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O padrão B de hipocorização

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 71-76)

ANCHOR STRESS

4.3. O padrão B de hipocorização

4.3. O padrão B de hipocorização

No que concerne ao tipo B, analisado por Thami da Silva (2008, 2009), são copiados os segmentos à esquerda do antropônimo e a sequência fônica escaneada pode apresentar duas sílabas leves, como em ‘Filomena’ > ‘Filó’, ou uma sílaba pesada, como ‘Gilberto’ > ‘Gíl’, o que caracteriza a formação de um pé bimoraico.

Sobre a pauta acentual dos hipocorísticos, os dados revelam que três fatores determinam a localização da tônica, nos casos dissilábicos. O primeiro diz respeito aos encurtamentos terminados em vogais médias. Casos como o de ‘Alessandra’ > ‘Alê’ requerem o acento à direita da palavra prosódica para garantir a identidade de traços entre a base e seu encurtamento, já que o português apresenta, na posição postônica final, apenas três vogais – /I, U, a/

(MATTOSO CÂMARA JR., 1970) – e o acento na primeira sílaba detonaria a aplicação da regra de neutralização das postônicas, levando à forma ['a.li], bem mais distante da base que [a.'le].

O segundo fator que determina a acentuação desse padrão de hipocorização relaciona-se à proíbição de encurtamentos dissilábicos

72 relativas aos antropônimos ora em destaque.

Por fim, os hipocorísticos, sobretudo os efetuados a partir de antropônimos constituídos por quatro sílabas, em geral, são fiéis ao acento secundário, como ocorre em ‘Janaína’ > ‘Jâna’ e, portanto, este recai à esquerda da palavra prosódica resultante, conforme comprovam as formalizações em (10), igualmente respaldadas na MP:

(10)

(a) (b) (c)

51 Dados como ‘Gabriel’ e ‘Gabriela’, em que a posição do acento delimita diferença de gênero na hipocorização, não podem ser contemplados numa mesma análise, ou seja, em uma hierarquia de prioridades, apenas uma das formas emerge como ótima. O mesmo observamos com casos como o de ‘Fabiano’ > ‘Fábi’ e ‘Fabiana’ > ‘Fabí’ e ‘Manuela’ > ‘Manú’ e ‘Manoel’ >

‘Mânu’. Entendemos que esta é uma discussão interessante, visto que a fonologia mostra seus efeitos em um processo morfológico; cumpre salientar que pretendemos tratar dessa questão em outros trabalhos (não nesta tese).



73

‘Gíl’. Nesse exemplo, como há uma sílaba pesada mais à esquerda da base, forma-se um pé troqueu moraico, composto por duas moras, como em (10b).

Por último, podem ser encontradas formações como a de ‘Mariana’ > ‘Mári’.

Nesse caso, a impossibilidade de que o hipocorístico acentue a vogal –i final leva à formação de um troqueu; logo, o acento recai à esquerda da palavra prosódica, além de se respeitar o acento secundário, como vemos em (10c).

É fundamental destacar que alguns dados do tipo B fogem, em princípio, ao padrão estrutural de formação de pés. Casos como o de ‘Priscila’ > ‘Prí’, em que não se materializa a coda, podem caracterizar, na verdade, a formação de um pé degenerado, ou seja, um pé composto por uma única mora53. Outra

52 A circunscrição prosódica é um dos instrumentos básicos da Morfologia Prosódica. É responsável pelo mapeamento da sequência fônica que compõe o molde de um processo morfológico. Assim, de acordo com a direcionalidade do material fonológico escaneado pela circunscrição, forma-se o molde e, nesse estrato derivacional, atuam filtros de boa-formação silábica, a fim de, então, gerar um forma de superfície.

53 Casos como o de ‘Priscila’ > ‘Prí’ parecem apontar para uma questão prosódica mais abrangente no que concerne ao uso de formas hipocorísticas em posição de vocativo.

Observando contextos reais de interação, percebemos que a maioria dos falantes alonga a vogal final ao fazerem referência ao nome encurtado. Em virtude disso, teríamos, na realidade, a formação do pé decorrente do alongamento da vogal final. Entretanto, como não houve testagens mais detalhadas sobre essa observação e, além disso, como nem sempre os hipocorísticos são utilizados em posição de vocativo, o que, de certa forma, favorece o alongamento, preferimos manter a análise respaldando-a na formação de um pé degenerado, já que este se aplica a todos os contextos linguísticos e, então, não se restringe ao uso de um padrão de hipocorização em contexto de chamamento. Destacamos, ainda, o nosso interesse em propor testes experimentais para avaliar a discussão que levantamos nesta Tese.

74 interpretação possível para casos como esses é a de Bisol (1994). Segundo a autora, oxítonas terminadas em vogal, como o hipocorístico ‘Prí’ para ‘Priscila’, em um processo derivacional, desenvolvem uma consoante abstrata capaz de relacionar a base ao sufixo, como em ‘Prizinha’. A consoante, que apenas se manifesta em processos aglutinativos, é, na verdade, subespecificada na representação da base e vem à superfície na morfologia concatenativa. Dessa forma, considerando a possibilidade de termos um pé degenerado ou ainda uma coda subespecificada no nível subjacente, antropônimos como ‘Priscila’

apresentam a seguinte configuração estrutural:

(11)

Cumpre salientar, ainda acerca do tipo B de hipocorização, que, diferentemente do que ocorre com o padrão A, são permitidas complexidades na estrutura silábica. Desse modo, se considerarmos os filtros de boa-formação da sílaba, o padrão B condiciona o preenchimento da posição de coda, que não pode ser ocupada, unicamente, por obstruintes. Assim, verificamos que o tipo B prioriza a ancoragem estrita com a margem esquerda da palavra-base, em detrimento de condições que regulem a formação de sílabas menos marcadas, que é o caso do padrão CV.







 [Pri(C)].[ci.la]

( * )

75 Conclui-se, então, que o tipo B de hipocorização caracteriza-se pelas seguintes características formais: (a) privilegia-se a ancoragem à esquerda e, com isso, são mantidas estruturas silábicas complexas; e (b) quanto à tonicidade, deve-se ter em conta a alternância decorrente do respeito à identidade de traços do input para o output, a não-possibilidade da vogal –i final portar acento e à fidelidade ao acento secundário.

Baseada nessas características, Thami da Silva (2008) propõe a abordagem da hipocorização de tipo B sob a ótica da TO Clássica. Como dito anteriormente, a prioridade do padrão B é o estrito mapeamento à esquerda da palavra-base, de modo que o restritor que ocupa o topo da hierarquia é ANCHOR-HIPO(L)54. Esse restritor obriga que o candidato a output copie, integralmente, os segmentos melódicos à esquerda da base.

No entanto, como é sabido, nem sempre a cópia da margem esquerda é feita sem que haja mudanças na estrutura silábica. Isso ocorre porque a hipocorização é um processo que requer perdas segmentais. Sendo assim, três restrições que atuam em conjunto entram em conflito com ANCHOR, a fim de se garantir a simplificação da estrutura silábica. São elas: (a) ONSET, que obriga o preenchimento da posição de ataque na sílaba; (b) NOCOMPLEX, que proíbe complexidades na posição de ataque; e (c) CODACOND[+contínua]55

, que determina que a posição de coda não deve ser ocupada por consoantes oclusivas. Dessa forma, temos o ranking parcial do padrão B em que ANCHOR

>> ONSET; NOCOMPLEX; CODACOND, como se verifica em (12), a seguir:

54 ANCHOR-HIPO(L), no português ANCOR-HIPO(E), requer que a margem esquerda do hipocorístico coincida com a margem esquerda do antropônimo.

55 Neste caso, a condição sobre a coda requer que esta não seja ocupada por obstruintes. O traço [contínuo, emanado do nó Ponto de C no modelo de Clements & Hume (1995), é aqui adotado na formalização da restrição.

76 (12)

* ( . * . )

/fɾaNsinI/

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 71-76)