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3. CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

3.2 NORMAS JURÍDICAS

Para o completo entendimento das normas jurídicas, é necessário compreender o ato jurídico. De acordo com Atienza (1979, p. 22): o ato no mundo jurídico serve para “designar o termo ou escrito pelo qual se procura estabelecer a manifestação da vontade, a fim de que se produzam os efeitos do ato jurídico que se praticou, servindo, ao mesmo tempo, de instrumento ou prova material de sua existência.” A autora elucida que existem atos normativos, individualizados ou específicos, administrativos e legislativos (figura 6).

Figura 6 - Tipos de atos jurídicos

Fonte: Própria autora, baseada na obra de Atienza (1979, p. 22-23).

É possível observar pela figura 6 que nem todos os atos jurídicos são atos normativos. A distinção entre atos normativos e atos não-normativos, segundo Atienza (1979, p. 22) seria a abrangência da aplicação da norma. Atos normativos estabelecem regras genéricas enquanto atos não-normativos ocupam-se da resolução de questões específicas ou individualizadas.

Por sua vez, as normas jurídicas podem ser entendidas como:

padrões de conduta ou de organização social impostos pelo Estado, para que seja possível a convivência dos homens na sociedade. São fórmulas de agir, determinações que fixam as pautas do comportamento interindividual. Suas duas características principais são a prescrição de uma conduta considerada

89 como normal e a ocorrência de uma sanção caso essa conduta não se concretize (BITTAR e ALMEIDA, 2015, p. 644).

Assis e Kümpel (2011, p. 264) sustentam que a norma jurídica é válida se for editada pela autoridade competente e se possuir um mínimo de eficácia. A validade da norma repousa na competência normativa de seu editor, que é conferida por outra norma, sucessivamente, numa série finita que culmina na norma fundamental. A norma emanada de quem possui competência para editá-la deve manter conteúdo compatível com a norma que lhe é imediatamente superior. No caso brasileiro, a norma fundamental é a Constituição Federal de 1988.

A lei é uma das expressões das normas jurídicas. Conforme descreve Nader (2015, p. 146-147) a lei é o ato do poder legislativo que estabelece normas de acordo com interesses sociais, traduzindo aspirações coletivas. Sua fonte material é representada pelos próprios fatos e valores que a sociedade oferece.

Fonte primária de informação jurídica, a lei pode ser originada, segundo Barros (2016, p. 26) por Assembleia Constituinte (no caso da Constituição Federal), no Poder Legislativo (emendas à Constituição Federal, leis complementares, ordinárias, delegadas, medidas provisórias, resoluções, decretos legislativos) ou no Poder Executivo (decretos regulamentares, autônomos, normas regulamentadoras, resoluções, etc.)

Por sua vez, a legislação pode ser entendida como o conjunto dessas leis. De acordo com Barros (2016, p. 26) para fins de documentação, os projetos de lei classificam-se como informação legislativa e não como informação jurídica. De todo modo, os projetos de lei são recursos de pesquisa para o usuário e podem servir de subsídios para futuros estudos legislativos, como referência a outras proposições e base para fundamentação doutrinária e jurisprudencial.

90 Figura 7 - Hierarquia das normas jurídicas brasileiras

Fonte: Própria autora, baseada na obra de Cavalcante Filho (2017).

Cavalcante Filho (2017, p. 42) explica que no topo da hierarquia estão as normas de hierarquia constitucional, que não se subordinam a nenhuma outra norma jurídica. Os tratados de Direitos Humanos equivalem às Emendas Constitucionais, desde que aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, por três quintos de seus respectivos membros.

Ainda de acordo com o autor, os atos normativos primários, localizados na pirâmide como hierarquia legal, aquelas espécies normativas ou legislativas que derivam da Constituição Federal e que podem criar direitos e obrigações. Todos os atos normativos primários possuem a mesma hierarquia.

Cavalcante Filho (2017, p. 42) conclui esclarecendo que os atos de hierarquia infralegal, ou atos normativos secundários, são as normas que retiram seus fundamentos de validade nas leis.

O domínio da hierarquia das normas, sobretudo na pesquisa de informações legislativas, é fundamental para atender as necessidades de informação do usuário. A lei deve ser sempre analisada à luz da hierarquia legislativa e de seu ordenamento jurídico.

Passos e Barros (2009, p. 93) relacionam as principais características da informação normativa:

a) Ser produzida, apenas pelo poder estatal competente;

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ou reproduzida por qualquer pessoa, apesar de o governo ter proibido a divulgação com fins lucrativos em sites particulares;

c) Ser insubstituível;

d) Possuir caráter imperativo; e) Ter caráter geral;

f) Possuir validade geográfica e temporal delimitada; g) Possuir regras próprias de redação.

Por suas características específicas, Cunha (2010, p. 144) ressalta que a informação legislativa exige do bibliotecário certo conhecimento do direito, do vocabulário especializado e constante atualização não apenas das normas promulgadas, mas também do processo legislativo.

3.3 JURISPRUDÊNCIA

Etimologicamente, jurisprudência é, de acordo com Guimarães (2015, p. 471), a “resposta dos prudentes”. Conforme entendimento de Passos e Barros (2009, p. 70) pode ser a aplicação de estudos de casos jurídicos na tomada de decisões judiciais, ou como a orientação uniforme dos tribunais na decisão de casos semelhantes funcionando como fonte secundária de direito, embora não prevista expressamente na lei.

Para conhecer o Direito que efetivamente rege as relações sociais, Nader (2015, p. 170) adverte que não basta o estudo das leis, é indispensável também a consulta dos repertórios de decisões judiciais. A jurisprudência constitui, assim, a definição do Direito elaborada pelos tribunais. De acordo com Assis e Kümpel (2011, p.267), o órgão jurisdicional, no exercício da competência jurídica decide conflito com base em um ato de vontade, que pode estar ou não em conformidade com um dos significados oferecidos pela doutrina.

Atienza (1979, p. 51) acrescenta que a Jurisprudência pode indicar a Ciência do Direito em sentido estrito, também denominada Dogmática Jurídica.

A jurisprudência não deve ser confundida com sentença. Segundo Atienza (1979, p. 51) a sentença é “uma decisão individualizada, aplicável a um caso concreto. Enquanto que a jurisprudência constitui uma norma geral, aplicável a todos os casos idênticos”.

Passos e Barros (2009, p. 70) expandem a noção da jurisprudência quando afirmam que, a depender do juízo, a jurisprudência dá um novo contexto às leis, uma vez

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que a interpretação jurisprudencial pode, por exemplo, rejuvenescer uma lei que não foi atualizada. É importante ressaltar que a jurisprudência não se baseia apenas na lei em si, mas em outros princípios jurídicos relevantes para se chegar a uma decisão judicial.

Embora também possua caráter normativo, Atienza (1979, p. 51) lembra que a jurisprudência se distingue da lei por ser mais flexível e, por esse motivo, desempenha importante papel no esclarecimento das normas legislativas e na sua adequação a peculiaridades do caso concreto.

Ainda sobre as possíveis funções da jurisprudência, Barros (2016) acrescenta que ela pode interpretar, vivificar, humanizar, integrar e rejuvenescer a lei. Apoia, reforça, dinamiza, consolida, ratifica, modifica ou contraria a doutrina. A jurisprudência pode, ainda, recriar, seguir, modificar e orientar a própria jurisprudência. Consiste em decisões judiciais, extrajudiciais e administrativas proferidas ou emanadas pelos órgãos do Poder Judiciário ou de entidades que têm o poder de julgar pessoas ou contas em diversos níveis de jurisdição ou território.

Nader (2015, p. 172) esclarece que, em sentido amplo, a jurisprudência comporta a jurisprudência uniforme (quando as decisões são convergentes; quando a interpretação judicial oferece idêntico sentido e alcance às normas jurídicas); e a jurisprudência divergente ou contraditória, que ocorre quando não há uniformidade do Direito pelos julgadores. Já a jurisprudência em sentido estrito abarca apenas as decisões uniformes13.

3.4 DOUTRINA

De acordo com Macedo (1977, p. 380) a palavra doutrina origina-se do verbo

doceo, que em latim significa ensinar, instruir. É o resultado do pensamento sistematizado

sobre determinado problema.

Passos e Barros (2009, p. 93) afirmam que a informação jurídica analítica, ou doutrina, caracteriza-se pela emissão de uma opinião particular fundamentada sobre determinado assunto. Está protegida pelos direitos autorais.

Denominada também de Direito Científico, Nader (2015, p. 181) define doutrina como de estudos e teorias, desenvolvidos pelos juristas, com o objetivo de interpretar e sistematizar as normas vigentes e de conceber novos institutos jurídicos, reclamados pelo momento histórico. Assis e Kümpel (2016, p. 267) acrescentam que é realizada pelo

13 Diz-se mansa, pacífica ou uniforme quando não se altera em julgados semelhantes; vacilante, quando varia e não é estável e assente, aquela firme, assentada (GUIMARÃES, 2015, p. 471).

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cientista do direito que, mediante ato cognitivo, deve fixar os diversos significados possíveis da norma jurídica.

Embora não tenha força coercitiva, Macedo (1977, p. 381) reforça que a doutrina tem a persuasão proveniente da verdade científica e dos argumentos e juízos de valor sobre a convivência humana.

Para Nader (2015, p. 183) é papel da doutrina introduzir os neologismos, os novos conceitos teorias e institutos no mundo jurídico. Sob o viés prático, a doutrina oferece uma a sistematização e interpretação das diversas normas jurídicas, além de oferecer um contraponto crítico à legislação, por muitas vezes apresentar um contraponto sociológico, lógico e ético.

O quadro 8 sintetiza os tipos de informação jurídicas formais e materiais.

Quadro 8 - Tipos de informações jurídicas

Informação Classificação Forma/exemplo Característica Acesso

(regra/exceção)

Direitos autorais Jurídica Normativa Legislação Público/restrito Não protegido

Interpretativa Jurisprudência Público/restrito Não protegido Analítica

(informativa, crítica, reflexiva e descritiva)

Doutrina-teoria Privado/aberto Protegido

Legislativa Propositiva Proposição Público/restrito Não protegido

Originária de outras

fontes

Argumentativa (aplicação)

Princípio Público/restrito Não protegido

Analogia Livre Não protegido

Equidade Livre Não protegido

Costume Livre Não protegido

Outra Outro Outro

Fonte: Barros (2016, p. 81).

Souza (2013, p. 126), em estudo sobre a categorização do documento jurídico para a organização da informação apresenta esquema, constantes na figura 8, das espécies documentais jurídicas.

94 Figura 8 - Espécies documentais jurídicas

Fonte: Adaptado de Souza (2013, p. 126)

A autora relaciona as espécies documentais para cada uma das categorias documentais jurídicas:

● Ato legal: Constituição; Emenda à Constituição; Lei complementar; ordinária e delegada; Medida provisória; Decreto legislativo; Resolução; Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Os cunhados pela autora como documentos acessórios são o Abaixo-assinado; Ata; Indicação; Informação; Mensagem; Moção; Proposição; Proposta e Requerimento.

● Ato Administrativo: Admissão; Alvará; Apostila; Aprovação; Aprovação de parecer; Atestado; Ata; Ato; Autorização; Aviso; Carta patente; Certidão; Circular; Convocação; Decisão; Decreto; Deliberação; Despacho; Destruição de coisas; Dispensa; Edital; Exposição de motivos; Homologação; Informação; Instrução; Instrução normativa; Interdição de atividade; Licença; Multa; Notificação; Ofício; Ordem de serviço; Pedido; Permissão; Portaria; Postura; Precatório; Processo; Provimento; Regimento; Regulamento; Requerimento; Renúncia; Resolução; Termo e Visto.

● Ato Judicial: Acórdão; Sentença; Súmula. Os exemplos de documentos acessórios do processo judicial são os Auto; Carta precatória; Carta testemunhável; Certidão; Citação; Decisão; Depoimento; Embargo; Notificação; Petição; Precatório; Processo; Pronunciamento e Recurso.

● Ato Negocial: Acordo; Ajuste; Contrato; Convenção; Convênio; Protocolo Administrativo e Termo.

● Ato Notarial e de Registro: Atestado; Auto; Cédula de identidade; Certidão; Compromisso; Contrato; Escritura; Estatuto; Inventário; Passaporte; Procuração; Protesto de título; Registro civil de pessoas naturais; Registro civil de pessoas jurídicas; Registro de imóvel; Registro de títulos e documentos e Testamento.

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● Doutrina Jurídica: Anais; Artigo; Dissertação; Laudo; Memorial; Monografia;

Paper; Parecer; Tese.

Embora alguns tipos documentais sejam, a priori, preocupação de arquivistas, o bibliotecário jurídico deve conhecê-los e saber localizá-los, pois todos são fontes potenciais de informação para os usuários de informações jurídicas.