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2. O Acompanhamento da Ação Educativa

1.4. Opções metodológicas

1.4.2. O Estudo de caso

A utilização do estudo de caso como opção metodológica na investigação qualitativa tem vindo em crescendo, apesar de não existir uma definição clara e consensual quanto à sua definição. Lincoln & Guba afirmavam que “enquanto que a literatura está repleta de referências a estudos de casos e com exemplos de relatórios de estudo de caso, parece haver pouco consenso sobre o que é um estudo de caso” (1985: 360). Contudo, entendemos que a definição apontada por Yin incorpora os contributos mais significativos que este conceito integra:

“O estudo de caso é uma investigação empírica que

 investiga um fenómeno contemporâneo em profundidade e em contexto de vida real, especialmente quando

 os limites entre o fenómeno e o contexto não são claramente evidentes” (2010: 39).

Como o fenómeno e o contexto nem sempre são distinguíveis nas situações da vida real, outras características técnicas, incluindo o processo de recolha de dados e as estratégias de análise dos dados, foram integradas na definição:

“A investigação do estudo de caso

 enfrenta a situação tecnicamente diferenciada em que existirão muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados, e, como resultado

 conta com múltiplas fontes de evidência, com os dados precisando convergir de maneira triangular, e como outro resultado

 beneficia-se do desenvolvimento anterior das proposições teóricas para orientar a recolha e a análise de dados” (2010: 40).

O estudo de caso compreende um método abrangente que inclui a lógica de projeto, as técnicas de recolha de dados e as abordagens específicas à análise de dados. Visa dar resposta às questões de investigação preocupadas em compreender o “como” e o “por quê” de determinado fenómeno ou realidade, havendo pouco controlo sobre os fenómenos que decorrem em contextos da vida real por parte do investigador.

Os estudos de caso “correspondem a um modelo de análise intensiva de uma situação em particular” (Pardal e Correia, 1995: 23). Num estudo de caso, “o pesquisador procura revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa determinada situação ou problema, focalizando-a como um todo” (Lüdke e André, 1986: 19).

128 Yin considera a existência de três tipologias de estudos de caso: 1) exploratórios; 2) descritivos; e 3) explicativos. Durante algum tempo, prevaleceu uma conceção errónea de visão hierárquica desta tipologia de estudos de caso, sendo os estudos de caso considerados, por alguns investigadores das ciências sociais, adequados apenas para fins exploratórios e de utilização apropriada sobretudo nas fases iniciais de uma investigação:

“Muitos cientistas sociais ainda acreditam profundamente que os estudos de caso são apropriados apenas para a fase exploratória de uma investigação, que os levantamentos e as histórias são apropriados para a fase descritiva e que os experimentos são a única maneira de fazer investigações explicativas ou casuais” (2010: 26).

Contudo, Yin defende que: “A visão mais apropriada pode ser inclusiva e pluralista: cada método de pesquisa pode ser usado para as três finalidades – exploratória, descritiva e explicativa. Podem existir estudos de caso exploratórios, descritivos ou explicativos” (2010: 27).

Ainda segundo Yin (2010), o que distingue estas tipologias não é a sua hierarquia, mas a consideração de um conjunto de três condições essenciais para a utilização dos estudos de caso: 1) a natureza das questões de investigação; 2) o grau de controlo que o investigador tem sobre os acontecimentos ou comportamentos observáveis; e 3) o enfoque em situações da atualidade.

Muitos autores destacam as vantagens e desvantagens do estudo de caso (Stake, 2007; Yin, 2003, 2010; Bell, 2002). A falta de rigor da pesquisa, a pouca base para a generalização científica, o tempo que levam a realizar, a par dos testes de campo aleatórios ou “verdadeiros experimentos” (Yin, 2010, 35-37) são os principais perigos identificados nesta forma de investigação empírica. Mas o aspeto mais apontados como limitativo do estudo de caso é a produção de generalizações. Efetivamente, as generalizações ocorrem durante todo o estudo de caso e vão sendo aperfeiçoadas ao longo da investigação. São aquilo que Stake (2007) denomina de micro-generalizações. De facto, raramente um estudo de caso alcança um entendimento totalmente novo, mas consegue o aperfeiçoamento desse entendimento.

Stake afirma:

“O verdadeiro objetivo do estudo de caso é a particularização, não a generalização. Pegamos num caso particular e ficamos a conhecê-lo bem, numa primeira fase não por aquilo em que difere dos outros, mas pelo que é, pelo que faz. A ênfase é colocada na singularidade e isso implica o

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conhecimento de outros casos diferentes, mas a primeira ênfase é posta na compreensão do próprio caso” (2007:24).

Para Bell, a grande vantagem deste método:

“Consiste no facto de permitir ao investigador a possibilidade de se concentrar num caso específico ou situação e de identificar, ou tentar identificar, os diversos processos interativos em curso. Estes processos podem permanecer ocultos num estudo de maior dimensão, mas poderão ser cruciais para o êxito ou fracasso de sistemas ou organizações” (2002: 23).

Os estudos de caso têm um lugar de relevo na investigação em avaliação (Cronbach et al., 1980; Patton, 1980; Guba & Lincoln, 1981), existindo, pelo menos, quatro aplicações diferentes.

A utilização do estudo de caso no campo da avaliação pode responder a vários objetivos, sendo a aplicação mais importante usada para “explicar os presumidos vínculos causais nas intervenções da vida real que são demasiado complexos para as estratégias de levantamento ou experimentais” (Yin, 2010:41). Para além da explicação, Yin identifica três outros tipos de aplicações do estudo de caso. Este ainda poderá ser utilizado para “descrever uma intervenção e o contexto da vida real”, “ilustrar determinados tópicos numa avaliação” e para “explorar as situações em que a intervenção sendo avaliada não possui um único e claro conjunto de resultados” (2010:41).

No contexto deste trabalho de investigação, atendendo à natureza das questões de investigação, a opção pelo estudo de caso e pela investigação-ação como estratégias de investigação a adotar pareceu-nos congruente com a perspetiva defendida por Yin:

“você usaria o método de estudo de caso quando desejasse entender um fenómeno da vida real em profundidade, mas esse entendimento englobasse importantes condições contextuais - porque eram altamente pertinentes ao seu fenómeno de estudo” (2010:39).

As dimensões associadas ao contexto e aos atores que nele participam constituíram aspetos importantes que interessava explorar e conhecer com maior profundidade, pois estávamos interessados em “entender esse caso específico” (Stake, 2007: 20), procurando compreender o contexto e os fatores que nele interferem, de modo a perceber melhor a realidade e os fenómenos que decorrem no contexto investigado.

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