NOVOS EMPREENDIMENTOS.
Construção de mapa de risco
Construção de mapa de risco
Hoje, no Brasil, conforme já foi mencionado, faltam es-
Hoje, no Brasil, conforme já foi mencionado, faltam es-
tudos publicados com foco em colisões de aves com li-
tudos publicados com foco em colisões de aves com li-
nhas de transmissão. Entretanto, como também já visto,
nhas de transmissão. Entretanto, como também já visto,
as informações levantadas pelos estudos fora do Brasil
as informações levantadas pelos estudos fora do Brasil
não são absolutamente inúteis para o entendimento da
não são absolutamente inúteis para o entendimento da
dinâmica e das relações de nossas aves com as linhas
dinâmica e das relações de nossas aves com as linhas
de transmissão. Isso porque, embora as espécies de aves
de transmissão. Isso porque, embora as espécies de aves
brasileiras sejam, muitas vezes, diferentes daquelas ob-
brasileiras sejam, muitas vezes, diferentes daquelas ob-
servadas em outros continentes, há muitos táxons (gê-
servadas em outros continentes, há muitos táxons (gê-
neros, famílias etc.) e fitofisionomias (brejos, florestas,
neros, famílias etc.) e fitofisionomias (brejos, florestas,
áreas de lavoura, desertos etc) compartilhados entre o
áreas de lavoura, desertos etc) compartilhados entre o
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Brasil e os demais países onde estudos sobre aves e li-
Brasil e os demais países onde estudos sobre aves e li-
nhas de transmissão já foram publicados.
nhas de transmissão já foram publicados.
É, portanto, razoável crer que se algumas espécies de
É, portanto, razoável crer que se algumas espécies de
garças (Ardeidae), falcões (Falconidae), patos e gansos
garças (Ardeidae), falcões (Falconidae), patos e gansos
(Anatidae) foram muito impactadas em empreendimen-
(Anatidae) foram muito impactadas em empreendimen-
tos africanos (
tos africanos (e.g e.g . Jenkins et al., 2010), norte-americanos. Jenkins et al., 2010), norte-americanos
(
(e.g e.g . Brown et al. 1987) e europeus (. Brown et al. 1987) e europeus (e.g e.g . Bevanger & Bro-. Bevanger & Bro-
seth, 2001), as espécies brasileiras dessas mesmas famí-
seth, 2001), as espécies brasileiras dessas mesmas famí-
lias sejam igualmente afetadas, afinal frequentemente
lias sejam igualmente afetadas, afinal frequentemente
pertencem aos mesmos gêneros. Esse é o caso das curi-
pertencem aos mesmos gêneros. Esse é o caso das curi-
cacas, um ciconiforme brasileiro. As garças, cegonhas e
cacas, um ciconiforme brasileiro. As garças, cegonhas e
águias (Ardeiformes, Ciconiiformes e Falconiformes) são
águias (Ardeiformes, Ciconiiformes e Falconiformes) são
aparentados às curicacas e são considerados, em outros
aparentados às curicacas e são considerados, em outros
continentes, os principais causadores de desligamentos
continentes, os principais causadores de desligamentos
em linhas de transmissão de alta potência. No Brasil, as
em linhas de transmissão de alta potência. No Brasil, as
curicacas ocupam esse espaço funcional.
curicacas ocupam esse espaço funcional.
Seguindo essa linha de raciocínio, se em um estudo
Seguindo essa linha de raciocínio, se em um estudo
conduzido em outro continente as espécies de ave que
conduzido em outro continente as espécies de ave que
foram mais afetadas por impactos em cabos foram as de
foram mais afetadas por impactos em cabos foram as de
maior porte, pode-se pressupor também que isso vale-
maior porte, pode-se pressupor também que isso vale-
rá igualmente para o Brasil e, consequentemente, para
rá igualmente para o Brasil e, consequentemente, para
a linha de transmissão em estudo. Por outro lado, se as
a linha de transmissão em estudo. Por outro lado, se as
evidências apontam para o fato de que gaviões e águias
evidências apontam para o fato de que gaviões e águias
(Família Accipitridae) sejam os mais prejudicados por
(Família Accipitridae) sejam os mais prejudicados por
eletrocussão em linhas de transmissão de baixa potência
eletrocussão em linhas de transmissão de baixa potência
do que por colisão em linhas de transmissão de alta po-
do que por colisão em linhas de transmissão de alta po-
tência (Ledger & Annegan, 1981), na medida em que são
tência (Ledger & Annegan, 1981), na medida em que são
voadores muito habilidosos, devemos crer que tal padrão
voadores muito habilidosos, devemos crer que tal padrão
se repita no Brasil.
se repita no Brasil.
Da mesma forma, podemos crer que, se os ambien-
Da mesma forma, podemos crer que, se os ambien-
tes pantanosos foram os mais impactados nos estudos já
tes pantanosos foram os mais impactados nos estudos já
conduzidos (
conduzidos (e.g e.g . Brown & Drewien, 1995), em função da. Brown & Drewien, 1995), em função da
presença de bandos grandes de aves, como garças e mar-
presença de bandos grandes de aves, como garças e mar-
recas, os nossos brejos também serão mais afetados. Até
recas, os nossos brejos também serão mais afetados. Até
que tenhamos dados consistentes no Brasil, essa extrapo-
que tenhamos dados consistentes no Brasil, essa extrapo-
lação deve ser feita também para as conclusões associa-
lação deve ser feita também para as conclusões associa-
das a fenômenos não biológicos que estão presentes em
das a fenômenos não biológicos que estão presentes em
linhas de transmissão, como a geomorfologia, a propen-
linhas de transmissão, como a geomorfologia, a propen-
são à formação de nebulosidade e a eventual diferença
são à formação de nebulosidade e a eventual diferença
entre impactos noturnos e diurnos de aves
entre impactos noturnos e diurnos de aves sobre os cabos.sobre os cabos.
Da mesma forma, outras informações, como a maior
Da mesma forma, outras informações, como a maior
incidência (mais de 80%) de
incidência (mais de 80%) de impacto de aves sobre os ca-impacto de aves sobre os ca-
bos para-raios (Jenkins et al., 2010), são extremamente
bos para-raios (Jenkins et al., 2010), são extremamente
importantes na previsão, prevenção e mitigação de im-
importantes na previsão, prevenção e mitigação de im-
pacto em aves brasileiras. O mesmo podendo, portanto,
pacto em aves brasileiras. O mesmo podendo, portanto,
ser dito para os dados sobre a eficiência de sinalizadores
ser dito para os dados sobre a eficiência de sinalizadores
na prevenção de acidentes (Brown et al., 1987; Bevanger
na prevenção de acidentes (Brown et al., 1987; Bevanger
& Broseth 2001; Janss & Ferrer, 1998; Morkill & Ander-
& Broseth 2001; Janss & Ferrer, 1998; Morkill & Ander-
son, 1991; Savereno et al., 1996, Alonso et al., 1994; Bro-
son, 1991; Savereno et al., 1996, Alonso et al., 1994; Bro-
wn & Drewien, 1995;
wn & Drewien, 1995; Anderson, 2002; Crowder, 2000; DeAnderson, 2002; Crowder, 2000; De
la Zerda & Roselli, 2002, 2003;
la Zerda & Roselli, 2002, 2003; e Yee, 2008). Esses estudose Yee, 2008). Esses estudos
indicam, inclusive, a distância apropriada entre sinaliza-
indicam, inclusive, a distância apropriada entre sinaliza-
dores, assim como o espaço ideal a ser ocupado por esse
dores, assim como o espaço ideal a ser ocupado por essess
nos vãos entre as torres. Por exemplo, em empreendi-
nos vãos entre as torres. Por exemplo, em empreendi-
mentos com dois cabos para-raios, a colocação de sina-
mentos com dois cabos para-raios, a colocação de sina-
lizadores de acordo com a literatura, quando necessária,
lizadores de acordo com a literatura, quando necessária,
deve ser interpolada e restrita aos 60% centrais no vão
deve ser interpolada e restrita aos 60% centrais no vão
das torres, de modo a maximizar a sua eficiência.
das torres, de modo a maximizar a sua eficiência.
Outros fatores a serem considerados no mapeamen-
Outros fatores a serem considerados no mapeamen-
to do risco em linhas de transmissão são as diferenças
to do risco em linhas de transmissão são as diferenças
inerentes às espécies que porventura possam ser afetadas
inerentes às espécies que porventura possam ser afetadas
pela linha de transmissão. Parece claro e justificável que
pela linha de transmissão. Parece claro e justificável que
o impacto de aves nativas e não nativas deva ser enca-
o impacto de aves nativas e não nativas deva ser enca-
rado de forma diferente, assim como a probabilidade de
rado de forma diferente, assim como a probabilidade de
uma ave ameaçada e de uma
uma ave ameaçada e de uma não ameaçada se chocar comnão ameaçada se chocar com
cabos deva ser considerada em diferentes escalas. Dessa
cabos deva ser considerada em diferentes escalas. Dessa
forma, se uma área tiver grande propensão a acidentes
forma, se uma área tiver grande propensão a acidentes
com Psittacidae (papagaios e periquitos) e Accipitridae
com Psittacidae (papagaios e periquitos) e Accipitridae
(gaviões e águias), enquanto outra tem igual propensão a
(gaviões e águias), enquanto outra tem igual propensão a
acidentes, mas com espécies como a garça-vaqueira (
acidentes, mas com espécies como a garça-vaqueira (Bu-Bu-
bulcus ibis
bulcus ibis) ou a avoante () ou a avoante ( Zenaida Zenaida auriculataauriculata), que, ti-), que, ti-
picamente, se beneficiam da degradação imposta à mata
picamente, se beneficiam da degradação imposta à mata
atlântica, fica bastante claro que é precis
atlântica, fica bastante claro que é preciso dar uma maioro dar uma maior
pesagem ou atenção ao primeiro caso. Os impactos com
pesagem ou atenção ao primeiro caso. Os impactos com
gaviões e papagaios nativos são naturalmente mais rele-
gaviões e papagaios nativos são naturalmente mais rele-
vantes do que o impacto de avoantes e garças vaqueiras,
vantes do que o impacto de avoantes e garças vaqueiras,
110 110 Gavião-carijó, Gavião-carijó, Rupornis magnirostris Rupornis magnirostris
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Azulão, Cyanoloxia brissonii
diferença essa que deve ser considerada em qualquer análise integrada de dados.
Nesse sentido, após o cruzamento da literatura com o material em mãos, escolhemos os seguintes fatores de risco que poderão nortear tentativas similares em empre- endimentos futuros: a) aves endêmicas ou ameaçadas; b) aves caracterizáveis por formar grandes bandos e/ou por serem de grande porte, tendo sido classificadas como de alto risco pelo monitoramento e a partir dos dados da li- teratura; c) áreas com espécies que sabidamente efetuem movimentos migratórios; d) a partir do mapa geomorfo- lógico, áreas de planícies fluviais, por propiciarem a pre- sença de espécies aquáticas; e) a partir de mapas geológi-
cos, escarpas sujeitas a neblina e maior declividade, que proporcionam uma variação grande na distância d e cabos em relação ao solo, facilitando acidentes; e) áreas de de- pósitos aluvionares, também sujeitas a aglomerações de bandos de aves aquáticas ou migratórias; f) cruzamento de grandes corpos d’água, em que há a tendênci a de espé- cies de grande p orte e migratórias usarem os leitos como corredores em seus deslocamentos.
Com o objetivo de aumentar a precisão do mapea- mento, deverá ser utilizado o mapa de vegetação como base para a plotagem dos valores obtidos pela avaliação de risco das aves.
Instalação e distribuição de sinalizadores Como já visto no primeiro capítulo deste livro, os sinalizado- res são comprovadamente eficientes em reduzir até 76% dos impactos de aves sobre os cabos de linhas de transmissão de alta potência quando instalados na fase de construção.
Como não se sabe quase nada sobre os quantitativos de acidentes de colisão no Brasil, uma medida interessante seria, como já mencionado, a disposição de sinalizadores respeitando uma hierarquização a partir da construção de mapas de risco (referenciais anteriormente listados).
Dessa forma, no caso de implantação de sinalizadores, deve-se respeitar a individualidade de cada ponto avalia-
do na construção de um mapa de risco, concentrando-os em médio ou alto risco de acidentes. Além diss o, pode-se optar pela colocação de sinalizadores menos espaçados nas áreas de maior risco, o que, comprovadamente, au- menta a eficiência dessas estruturas em evitar impactos de aves sobre linhas de transmissão (Jenkins et al., 2010). É recomendado também que não sejam implementa- dos sinalizadores para aves onde já existam sinalizado- res para aeronaves, uma vez que os estudos disponíveis demonstram que tais sinalizadores são praticamente tão eficientes quanto os dispositivos específicos para es- pantar aves (Morkill & Anderson, 1991; Savereno et al., 1996). Além disso, sinalizadores com eficiência noturna,