrado ao longo do século XX que compartilhamos de características emocionais fundamentais com os primatas mais próximos, como os chipanzés. Estas semelhanças incluem o acolhimento e o cuidado na infância e na vida adulta, as brincadeiras e o universo lúdico, a interação afetiva e colaborativa em pequenos grupos, empatia e luto na morte, agressão, dominação e hierarquização social e sexualidade. Estas evidências e os estudos sobre evolução humana indicam que a família humana centrada num grupo de crianças, uma mãe e um pai sensualmente conectados foi um diferencial na adaptação humana e no desenvolvimento de emoções adaptativas.

O estilo de vida de caçadores e coletores, que envolvia e ainda envolve uma emocionalidade cooperativa e (con)sensual foi fundamental para a evolução efetiva dos seres

humanos. Para os autores, as emoções nos humanos atuais se tornaram mais específicas, complexas, funcionalistas e intencionais como a sensação de si próprio, a comparação social de si próprio com outros e os relacionamentos afetivos (Oatley e Jenkins, 1996; cap. 2). A meu ver, é exatamente nestas frentes de trabalho que se encontram as produções mais significativas, produtivas e consistentes sobre a inter-relação entre linguagem, emoções, cognição e cultura (cf. Dunbar, 1996; Lutz, 1988; Maturana, 1997, 1998).

Se o livro de Darwin sobre a expressão das emoções e um artigo por ele publicado na revista Mind, acerca do desenvolvimento cognitivo e emocional de seu filho, inauguram o estudo contemporâneo das emoções (cf. Bowlby, 1991), Williams James, contemporâneo de Darwin, intelectual de orientação filosófica pragmática é considerado por muitos como o fundador da psicologia norte-americana (Oatley e Jenkins, 1996; Frijda, 2000). É dele o primeiro artigo, publicado na revista Mind, na tentativa de responder a uma necessidade crescente de conceitualização do termo emoção (James, 1884, 1890). Ao fazer sua mais famosa pergunta: “O que é uma emoção?”, James (1890) sugeriu que a resposta não é tão óbvia quanto parece, embora na vida cotidiana não tenhamos tanta dúvida quanto a esta resposta já que somos peritos em reconhecer o tom emocional de nossas interações e relações (cf. Maturana, 1998). Entretanto, definir o termo é mais difícil do que distinguir situações em que cada emoção aparece. James estava preocupado em entender o que ocorre com o corpo e com nosso meio quando, em determinadas situações corriqueiras, as mãos suam, a boca seca, os olhos se enchem de lágrimas, o rosto esquenta, os lábios tremem e sofremos para nos expressar frente a um determinado público. O psicólogo dinamarquês, Carl Lange (1885), desenvolveu de maneira independente idéias similares às de James. A abordagem desses autores é comumente denominada de Teoria James-Lange sobre as emoções.

Durante anos a psicologia discutiu as idéias de James, tendo como seu principal debatedor Walter Cannon (1927), que queria propor uma abordagem mais centralizadora das emoções. Cannon argumentava que a base do funcionamento das emoções é o cérebro e não o corpo, como James defendia. Porém, com o avanço da teoria psicanalítica, com o advento do behaviorismo norte-americano e a emergência da ortodoxia cognitivista a partir dos anos cinqüenta, as idéias de James, embora usadas na fisiologia, foram sendo marginalizadas gradualmente dos estudos psicológicos sobre as emoções. Desta maneira, creio que as idéias do pragmatista norte-americano quanto às emoções não tiveram a apreciação devida.

Segundo James, a emoção é um sentimento que temos na forma de uma percepção que produzimos das mudanças corporais assim que reagimos a eventos ambientais. Nas palavras do próprio James (1890: 449), “de mudanças corporais segue a percepção de um fato

excitante e o sentimento das mesmas mudanças assim que ocorrem é a emoção” 13. Com esta afirmação, James é muitas vezes compreendido de uma maneira simplificada, como se argumentasse unicamente que as emoções são simples reações corporais. Não estou muito certo quanto a isto. Minha leitura de sua obra parece indicar que sua abordagem sobre as emoções era robusta e inovadora para o que tinha sido proposto até então. Acredito que, ao propor uma abordagem para compreender as emoções, suas causas e reações na conduta, que seja dependente de um corpo situado num espaço interacional, James acaba por aliviar o fardo racionalista até então carregado pelos intelectuais preocupados com a temática. A meu ver, com suas idéias James já antecipa avanços no campo aplicado e teórico da fisiologia, que levariam intelectuais como Antônio Damásio a escrever um livro, cem anos após a divulgação da abordagem de James, como O Erro de Descartes (1994). Mesmo sem mencionar a obra de James diretamente, é certa a similaridade entre suas propostas. Resta imaginar como teria James desenvolvido suas idéias se a história tivesse tomado outros rumos.

A tese central de Damásio (1994) gira em torno da nevrálgica associação de processos emocionais com os processos cognitivos no sistema nervoso central. Em especial é notável sua insistência na indelével conexão entre o córtex frontal, responsável por funções associadas ao pensamento abstrato, conceitual, convenções sociais e o controle e planejamento comportamental em situações socioculturais, e os sistemas límbico e periférico, responsáveis pelas emoções. Notem que Damásio propõe que a percepção de estímulos gera o que define como um estado corporal no sistema nervoso periférico. Segundo o autor (1994: 145), o termo emoção diz respeito às mudanças no estado corporal em resposta a uma situação negativa ou positiva e os sentimentos são a percepção desta mudança. Estas definições são as definições de James, com uma pitada da concepção de emoção como avaliação de Aristóteles, estóicos e tantos outros que o antecederam.

O estado corporal, denominado pelo autor de marcador somático (soma, em grego, quer dizer corpo), é considerado uma emoção, que é comunicada ao cérebro como sentimento. Este sentimento emerge como resultado da sobreposição de percepções de estímulos de uma situação corrente, com imagens armazenadas do mesmo ou de situações similares que a pessoa experimentou no passado. Tal associação é denominada por Damásio (1994) de representação disposicional. Este sentimento é essencialmente uma avaliação da relevância emocional destes estímulos. Esta avaliação, por sua vez, fornece ao sistema nervoso a informação sobre se um dado estímulo é positivo ou negativo e se deve se envolver

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Bodily changes follow directly the perception of the exciting fact and a feeling of the same changes, as they

com ele ou evitá-lo. Quando estímulos freqüentes passam a estar associados com seu marcador somático, seu valor emocional, os estímulos passam a ser representados diretamente no cérebro, não precisando mais de ser processado pelo sistema nervoso periférico. A partir daí, o corpo pode perceber as emoções sem ter que necessariamente estar imerso novamente na situação que a gerou. Como veremos adiante, esta abordagem de Damásio (1994) e de contemporâneos como LeDoux (1996), assim como as idéias expostas sobre a tradição que os antecede formam a base para a única perspectiva neurobiológica corrente na pesquisa sobre aquisição de segunda língua (Schumann, 1994, 1997, 1999).

Vejam que, de acordo com Williams James, podemos perceber o objeto do medo, o fato excitante, como o aparecimento de um urso – exemplo fornecido por James, e aí a emoção é a percepção de mudanças no corpo ao reagir ao fato. A emoção do medo é o sentimento de tremer, correr, enfrentar o urso, e assim por diante. A emoção é o sentimento das respostas corporais que percebemos. James estava interessado em entender como as emoções nos movem e nos guiam corporalmente no fluir de nossas interações com outros no viver, e como algumas delas transformam o corpo através da transpiração, da tremedeira, da risada e do choro descontrolados, do rubor, da taquicardia, do bloqueio da ação e da fala, entre tantas outras mudanças corporais. Este último interesse era similar ao de Darwin, porém a maneira como viam a questão do corpo na interação era bastante distinta. Devo explorar esta questão em maior detalhe ao expor o conjunto de idéias da Biologia do Conhecer sobre as emoções, linguagem e cognição na seção 2.6 desta tese.

James enfatizava a corporalidade das emoções e o sistema autonômico, que envolve a raiva e a ansiedade, por exemplo, mostrando como elas dão cor e calor para o comportamento e para a experiência (Oatley e Jenkins, 1996: 3-5; Solomon, 2000; Frijda, 2000). Esta tem implicações para propor uma sintomática de expressões corporais que nos ajudam a distinguir