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Capítulo 1 – Economia Solidária: Contextos e Percursos

1.2. A economia solidária no Brasil

1.2.2. Virando o século XXI

1.2.2.2. O Fórum Brasileiro de Economia Solidária

No I Fórum Social Mundial, realizado em janeiro de 2001, em Porto Alegre, nasceram as primeiras articulações em torno do tema da economia solidária, mediante a constatação da existência de várias iniciativas produtivas e também da identificação de algumas experiências no âmbito das políticas governamentais estaduais e municipais. No referido evento, foi criado um Grupo de Trabalho – GT, já mencionado anteriormente, com o propósito de articular e mediar a participação nacional dos diversos segmentos que trabalhassem com a economia solidária. O GT convocou duas plenárias nacionais, nas quais foram elaboradas uma carta de princípios e uma plataforma de lutas, referendadas por ocasião de uma terceira plenária,38 quando foi criado o Fórum Brasileiro de Economia

Solidária – FBES. Este Fórum é constituído por representações dos empreendimentos solidários, entidades de assessoria e fomento e gestores públicos39, sendo o interlocutor entre estas representações e outros movimentos

38 A I e II Plenárias foram realizadas em 2002 e 2003, respectivamente, por ocasião do II e III Fóruns Sociais Mundiais. A terceira Plenária aconteceu em junho de 2003. Para essa terceira plenária, foram feitas, como forma de preparação e mobilização, 18 plenárias estaduais que contaram com a presença de mais de 800 delegados.

39 A composição atual do FBES é a seguinte: a sua principal instância de decisão é a Coordenação Nacional, formada por representantes das entidades e redes nacionais de fomento, além de 3 representantes por Estado que tenha Fórum ou Rede Estadual de Economia Solidária. Destes 3 representantes por Estado, 2 são empreendimentos e 1 é assessor ou gestor público. A Coordenação Nacional reúne-se 2 vezes ao ano. Para a gestão política cotidiana, interlocução com outros movimentos e com o governo federal, e acompanhamento da Secretaria Executiva Nacional, há uma Coordenação Executiva Nacional, composta por 13 pessoas, sendo 7 representantes de empreendimentos (2 do Norte, 2 do Nordeste e 1 representante para cada uma das demais regiões), 5 representantes das Entidades e Redes Nacionais de promoção à Economia Solidária, e 1 representante da Rede Nacional de Gestores Públicos. Por fim, para dar suporte aos trabalhos do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES, propiciar a

sociais, principalmente com o governo federal que, por sua vez, inclui nos programas relativos à economia solidária itens da plataforma do FBES.

A carta de princípios do FBES define bem a sua identidade e indica a concepção da economia solidária como sendo práticas que prezam

a valorização social do trabalho humano; a satisfação plena das necessidades de todos como eixo da criatividade tecnológica e da atividade econômica; o reconhecimento do lugar fundamental da mulher e do feminino numa economia fundada na solidariedade; a busca de uma relação de intercâmbio respeitoso com a natureza e os valores da cooperação e da solidariedade40.

Para o FBES, a economia solidária se desenvolve por meio de

práticas fundadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular41.

As bandeiras de luta defendidas pelo FBES estão traduzidas na sua plataforma e relacionadas, entre outras, às seguintes questões:

a) luta por uma política nacional de finanças solidárias (fundos solidários, grupos de trocas, bancos comunitários, cooperativismo de crédito, crédito solidário,etc.);

b) definição de um marco legal para a economia solidária (construção do Estatuto da Economia Solidária; Leis Estaduais de Fomento à Economia Solidária; reforma nas legislações tributária, fiscal, previdenciária, revisão na Lei de Falências; Lei geral do cooperativismo);

c) desenvolvimento de um processo educativo que contemple conteúdos de economia solidária no ensino (desde a pré-escola ao ensino universitário) e que perpasse temas transversais; nas atividades de pesquisa e extensão; criação de centros de formação para agentes e atores da economia solidária, garantindo

comunicação entre as instâncias e operacionalizar reuniões e eventos, existe uma Secretaria Executiva Nacional. Existem ainda Grupos de Trabalho (GT's) que se conformam, de acordo com a demanda de ações específicas do FBES, e para o avanço na implantação da Plataforma da Economia Solidária. Os GT's, atualmente, são: Mapeamento, Finanças Solidárias, Marco Legal, Comunicação, Políticas Públicas, Relações Internacionais e Produção, Comercialização e Consumo. Cf. www.fbes.org.br.

40 Conforme Carta de Princípios do FBES. Disponível em: www.fbes.org.br. 41 Ibidem.

capacitação e assistência técnica; estímulo à participação em programas de educação de jovens e adultos para aqueles que não tiveram a oportunidade de freqüentar o ensino regular;

d) comercialização: criação de um Sistema de Comércio Justo e Solidário42; constituição de redes e cadeias de produção, comercialização e consumo; Sistemas Estaduais de Comercialização; realização das feiras estaduais e a feira nacional de economia solidária.

Todas essas bandeiras de luta estão presentes nas reuniões da Coordenação Nacional43, da Coordenação Executiva, nos encontros e seminários,

tendo-se sempre como referência a carta de princípios e a interlocução com os Fóruns de Economia Solidária dos Estados44.

Por meio do FBES, tem ocorrido uma série de mobilizações no sentido de garantir o espaço da economia solidária, não só no âmbito governamental, mas também para o seu reconhecimento na sociedade em geral.

Em agosto de 2004, aconteceu o I Encontro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários no qual compareceram cerca de 2.000 pessoas, sendo 1.800 empreendimentos econômicos solidários dos 27 Estados brasileiros. Recentemente, no dia 08 de maio de 2007, foi lançada, na Câmara Federal, a Frente Parlamentar em defesa da Economia Solidária. Foi uma iniciativa do deputado federal Eudes Xavier (PT – Ceará), resultado da mobilização realizada pelo FBES. Essa Frente Parlamentar tem como objetivo manter um fórum

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Já foi elaborada uma proposta de Instrução Normativa do Sistema de Comércio Justo e Solidário, a ser negociada com o governo federal. O propósito, do referido documento, é definir um Sistema Público Nacional que regulamente esse tipo de comércio, considerando-se as peculiaridades brasileiras e o papel do Estado nesse processo. Com essa regulamentação os empreendimentos econômicos solidários teriam acesso a benefícios fiscais, licitatórios, agregação de valor ao produto e melhoria da qualidade, a prática do preço justo, organização em cadeias e redes de produção e comercialização, consumo responsável, entre outros. Essas discussões vêm acontecendo no interior do FBES que possui um GT específico para tratar dessas questões. Conta também com o apoio e experiência do Fórum de Articulação para o Comércio Ético e Solidário do Brasil – FACES Brasil. Cf. Notícias da Economia Solidária. Proposta de Instrução Normativa do

Sistema de Comércio Justo e Solidário. Disponível em: www.fbes.org.br. Acesso em 19 de maio

de 2007.

43 Já ocorreram, até o momento, sete reuniões da Coordenação Nacional do FBES. A IV reunião aconteceu, no período de 07 a 10 de maio deste ano (2007), em Brasília.

44 Existem Fóruns de Economia Solidária em todos os Estados do Brasil. Atualmente, o FBES tem feito uma série de encontros regionais, com o propósito de discutir a sua reestruturação, no sentido de reafirmar sua identidade política, suas bandeiras de luta nacionais, regionais e locais, a sua relação com os diversos segmentos da sociedade civil e do governo, além da sua sustentabilidade e forma de organização e gestão. Esse processo de reestruturação vai ser alvo de discussão por ocasião da realização da IV plenária nacional que deverá acontecer em março de 2008, sendo precedida de plenárias estaduais.

permanente de debate, estudo, fomento e elaboração de legislações pertinentes ao campo da economia solidária.

Destaca-se que FBES tem sido um instrumento de mobilização da economia solidária e desenvolvido o papel de representação dos seus diversos segmentos no diálogo para a construção de uma política nacional para a economia solidária, potencializando a organização destes atores em redes de representação, articulações e cadeias. Em termos dos movimentos sociais, pode- se considerar que o FBES tem sido um espaço de articulação nacional no qual participam movimentos sociais, empreendimentos, entidades de assessoria e gestores.