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1. O DESIGN NO BRASIL

1.8. O MOBILIÁRIO NO BRASIL: 1970 2000

Após a década de 1950 e 1960, a noção de móvel moderno adquiria novos aspectos, como a procura por soluções simples, que oferecessem facilidade de produção e custo acessível. Dentro desta proposta, a cadeira Peg-Lev (1972), de Michel Arnoult, pode ser considerada resultado de um projeto inovador. A cadeira era comercializada em pontos de venda, como lojas e supermercados. A idéia era simples: um móvel que fosse retirado, transportado e montado pelo usuário. A cadeira desmontada ocupava pouco espaço, otimizando embalagem e o espaço onde seria armazenada.

Na década de 1980, os planos monetários e a crise econômica fizeram com que muitos escritórios de design fechassem. (LEON, 2005). Os designers nas décadas de 1980 e 1990 tiveram que reinventar o processo de criação e produção; muitos passaram a trabalhar sob a forma de parcerias com pequenas oficinas e marcenarias, fazendo dos pequenos fornecedores uma possibilidade de viabilizar seus projetos. LEON (2005, p.16) acredita que

A globalização acelerada da década de 1990 mudou o cenário de atuação e contribuiu para a formação de um grande grupo que atua por conta própria, sem esperar investidor, e que pratica uma produção desterritorializada, assim como a exercida pelas grandes empresas. Só que designers mais jovens, ao adaptarem, sua produção à existência de

vários pequenos fornecedores, não têm capital para providenciar ferramentas complexas, tais como grandes moldes. Ao enfrentar tal precariedade técnica, esses designers realizam maior pesquisa em linguagem, amparada, muitas vezes, em operações duschampeanas, ao transformar objetos em componentes.

Neste cenário, buscaram-se novas soluções para o móvel, pautadas na investigação de possibilidades quanto aos materiais e técnicas produtivas e construtivas. Carlos Motta recebeu prêmios por soluções simples, com economia de material e facilidade de produção. A Cadeira São Paulo (1982) foi premiada no concurso do Museu da Casa Brasileira, em 1987, e foi campeã de vendas por dez anos. (CASA CLAUDIA, 2003). Feita de madeira, a cadeira possui um desenho simples; o encosto é encaixado no assento através de uma fenda. No final dos anos 1990, Motta passou a trabalhar com madeiras de reflorestamento e certificadas. Em 2003, recebeu o prêmio Planeta Casa7 pela poltrona Astúrias, feita com madeira reciclada.

No contexto de soluções construtivas e técnicas destaca-se o trabalho de Maurício Azeredo, que utiliza encaixes, alguns patenteados, nos móveis, todos feitos de madeira. Outra característica de Azeredo é o uso de madeiras variadas, provenientes de várias regiões do país. Este aspecto do trabalho de Azeredo confere ao móvel uma característica que se aproxima das criações de Joaquim Tenreiro.

Entre os anos de 1990 e 2000, o mobiliário brasileiro apresenta modificações, resultado de experiências com materiais, conceitos, processos de fabricação e novas perspectivas no mobiliário. São alguns termos que podem situar a produção dos designers destas décadas. O trabalho de Jacqueline Terpins com o vidro resultou em móveis inovadores, numa linha de 1999: cubos transformam-se em poltronas, pufes e estantes.

Valter Bahcivanji foi premiado no concurso Brasil Faz Design, em 1998, com o banco Prosinha, o relógio Aspetta e o tapete para banheiro Marolinha. A

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O prêmio Planeta Casa é realizado pela revista Casa Claudia para destacar produtos e iniciativas ecológicos. São premiados projetos de arquitetura, mobiliário, decoração e objetos que ofereçam menos impacto ambiental e que façam uso racional dos recursos naturais.

motivação para o prêmio foi a facilidade de produção dos produtos, o custo reduzido e os novos materiais empregados.

O artista plástico Nildo Campolongo descobriu o trabalho com papéis nos anos 1980: rolos usados em gráficas e fábricas deram origem a mesas, pufes, cadeiras e outros objetos. Desenvolveu tramas de papel para compor piso, telha e revestir uma casa; o projeto foi apresentado no Sesc Santo André, em São Paulo, em 1994.

A dupla Gerson de Oliveira e Luciana Martins, que trabalha em parceria desde 1991, desenvolve objetos e móveis que instigam a curiosidade. Em 2005, foram premiados com o primeiro lugar na categoria utensílios, do concurso Museu da Casa Brasileira, pelo cabideiro Huevos Revueltos, feito com bolas de bilhar, que podem ser dispostos na parede da maneira que o usuário quiser. Uma apropriação de objetos que se convertem em peças de mobiliário. Segundo a opinião do júri: “O cabideiro resulta num objeto lúdico e instigante, conjugando versatilidade no cumprimento de sua função e humor em seu aspecto formal, que se estende até à embalagem” (MUSEU DA CASA BRASILEIRA, 2005) A dupla estabelece uma proximidade com os irmãos Campana, que empregam objetos e materiais, retirados de um contexto e transformados em produtos e mobiliário.

O trio Nó Design estabelece uma semelhança com a forma de trabalho dos Campana. Os designers Flávio Barão di Sarno, Leonardo Massarelli e Márcio Gianelli reutilizam materiais descartados e outros já prontos na criação de produtos, como o telefone celular Blob, feito com sobras de ABS.

Figura 10. Huevos Revueltos, premiado pelo “caráter lúdico, que revela humor e surpresa”, segundo o júri, que destacou o deslocamento das peças de seu contexto original. Fonte: http: //www.mcb.sp.gov.br/mcbEdicaoDetalhe.asp?sPremio=PPD&sEdicao =19&sTipo=P&sOrdem=0

É neste cenário dos anos 1990 que os irmãos Campana estão inseridos e no qual despontam suas primeiras criações. Como outros designers citados, não são herdeiros da tradição modernista, mesmo porque nem passaram pela formação no ensino superior. Assim como outros profissionais, os irmãos passaram a desenvolver uma linguagem própria, que se define pela utilização de novos conceitos (reuso, deslocamentos) em relação aos materiais (tipos, usos, resultados) e aos processos de fabricação (artesanal, semi-industrial). Esta postura de trabalho escapa à nomenclatura moderna; suas múltiplas referências não estão associadas ao projeto moderno, mas dialogam com os elementos do design pós-moderno, como nas bem-humoradas criações dos grupos de