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O discurso jurídico visto através do vértice sociopolítico

Esquema 4 Esquema referente ao discurso epistemológico

4 O MAPA QUE TRILHA UMA ORDEM SOBRE O DISCURSO VISUAL: A

4.1 O discurso jurídico

4.1.2 O discurso jurídico visto através do vértice sociopolítico

No capítulo II, artigo 6° da CF/1988, consta: “São direitos sociais a Educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, o lazer, [...]” (BRASIL, 2012c, p. 18), entre outros direitos que significam mudanças de natureza tanto social quanto política para o educando da EJA. Inscrições enunciativas achadas na LDB 9.394/96, capítulo II, seção V, são articuladas para falar da EJA, em função com a CF/1988. Estes dois documentos operam ressaltando duplamente as seguintes regularidades: em primeiro lugar, levam em conta as especificidades do educando da EJA no que tange às suas características ligadas à escolarização e ao trabalho. Dando lugar à importância da educação básica para todo conjunto societário, enunciados destacam a vida escolar do educando da EJA, identificando-o como um sujeito sem escolarização ou que teve poucos anos de escolarização. É, portanto, sob o signo da falta de escolarização que se configura uma identidade mais geral moldada para se falar sobre o educando desta modalidade de educação. Ao levar em conta as condições sociais que entram em relevo na organização da identidade deste educando, vê-se que não é sem razão a emergência de enunciados vinculados às profissões e a tudo que faz relação com as competências linguísticas e o mundo do trabalho. Nesta ordem, presentes nos documentos citados, encontram-se regularidades enunciativas que marcam a tarefa de executar normas jurídicas que são postas para o campo da Educação, que devem ser materializadas em práticas pedagógicas, cujas perspectivas devem promover a aprendizagem das linguagens, dentre elas a visual. Sob o signo da relação escola/trabalho, justificam-se os conteúdos curriculares que visam oportunizar ao educando da EJA se preparar para enfrentar com mais competência a vida societária e profissional, organizadas pelos signos da escrita e da leitura, sobretudo, no

momento atual, marcado por grandes avanços tecnológicos. Séries enunciativas achadas no discurso jurídico, postas nos documentos citados acima, organizam-se para escreverem seus textos normativos sobre a EJA, colocando em relevo os signos do direito à aprendizagem da leitura e da escrita ao educando da EJA, entendidos a partir do direito à vida social integrada entre a escola e o trabalho, mostrando as marcas da especificidade desta modalidade de educação.

Elementos enunciativos encontrados nas propostas curriculares para o 1º e 2º segmentos da EJA arrolam enunciados que ressaltam este público como um “[...] grupo homogêneo do ponto de vista sócio-econômico [...]”, ao mesmo tempo em que marcam a sua diversidade ao se referirem a este público, ressaltando que, quanto ao aspecto “[...] sócio- cultural, entretanto, eles formam um grupo bastante heterogêneo” (BRASIL, 2001, p. 40). Entende-se que estas séries enunciativas ao transpassarem os discursos jurídico e didático- pedagógico exprimem e imprimem certa relevância que faz emergir séries de enunciados correlatos presentes na construção das propostas curriculares para esta modalidade de ensino.

A CF/1988 assume o LD nominando-o e relacionando-o a ele mesmo, ou seja, como “[...] material didático-escolar [...]” (BRASIL, 2012c, p. 122). Isto implica concebê-lo segundo enunciados encontrados em séries enunciativas presentes no discurso epistemológico, definidos segundo conceitos mais recorrentes, igualmente como um material didático-escolar que comporta o conhecimento sistematizado por uma determinada disciplina que apresenta. Como um artefato sociocultural e escolar se aloja muito bem, enunciados que apontam para os seus conceitos ressaltando séries enunciativas como: “As últimas transformações na análise de conteúdo dos livros didáticos referem-se ao próprio material sobre o qual se baseia seu estudo” (CHOPPIN, 2004, p. 559). Em enunciados heterogêneos encontram-se séries enunciativas presentes nos discursos jurídico e didático-pedagógico, articuladas para falar do LD e dos seus componentes curriculares, considerando que “[...] o atual quadro da produção didática para a EJA apresenta basicamente dois tipos de coleções: as que organizam os componentes curriculares por disciplinas, e as que propõem uma abordagem interdisciplinar” (BRASIL, 2010b, p. 18). Disto se pode entrever que, sobre o LD, também se enuncia como um material didático-pedagógico multifacetado ao aproximá-lo dos conteúdos curriculares e das disciplinas que este material organiza e apresenta.

Quando se referem ao uso do texto visual, as escrituras das propostas curriculares para o 1º e 2º segmentos recorrem à condição particular da imagem de representar as coisas do mundo existencial do educando. A partir de enunciados que falam do LD da EJA, considerando as suas atividades didáticas, ressalta dentre outras, os “[...] exercícios de montar

ou completar palavras com sílabas dadas, palavras e frases para ler e associar às imagens [...]” (BRASIL, 2001, p. 28). Verifica-se que estas séries enunciativas transpassadas pelos discursos jurídico, didático-pedagógico e epistemológico, operam em regularidades enunciativas e emergem sob o signo da multimodalidade textual, apresentam seus conteúdos visuais e verbais, articulados e mediando o ensino da disciplina Língua Portuguesa.

Contemplar o uso de imagens pertencentes ao mundo social, político e cultural do educando, pedagogicamente, tem por objetivo a apropriação dos saberes prévios já assimilados pela experiência dos educandos da EJA. Tomada como exemplo da mediação pedagógica, o texto visual a seguir não deve apenas pretender levar o educando a encontrar sentidos e fazer (re)significações frente à imagem veiculada. Parece que o objetivo aqui, também, é ativar signos fincados no jogo das normas sociais já postas, e assim, fazer valer a relação sujeito/mundo/conhecimento, relacionando o texto visual ao texto linguístico, e potencializando o ensino da disciplina Língua Portuguesa através de códigos sociais e culturais contemporâneos.

Imagem 10 - Trânsito: respeito e educação

Fonte: SOUZA, C. L. G. de (2009b, p. 29).

Percebe-se que o uso deste texto visual neste LD demanda o entendimento da sua episteme, dos objetivos de ensino e dos limites e alcances deste uso no meio escolar. Vistas

estas considerações, é possível remarcar de imediato na dimensão composicional desta imagem uma parte do código nacional de trânsito vigente no Brasil, nada mais que isto. Todavia, ao chegar ao LD da EJA, o deslocamento desta imagem passa a fazer parte de uma trama discursiva didático-pedagógica, já discutida e autorizada em outros lugares. Um destes lugares se encontra na região dos enunciados articulados pelo discurso jurídico, cujo ordenamento emerge, entre outros documentos, nas propostas curriculares, que falam sobre o uso da imagem como conteúdo do LD da disciplina de Língua Portuguesa, tendo a finalidade de mediar os processos de ensino-aprendizagem. Como acontecimento discursivo, este texto visual ao trazer esta imagem e não outra faz emergir uma regularidade enunciativa articulada à inscrição sobre o ensino da leitura e da escrita de diferentes textos e códigos. A irrupção desta imagem confere visibilidade ao estudo de distintas linguagens em aula da disciplina de Língua Portuguesa e provoca a articulação de textos verbais e não verbais em interação. Esta prática discursiva possibilita a presença em livros didáticos de signos que circulam no cotidiano do educando serem explorados como gêneros textuais, mas ratificados por séries enunciativas já postas em outros documentos, como nos: “Textos instrucionais (receitas, manuais, regulamentos, normas etc.)” (BRASIL, 2001, p. 80).

Constata-se que os enunciados que circulam no âmbito do discurso jurídico trazem as normas que regulamentam a presença do texto visual em livros didáticos da EJA, aqui, encontrados ora em regularidade, ora em dispersão. Este conjunto de enunciados opera não só autorizando distintos textos constituírem o LD de língua portuguesa da EJA, mas operam também, dando condições de existência a este LD circular no meio escolar, fazendo parte do funcionamento de uma ordem discursiva particular, pertencente ao sistema educacional brasileiro vigente.

Destarte, as demandas apresentadas pela sociedade à pedagogia questionam o campo da didática acerca da produção de conhecimento e da progressão dos saberes produzidos que contemplem o processo de ensino-aprendizagem frente a um mundo cada dia mais visual. Visando entender melhor estas questões, a seção seguinte busca trazer à vista séries enunciativas do discurso didático-pedagógico encontradas em regularidades e dispersões e discutir o seu modus operandi no interior do LD de língua portuguesa da EJA.