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1.2 O financiamento e o orçamento do Ensino Superior público no Brasil

1.2.1 O financiamento da educação nas universidades públicas

O financiamento da educação superior no Brasil se dá, principalmente, por meio de pagamentos de mensalidades, em se tratando de instituições privadas, bem como pelo aporte de recursos públicos, não somente nas Ifes, mas, também para as privadas, por meio de concessões de bolsas (FIES, ProUni) e/ou por isenções fiscais e previdenciárias.

Em seu art. 12, a CF/88 “estabelece que a União aplicará, nunca menos de 18%, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no mínimo, 25% da receita

resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino” (BRASIL, 1988). Nessa mesma linha, o art. 55 da LDB, determina que “Caberá a União assegurar, anualmente, em seu Orçamento Geral, recursos suficientes para a manutenção e desenvolvimento das instituições de educação superior por ela mantidas” (BRASIL, 1996). No entanto, segundo Amaral (2011), no financiamento do ensino superior público federal, é um grande incitamento, no que tange ao questionamento: “Quais seriam os recursos suficientes para manutenção e desenvolvimento das instituições mantidas pela União”? Nas palavras do autor, descobrir uma mecânica queatenderia de forma adequada a essa indagação é uma das mais complexas missões a ser desafiada no estabelecimento da liberdade prevista no art. 207 da CF/88.

Conforme ainda argumenta Amaral (2008, p. 650), “o financiamento das atividades do meio universitário, é vital para as definições das suas políticas de ensino, pesquisa e de interação com a sociedade”. Portanto, não se pode falar em autonomia das instituições de ensino superior sem a alocação suficiente de recursos financeiros para atendimento às necessidades de desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão. Assim, cabe o salientado por Santos Filho e Chaves (2014, p. 34), “o financiamento dos Ifet, como se extrai da legislação de criação destas instituições, tem um caráter diversificado, vez que há atendimento ao ensino médio/profissional e à educação superior”. No entanto, os mesmos autores deixam claro que, não se pode afirmar, porém, se estes cursos superiores de tecnologia atendem ao tripé ensino pesquisa e extensão, como estabelece o art. 6º, incisos II, V, VII e VIII, da Lei nº. 11.892/2008 (Lei das Ifet), visto que, o incentivo elementar para a constituição e desenvolvimento deste modelo de ensino, é atender às determinações do mercado por procura profissional,não se levando em conta com o crescimento do homem e com a formação crítico-científica.

Para o ensino superior brasileiro, a política empregada, tem beneficiado o desenvolvimento a esfera privada de forma rápida, notadamente, após outorgada a LDB/96. Simultaneamente em que o governo propicia a expansão do setor privado, professa uma política de redução dos recursos para a ampliação e a continuidade das IES (AMARAL, 2003). Legalizada a LDB/96, o governo contraiu relevada atribuição no domínio e na administração das políticas educacionais, e, concomitantemente, despendeu a oferta do ensino superior pelo setor privado consoante ao dispositivo legal (art. 7º da LDB/96).

Conforme referenciado por Chaves (2011, p. 3), no contexto desse artigo da LDB, o oferecimento da educação privada é normativo, mas versa que essa seja autofinanciada, ou melhor, cumprirá à “família arcar com seus custos, e o Estado será apenas o regulador e controlador desse serviço, por meio da criação de mecanismos de credenciamento e avaliação”. Porém, nota-se, conforme ressalvado no § 2º do art. 213 da CF/88, é oportunizado que as instituições privadas percebam recursos públicos para desenvolver pesquisa e extensão, contribuindo com a expansão do ensino superior por meio do setor privado.

Chaves (2011) destaca também o art. 20 da LDB/96, o favorecimento do setor empresarial ao proporcionar a institucionalização de estabelecimentos com a finalidade de usufruir a educação para fins tão somente lucrativos, convertendo, em vista disso, o ensino superior em uma operação comercial.

Outrossim, Chaves (2010) pondera que o contributo dessa expansão vem acontecendo pela aplicação de estratégias como: liberdade das atividades didáticas; isenções tributárias; isenção do encargo previdenciário das instituições filantrópicas; bolsas de estudo para alunos desfavorecidos mediante Programa do Crédito Educativo atualmente alterado para FIES; créditos financeiros a juros subvencionados por instituições bancárias oficiais como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); o ProUni, entre outras formas de encorajar ao setor privado.

Nessa última década, o governo federal, ainda, na mesma perspectiva e com o objetivo de retomar o crescimento do ensino público lançou o Reuni, conforme, já relatado, por meio do Decreto nº. 6.096/2007, a fim de financiar a expansão exigida no PNE 2001-2011. No art. 3º do referido Decreto, o MEC destinou às Ifes que aderiram ao programa, recursos financeiros, com o intuito de cobrir despesas advindas de projetos apresentadas em seus planos de reestruturação, sobretudo para edificação e readequação deinfraestrutura e equipamentos; aquisição de bens e serviços essenciais ao exercício dos recentes recursos pedagógicos; e despesas de custeio e pessoal atrelados à expansão do plano de reestruturação, posto que essas últimas se estabeleceram a 20% ao final de cinco anos do valor inicial de 2007 (BRASIL, 2007d).

As Ifes para desempenharem suas atividades dependem, fundamentalmente, da assistência do poder público mediante orçamento, formado por receitas do governo, provenientes do Tesouro Nacional; as oriundas de convênios com

organismos públicos e privados, e; as receitas próprias ou diretamente arrecadadas. Os recursos próprios provêm de prestação de serviços pelas diversas unidades da instituição, prestação de serviços ao SUS pelos HU, taxas internas, cessão de usos, doações, vendas permitidas, aplicações no mercado financeiro, etc. Sendo, contudo, o Tesouro Nacional ainda o principal financiador dos recursos necessários à manutenção das Ifes. Ou seja, a geração de recursos próprios não é suficiente para substituir o aporte de verbas públicas, sendo o poder público fundamental para a manutenção financeira e administrativa das universidades públicas.

Para fazer frente às políticas, programas e ações adotados nos últimos tempos, foi necessário um orçamento compatível para que os mesmos se tornassem possíveis. Assim, observa-se que o governo aumentou a participação do orçamento do MEC em relação ao total do orçamento. Em 2003 a participação era de 2,07% elevando-se em 2013, para 4,38% (Tabela 12).

Tabela 12: Valores7 empenhados (2003-2016)

Ano Governo MEC MEC/Gov. Ifes Ifes/MEC

2003 1.474.103.367.486 30.472.603.883 2,07% 14.678.108.328 48,17% 2004 1.527.386.991.930 30.925.134.220 2,02% 17.726.573.991 57,32% 2005 1.861.412.477.642 33.684.106.164 1,81% 18.716.892.465 55,57% 2006 1.990.776.612.430 40.238.144.141 2,02% 23.427.770.588 58,22% 2007 2.058.197.938.435 48.290.426.333 2,35% 26.081.163.338 54,01% 2008 2.117.150.082.910 55.523.672.998 2,62% 29.692.566.410 53,48% 2009 2.272.924.858.370 67.076.888.280 2,95% 31.820.728.369 47,44% 2010 2.303.553.501.690 82.983.293.063 3,60% 36.155.761.855 43,57% 2011 2.405.189.843.034 91.844.862.219 3,82% 38.585.039.424 42,01% 2012 2.515.294.845.361 103.734.697.862 4,12% 39.278.456.759 37,86% 2013 2.473.552.640.520 108.321.795.138 4,38% 43.027.435.837 39,72% 2014 2.776.682.912.287 111.376.509.219 4,01% 43.887.890.522 39,40% 2015 2.631.304.269.041 108.102.065.152 4,11% 43.044.308.025 39,82% 2016 2.939.975.953.431 110.755.618.327 3,77% 47.639.095.630 43,01% Fonte: SIGA Brasil - Senado Federal. Adapatada pela pesquisadora.

O orçamento do Governo Federal praticamente dobrou de 2003 para 2016, e a do MEC praticamente triplicou. Observa-se ainda, que o Governo Federal cresceu seu investimento na educação. Em 2003, investia 2,07%, em 2013 esse investimento dobra, reduzindo nos anos seguintes. O orçamento das Ifes também triplicou de 2003 para 2016. Pode-se inferir que a maior participação do MEC no orçamento governamental propiciou o Reuni. Importante, ainda ressaltar que em 2003, o MEC contava com 44 Ifes, em 2016 esse número sobe para 63.