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O Enquadramento dos Corpos d’água em Classes

2.5. Política Nacional de Recursos Hídricos

2.5.2. Os Instrumentos de Gestão

2.5.2.3. O Enquadramento dos Corpos d’água em Classes

O enquadramento, mencionado de forma destacada na Lei 9.433/97 por ser oriundo da legislação ambiental, anterior a ela, claramente se insere entre as metas de racionalização do uso previstas no plano de bacia, dele demandando definições de usos previstos para a água em função dos usos presentes, dos planos de intervenção e das disponibilidades quantitativas. O enquadramento visa determinar níveis de qualidade ao longo do tempo nos diversos trechos da malha hidrográfica, em função dos usos desejados e dos programas e das metas para a consecução desses objetivos. As definições nele previstas afetam diretamente a outorga, que se dará pelas vazões de diluição, as quais são, por sua vez, função dos níveis de qualidade estabelecidos.

Mais do que uma simples classificação, o enquadramento dos corpos d’água deve ser visto como um instrumento de planejamento ambiental, pois o enquadramento

dos corpos d'água deve estar baseado não necessariamente no seu estado atual, mas nos níveis de qualidade que deveriam possuir ou ser mantidos para atender às necessidades estabelecidas pela comunidade (ANA, 2005).

O enquadramento deve ser elaborado de acordo com a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) n° 357, de 17 de março de 2005, que estabeleceu uma nova classificação para as águas doces, bem como para as águas salobras e salinas do território nacional. São definidas treze classes, segundo os usos preponderantes a que as águas se destinam, conforme apresentado na Tabela 3.1.

A Resolução Conama Nº 357, de 17 de março de 2005, publicada no Diário Oficial da União (DOU), que substitui a Resolução Nº 20 de 1986, dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.

Tabela 2.1 – Classificação do Conama para águas doces, salobras e salinas do território nacional brasileiro.

Águas Doces

I - classe especial: águas destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e,

c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral.

II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

Resolução CONAMA no 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e

e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;

d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e

e) à aqüicultura e à atividade de pesca.

IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;

b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

c) à pesca amadora;

d) à recreação de contato secundário; e

e) à dessedentação de animais.

V - classe 4: águas que podem ser destinadas:

a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Águas Salinas

I - classe especial: águas destinadas:

a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; e

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;

b) à proteção das comunidades aquáticas; e

c) à aqüicultura e à atividade de pesca.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) à pesca amadora; e

b) à recreação de contato secundário.

IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Águas Salobras

I - classe especial: águas destinadas:

a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; e,

b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas.

II - classe 1: águas que podem ser destinadas:

a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à aqüicultura e à atividade de pesca;

d) ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado; e

e) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película, e à irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto.

III - classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) à pesca amadora; e

b) à recreação de contato secundário.

IV - classe 3: águas que podem ser destinadas:

b) à harmonia paisagística.

Fonte: Resolução n. 357 do Conama, 2005.

Bassoi; Guazelli (2004) consideram que o fato de um trecho de rio estar enquadrado em determinada classe não significa necessariamente que esse seja o nível de qualidade que ele apresenta, mas sim aquele que se busca alcançar ou manter ao longo do tempo.

Para cada uma dessas classes são estabelecidos parâmetros de qualidade físicos, químicos e biológicos, com seus respectivos valores, que devem ser seguidos para assegurar os usos preestabelecidos das águas.

No Ceará, o enquadramento dos corpos d’água em classes de uso preponderantes não é instrumento da Política Estadual de Recursos Hídricos - PERH, no entanto, a cobrança pela utilização e pela diluição, transporte e a assimilação de efluentes do sistema de esgotos e outros líquidos, de qualquer natureza deverá considerar a classe de uso em que for enquadrado o corpo d'água (CEARÁ, 1992).

Apesar da importância deste instrumento, podem-se apontar algumas dificuldades para ampliação dos enquadramentos, conforme estudo realizado pela Secretaria de Recursos Hídricos (SRH/MMA, 1999). Os principais problemas para realização dos enquadramentos, segundo os estados, são a falta de capacidade técnica, recursos, metodologia, coordenação das ações e ações de gestão.

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