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“O que é possível fazer para transformar Campina numa cidade moderna?” Esta pergunta foi dirigida ao ilustre urbanista Nestor de Figueiredo23 quando de sua visita a Campina Grande em 1933. A pergunta expressa bem o anelo da sociedade campinense, especialmente dos intelectuais da época, jornalistas, empresários e políticos, que desejavam ver a cidade adentrar em um marcha de modernização e ser considerada, definitivamente, uma cidade moderna e progressista. O desejo de habitar em uma cidade limpa, dotada de prédios altos, ruas largas e espaços

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Arquiteto famoso, envolvido na planificação urbana em cidades como João Pessoa, Recife, Fortaleza, Cabedelo. Na ocasião, fora entrevistado por diretores do “Jornal de Campina” em fevereiro de 1933 (SOUSA, 2003, p. 62).

aprazíveis para a convivência social era fruto da repercussão de reformas urbanísticas aplicadas no Rio de Janeiro e algumas cidades europeias, bem como da importância atribuída, neste período, aos arquitetos e planejadores urbanos. Outra preocupação da época estava no receio quanto à proliferação de epidemias e pestes urbanas, associadas, naturalmente, aos maus hábitos de higiene da população, particularmente, à população pobre, residente em casebres insalubres, carentes de infraestrutura sanitária (Sá, 2009).

A proliferação de doenças era uma preocupação forte, pois em meados dos oitocentos do século XIX ocorreram sérias epidemias na então Vila Nova da Rainha24, tais como: surtos de cólera, varíola e febre amarela que assolaram a localidade. Registra-se que, em 1856, dez por cento da população foi vítima do cólera-mobus, o que levou o governo provincial a aprovar leis e regulamentos que normatizassem algumas atividades, principalmente, a limpeza das casas, o banho em açudes, a criação de animais e o uso dos cemitérios. Um dos documentos que disciplina as condutas dos cidadãos é o Código de Posturas, datado do ano de 1857. No início dos anos 1893, o Código de Posturas passa a atribuir ao município a responsabilidade pelos serviços de limpeza, fiscalização, coleta e destinação final do lixo, admitindo a possibilidade da contratação de empresas para o serviço de limpeza urbana (ARAÚJO, 2010).

No decorrer dos novecentos, o contexto do saneamento em Campina Grande- PB permanecia crítico. Poucas residências dispunham de sanitários. A maioria das casas utilizavam latrinas nas quais os dejetos eram depositados. Comumente as pessoas se dirigiam aos açudes e córregos para se banharem e depositarem o conteúdo das latrinas nas águas (QUEIROZ, 2008). Além dos açudes, as ruas também eram usadas como sanitários. Relatos notificam que a atual Rua Venâncio Neiva, por exalar o mau cheiro dos excrementos, era conhecida na época como “o beco do mijo e da merda” (ARAÚJO, 2010, p. 34).

No início dos anos 1900 houve um esforço para atribuir melhor regularidade ao serviço de coleta, no entanto, o serviço não abrangia todos os bairros. O problema da destinação final dos resíduos permaneceu ao longo dos anos, com a mesma lógica: o lixo era retirado das áreas urbanas e depositado nas cercanias da cidade sem o devido cuidado ou tratamento prévio. Concomitantemente, a

24 Em 1864 Campina Grande-PB foi elevada à condição de cidade, estando anteriormente na condição de Vila, designada oficialmente como Vila Nova da Rainha.

população permanecia habituada a depositar o lixo nas ruas e nos quintais das casas25. Os relatos em jornais da época reivindicavam providências quanto aos esgotos e lixo na cidade. Em 1909, o jornal O Campina Grande alude para a “completa imundície” da cidade, descrevendo que as ruas causam “náuseas a qualquer transeunte” e que a administração municipal só se preocupava em limpar a cidade quando se difundia “o boato de uma visita do governador do Estado” (O Campina Grande apud QUEIROZ, 2008).

Em 1911, o decreto nº 494 cria a Delegacia de Higiene de Campina Grande, motivado pela necessidade de gerenciamento deste setor na cidade. À época, as questões de higiene abrangiam desde limpeza das vias à preocupação com as moléstias decorrentes das más condições sanitárias. A ação da Delegacia de Higiene e a institucionalização do Código de Posturas de 1927 ocasionaram melhoras aparentes no recolhimento do lixo, no entanto, não foi o bastante. “Não há santo de pedra que não leve o lenço ao nariz”, estampa a notícia de um jornal em 1931, reportando acerca do forte odor que emanava da decomposição do lixo presente nas valas formadas pelas chuvas nas ruas. Sobre a limpeza urbana, o periódico aduz que os “encarregados do lixo conduzem suas carroças cheias e depositam nas valetas toda sorte de detritos” (Brasil Novo, 1931 apud ARAÚJO, 2010, p. 29). O lixo depositado nas valas formadas pela erosão decompunha-se formando um líquido escuro e com odor (chorume) que escorria no terreno acidentado em direção ao Açude Velho. Há relatos de que os encarregados da limpeza pública lançavam também no Açude Novo26 “todo o lixo apanhado nas ruas e nas casas particulares” (HIGIENE, 1931 apud QUEIROZ, 2008, p. 50).

Essa conjuntura compunha o impulso motivador para a realização de uma reforma urbanística em Campina Grande-PB. Na primeira metade do século XX, as ideias prevalentes em urbanização eram associadas à modernização da paisagem urbana, transformando as cidades em um ambiente propício para os fluxos

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Cabe enfatizar que a constituição do lixo produzido no final do século XIX e início do XX se diferencia daquele produzido atualmente. Naquela época o lixo era mais biodegradável, com presença de restos de alimentos, cascas de frutas, papel, cordas. Havia preocupação intensa com as indústrias que emanavam gases mal cheirosos e tóxicos nas áreas centrais da cidade (ARAÚJO, 2010).

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Açude Novo e Açude Velho eram dois importantes corpos hídricos de Campina Grande-PB que, no passado, foram utilizados para abastecimento, asseio e recreação da população. Ambos se encontram em área de depressão, o que explica a facilidade dos líquidos percolar para estes corpos d’água. O Açude Novo foi drenado e atualmente abriga o Parque Evaldo Cruz, o Açude Velho é o cartão postal da cidade; a área está urbanizada e contribui para o escoamento das águas pluviais, porém, suas águas não devem ser usufruídas por estarem poluídas em razão do lançamento de esgotos e outros materiais contaminantes.

comerciais, para o movimento, para a expansão. A paisagem urbana exprimia o nível de progresso da cidade: as ruas largas, os altos edifícios, o movimento dos carros e do comércio sinalizavam para a expressividade regional da cidade.

As transformações urbanísticas na paisagem eram subsidiadas pelas lógicas da higienização, embelezamento da cidade e adequação dos instrumentos regulatórios que disciplinam as condutas da população. Na prática, as reformas urbanísticas consistiam na realocação dos espaços urbanos centrais, alargamento de ruas e criação de novas artérias viárias; realizadas por meio de indenização e demolição de residências e lojas comerciais. Os ares de modernidade deveriam repercutir na paisagem urbana, sendo essa marcada por largas avenidas, ruas limpas e população asseada (COSTA, 2003; SOUSA, 2003; ARAÚJO, 2010). Os métodos aplicados foram a construção de auspiciosos edifícios com arquitetura arrojada, deslocamento da população pobre das áreas centrais para a periferia da cidade27, bem como a normatização do cotidiano dos citadinos, institucionalizada em Campina Grande – PB no Código de Posturas de 1857, devidamente reformulado para os novos tempos, nos idos de 1927.

Havia uma pressão de alguns grupos da sociedade, como os médicos, engenheiros, intelectuais, sanitaristas para que a cidade higienizasse seu perímetro urbano. Isso significava afastar as atividades insalubres da parte central da cidade, bem como distanciar dela a população que apresentava práticas anti-higiênicas. Nesse contexto, os pobres urbanos correspondiam à parcela da população considerada anti-higiênica. Os pobres eram costumeiramente advertidos por não possuírem sanitários, residirem em casebres, por se banharem em rios, por não saberem lidar adequadamente com os dejetos e com os animais. Os notáveis da sociedade campinense “Exigiam ações energéticas pois [...] feiúras, insalubridades, imoralidades e pobreza eram toleradas “em subúrbio, não no centro de uma cidade como a nossa” (CAXIAS, 1931 & QUEIROZ, 2008, p.82, grifo nosso).

No decorrer do século XX, as ações em relação às atividades insalubres na cidade se concentravam em afastá-las para as áreas periféricas da cidade,

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O discurso da reforma urbanística, embora seja símbolo do prefeito Verginaud Wanderlei (1936 a 1937) e (1940 – 1945), já era pretendido por seus antecedentes e permaneceu nos mandatos dos prefeitos seguintes, como afirma Queiroz (2008, p.49): “cuidados com a ordenação do espaço urbano campinense [..] já faziam parte de seu cotidiano desde o século XIX, muito antes das ações reformistas dos anos 1930-1940”. A reforma imposta por Wanderlei atingiu além dos pobres, as elites e reconfigurou os símbolos de status social da época. Para aprofundamento ver Sousa (2003) .

especialmente, para a zona oeste, onde a incidência de ventos favorecia a dispersão dos poluentes e miasmas. Assim, o poder público retirou a feira do centro da cidade, criou o cemitério e o matadouro municipal no atual bairro do Monte Santo. Deslocou currais, curtumes e meretrizes do centro da cidade e dos olhos da exigente elite campinense. O discurso baseado na higienização dos lugares se valia da lógica da segregação social, deslocando a população pobre para as áreas periféricas da cidade, ao passo que posicionava as atividades insalubres nestes mesmos lugares, forçando a população de baixa renda a conviver em espaços desprovidos de salubridade.

A população pobre é atingida mais diretamente pelos danos da poluição, haja vista ser essa parcela da população a que mais se localiza próxima das fontes de poluição. Não bastando ser atingida intensamente pelas cargas poluidoras, a essa população lhe foi atribuída uma posição de subcidadania, como uma categoria menos importante de cidadão. Sim, para uma cidade que ambiciona o progresso e a modernização de suas formas urbanas, os pobres não apresentam o habitus primário28 que os habilitem a serem úteis e proativos para o progresso da cidade. Dessa maneira, na medida em que os pobres não apresentam um comportamento adequado para o ambiente urbano moderno – adequados hábitos higiênicos - é aceitável que tenham sua conduta disciplinada e habitem nos espaços periféricos, mesmo que sejam ambientes insalubres.

A cidade de Campina Grande – PB não parou de requerer espaço para sua expansão. Invariavelmente, as áreas antes distantes e afastadas do núcleo central passam a serem desejadas, devido à exigência por terras. A periferia imediata é convocada a assumir nova posição na dinâmica do espaço urbano ‘capitalista’. Ou seja, a cidade chega até esses espaços periféricos e reclama a reconversão de seu uso. Exemplo disso foi a extinção do antigo cemitério das Boninas, em 1931. O território do cemitério foi incorporado à malha urbana da cidade e passou a ser ambicionado para instalação de novas atividades. Queiroz (2008) afirma: “Não

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Aplica-se aqui o conceito de habitus a partir da interpretação da teoria de Bourdieu oferecida por Jessé de Souza (2004). O autor aponta para a existência de múltiplos habituses: primário, secundário, precário. O habitus corresponde à interiorização reflexiva “de esquemas avaliativos e disposições de comportamento a partir de uma situação socioeconômica estrutural” (SOUZA, 2004, p. 86). Para a aplicação aqui realizada, o habitus primário enuncia que o modelo societário produtivista requer um tipo humano dotado de comportamento específico com “précondições sociais econômicas e políticas” que o capacite a ser ativo neste contexto. A interiorização deste comportamento padrão concede reconhecimento social e dignidade ao indivíduo, portanto, constitui-se em fonte de distinção social.

houve tempo e nem a intenção para a retirada das ossadas. Os novos prédios invadiram um espaço antes sagrado, de propriedade da igreja, e brotaram sobre os mortos”. Completa: “em um ato pautado mais por preocupações imobiliárias do que higiênicas” (QUEIROZ, 2008, p.95). Se a preocupação precípua contra a manutenção de um cemitério dentro do adensamento urbano era a nefasta potencialidade de contaminação do solo e do lençol freático, esta foi frustrada. Melhor dizendo, sobrepujada por interesses outros relacionados à especulação fundiária urbana. A preocupação com a contaminação foi secundarizada.

Em 1953 foi reformulado o Código de Posturas de Campina Grande-PB. O novo Código disciplinava as ações referentes à execução das atividades na cidade, também indicava os dias em que a coleta de lixo atuaria em cada zona da cidade. Para isso, as pessoas precisariam depositar o lixo em cestos apropriados e colocá-lo na frente da casa no dia destinado ao recolhimento. Em mensagem à Câmara Municipal, o prefeito Plínio Lemos oferece indícios da forma como a prefeitura operava com os resíduos sólidos em meados no século XX. Segundo o depoimento do prefeito, a taxa sobre os serviços de limpeza urbana era cobrada conjuntamente ao imposto predial e territorial urbano (IPTU). A limpeza era realizada “em carroças de madeira, velhas e imprestáveis” e um “velho caminhão, o qual, mal conseguindo se locomover, era um único veículo que a prefeitura dispunha para a enorme coleta do lixo de toda a cidade”. Ele alegava haver providenciado “quinze carrocinhas de aço com pneus, somente usadas nos grandes centros” (LEMOS, 1953 apud ARAÙJO, 2010, p. 77).

Ainda nesse discurso, o então prefeito deixa transparecer que a coleta não atingia a toda a cidade, estando mais presente nas áreas centrais. Ele declara também a pretensão de construir um incinerador “para incinerar o lixo diariamente recolhido” (idem). A (Figura 15) mostra fotos dos trabalhadores municipais efetuando a coleta de lixo em caminhão adaptado para a atividade. Embora não se tenha dados do ano da fotografia, parece ter sido em data posterior ao discurso do prefeito Plínio Lemos.

Figura 15: Foto da coleta de lixo na rua Maciel Pinheiro (195?). Fonte: Site Retratos Históricos de Campina Grande

O serviço de coleta do lixo concentrava-se nas áreas centrais da cidade, focava-se na retirada dos materiais das ruas e avenidas do centro e bairros adjacentes. A prática de depositar o lixo nos terrenos baldios e nas lagoas formadas pela água das chuvas nas periferias da cidade, permaneceu durante anos, sendo executada tanto pela gestão municipal quanto pela população. O Diretor de Limpeza Urbana em Campina Grande-PB em 2012, Srº Jomeres Tavares Monteiro, que trabalha no gerenciamento de limpeza urbana da cidade há mais de vinte anos, afirmou, em entrevista, que era prática comum depositar o lixo nas valas e lagoas: “onde havia uma lagoa, havia lixo”. Essa informação foi confirmada em pesquisa realizada por Carvalho (2010) na antiga Vila do Lixo29, assim conhecida por ter abrigado um lixão clandestino no interior de uma lagoa formada por águas pluviais, localizada na periferia sudeste da cidade de Campina Grande-PB. Em entrevista, os moradores mais antigos da Vila do Lixo disseram que “quando vieram morar no local só havia lixo e mato (CARVALHO, 2010, p. 31). Em meados da década de 1990 a prefeitura providenciou o aterramento da lagoa, porém, o lixo existente não foi

29 Área situada na zona sudoeste da cidade que, até início da década de 1990, abrigava uma lagoa pluvial onde eram depositados materiais de toda natureza, de resíduos domésticos aos resíduos de construção civil. Este local era conhecido como Vila do Lixo. Posteriormente, a lagoa e o lixo foram aterrados. Atualmente este local é conhecido como Bairro Itararé, foi urbanizado e abriga um complexo universitário privado, a Facisa. Este complexo possui, além da faculdade, uma emissora de televisão filiada à rede Cultura e um teatro privado.

extraído, sendo soterrado juntamente com a lagoa. Os moradores atuais notificam a presença de lixo no terreno e aduzem: “se você cavar, dá lixo e água” (ibidem).

A existência de lixões clandestinos ocorria em várias áreas do município. Uma notícia veiculada no Jornal da Paraíba em 17 de junho de 1987 denuncia a irregularidade na coleta de lixo na periferia da cidade e a disposição ilegal de lixo em terrenos nos bairros do José Pinheiro, Malvinas e Tambor. A matéria destaca a problemática da disposição irregular de lixo, enfatizando que foram encontrados “até mesmo detritos advindos de hospitais” (Jornal da Paraíba, 17 de junho de 198730

). Estes lixões em menor escala (lixões clandestinos) operavam, simultaneamente, com o lixão oficial da cidade de Campina Grande-PB.

O caso da antiga Vila do Lixo e dos demais bairros comunica sobre a existência de lixões clandestinos na cidade e a ocorrência de ex-lixões, atualmente soterrados, mas que ainda podem ser fonte de poluição. Para efeito desta dissertação, lixão clandestino significa os lixões não oficiais, aqueles espaços que abrigam materiais descartados sem, contudo, serem formalmente instituídos para tal uso, como os lugares oficiais do lixo da cidade o são. Essa dissertação centraliza-se no estudo dos lixões oficiais da cidade, mais precisamente nos deslocamentos do lugar formalmente definido para o lixo da cidade. Esses deslocamentos correspondem à mudança da localização do lixão oficial da cidade, ao término da via útil de um lixão e a escolha de outros espaços para a constituição de um novo lixão, legalmente aceito.

Uma análise da contextualização histórica do saneamento em Campina Grande – PB revela um cenário de manejo de resíduos sólidos baseado na precariedade da infraestrutura; bem como a realização de Intervenções pontuais, buscadas para solucionar problemas imediatos, a necessidade de melhorias na limpeza urbana e as urgentes ações para evitar a proliferação de epidemias. Essa análise Informa também sobre as lógicas de localização das plantas de resíduos sólidos, quanto à preferência da localização dos resíduos na periferia imediata da cidade, às margens do cinturão urbano, principalmente, nos espaços localizados na zona oeste da cidade.

A preocupação de consolidar uma cidade moderna e progressista requeria atenção especial com a paisagem urbana, destacando o esmero com a limpeza das

30 Bairros Campinenses Abandonados. Caderno Cidade 5. Jornal da Paraíba. Ano XV. Nº 4440, quarta feira 17 de junho de 1987.

ruas e avenidas da parte central da cidade e dos bairros adjacentes. Entretanto, ressalta-se a pouca atenção com os efeitos ambientais deletérios provocados pelo lixo mal condicionado. As ações se voltavam para diminuir as consequências maléficas aparentes do lixo, como os odores e a proliferação de roedores, insetos e doenças. A solução comum era o imediato afastamento dessas fontes de poluição para lugares distantes do núcleo urbano central. No que tange à poluição ambiental e à saúde da população, as ações nos lixões eram restritas ao aterramento dos materiais, havendo pouca eficácia no controle da poluição. Os materiais coletados nos bairros e vias centrais eram descartados em áreas de depressão na periferia urbana imediata. Quando se dava o término do uso dos lixões, eles eram soterrados juntamente com os materiais. Com o fim da atividade do lixão, embora cessadas a disposição de materiais, os efeitos degradantes permanecem sobre o meio ambiente e a população local31.

As ações promotoras de melhorias na gestão do lixo eram capitaneadas pelas atividades de coleta pública e limpeza das vias. Não havia propostas estruturantes, o que não alterava eficazmente o problema da poluição ambiental. As ações paliativas satisfaziam as demandas por melhorias das ações de limpeza em vias públicas e coleta urbana dos resíduos. Vejamos a seguir, algumas características presentes na lógica com que os materiais descartados têm sido operados historicamente em Campina Grande – PB:

O ícone da cidade limpa. As ações em gestão de resíduos são capitaneadas pela limpeza urbana e coleta de resíduos. Essas duas atividades gozam de maior atenção por parte dos gestores, compondo o sistema de resíduos sólidos com o qual a população tem maior contato, por serem visíveis e próximas à população local. Essas atividades funcionam como termômetro, como indicadores simbólicos da aprovação ou reprovação da ação dos gestores nesta área. Também o ícone da cidade limpa opera como uma variável indicadora de progresso. Uma cidade moderna possui uma paisagem urbana limpa, ampla, com ruas largas, nas quais os carros trafegam livremente e não há odores fétidos;

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A prática de aterramento dos lixões nos arredores da cidade, desperta para a necessidade de um projeto de pesquisa com objetivo de mapear as áreas que abrigaram antigos depósitos de lixo; focalizando a requalificação urbana desses espaços e os efeitos dos materiais soterrados sobre a qualidade ambiental e a saúde da população.

O afastamento das fontes poluidoras. As ações repressoras da poluição são realizadas para mascarar e/ou distanciar os seus efeitos desagradáveis. A poluição é tratada ao nível do que é facilmente perceptível. Assim, se uma fábrica emite gases incômodos, a solução é afastá-las do núcleo urbano, não importa se os gases tóxicos continuarão a serem emitidos, conquanto que não haja mais perturbações imediatas. A mesma lógica é aplicada para depósitos de lixo, quando o mesmo se torna