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2.2 O NEOLIBERALISMO NO CONTEXTO DE REORGANIZAÇÃO DO

2.2.1 Neoliberalismo no Brasil

No Brasil o neoliberalismo encontrou campo fértil para proliferar, sustentado evidentemente pela elite brasileira, interessada não apenas no processo produtivo, mas também no domínio político e na manutenção do poder. Um país de profundas contradições e contrastes, imerso em uma imensa crise econômica, em um cenário caótico em que havia um desencantamento generalizado em relação às ideologias combativas, entre tantos outros problemas, foi solo fértil para a implementação da ideologia neoliberal sem grandes resistências.

No caso brasileiro, o neoliberalismo ganha uma especial complexidade e assume algumas particularidades, em uma sociedade que teve seu desenvolvimento dependente em relação aos países centrais e aos interesses das classes detentoras do poder. Uma análise rápida do processo supõe considerar que, logo após a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos buscam se colocar como poder econômico absoluto em oposição a União Soviética. O Brasil, nos anos 1961-64, não se colocava como aliado dos americanos e buscava construir um projeto de desenvolvimento nacionalista, até que o golpe militar de 1964 muda essa configuração.

O modelo de desenvolvimento, implantado autoritariamente durante a última ditadura militar brasileira, apoiava-se no fortalecimento do papel do Estado, no endividamento externo, na substituição das importações, na instalação de

multinacionais atendendo a demanda de mercado interno e na manutenção de superávits na balança comercial, em que a exportação de produtos agrícolas desempenhou um importante papel. Segundo MANCE (1999), a dívida externa que era de US$ 3 bilhões em 1964, no início da ditadura, passou a US$ 81,5 bilhões ao seu final, em 1985.

O governo militar endivida-se para levar a cabo sua política de crescimento econômico e social, o chamado “milagre econômico” que, agravada com a crise do petróleo, acabará por consolidar uma outra política para os países periféricos no que tange à questão de suas dívidas com o Banco Mundial e o FMI. A elevação das taxas de juros35 agravou ainda mais a situação dos países pobres, como no caso do Brasil, com os números da dívida chegando a índices impagáveis. Para viabilizar o pagamento da dívida, herdada em grande parte do regime militar, a alternativa foi o corte dos gastos públicos, as privatizações de estatais e a abertura econômica. O processo inicia-se ainda no Governo Militar de Ernesto Geisel, se prolongando até os dias de hoje, com períodos mais ou menos acentuados.

No pós-guerra a economia do país registrou um histórico crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em média de 7% ao ano até a década de 1980, tendo o PIB por habitante crescido quatro vezes no período (Folha de São Paulo, 1998: 2- 14). Por outro lado, na década de 1980 o Brasil ficou estagnado, razão pela qual esse período ficou conhecido como a “década perdida”, em função de uma grande crise na economia brasileira que perde competitividade. Para tentar manter posições no comércio exterior utiliza-se de uma política interna de arrocho salarial e desvalorização da moeda nacional. Essas ações agravam a situação econômica e

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As taxas de juros no fim da década de 60 de 4,5% saltaram para 21,5%, tendo em vista o combate à inflação nos países ricos, a dívida externa brasileira elevou-se a valores estratosféricos. Somente de 1975 a 1990 o Brasil pagou US$ 100 bilhões de juros e serviços, mas a dívida que era de US$ 25 bilhões em 1975 passou a US$ 115 bilhões em 1989 e a US$ 159 bilhões em 1995. De 1994 até 1998 o país pagou US$ 62 bilhões de dólares em

social do país, e o Estado, na tentativa de reverter as altas taxas inflacionárias, cria sucessivos planos anti-inflacionários que fracassaram um após o outro.

MANCE (1999:10) destacou ainda que, no período de 1975 a 1985 ocorreu um fortalecimento da sociedade civil em contraposição ao Estado autoritário. Vão emergindo e radicalizando-se movimentos eclesiais que lutam por justiça social

,

movimentos populares, oposições partidárias e sindicais combativas e organizações não-governamentais, em particular, os centros de defesa dos direitos humanos e organizações voltadas à educação popular. Esses movimentos ganham força política surgindo grandes mobilizações, como as que se articularam em torno da luta pela anistia e pelas eleições diretas para presidente.

As tentativas para conter a inflação a partir de diversos planos econômicos desenvolvidos pelo governo José Sarney (1985-1989) não se mostraram eficazes.36 Esse período ficou conhecido como “Nova República”, em que se buscou ajustar internamente a economia com o menor custo social possível. Neste sentido, inicia-se um amplo processo de debate sobre a redução do Estado, privatizações e o combate à inflação reduzindo gastos públicos37. Esse governo pode ser

juros e serviços da dívida externa. (Folha de São Paulo, 14-11-98, pg. 2-14).

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- O Governo neste período adota medidas de controle da inflação e quedas de juros, com indexação da economia. O Plano Cruzado congelou preços e salários, possibilitou a cobrança de ágio nos produtos como forma de burlar os preços estabelecidos pelo governo, e estabeleceu gatilhos salariais. Tentando garantir a correção dos salários quando a taxa de inflação acumulada fosse de 20%, o governo desenvolve forma de salvar as instituições financeiras que vivem uma grande crise. Alguns autores analisam que o Plano Cruzado foi um “estelionato eleitoral”, que demonstrava a falta de seriedade da política econômica do governo frente às condições de competitividade da economia mundial e as condições de vida das classes trabalhadoras. O Plano Cruzado II promove uma tributação mais pesada, com um conjunto de medidas econômicas do governo que, por sua vez, apresentou dificuldade em elevar o nível de reservas internacionais, tendo como desfecho a moratória da divida externa em 1987. (COSTA, 1994: 324 - 332) Plano Brasil Novo, lançando o que veio a ser chamada de uma agenda ‘neoliberal' que se seguiu ao consenso de Washington. O Plano tinha por objetivo combater a inflação, reduzir o déficit público e abrir caminho para a modernização e liberalização econômica do país. Entre as principais medidas adotadas estavam a extinção e privatização de empresas estatais; a demissão de funcionários públicos; a elevação de impostos e o fim dos subsídios à exportação; a reintrodução do cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao cruzado novo; o congelamento de preços e salários e a aceleração da liberalização comercial.

37 (...) o déficit público não era um simples problema administrativo. Foi em função do declínio da arrecadação

tributária e do montante dos juros da dívida publica que o déficit público foi ampliado, para se ter uma idéia, de 10,2% do PIB (1980), a receita tributária liquida passou a 5,4%, em 1984. (CINQUETTI, 1992:93).

caracterizado como um início da transição do autoritarismo estatal para o liberal “mas, não foi essencialmente nem uma coisa nem outra. Seu ‘liberalismo’ que atingiu a esfera política e ensaiou os primeiros passos no campo econômico, efetivou-se praticamente como um regime de caráter populista com forte intervenção estatal” (MANCE, 1999:11).

No aspecto político, a década de 1980 foi marcada pelo trabalho da Assembléia Nacional Constituinte, que resultou na Constituição Federal de 1988 que tentou garantir por meios legais o Estado de Direito no Brasil. A promulgação dessa Carta Constitucional foi também resultado de uma ampla mobilização da população e dos movimentos sociais. “O exercício democrático passava a fazer parte do cotidiano do país e as discussões sobre cidadania, direitos sociais e civis ganhavam espaços nas propostas de emendas constitucionais”38 (COSTA, 1994: 339).

Paradoxalmente a “constituição cidadã”, como ficou conhecida a Constituição Federal de 1988, criou uma série de benefícios sociais ampliando a responsabilidade do Estado em meio a um contexto de sucateamento da estrutura pública, ondas privativistas e internacionalização da economia, terceirização do trabalho por parte do empresariado brasileiro e estratégias para atrair investimentos estrangeiros modernizando a economia.

A campanha eleitoral que levou Collor ao poder em 1989 representou um fenômeno político peculiar no Brasil, pois a disputa acirrada em dois turnos colocava às claras duas propostas antagônicas e duas formas de governar o país. Saiu vitoriosa a proposta de modernização do país com a redução interventiva do Estado e liberdade do mercado auto-regulado.

título: Latin American Adjustment: How Much Has Happened. Participaram desse evento altos funcionários do governo e organismo de financiamento mundial (Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e o Banco Interamericano de Desenvolvimento). Segundo BATISTA (1994:46) as conclusões desse encontro acadêmico, que não possuía caráter deliberativo, passaram a ser denominadas informalmente de Consenso de Washington. Elas ratificam a proposta neoliberal como condição necessária para que qualquer país pudesse receber cooperação financeira.

As propostas apresentadas pelo Consenso de Washington literalmente orientam o governo Collor no Brasil e demais países na América Latina que, segundo BATISTA (1994: 48-50), leva em conta os seguintes pontos: a necessidade de privatizações para equilibrar as contas governamentais, reduzindo impostos sobre as empresas, estendendo a tributação para aqueles isentos de pagamentos de impostos. Outro ponto a ser considerado é o fim do protecionismo de mercado, abrindo-se as importações e investimentos estrangeiros e, finalmente, a utilização de uma “âncora externa”, à qual a moeda nacional poderia estar vinculada à dolarização para a estabilização econômica.

A posse de Fernando Collor de Mello como presidente, em 15 de março de 1990, representou um ponto de mutação. O presidente introduziu um vigoroso programa de reformas estruturais, fazendo das políticas econômicas neoliberais de centro-direita as armas para combater a crise causada pelas instituições políticas e econômicas herdadas da Era Vargas.

Após uma agressiva campanha, prometeu criar uma nova ordem política e econômica para o Brasil. Seu primeiro ato foi implantar um liberalismo de orientação

mercadológica, politicamente temperada por preceitos social-democratas, em que pese à contradição entre o discurso de posse lançando o liberalismo social, e o elevado intervencionismo econômico contido no subseqüente Plano Collor.

Collor estava determinado a realizar um audacioso programa de privatização das empresas estatais e atacar a inflação em sua raiz. Como estratégia de combate à inflação de mais de 70% ao mês e à desordem econômica deixada pelo governo Sarney, editará a Medida Provisória 155,39 de 15 de março de 1990. Com isso, Collor implementou um ousado plano, congelando a maior parte dos depósitos bancários, assim como salários e preços, o que causou efeitos imediatos e adversos na atividade econômica. Tais restrições econômicas foram logo suspensas, e as reformas adicionais foram desaceleradas. Em conseqüência, as restrições de preço também foram eliminadas e a inflação voltou, desta vez a uma taxa anual muito maior devido à débil política monetária do governo. A administração Collor respondeu com o Plano Collor II, uma desesperada tentativa de retomar o controle da inflação desenfreada.

Fernando Collor de Mello foi um político brasileiro sem grande expressão, que chegou à presidência com um discurso que mesclava populismo, neoliberalismo e social democracia. Inaugura seu governo com um plano de estabilização fiscal, “de modo unilateral a reforma econômica seria imposta à sociedade e ganharia a forma de ultimato: para derrubar a inflação, tudo seria admissível até mesmo a ignorância das leis do país e o abuso na utilização das inconstitucionais medidas provisórias” (NOGUEIRA, 1998:131). Em um dos seus discursos, proferido em nove de maio de 1990, Collor afirma que “a modernização econômica do país não poderia prescindir de uma profunda reforma do Estado”. Neste sentido o tema do Estado ganha novamente

forte representação nos trabalhos do Congresso constituinte.

39 Medida Provisória 155 /1990 e reapresentada em 2003: trata da reordenação do plano de cargos e salários que tem como objetivos regular os valores das gratificações dos cargos comissionais dos prestadores de serviços nos órgãos do Estados.

destaque, só que agora com um caráter de reforma neoliberal, de corte privatizante e desregulamentador.

Sinteticamente, pode-se resumir o governo Collor como um período de grande confusão expressado inclusive nos discursos do presidente, em que mesclava negócios de Estado com questões de família, não diferenciando a reforma administrativa da reforma do Estado, como se o Estado pudesse se resumir à mera questão burocrática governamental, suprimindo dessa relação o povo, o território, o processo histórico e político. Desse modo reforçou-se a lógica do Estado causador da crise como se esse fosse uma entidade autônoma da sociedade. “Collor encarnaria como nenhum outro uma vertente oca do reformismo. Teatral e irresponsável na sua veemência indignada, na sua audácia demolidora e na sua combatividade manipuladora. Poria em curso um reformismo condenado a não se realizar: incapacitado para vencer” (NOGUEIRA, 1998: 138).

O impedimento de Collor, que ocorreu em 1992, em função do processo de corrupção que se instalou em seu governo, obriga as elites a reagruparem suas forças para a manutenção do projeto neoliberal. Para tanto se unem em torno da garantia de permanência de Itamar Franco (vice-presidente de Fernando Collor). Neste cenário o país se entrega às tentativas de estabilizar a economia e conter a inflação, as atenções se voltam para a reforma política em função de um plebiscito40 previsto pela Constituição Federal que aconteceu em abril de 1993. A resposta das urnas foi pela manutenção do presidencialismo, contudo esse sistema de governo encontrava-se ameaçado, pois a população exigia a reforma política iniciada em meados dos anos de 1980.

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A Constituição Federal de 1988 embutiu um dispositivo revisional e um plebiscito sobre a forma de governo. Contribuiu ainda para uma discussão absolutamente extemporânea entre presidencialismo versus parlamentarismo, surgindo no debate também a estapafúrdia idéia de monarquia. O plebiscito não trouxe nenhum avanço político, sendo que as campanhas foram esvaziadas de discussões políticas.

Com o governo Itamar Franco a sensação de ingovernabilidade cresce. “É verdade, há uma sensação de paradeira. Mas, o governo não está parado, está imobilizado pela sociabilidade em dissolução. Dissolução que começa pela negativa da classe proprietária em cumprir seu papel estratégico na reprodução da sociedade, passa pela privatização do Estado e termina na transformação do congresso numa casa de interesses” (BELLUZZO, 1992:29).

O governo de Itamar Franco não alterou o cenário já anteriormente configurado, manteve as taxas de juros elevadas e combateu o déficit público a partir do corte dos investimentos, principalmente nas áreas de saúde e educação41, precarizando ainda mais os serviços prestados pelo Estado, uma vez que a Carta Constitucional colocou a universalização dos direitos ampliando o número de usuários, beneficiários e demandantes de programas governamentais.

Itamar Franco teve quatro ministros da fazenda no período de oito meses, até que finalmente indicou para o cargo Fernando Henrique Cardoso (junho de 1993). Cardoso foi o criador do Plano Real, que oficialmente entrou em vigor em 1º de julho de 1994. Embora algumas de suas medidas tenham sido introduzidas gradativamente depois da posse de Cardoso como ministro, o Plano Real mudou o futuro do País, tanto política quanto economicamente.

A política econômica de Fernando Henrique Cardoso (FHC), o promoveu ao mais alto cargo do país, garantindo-lhe uma vitória fácil ainda em primeiro turno, em outubro de 1994. Em janeiro de 1995, FHC tinha conseguido atingir o objetivo do Plano Real42 que era de estabilizar os preços.

41 Os cortes nos gastos governamentais atingem as políticas públicas. Em 1988 e 1989, antes de o programa de

privatizações iniciar, o governo federal gastava mais com saúde e educação. Em 1988, foram destinados US$ 18,9 bilhões para essas áreas, ao passo que em 1989 foram US$ 19,8 bilhões. Em 1995, contudo, o governo gastou US$ 17,8 bilhões com educação e saúde (Folha de São Paulo, 3-3-96, p.1-17).

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O próprio êxito do plano real, enquanto instrumento antiinflacionário, suscitou condições inteiramente novas para o enfrentamento dos problemas econômicos, a partir de 1995. FHC presidente pôde se aproveitar dessas condições para redefinir a inserção do país no processo de globalização e a delimitação de atividades entre o setor público e privado na esfera da união (...) (SINGER, 1999: 26).

Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, ganha força a proposta de reforma do Estado que, segundo MANCE (1999:12), se daria em quatro grandes frentes: Reforma da Previdência: alterando os critérios para aposentadoria por tempo de serviço, diminuindo os gastos com benefícios; Reforma Tributária e Fiscal: amplia a arrecadação pelo aumento da base tributária e reduz impostos sobre as empresas; Reforma Econômica: privatiza empresas e serviços estatais; e a Reforma

Política: aprova reeleição para presidente, governadores e prefeitos, reduzindo as

atribuições do Estado, promovendo uma reforma eleitoral com a introdução do voto distrital misto.

Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso se deflagra um amplo processo de privatização e de abertura econômica para o investimento estrangeiro. O social passa a ser refilantropizado43 (cf. Yazbek), ou seja, a questão social, agravada pelo desemprego, passa a ser tratada com programas desenvolvidos para enfrentar o emergencial. Como exemplo paradigmático podemos citar o programa “Comunidade Solidária” 44.

foi a persistência política do presidente que garantiu a indexação dos salários durante o primeiro ano de vigência do plano e o aumento do FGTS no caso de demissões imotivadas. O Plano real propôs uniformizar o reajustamento mediante a instauração de um indexador universal, a URV (Unidade Real de Valor), e a partir de 1994 todos os valores passaram ser diariamente corrigidos pela URV, embora continuassem contados em cruzeiros” (SINGER, 1999: 25).

43 Refilantropização do social será entendido por QUEIROZ & MATSUBARA (1995),como a retomada do

assistencialismo, da caridade e da benesse em detrimento dos direitos sociais, desconsiderando a representação popular.

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Programa Comunidade Solidária: formalizado pelo Decreto Federal nº 1.366 de 12/1/1995 e, posteriormente, pelo Decreto-ato s/n de 7/2/1995, o Programa Comunidade Solidária (PCS) constituiu-se em um conjunto de ações governamentais pensadas no sentido de combater situações agudas ou de extrema pobreza, historicamente presentes na realidade brasileira. Seu objetivo expresso é: “coordenar as ações governamentais voltadas para o atendimento da parcela da população que não dispõe de meios para prover suas necessidades básicas e, em especial, o combate à fome e à pobreza” (Silva, Guilhon, Cruz e Silva, 2001:72).

Em que pese a mudança no discurso durante as gestões Fernando Henrique Cardoso no que tange a reforma do Estado, as orientações continuaram seguindo uma perspectiva neoliberal: “descentralizar a gestão, transferir atribuições para a sociedade e para o terceiro setor, reduzir o déficit público. (...) A reconstrução do Estado tem sido, sobretudo, desconstrução” (NOGUEIRA, 1998: 174).

Nas eleições presidenciais de 2002, chega ao mais alto cargo brasileiro o ex- operário e ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, consagrado nas urnas com uma vitória espetacular, com 62 % dos votos e em janeiro de 2003 contava com 85% de aprovação.

Inicialmente a eleição de Lula para a Presidência da República representava a primeira tentativa de ruptura com o neoliberalismo. Renomados estudiosos, entre eles Emir Sader em seu livro “A vingança da História” publicado em 2003, indicava a possibilidade do Partido dos Trabalhadores (PT)45 protagonizar o pós-neoliberalismo no Brasil. Não só por um desejo, mas porque as condições históricas aparentemente estavam dadas.

Sader (2003:186) indicou algumas dessas condições para a mudança: uma esquerda organizada e legitimada nas urnas; economia menos debilitada e menos desnacionalizada, se comparada com paises vizinhos; crise de legitimidade do neoliberalismo internacional; apoio popular e o imenso desejo pela mudança manifestado nas urnas pela massa popular.

A vitória de Lula se dá por diversas razões, mas principalmente em função da resistência dura à orientação macroeconômica implementada sob o comando do capital parasitário financeiro, que o partido identificou como alvo central a visar em defesa dos interesses democráticos e populares. (NETTO, 2004: 10).

Naquele momento a população encontrava-se exausta das promessas que

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não se concretizavam e, além disso, havia um elevado índice de desemprego e de informalidade, contribuindo significativamente para o aumento da situação de miséria e de pobreza.

Ao assumir o país, Lula herdou também problemas aparentemente indissolúveis para que a governabilidade se materializasse em forças para administrar a “herança Maldita”46. Necessário e urgente se fez a constituição de um governo de coalização buscando apoio político nas mais diversas frentes para implementar o projeto de governo do Partido dos Trabalhadores (PT). A força política do PT naquele momento, alavancada pela legitimidade das urnas, facilitou o trânsito e as negociações.

Contudo, quando se “acende uma vela a Deus e a outra para o diabo”47, corre-se riscos, pois com o grau de financeirização da economia brasileira e com os compromissos assumidos com o FMI, não era possível a curto prazo nenhuma mudança radical; ao contrário, a conjuntura exigia renegociação das dívidas,

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