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A identificação dos usuários da assistência social que constituem a amostragem da pesquisa, mediante informações fornecidas por eles próprios ao término da realização do grupo focal foi sistematizada na Tabela a seguir:

TABELA 3.5

Identificação dos usuários participantes dos grupos focais

IDENTIFICAÇÃO DO GRUPO DATA Nº DE PARTICIPANTES MÉDIA DA FAIXA ETÁRIA CARACTERIZAÇÃO/ TIPO DE AÇÃO DA ASSISTÊNCIA GÊNERO PREDOMINANTE EM % PARTICIPANTES INFORMADOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL POR APARELHOS DO GOVERNO, EM % ANALFABETO(S) ATÉ 4ªS/IºG ATÉ 8ªS/IºG ATÉ 3º/IIºG GF1 28/01/2008 07 64 Grupo de Convivência – 3ª Idade 71,4% Fem. 57,0% – 07 – – GF2 08/02/2008 10 16 Programa Agente Jovem 60,0% Masc. 30,0% – – 03 07 GF3 13/02/2008 06 48 Projeto Horta Comunitária 80,0% Fem. 50,0% 02 02 02 – GF4 21/03/2008 11 43 Projeto Amigos do Bairro 55,0% Fem. 20,0% – 02 06 03 GF5 23/04/2008 10 63 Grupo de Convivência – 3ª Idade 70,0% Fem. 30,0% – 07 02 01 GF6 07/03/2008 07 47 Projeto Mutirão Comunitário de Limpeza 71,4% Masc. 57,0% – 05 01 01 GF7 28/01/2008 09 33 Usuários do Bolsa Família 100,0% Fem. 66,0% – 04 01 04 GF8 14/03/2008 06 63 Grupo de Convivência- 3ª Idade 84,0% Fem. 50,0% – 05 01 – GF9 04/04/2008 07 41 Cesta Básica/Bolsa Família 100,0% Fem. 28,5% – 03 03 01 GF10 28/03/2008 09 47 Projeto Cozinha Comunitária 100,0% Fem. 44,0% – 09 – – Média/ Caracterização

8,2 por grupo 46,5 Programas/projetos/ serviços/benefícios

eventuais e de transferência de renda

(de acordo com a PNAS/2004 e com a

LOAS)

A predominância do gênero feminino manifestada no "lugar da fala" dos gestores aparece novamente no "lugar da fala" dos usuários, correspondendo a uma média percentual de 71,9% dos participantes dos grupos focais. Em primeiro lugar, com 100% dos participantes do sexo feminino estão os grupos de mulheres beneficiárias do Bolsa Família/Cesta Básica e do Projeto Cozinha Comunitária; em segundo lugar, os Grupos de Convivência da 3ª Idade e do Projeto de Horta Comunitária; e, em último lugar, o Projeto Amigos do Bairro. A predominância do gênero masculino aparece apenas nos grupos do Projeto Mutirão Comunitário de Limpeza e do Programa Agente Jovem.

Boa parte dos usuários tem a definição de sua faixa etária na própria ação da assistência social à qual está vinculada, como é o caso dos participantes dos três Grupos de Convivência da 3ª Idade (GF1, GF5 e GF8) e do Grupo do Programa Agente Jovem (GF2). Os usuários participantes dos grupos vinculados à ação denominada Projetos, (GF3, GF4, GF6 e GF10) têm a sua faixa etária compreendida entre 43 e 48 anos, embora não haja, para estes, critérios de inserção vinculados à faixa etária. Do mesmo modo, os usuários participantes dos grupos de benefícios eventuais e de transferência de renda, (GF7 e GF9) têm a sua faixa etária compreendida entre 33 e 41 anos. O percentual de 46,5% registrado na Tabela anterior corresponde à média da média da idade dos participantes de cada grupo.

Quanto à escolaridade, observa-se uma inversão em relação ao nível da faixa etária, quando se comparam os grupos de Convivência da 3ª Idade com o grupo do Programa Agente Jovem. Nos primeiros, a escolaridade predominante é até a 4ª série/Iº Grau, correspondendo a 82,6% do total de idosos, e no segundo, a escolaridade predominante é até o 3º ano/2º Grau, correspondendo a 70% do total dos participantes desse grupo de jovens. Ainda assim, o nível de escolaridade predominante no conjunto geral dos usuários é considerado baixo, pois, até a 4ªsérie/Iº Grau, corresponde a 53,7% de toda a amostragem.

Quando perguntados acerca de como foram informados sobre o tipo de ação da assistência social na qual estão vinculados, a média percentual dos usuários que

fizeram referência a aparelhos do governo ou de seus representantes, tais como Posto de Saúde, Centro Regional de Assistência Social(CRAS), funcionários da Prefeitura, escola, mídia ou outros programas governamentais foi 43,2%. A maioria respondeu que obteve informação por intermédio de amigos e de vizinhos.

Quanto às ações da assistência social às quais estão vinculados os usuários, estas contemplam todas as que compõem a Rede Sócio-Assistencial de acordo com a PNAS/2004 e com os arts. 20 a 26 da LOAS. O tipo de proteção predominante é a proteção social básica, "que tem como objetivos prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários" (PNAS, 2004, p. 27). Pelo fato de a orientação da proteção social básica ser, de acordo com o SUAS, executada de forma direta nos CRAS, esse foi o tipo de proteção mais contemplado pelas ações que caracterizaram o vínculo dos usuários componentes da amostragem da pesquisa com a política da assistência social, considerando que os grupos focais viabilizaram- se em reuniões de usuários nos próprios CRAS.

Como se pode notar, a referência maior para a caracterização dos usuários da assistência é a própria institucionalidade dessa política social. O "lugar da fala" dos usuários da assistência social apresenta, com maior destaque, as seguintes características: a) predominância do gênero feminino; b) escolaridade média até a 4ªsérie/Iº Grau; c) faixa etária variada, em boa parte relacionada à ação da assistência na qual estão vinculados; c) maioria informada da ação da assistência social por meio de amigos e vizinhos; d) são usuários com vínculos variados entre as quatro ações da assistência: benefícios, serviços, programas, projetos e transferência de renda; e) o tipo de proteção à qual estão vinculados é a proteção social básica.

4 EXPLORAÇÃO DO MATERIAL E ANÁLISE DE CONTEÚDO – Segunda fase da hermenêutica de profundidade

Esta parte do trabalho corresponde à segunda fase da hermenêutica de profundidade. Segundo Thompson (1995), para a imagem das formas simbólicas que consistem de palavras, pode-se falar de "análise discursiva" ou análise do "discurso" para se referir às instâncias de comunicação correntemente presentes. O termo aqui adotado, bastante conhecido no processo de exploração do material qualitativo da pesquisa em ciências sociais e que se identifica com a orientação de Thompson é "análise de conteúdo". Segundo Minayo (2004), a análise de conteúdo clássica oscila entre o rigor da objetividade e a fecundidade da subjetividade, impondo um corte entre as intuições e as hipóteses que se encaminham para interpretações mais definitivas. Cita a autora:

O resumo das tendências históricas da Análise de Conteúdo conduz- nos a uma certeza. Todo o esforço teórico para desenvolvimento de técnicas, visa – ainda que de formas diversas e até contraditórias – a ultrapassar o nível do senso comum e do subjetivismo na interpretação e alcançar uma vigilância crítica frente à comunicação de documentos, textos literários, biografias, entrevistas ou observação. (MINAYO, 2004, p. 203)

Nessa perspectiva, importa realçar duas qualidades essenciais ao analista no momento da análise de conteúdo apontadas por Bardin (2003): a criatividade, por possibilitar uma postura de empatia na imersão do material a ser analisado, e o rigor, levando em conta o objetivo de operacionalizar as intuições para chegar a resultados precisos. Bardin (2003) realça a importância de prever certa flexibilidade para se aceitar com humildade ou humor o erro, retornar eventualmente em alguns passos anteriormente dados, sem perder de vista, entretanto, as incumbências da sucessão cronológica das fases, lembrando que elas podem sobrepor-se.

Setúbal (1999) ressalta a importância das características de originalidade e criatividade do pesquisador, entretanto, chama a atenção para a correta compreensão do termo "flexibilidade" previsto por Bardin (2003), pois, nos processos

de análise de conteúdo, não se pode permitir a queima de fases, como começar a pesquisa pela exploração do material de comunicação sem realizar a pré-análise. Argumenta Setúbal (1999) que se deve resguardar a inter-relação entre as fases da análise e na forma cronológica entre elas, pois a pré-análise antecede as demais, delineando a consistência operacional que confere confiabilidade e credibilidade teórica à pesquisa.

Segundo Minayo (2004), várias técnicas têm sido desenvolvidas para atingir os significados manifestos e latentes no material qualitativo, enfatizando, cada uma, os aspectos que devem ser observados de acordo com os propósitos específicos da pesquisa. A técnica da análise temática comporta um conjunto de relações e pode ser apresentada por meio de uma palavra, uma frase ou um resumo. Sobre a técnica da análise temática, cita a autora:

Fazer uma análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo analítico visado. Ou seja, tradicionalmente, a análise temática se encaminha para a contagem de freqüência das unidades de significação como definitórias do caráter do discurso. Ou, ao contrário, qualitativamente, a presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de comportamento presentes no discurso. (MINAYO, 2004, p. 209)

Para Bardin (2003), a análise temática é o registro semântico da análise categorial, entendida como um procedimento cognitivo que permite classificar o material simbólico a fim de descrever e condensar a informação de dados verbais com mais rigor que a simples impressão da leitura do senso comum. Na perspectiva das teorias de Bardin (2003), Minayo (2004) e Setúbal (1999), nesta pesquisa, a análise de conteúdo contempla a análise temática, resguarda a orientação da sucessão cronológica das fases e se organiza em: 1ª) pré-análise; 2ª) exploração do material, e 3ª) tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

As fases são complementares e articuladas, uma vez que os processos de sistematização da primeira relacionam-se à segunda, apontando os principais passos seguintes, ocorrendo o mesmo na relação entre a segunda e a terceira fase.

Embora as três fases tenham estruturas distintas, são interdependentes, de modo que não seja possível compreender a análise do conteúdo pela somatória das fases uma após a outra, mas, sim, pela consideração das suas relações entres si, numa perspectiva dinâmica e complementar. Pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados desenvolvem-se cronologicamente, possibilitando extensão e profundidade na análise interpretativa, uma vez que se inter-relacionam e possibilitam a flexibilidade necessária para que o pesquisador seja, ao mesmo tempo, criativo e rigoroso (BARDIN, 2003) para perseguir os objetivos do rigor da objetividade e da fecundidade da subjetividade. (MINAYO, 2004)

Em todas as fases da análise, as informações e os depoimentos foram tomados em conjunto, com o cuidado de não relacionar as falas das pessoas entrevistadas com os respectivos municípios, objetivando resguardar o sigilo da identidade dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Assim, as entrevistas e os grupos focais foram identificados pela simbologia de números e letras, por exemplo E (Entrevistado) ou GF (Grupo Focal), lembrando que as Entrevistas foram realizadas com os gestores e os Grupos Focais com os Usuários. No caso de citações de "falas", se for de gestores entrevistados, aparece com a identificação E1, ou a letra E seguida do número correspondente à entrevista. No caso de citações de "falas" de usuários, a identificação aparece com letras e números, como GF1-1, correspondendo ao número do grupo focal seguido do número atribuído àquele participante naquele grupo.