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3 AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E ESCRITA

3.2 O Moodle

Dentre os vários ambientes virtuais de aprendizagem possíveis, há os viabilizados pela plataforma Moodle (um acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), a qual funciona como um sistema de gestão de aprendizagem - Learning Management System (LMS) ou Course Management System (CMS). Moodle é um projeto de software de fonte aberta (open source software, sob a GNU PublicLicense), utilizado gratuitamente para produzir e administrar cursos on-line ou suporte on-line a cursos presenciais e projetado para suportar uma estrutura socioconstrutivista da educação, conforme requer seu projetista Martin Dougiamas (1998, 1999, 2000).

O Moodle, por ser um software livre desenvolvido na linguagem PHP, é executável em qualquer computador que disponha os sistemas operacionais Linux, Windows ou Mac, podendo ser baixado, modificado e usado por qualquer usuário com acesso à internet, desde que mantenha a licença original e os direitos autorais.

A comunidade www.moodle.org e a empresa www.moodle.com são exemplos de que o Moodle continua em constante aperfeiçoamento por programadores de todo o mundo que enriquecem suas funcionalidades e dão apoio profissional à sua instalação. Atualmente, esse software encontra-se disponível em dezenas de idiomas, incluindo o português, o inglês, o francês, o espanhol, entre outros. É utilizado em 233 países, tem 81.289 mil Websites registrados e 69.489,540 milhões de usuários61.

Pode-se dizer, também, que qualquer instituição que utilize essa plataforma contribui, de alguma maneira, para o seu desenvolvimento, uma vez que divulga, mostra vantagens e identifica problemas. Atualmente, milhares de Websites de empresas, instrutores individuais, escolas e, principalmente, universidades usam o Moodle. A UFMG, que cria “uma página no Moodle como suporte para as disciplinas presenciais

                                                                                                                         

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Informações disponíveis em www.moodle.org, correspondentes ao meu último acesso em 01 mai. 2013.

ou a distância” (PAIVA, 2010b), e a Universidade Aberta do Brasil (UAB)62, que oferece cursos de educação a distância, são bons exemplos. Seu uso além de representar baixo custo para oferta de cursos de alta qualidade e com muitos recursos também representa acesso ao ambiente de estudo de qualquer lugar que disponha de internet.

Os cursos ofertados na plataforma Moodle podem ser organizados em social, semanal ou tópicos e, dependendo da escolha, a aparência da tela inicial é alterada (PULINO FILHO, 2005). Em social, é dada ênfase na formação de grupos de discussão semelhantes ao Yahoo Groups, em que um tema é articulado em torno de um grande fórum publicado na página principal. Em semanal, ao se informarem a quantidades de semanas e data de início do curso, o sistema, automaticamente, divide e expõe na grade de programação as semanas já datadas. Em tópico, o curso é dividido em módulos sem datas especificadas. Nos dois últimos, a estrutura foca na disponibilização de conteúdos e atividades que podem ser rotulados em títulos e subtítulos; já no primeiro, o curso é baseado nos recursos de interação entre os participantes e não em um conteúdo estruturado, daí sua denominação de social. Todavia, a meu ver, de acordo com a filosofia socioconstrutivista de aprendizagem em que o Moodle foi criado, qualquer uma das opções de formato dos cursos pode ser rotulada de social, cabendo mais à primeira a denominação de uso limitado ou restringido, pelo fato de ser articulado unicamente através da utilização de fórum de discussão.

O design simples do Moodle possibilita o aluno a, quando participante em um AVA montado a partir dele, se concentrar mais no conteúdo e menos na forma como ele é apresentado e com a possibilidade de uso de ferramentas interativas que permitem responder a questões subjetivas e objetivas e a tecer textos utilizando, principalmente, a variedade culta da língua. Nesse processo, tanto a monitoração quanto a mediação do professor são importantes para um bom andamento da realização das atividades e das discussões, uma vez que ele passa a ter o controle sobre todas as configurações do curso e a acompanhar as ações dos alunos no ambiente.

Para criar o Moodle, Dougiamas (1998, 1999, 2000) baseou-se na filosofia socioconstrutivista de aprendizagem. Essa filosofia implica a construção do

                                                                                                                         

62 A UAB é um projeto criado pelo MEC, em 2005, para articular e integrar um sistema nacional de

educação superior. Participam desse sistema várias instituições públicas de ensino superior que oferecem, por meio do uso da metodologia da educação a distância, ensino de qualidade a uma população que vive em municípios brasileiros onde não têm oferta de cursos ou os que têm não atendem suficientemente a demanda. Informação disponível em:

<http://www.uab.capes.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid=18>. Acesso em: 03 jan. 2013.

conhecimento pelo aprendiz e não em sua mera transmissão como algo imutável. Implica também o engajamento dos participantes com o conteúdo e entre si como essencial para essa construção que ocorre conjuntamente. Ela foca na colaboração e na interação - relação professor-aluno, aluno-aluno e aluno-objeto – como base para a produção do conhecimento (DOUGIAMAS, 2000).

A filosofia socioconstrutivista baseia-se em quatro conceitos-chave: construtivismo, socioconstrutivismo, construcionismo e conectado e isolado.

O construtivismo sustenta que as pessoas constroem conhecimento a partir do momento em que interagem ativamente com o ambiente, por isso está ligado à concepção interacionista de aprendizagem de Piaget. O socioconstrutivismo, ampliando o conceito anterior, abrange a ideia de que se constrói e compartilha significados em grupo social, colaborativamente, por isso está relacionado à concepção sociointeracionista ou sociocultural de aprendizagem de Vygotsky. Tanto o construtivismo quanto o socioconstrutivismo enfatizam o papel central do sujeito na construção do saber.

O construcionismo afirma que a aprendizagem é, particularmente, efetiva quando se constrói algo para outros verem (DOUGIAMAS, 1998). Para Papert63 e Harel (1991), o construcionismo seria uma extensão do construtivismo e a aprendizagem uma construção de estruturas de conhecimento que se processam independentemente das circunstâncias de aprendizagem. A aprendizagem acontece em um contexto em que o aluno está conscientemente envolvido na realização de ação concreta que resulta em um produto tangível, o qual pode ser visto, discutido, analisado. Dessa forma, o construcionismo permite examinar mais de perto as representações mentais externalizadas por meio de diversos recursos disponíveis e é nesse contexto que entra a tecnologia do computador e, conforme Dougiamas (1999), a escrita e o Moodle.

Os comportamentos conectado e isolado são conceitos que se desenvolvem quando os indivíduos estão envolvidos em uma discussão. O comportamento conectado liga-se à subjetividade, ocorrendo quando se tenta aprender de forma cooperativa e

                                                                                                                         

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 Seymour Papert, matemático e um dos pioneiros no campo da inteligência artificial, foi quem propôs a

teoria do construcionismo. Foi um dos fundadores do laboratório de inteligência artificial do MIT (Massachussetts Institute of Technology) e o responsável, no final dos anos setenta, pelo desenvolvimento da linguagem Logo, na época um grande avanço para o uso da Informática na educação. A linguagem foi desenvolvida tendo por trás uma concepção de aprendizagem, ensino, escola, educação, informalmente

conhecida como “Filosofia Logo”. (cf. CYSNEIROS, 1999, Disponível em:

<http://www.academia.edu/1000955/Resenha_Critica._A_Maquina_das_Criancas_Repensando_a_Escola _na_Era_da_Informatica>. Acesso em: 11 jan. 2013.

entender o ponto de vista do outro. Esse tipo de comportamento, ainda que não garantido, é o incentivado pelo projetista do Moodle, Dougiamas (DOUGIAMAS; TAYLOR, 2003), a fim de que as relações estabelecidas entre os alunos tornem a aprendizagem mais produtiva. A aproximação das pessoas provoca reflexão mais profunda e reexame de convicções de cada um. Já o comportamento isolado liga-se à objetividade, ocorrendo quando se defende as próprias ideias.

Diante de uma filosofia como essa, a ideia base do Moodle é possibilitar a criação de ambientes on-line para o aluno agir ativamente na sua aprendizagem, de modo a analisar, investigar, colaborar, compartilhar, construir e ressignificar conhecimento, partindo de aprendizados anteriores e de sua experiência. É um instrumento projetado para não incentivar isolamento, mas sim conectar o sujeito ao ambiente, ao professor e a seus pares, com foco na aprendizagem e não em sua interface.

O Moodle não foi criado apenas para disponibilização de material, embora assim também seja usado. Ele abre espaço no meio digital capaz de potencializar uma metodologia de ensino-aprendizagem. É bom que se diga que isso só é possível, no entanto, se sua configuração em AVA estiver apoiada em um projeto pedagógico embasado em teorias que possibilitem a interação, a reflexão e a colaboração de seus participantes, como a da filosofia socioconstrutivista empregada na criação da plataforma. Caso contrário, se só usado para transmitir conhecimento dado como pronto e acabado, apenas reproduzirá a tão contestada educação que centraliza o professor como único detentor do conhecimento e os alunos como seres passivos, como a educação bancária rotulada por Paulo Freire (2005).

Entendo, portanto, que a plataforma Moodle possibilita desenvolver propostas de alto alcance territorial, local e imediata, com uma comunicação interativa que incentiva a imersão de seus participantes no mundo da leitura e da escrita e favorece o desenvolvimento da autonomia na ressignificação e na construção de conhecimentos e habilidades pautados na responsabilidade tida por cada um e por todos.