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O GATO NAS ARTES

No documento Imagens mí(s)ticas do gato (páginas 40-52)

Os gatos são grande fonte de inspiração em vários campos das artes: pintura, escultura, cinema, desenho, fotografia, como também na publicidade, na heráldica, e de modo mais especmfico, em função do nosso objeto de estudo, enfatizamos a sua presença na literatura.

Na Antiguidade, os felinos eram pintados ou esculpidos com bastante frequência como imagens de poder e liderança, principalmente nos pamses do Oriente. No Egito, tais imagens representavam os gatos caçando, amamentando e mesmo brincando com crianças. No Ocidente, na direção oposta, a presença desse animal nas artes era mais rara, em decorrência da sua imagem negativa, disseminada pela igreja católica que o associava às forças do mal e ao paganismo. Em muitas das obras que datam de antes do séc. XVIII, os demônios tinham a forma felina; o gato simbolizava a traição, a sexualidade e o mal, aparecendo inclusive aos pés de Judas, em quadros que representavam a Santa Ceia.

Nesse contexto, enfatizamos a existência de um dos maiores pintores do séc. XVI, Hieronymus Bosch, que exerceu grande influência sobre muitos outros, particularmente os surrealistas, retrata, em vários dos seus trabalhos o gato demonmaco, em um universo mágico inerente à cultura de seu tempo. Nesse espaço, o autor criou um mundo permeado de seres monstruosos, fantasmagóricos e de estranhas construções, em que a natureza confunde-se com a fantasia, em uma obra cuja alegoria é carregada de tom satmrico e moralizante, retratando com cores fortes as ideias sobre o paramso terrestre, o pecado, o jumzo final e o inferno.

Seguindo a trajetória através dos séculos, reportando-nos à percepção do gato ligado às forças do mal em uma obra com forte carga religiosa, tomamos como exemplo o quadro de Bosch, em que aparece esse felino, “As tentações de Santo Antônio” (Figura 7) uma vez que a imagem do santo, de acordo com a história era alvo das tentações do Satanás, porque passou a maior parte de sua vida no deserto do Egito e detentor de uma piedade exemplar, tornou-se objeto da atenção especial de Satanás.

Figura 7 – Tentações de Santo Antão7

Fonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Tenta%C3%A7%C3%B5es_de_Santo_Ant%C3%A3o >

Relembramos, então, os bestiários medievais, no que tange à qualificação dos animais quanto à proximidade com o céu ou com o inferno.

Através de uma escrita pictural de múltiplos signos, esta impressionante obra traduz o medo e a inquietação que tocam a alma e a natureza humanas. Num espaço de vastidão que evolui desde os lugares subterrâneos até às regiões aéreas, as tábuas do trmptico estabelecem a progressão do caminho de Santo Antão. No centro da composição o santo olha para fora do quadro, olha para além do espaço de desordem que materializou em pintura os seres fantásticos que o povoam com o mesmo mmpeto com que atormentam o espmrito. Recolhido no escuro e apontado pelo seu bordão, Cristo é o indelével sinal de uma luz redentora. Poderosa súmula de pensamento que anuncia mudança, esta pintura organiza- se entre a obssessiva tradição medieval do registo minucioso e a modernidade com que se constrói um espaço global que explode em clarões e valores lummnicos que conferem unidade ao caos aparente. Aquém e além da linha do horizonte, as figuras surreais movem-se e esvoaçam num mundo de tormenta [...] Uma inventada unidade do espaço [...] território para um formigar de seres e de episódios que desafiam a nossa interpretação e que ocupam, literalmente, os quatro elementos do universo (céu, terra, água e fogo) [...] Santo Antão divisa-se em três sequências da sua lendária experiência eremmtica: à esquerda, agredido fmsica e directamente pelos demónios que o elevam no ar e precipitam no solo; à direita, enfrentando a tentação da carne e o pecado da gula; a meio do painel central, sendo confrontado talvez com a maior de todas as tentações, a do abandono da Fé [...] no centro de um redemoinho diabólico, num espaço e num tempo invadido pelo mal [...] a obra encerra no seu conjunto uma visão totalizante do Mundo invadido pelo Mal, personificado aqui por uma legião de seres demonmacos e 7Jheronymus Bosch (Hertogenbosch, 1450/60-1516). Assinado (canto inferior esquerdo do painel central) ; c.

1500; Óleo sobre madeira de carvalho; A 131,5 x L 119 (painel central) e L 53 (paineis laterais) cm.; Palácio das Necessidades, Lisboa, 1913; MNAA inv. 1498 Pint; piso 1, sala 61

aparentemente fantásticos que também significam um tributo do pintor a uma longa tradição figurativa medieval. O trmptico pode considerar-se, assim, o equivalente visual de um velho tratado de demonologia [...] as cenas são marcadas pela violência e por um espaço desértico em primeiro plano, [...] lugar de cadáveres e de condenados, de morte e desolação, o que vem acentuar a mensagem pessimista, embora não desesperada, de todo o triptico. 8

Bem mais tarde, no séc. XVIII, em contrapartida a toda essa percepção do gato como um ser maligno, encontramos, esse felino retratado em atos cruéis praticados contra eles, sugerindo-nos uma mudança de percepção quanto a esse felino, pois aparece como vmtima da crueldade e não como disseminador do mal. Essa afirmação pode ser entendida por meio de algumas obras do inglês William Hogarth, que fez uma série de quadros denominada “As fases da crueldade”.

No séc. XIX, artistas, a exemplo Gottfried Mind, estudaram e retrataram o comportamento dos gatos. O artista sumço Théophile Steilen tinha em sua casa enorme quantidade de gatos, nos quais externava a sua percepção sobre o comportamento desse animal, fez vários desenhos. Dois desses, podemos apreciar na Figura 8, abaixo.

Figura 8 – Gatos de Théophile A. Steinlen

Fonte: <http://www.tumblr.com/tagged/th%C3%A9ophile-alexandre-steinlen>

As obras artmsticas, de modo geral, estão intrinsecamente relacionadas ao permodo de sua produção, logo, com o passar do tempo, com as mudanças

8

Texto descritivo sobre o quadro de Bosch “As tentações de Santo Antônio”. Disponmvel em: <http://www.mnarteantiga-ipmuseus.pt/pt-> . Acesso em: 29 jun. 2009.

processadas no modo de vida da sociedade, os artistas iam afastando-se dos temas religiosos, históricos e mitológicos, com isso se voltavam para temas relacionados com o cotidiano, consequentemente passaram a retratar os gatos em cenas domésticas, que primavam pela beleza e harmonia.

Muitos artistas usaram a imagem desse felino em quadros nos quais enfatizavam a sensualidade de seus modelos, como é o caso de Edouard Manet, em Olympia (Figura 09). Não sendo mais associado ao paganismo e ao mal, o gato tornou-se um smmbolo de beleza e civilização.

Figura 09 – "Olympia" Edouard Manet, 1863. Musée d'Orsay, Paris

Fonte: <http://www.theflews.com/Paris/Week11Pictures/Paris2278Edouard%20Manet%20Olympia.JPG>

A imagem do gato está também relacionada ao feminino, à sensualidade, ao aconchego, como podemos ver representado em obras de Renoir, na Figura 10.

Figura 10 – a) “Menina com gato”, ou “Menina adormecida”; b) “Menino com gato”; c) "Mulher com gato”, respectivamente

Continuando o nosso trajeto secular, chegamos ao séc. XX, permodo em que a popularidade do gato levou-o aos pincéis de artistas de tendências diversas, os quais se viram atramdos pela beleza e mmpar e presença singular desse animal tão singular e ao mesmo tempo tão plural. Como exemplo desse permodo citamos Pablo Picasso, de quem dentre seus muitos quadros nos quais constatamos a presença do gato, ressaltamos a obra: “Dora Maar com Gato”9 (Figura 11). Também os artistas

Van Gogh, Leonardo da Vinci, Matisse, dentre outros, presenteiam-nos em suas obras com essa enigmática figura: o gato.

Figura 11 – “Dora Maar com Gato” (128,3 cm x 95,3 cm), Pablo Picasso, 1941

Fonte: http://gatopreto.ciberarte.com.br/catlovers/97/o-gato-de-95-milhoes-de-dolares.html

9“Dora Maar com Gato” é um exemplar cubista e retrata a mais famosa amante e grande musa inspiradora dePicasso. Dora foi tão importante para ele que, como consta, ajudou o artista a pintar “Guernica”, obra-prima que denuncia o massacre do povo basco pelas tropas franquistas durante a Guerra Civil Espanhola. Na pintura, Dora Maar, com grandes unhas azuis que parecem garras de gato, está sentada numa cadeira com um gatinho preto em seu ombro. Detalhe importante: Dora não gostava de gatos, e a inclusão do felino desconhecido na obra – dizem alguns especialistas – é um símbolo do controle que Picasso exercia sobre essa mulher.” Texto extraído da internet. Disponível em:< http://gatopreto.ciberarte.com.br>. Acesso: 26 jan. 2009.

2. 2.1 Gatos pintores

Passemos dos gatos retratados para os gatos que fazem pinturas. Não podermamos deixar de mencionar que em nossas pesquisas encontramos a curiosa notmcia de que existem pinturas feitas por gatos no Egito antigo, como também em nossos dias. Na Figura 12, no que nos parece tratar de figura antiga, temos a imagem que nos sugere a representação de um gato no exercmcio da pintura.

No séc. XIX, gatos pintores eram usados em espécies de circo, onde um apresentador insistia que o gato estava a pintar retratos de pessoas da plateia. Na sequencia, a Figura 12 nos sugere que os gatos realmente pintam, porém essas foram as únicas referências encontradas nesse contexto.

Figura 12 – Gatos pintores

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/_ydfdsbmkozk/>

Tão inusitado fenômeno, podemos entender que se baseia

[...] no facto de que, na natureza, os gatos pintam com terra em lugares altos onde não conseguem marcar o território com a urina. Eles urinam na terra, misturam a terra com a urina, sujam as patas com a terra e com o cheiro da sua urina e "pintam", a fim de levar o cheiro a lugares novos. Isto no inmcio, depois os gatos passam a ver as ‘assinaturas visuais’ como suficientes para marcar seu território e tendem a fazer sempre a mesma ‘marca’ em todos os lugares que quiserem marcar. Por isso é até mais fácil atrair o gato para a tinta se ela já tiver o odor da sua urina. Usar tinta acrmlica à base de amônia é ainda mais atrativo para o gato, pois tem um cheiro que se

assemelha ao da urina do gato, por esse mesmo motivo os gatos adoram lixmvia.

Apenas uma pequena percentagem dos gatos domésticos pintam ao que se sabe. Enquanto 60% dos gatos marcam seu território arranhando, apenas 0,001% tentarão marcar as suas patas com alguma coisa para carimbá-las em alguma superfmcie. Isso talvez aconteça porque poucos gatos têm em casa a possibilidade de pintar. Nos Estados Unidos, após a criação da Cat Art Society, uma sociedade que cuida das ‘artes’ feitas por gatos, o número de gatos "pintores" cresceu muito.

[...]

Geralmente, os gatos que gostam de pintar apreciam ‘desenhar’ com a areia da caixa, indo até lá mesmo que não seja para fazer as necessidades, também desenham com comida que cai no chão. [...]

Uma questão em relação às pinturas felinas é se os gatos tentam representar alguma coisa. Os biólogos acreditam que é apenas de um passatempo, enquanto os donos acham que elas são feitas como forma de comunicação com outros gatos e com os donos. Alguns gatos tentam claramente representar objetos em desenhos um tanto toscos, quase abstratos. Uma constante é o fato de que a maioria dos desenhos é feita de cabeça para baixo. Para os felizes proprietários de Gatos Pintores, vale lembrar que, segundo a lei, animais não têm direitos de autor, logo, as obras pertencem aos donos dos gatos.10

Em decorrência da crença de que esses felinos têm habilidades artmsticas, podemos inferir que esse se constitui mais um elemento o qual colaborou para que os gatos fossem considerados animais divinos.

2. 2. 2 O gato na fotografia

Os gatos são também protagonistas de vários trabalhos no âmbito da fotografia, quer seja do cotidiano, documental ou mesmo no campo da fotografia fantástica. No dia a dia, os gatos são representados em anúncios, cartazes, calendários, e geralmente são portadores de mensagens que traduzem a leveza, a ternura, a beleza, a força do olhar e o equilmbrio demonstrado em seus saltos.

Na esfera da fotografia documental, temos o testemunho de uma das diversas situações da vivência desse felino com o humano, na sociedade atual. Por exemplo, uma cena de rua, em Paris, foi imortalizada pelas lentes do fotógrafo André Kertesz,

após ter passado vários dias a observar o comportamento de uma mulher que alimentava um gato de rua para enfim registrar essa interação entre ambos.

Na perspectiva dos flashs fantásticos, podemos citar o álbum Les chats du botheur, do fotógrafo Hans Silvester, em que mmmicas felinas são reveladas, tendo ao fundo aldeias gregas.

2. 2. 3 O gato nos quadrinhos e no desenho animado

O gato também tem forte presença nas histórias em quadrinhos, nos desenhos animados. Será que há alguém que jamais tenha ouvido falar no aventureiro gato Felix, cujos criadores, Otto Messmer e Pat Sullivan, provavelmente tenham sido inspirados na poesia e na lógica do absurdo? E o Tom, das histórias de Hanna e Barbera? O gato que está sempre a defender a casa contra as investidas dos ratos que fizeram morada nas paredes do domicmlio e vivem em busca de comida e a zombar e irritar o Tom, para quem foi criado o antagonista Jerry; E o Sivestre com o pássaro Piu Piu? Não podemos esquecer também o gato ligado ao feiticeiro Gargamel, Azrael, que é velhaco, cruel e demonmaco, reportando-nos à perspectiva que se tinha desse felino na época medieval, sobretudo quanto a sua relação direta com a feitiçaria.

Há também o gato Fritz, que fez sucesso na década de 1960. Segundo o seu criador ele é um jovem estudante, felino sofisticado sempre na moda, habitante de uma cidade moderna povoada por muitos animais. No que se refere ao seu comportamento, esse felino traduz a mndole de alguém inescrupuloso, cmnico, ambicioso e seguro de si, que com todos esses atributos está sempre se dando bem em suas aventuras.

E o Garfield? Criado na década de 1970, um grande gato de cor laranja tigrado, irascmvel, mentiroso, preguiçoso e autoritário, um tirano para com o seu dono John. Contudo um não vive sem o outro, compreendem-se mutuamente.

2. 2. 4 O gato na arte cinematográfica

Os gatos também estão presentes no cinema. Para atuarem nesse campo, é necessário que entrem em cena os treinadores de gatos, embora saibamos que esses felinos não se deixam domar, ressaltamos que nessas circunstâncias conquistam-se esses animais, aproveitando-se da sua caractermstica de carnmvoro guloso, tendo nesses os melhores artistas, pois não trabalham em troca de carmcias, mas sim de refeição – como animais selvagens.

Em 1952, o gato Rhubard foi protagonista do filme que trazia o seu nome. Trata-se de um gato conflituoso e pérfido, utilizado em contexto que traz a caricatura da sociedade americana; dos gatgsters e da polmcia conciliadora; da publicidade enganosa e de seu fetichismo. Esse gato foi agraciado com o Oscar para animais.

Esses felinos encontram-se em filmes variados, representando os diversos temas aos quais estão ligados, como por exemplo: o sobrenatural, a bruxaria, a astúcia, dentre outros. Ressaltamos ainda os filmes que são baseados e geram versões diversas de obras literárias consagradas como O Gato de Botas – de Charles Perraut; O Gato Preto – de Allan Poe; e ainda temos os musicais como Cats, baseado na obra At old possum’s book of pratical cats de T. S. Eliot.

2. 2. 5 O gato na publicidade

O gato, por suas caractermsticas de animal higiênico; dorminhoco; que gosta de conforto e de uma boa almofada para deitar-se; por ser o guardião da fammlia – protegendo e defendendo sua cria – por sua elegância e beleza, pela sua relação com a feminilidade, com a suavidade, com o silêncio, com o luxo; como também pela sua visão aguçada, já teve a sua imagem bastante explorada, marcando forte presença nos vemculos de publicidade.

A Fiat automóveis utilizou de sua imagem para divulgar confortáveis assentos de seus carros; uma fábrica de tabacos utilizou uma gata defendendo a caixa de tabaco que abrigava as suas crias; para divulgar a eficiência do sistema de alarme, uma empresa fez uso do gato guardião que se opõe ao rato assaltante; associando- a limpeza, fábricas de sabão, de detergente, de cera usaram também a imagem do gato para prover seus produtos.

Pelo seu comportamento silencioso, foi útil na divulgação de máquinas de lavar louça, como também de aspirador de pó.

O gato preto com olhos amarelos tornou-se emblema de faróis de automóvel; e apenas lembrando algo bem atual, essa mesma imagem é emblema de uma empresa de vigilância na cidade de Natal/RN. A máquina fotográfica Autofocus também foi divulgada com essa imagem para comprovar a sua eficácia.

Outra publicidade bastante atual e que durae faz sucesso a mais de 30 anos é da gata Hello Kit, marca de produtos femininos para todos os gostos e todas as idades.

A suavidade do seu pelo e a sua relação com a feminilidade lhe valeu a divulgação de lãs, de meias e de depiladores para pernas femininas. O simbolismo feminino propiciou também na publicidade a transformação da mulher em gata, como felina preguiçosa de uma marca de sofá. No sentido oposto dessa metamorfose, a gata transforma-se em mulher para divulgar as jóias de uma marca famosa.

O público feminino constituiu o alvo principal da maioria das campanhas publicitárias, uma vez que o gato dirige-se a emoção, aos sentimentos. Com isso, os smmbolos mais usados são a suavidade, a beleza, a feminilidade, o luxo e o silêncio.

Esse felino marca também sua presença na representação dos clãs, cujos nomes de fammlia contêm, por exemplo, as smlabas: cat ou chat, ou alguma palavra delas derivadas. As imagens dos gatos já foram também usadas em brasões como, por exemplo, no da fammlia escocesa Chattan em que aparecia um gato da montanha.

Com o fim da monarquia, e com o fim da heráldica, os gatos surgiram nas insmgnias dos comerciantes. Em Paris, no Boulevard Saint-Germain, em 1935, foi implantado um dos primeiros oculistas parisiense, graças a insmgnia de um grande gato com óculos que lá se encontrava. Em França, por ocasião do surgimento da República, o gato compôs emblema que celebrava a liberdade, cuja representação incluma a deusa Libertas ao lado de uma cornucópia de onde samam um gato e um pássaro. A imagem desse felino não foi bem mais explorada na arte heráldica e não foi utilizada na armaria provavelmente porque se representa a flexibilidade e a liberdade, representa também a conotação negativa, contida nas suas caractermsticas de animal audacioso e matreiro.

2. 2. 6 O gato na literatura

Os gatos, na Antiguidade, já constitumam tema para escritores tais que Homero, Plutarco, Ésopo, Virgmlio e Ovmdio. Com o passar do tempo, as histórias foram sendo contadas e recontadas; outras tantas foram inventadas e reinventadas, uma vez que esses felinos tornaram-se objeto de apreciação e conquistaram muitas poetas e escritores, como também a sociedade em geral. Constitumram temas explorados também por Charles Baudelaire, Appolinaire, Victor Hugo, T. S. Eliot e, mais recentemente, Drummont, Mario de Andrade, Vinmcios de Morais e muitos outros.

Nesse sentido, faremos um passeio de forma sintética pela presença do gato na literatura, uma vez que a proposta não é a de fazer uma apresentação minuciosa, nem orientada por parâmetros como a identidade literária dos textos ou mesmo a época, mas apenas ressaltar alguns nomes e obras que são ou famosos ou curiosos.

Fazendo um breve percurso cronológico da Antiguidade aos nossos dias, lembrando os escritores que trazem o gato em seus temas, podemos citar Esopo, cuja obra conta-nos, dentre outras histórias, a de “A gata e Afrodite” em que uma gata apaixonada por um rapaz pede a essa deusa que a transforme em mulher.

[...] Comovida por tal paixão, a deusa transformou o animal numa bela jovem. O rapaz a viu, apaixonou-se por ela e a desposou. Para ver se a gata havia se transformado completamente em mulher, Afrodite colocou um camundongo no quarto nupcial. Esquecendo onde estava, a bela criatura foi logo saltando do leito e pôs-se a correr atrás do ratinho para comê-lo. indignada, a deusa fê-la voltar ao que era.11

Essa narrativa foi, mais tarde, retomada por La Fontaine em "A Gata Transformada em Mulher".

Geralmente, em suas fábulas, ele retrata esse animal em seus aspectos negativos: um animal egomsta, lisonjeiro e velhaco; um caçador astuto, falso e cruel; o que renega os amigos em função de seus interesses, a exemplo da fábula “O gato,

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